A poupança já foi um baita negócio – e até hoje cumpre seu papel
A poupança foi meio de sobrevivência do brasileiro contra a inflação e salvou você – ou seu pai ou seu avô – de ver o dinheiro perder 1,5% do seu valor ao dia. Hoje ela ainda é um investimento, ruim, mas é. Ao contrário de outros países em que funciona apenas como poupança.
Há alguns anos, virou moda entre os analistas de mercado falar mal da caderneta de poupança.
- “É o pior investimento que existe”, diz um.
- “Mal bate a inflação”, argumenta outro.
- “Perde para todas as aplicações possíveis”, exagera um terceiro.
Eu mesmo, volta e meia, em minhas crônicas, lembro que aplicar em cadernetas é no mínimo um profundo desprezo pelo conceito de “custo de oportunidade”.
Só que é preciso retornar um pouco (um pouco, não, um muito) no tempo para entender por que as pessoas comuns aplicam na poupança. As que defino como comuns são os leigos em economia e investimentos, que não sabem a diferença entre, por exemplo, fundos de renda fixa, CDBs, Tesouro Direto e a poupança tradicional.
Anos 30: uma excelente aplicação
Nos anos 1930, 1940 e 1950, cadernetas (da Caixa Econômica Federal) eram a única forma possível de aplicação. Rendiam 6% ao ano, sem nenhum tipo de correção monetária.
Eram cadernetas mesmo: livrinhos com capa de papelão duro e brilhoso e folhas nas quais os funcionários da Caixa anotavam depósitos e retiradas.
Havia uma razão para o prestígio daquele tipo de investimento. Nos anos 1930, com uma inflação anual média de apenas 0,31% (por causa da Grande Depressão), as cadernetas foram ótima aplicação. Isso manteve as pessoas iludidas durante um bom tempo.
Anos 40 e 50: furada
Sim. Iludidas. Nas duas décadas seguintes, elas foram um péssimo negócio. Ao longo dos anos 40 e 50, por causa do surgimento da inflação, que as pessoas chamavam de carestia, quem pôs seu dinheiro na Caixa perdeu. Entre 1940 e 1949 a inflação média foi de 10,23% ao ano. Na década de 1950, piorou: 15,9% de aumento anual no custo de vida.
Leia Também
Por essa razão (rendimento negativo), as velhas cadernetas caíram em desuso.
A partir dos 60: valores corrigidos
Mais tarde, já na época do regime militar, com o advento da correção monetária, criada pelo então ministro do Planejamento Roberto Campos, as cadernetas voltaram a atrair depositantes. Aos poucos eles foram chegando, primeiro na própria Caixa Econômica Federal, nas caixas estaduais e nas sociedades de crédito imobiliário. Elas continuavam rendendo 6% ao ano, só que agora acrescidos da correção, e isentas de imposto de renda.
A poupança foi meio de sobrevivência do brasileiro contra a inflação. Estou me referindo aos 30 anos compreendidos entre 1964, época da criação da correção monetária, e 1994, quando surgiu o real, tempos nos quais o dinheiro parado no bolso chegou a perder mais de 1,5% de seu valor, AO DIA.
O sistema de rentabilidade prevalece até hoje - veja aqui como é calculado o rendimento da poupança. Desde sua criação, decorrido mais de meio século, nunca nenhum depositante de caderneta perdeu o principal. Houve alguns anos em que, por causa de choques heterodoxos, ou por inflação maquiada, o retorno foi negativo. Mas jamais perda total.
Um porto seguro para peixinhos no mar de tubarões

Vamos agora recorrer à imaginação. Digamos que você se chama Severino de Souza e Silva e more em Picos, no interior do Piauí. É varredor da Prefeitura e ganha salário mínimo: R$ 998,00 mensais. Seus filhos, já crescidos, emigraram para o Sul Maravilha (na expressão do saudoso Henfil).
Restam em sua casa, além da patroa, seu sogro e sua sogra, ambos aposentados por idade, cada um recebendo os mesmos R$ 998. A renda do núcleo familiar é de R$ 2.994, uma grana mais do que razoável para seu padrão de vida. Dá para sua família economizar os R$ 994,00 e viver tranquilamente com R$ 2 mil.
