É hoje! BC deve reduzir Selic a 2% e encerrar ciclo de cortes dos juros
Atividade econômica fraca e inflação baixa, em grande parte causadas pela pandemia, devem levar o Copom a mais uma vez cortar a taxa básica de juros; dados futuros vão guiar novas decisões

O Banco Central deve anunciar nesta quarta-feira (5) a redução da Selic, de 2,25% para 2%, marcando o fim do ciclo de cortes iniciado em julho de 2019 — quando o patamar era de 6,5%. Essa é expectativa da maior parte do mercado financeiro, que se baseia no cenário macroeconômico e nas sinalizações do BC.
Após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o anúncio de redução da Selic foi acompanhado de um recado de que restaria apenas um corte “residual” na decisão seguinte. A mínima histórica de 2% seria suficiente para comportar os atuais níveis de expectativas de inflação e atividade econômica em processo de retomada.
Especialistas com quem eu conversei ainda destacaram o cenário externo, com a indicação do Federal Reserve (o BC dos Estados Unidos) de que manterá os juros entre 0% e 0,25% ao ano por um longo período.
A sinalização é boa para países emergentes, que têm espaço para manter as taxas em níveis baixos sem afastar os investidores — quanto maior o diferencial de juros, maior o número de agentes querendo aplicar o dinheiro nos títulos.
Entre 50 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, do grupo Estado, 43 esperam por um corte de 0,25 ponto nesta quarta-feira, para 2,00% ao ano. Sete casas aguardam pela manutenção da taxa básica em 2,25% ao ano.
Pode cair mais?
Para o pesquisador da área de economia aplicada do FGV IBRE Marcel Balassiano, é improvável que o BC brasileiro siga exatamente o mesmo caminho dos EUA, reduzindo a Selic para próximo de zero num futuro próximo. “O Brasil tem fragilidades estruturais, sendo a maior delas a fiscal. Desde 2014, o país gasta mais do que arrecada.”
Leia Também
As maiores altas e quedas do Ibovespa em abril: alívio nos juros foi boa notícia para ações, mas queda no petróleo derrubou petroleiras
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Comum no mercado e na academia, a tese é de que as perspectivas fiscais podem piorar, com incerteza acerca dos gastos direcionados à pandemia, afetando as expectativas de inflação em um horizonte mais longo. O que justificaria uma cautela.
Mas a visão de limite de mínima para juros não é consenso, apesar de majoritária. O sócio-fundador da gestora Perservera, Guilherme Abbud, por exemplo, diz acreditar que o BC vai se dar conta de que ainda dá para reduzir mais a Selic - ele fala em taxa próxima de 1% no final do ano.
Para Abbud, o país passa por uma recessão que não é cíclica, mas de balanços: as pessoas e empresas estão endividadas. "A gente acha que o salto de eficiência do BC será quando ele se convencer de que o problema é a deflação e sinalizar que os juros ficarão baixos por muito tempo."

'Cautela' foi a palavra
A diminuição gradual da taxa básica de juros marcou parte dos últimos 12 meses do BC. Mas a trajetória teve surpresas: no início do ano, a instituição indicava que poderia manter a Selic nos níveis de 4,50%, mas recalibrou as expectativas com o surgimento da pandemia.
Para a economista da Toro Investimentos, Paloma Brum, mesmo sendo de perfil conservador, o BC agiu de maneira rápida diante da crise. "Mas tem que lembrar que o estímulo econômico não é o todo da política monetária. O que é da alçada da instituição, acredito que ela tem feito", diz.
A covid-19 colocou no horizonte a queda brutal da economia e inflação muito baixa. Hoje, a expectativa do mercado é de que o Produto Interno Bruto (PIB) caia 5,66% em 2020 e a inflação termine o ano a 1,63%, segundo o Boletim Focus.
Ter preços sob controle é essencial para a tomada de decisão do BC. A taxa básica de juros é uma ferramenta da instituição para alcançar a meta de inflação — estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 4% neste ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Ao reduzir a Selic, a tendência é diminuir os custos do crédito e incentivar a produção e o consumo. Por outro lado, os juros mais baixos significam rendimentos menores para as aplicações de renda fixa.
E para o investidor?
O investidor comum ouve há alguns meses que é preciso correr mais riscos para obter retornos que anteriormente eram possíveis em títulos públicos, por exemplo.
É um cenário que não deve mudar tão cedo. Ainda que a taxa volte a subir no próximo ano, dificilmente chegará a dois dígitos, ao menos é o que indicam os agentes financeiros.
Segundo a edição mais recente do Focus, a Selic deve terminar o próximo ano a 3%. Em 2023, chegaria a 6%. O mercado espera que a taxa chegue ao final deste ano a 2%, de acordo com a pesquisa.
