O texto-base da reforma da Previdência foi aprovado com uma margem de votos histórica, 379 a 131, confirmando algo que sempre dissemos, que a oposição é barulhenta, mas simplesmente não tem votos. Acontece que o governo sozinho também não tem votos, quem manda mesmo é a massa dos partidos de centro.
Finda a votação do texto principal, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deu início à discussão dos destaques, que são tentativas de mudar o texto. Mas citando uma desarticulação de lideranças, rapidamente encerrou a sessão.
Para quem entende do riscado político aqui em Brasília, o recado dado pelos deputados é claro: nós temos os votos e qualquer desidratação vai cair na conta da desarticulação do governo.
Já falamos outras vezes dessa posição confortável que Maia e o Congresso ocupam. Se há vitória, ela é do Parlamento. Se as coisas derem erradas, põe na conta do governo, que escolheu esse modelo de articulação política difusa, tentando construir maiorias por temas (antes que me agridam, isso é constatação, não juízo de valor).
Foram abundantes as notícias de liberação de emendas e a grita da oposição, que chegou a acionar os tribunais contra a liberação de recursos. Mas até aqui nada fora do normal para o mundo da política. Lembrando que até pouco tempo quem pagava a “articulação” era o dinheiro da corrupção (tudo é do contribuinte, mas com a pequena distinção entre rubrica orçamentária ou do departamento de operações estruturadas de inominável construtora).
A dúvida, agora, é qual tipo de barganha será colocada à disposição dos diferentes grupos que compõem o centrão, “esta coisa do mal” como disse ironicamente Maia, ontem, mas que é determinante para o futuro dessa e das demais votações que venham a ocorrer.
Para derrubar destaques será necessário juntar, no mínimo, 308 votos novamente. Os destaques com maior potencial de estrago fiscal são da oposição. A briga é para que o centro ou parte dele não componha com a oposição, impondo derrota ao governo.
Com a inauguração dessa nova rodada de negociações, o maior risco é que o segundo turno da reforma não seja votado antes do recesso. Um segundo turno depois do recesso é algo arriscado, pois eleva ainda mais a fatura para a aprovação. Não é possível comemorar antes de o juiz apontar o centro de campo. Só acaba quando termina e ainda tem muito jogo não só na Câmara, mas também no Senado.