Essa poupança vai para onde? Pra caderneta, é claro. Muito possivelmente da Caixa Econômica Federal. Sem precisar entrar em fila, depositando e sacando no caixa eletrônico através de um cartão magnético e uma senha.
Agora suponhamos que você, Severino, de tanto ser emprenhado pelos olhos e ouvidos, resolveu transferir sua conta salário e suas economias para um bancão particular, cuja publicidade viu na TV. Por sinal, todos têm filiais em Picos. Entre no Google, caro amigo leitor, e confira.
Certo dia um gerente, moço ambicioso que quer vencer na carreira, ao ver que Severino de Souza e Silva já tem mais de R$ 20 mil na poupança, lhe tocaia próximo ao caixa automático. Sorriso arreganhado, lhe oferece um plano de capitalização. “Depois de 48 meses de depósitos o senhor concorre a uma bolada, seu Severino. Poderá até se mudar para uma casa maior e comprar um carro zero”, argumenta o rapaz.
Desculpe-me, Severino, de Picos. Você acabou de entrar na roda. Logo não resistirá a um empréstimo consignado, para apressar o tal automóvel zerinho, e, quem sabe, visitar os filhos em São Paulo.
O ataque não para aí. O cara vai lhe mostrar um fundo de renda fixa, outro de renda variável, CDBs, investimentos sobre os quais você não compreende absolutamente nada mas não tem coragem de confessar.
Não adianta o gerente lhe explicar. Isso só vai piorar as coisas. Ele vai dizer que o produto que acaba de lhe oferecer rendeu no ano anterior 120% do DI, sigla essa que você não faz a menor ideia do que seja. Não vai falar nada sobre imposto de renda e muito menos a respeito da taxa de administração que o banco cobra de quem aplica míseros (míseros para eles, bem entendido) R$ 20 mil. Severino virou presa fácil dos tubarões e pode colocar seu dinheiro em roubadas muito piores que a poupança, além de assumir riscos financeiros que não compreende para suas economias.
Poupança rende pouco, mas é investimento
Pois bem, o perfil financeiro de Severino equivale ao de boa parte da população brasileira. Hoje perguntei à cozinheira daqui de casa se ela tem dinheiro na poupança.
“Sim, seu Ivan. Tenho um dinheirinho lá.”
Na verdade eu queria saber por que ela pusera o dinheiro na poupança e não em outra coisa um pouco mais rentável. Me dei conta de que, felizmente, ela só conhecia a poupança.
Felizmente, repito.
Hoje em dia, poupança é investimento. Ruim, mas é. Os Correios do Japão, que são o maior saving bank do mundo, tem 41,25 trilhões de ienes (US$ 375 bilhões) de depósitos de poupadores. A “rentabilidade” dessas aplicações oscila entre zero e – 0,25% ao ano.
Lá, poupança é somente poupança. Ato de guardar dinheiro ao invés de gastá-lo.
No Brasil, para os não-iniciados no complexo universo dos investimentos, universo esse que “Seu Dinheiro” está tentando tornar mais simples, caderneta de poupança ainda é o melhor negócio. Caso contrário, a chance de cair numa arapuca é enorme.
Não que ele deve ficar a sua vida inteira em um investimento que eu acabei de dizer que é ruim. Mais tarde, quem sabe, quando o caro amigo leitor se familiarizar com o incrível mundo dos mercadores do dinheiro, poderá até casar a compra de ações defendendo-a com puts de Ibovespa. Ou apostar na queda da taxa Selic por intermédio do mercado futuro de DIs.
Tudo depende de quanto você está disposto a aprender sobre investimentos. Mas vai um conselho: se você quer sair da poupança e procurar investimentos melhores, não comece pelo fim da linha que você se dará mal.