Os juros a mínimas históricas são uma das explicações para a bolsa ter retomado o patamar emblemático dos 100 mil pontos, mesmo com a projeção de tombo do PIB.
Balassiano, da FGV, explica que os ativos financeiros operam em um tempo diferente da economia real. "As dinâmicas são diferentes. A bolsa não vai subir no momento em que a vacina for descoberta: de certa forma, isso já está sendo precificado aos poucos", diz.
O analista-chefe da Capital Research, Samuel Torres, diz que a queda da economia real tem "algum impacto" no mundo financeiro. Ele alerta que, como a bolsa está otimista, há o risco de que ela volte a cair com o surgimento de algum dado dececpionante. "Mas não para o patamar de 60 mil pontos."
Ele e outros especialistas lembram do dólar como proteção para a carteira de investimentos, apesar de não arriscarem em que faixa a moeda norte-americana vai terminar o ano. Em outros momentos, os juros baixos influenciaram a divisa a ameaçar tocar R$ 6 - no entanto, passando por um forte alívio no último mês.
Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA
Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.
Copom busca entender em que nível e por quanto tempo os juros vão continuar restritivos, diz Galípolo, a uma semana do próximo ajuste
Em evento, o presidente do BC afirmou que a política monetária precisa de mais tempo para fazer efeito e que o cenário internacional é a maior preocupação do momento
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
FI-Infras apanham na bolsa, mas ainda podem render acima da Selic e estão baratos agora, segundo especialistas; entenda
A queda no preço dos FI-Infras pode ser uma oportunidade para investidor comprar ativos baratos e, depois, buscar lucros com a valorização; entenda
Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado
Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell
Banco Central acionou juros para defender o real — Galípolo detalha estratégia monetária brasileira em meio à guerra comercial global
Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Gabriel Galípolo detalhou a estratégia monetária do Banco Central e sua visão sobre os rumos da guerra comercial
Dólar fraco, desaceleração global e até recessão: cautela leva gestores de fundos brasileiros a rever estratégias — e Brasil entra nas carteiras
Para Absolute, Genoa e Kapitalo, expectativa é de que a tensão comercial entre China e EUA implique em menos comércio internacional, reforçando a ideia de um novo equilíbrio global ainda incerto
Trump x Powell: uma briga muito além do corte de juros
O presidente norte-americano seguiu na campanha de pressão sobre Jerome Powell e o Federal Reserve e voltou a derrubar os mercados norte-americanos nesta segunda-feira (21)
Bitcoin (BTC) em alta: criptomoeda vai na contramão dos ativos de risco e atinge o maior valor em semanas
Ambiente de juros mais baixos costuma favorecer os ativos digitais, mas não é só isso que mexe com o setor nesta segunda-feira (21)
É recorde: preço do ouro ultrapassa US$ 3.400 e já acumula alta de 30% no ano
Os contratos futuros do ouro chegaram a atingir US$ 3.433,10 a onça na manhã desta segunda-feira (21), um novo recorde, enquanto o dólar ia às mínimas em três anos
A bolsa de Nova York sangra: Dow Jones cai quase 1 mil pontos e S&P 500 e Nasdaq recuam mais de 2%; saiba o que derrubou Wall Street
No mercado de câmbio, o dólar perde força com relação a outras moedas, atingindo o menor nível desde março de 2022
Agenda econômica: é dada a largada dos balanços do 1T25; CMN, IPCA-15, Livro Bege e FMI também agitam o mercado
Semana pós-feriadão traz agenda carregada, com direito a balanço da Vale (VALE3), prévia da inflação brasileira e reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN)
Você está demitido: Donald Trump segue empenhado na justa causa de Jerome Powell
Diferente do reality “O Aprendiz”, o republicano vai precisar de um esforço adicional para remover o presidente do Fed do cargo antes do fim do mandato
Show de ofensas: a pressão total de Donald Trump sobre o Fed e Jerome Powell
“Terrível”, “devagar” e “muito político” foram algumas das críticas que o presidente norte-americano fez ao chefe do banco central, que ele mesmo escolheu, em defesa do corte de juros imediato
Que telefone vai tocar primeiro: de Xi ou de Trump? Expectativa mexe com os mercados globais; veja o que esperar desta quinta
Depois do toma lá dá cá tarifário entre EUA e China, começam a crescer as expectativas de que Xi Jinping e Donald Trump possam iniciar negociações. Resta saber qual telefone irá tocar primeiro.
Por essa nem o Fed esperava: Powell diz pela primeira vez o que pode acontecer com os EUA após tarifas de Trump
O presidente do banco central norte-americano reconheceu que foi pego de surpresa com o tarifaço do republicano e admitiu que ninguém sabe lidar com uma guerra comercial desse calibre