Renda fixa para novembro: CRAs da Minerva e CDB que paga IPCA + 8,8% são as estrelas das recomendações do mês
BTG Pactual, BB Investimentos, Itaú BBA e XP recomendam aproveitar as rentabilidades enquanto a taxa de juros segue em 15% ao ano
Onda de resgates em fundos de infraestrutura vem aí? Sparta vê oportunidade nos ativos isentos de IR listados em bolsa
Queda inesperada de demanda acende alerta para os fundos abertos, porém é oportunidade para fundos fechados na visão da gestora
A maré virou: fundos de infraestrutura isentos de IR se deparam com raro mês negativo, e gestor vê possível onda de resgates
Queda inesperada de demanda por debêntures incentivadas abriu spreads e derrubou os preços dos papéis, mas movimento não tem a ver com crise de crédito
Ficou mais fácil: B3 passa a mostrar posições em renda fixa de diferentes corretoras na área do investidor
Funcionalidade facilita o acompanhamento das aplicações, refletindo o interesse crescente por renda fixa em meio à Selic elevada
Novo “efeito Americanas”? Títulos de dívida de Ambipar, Braskem e Raízen despencam e acendem alerta no mercado de crédito
As três gigantes enfrentam desafios distintos, mas o estresse simultâneo nos seus títulos de dívida reacendeu o temor de um contágio similar ao que ocorreu quando a Americanas descobriu uma fraude bilionária em 2023
Tesouro IPCA+ com taxa de 8%: quanto rendem R$ 10 mil aplicados no título do Tesouro Direto em diferentes prazos
Juro real no título indexado à inflação é histórico e pode mais que triplicar o patrimônio em prazos mais longos
Tesouro Direto: Tesouro IPCA+ com taxa a 8% é oportunidade ou armadilha?
Prêmio pago no título público está nas máximas históricas, mas existem algumas condições para conseguir esse retorno total no final
Até o estrangeiro se curvou à renda fixa do Brasil: captação no exterior até setembro é a maior em 10 anos
Captação no mercado externo neste ano já soma US$ 29,5 bilhões até setembro, segundo a Anbima
Com renda fixa em alta, B3 lança índice que acompanha desempenho do Tesouro Selic
Indicador mede o desempenho das LFTs e reforça a consolidação da renda fixa entre investidores; Nubank estreia primeiro produto atrelado ao índice
Fim da ‘corrida aos isentos’: gestores de crédito ficam mais pessimistas com as debêntures incentivadas com isenção de IR garantida
Nova pesquisa da Empiricus mostra que os gestores estão pessimistas em relação aos retornos e às emissões nos próximos meses
Renda fixa recomendada para outubro paga IPCA + 8,5% e 101% do CDI — confira as opções de debêntures isentas, CDB e LCA
BTG Pactual, BB Investimentos, Itaú BBA e XP recomendam travar boa rentabilidade agora e levar títulos até o vencimento diante da possibilidade de corte dos juros à frente
LCI, LCA, FII e fiagro mantêm isenção de imposto de renda; veja as novas mudanças na MP 1.303/25, que deve ser votada até amanhã (8)
Tributação de LCIs e LCAs em 7,5% chegou a ser aventada, mantendo-se isentos os demais investimentos incentivados. Agora, todas as isenções foram mantidas
Problemas de Ambipar (AMBP3) e Braskem (BRKM5) podem contaminar títulos de dívida de outras empresas, indica Fitch
Eventos de crédito envolvendo essas duas empresas, que podem estar em vias de entrar em recuperação judicial, podem aumentar a aversão a risco de investidores de renda fixa corporativa, avalia agência de rating
Tesouro Direto: retorno do Tesouro IPCA+ supera 8% mais inflação nesta quinta (2); o que empurrou a taxa para cima?
Trata-se de um retorno recorde para o título de 2029, que sugere uma reação negativa do mercado a uma nova proposta de gratuidade do transporte público pelo governo Lula
Brasil captou no exterior com menor prêmio da história este ano: “há um apetite externo muito grande”, diz secretário do Tesouro
Em evento do BNDES, Rogério Ceron afirmou que as taxas dos títulos soberanos de cinco anos fecharam com a menor diferença da história em relação aos Treasurys dos EUA
Isentas de imposto de renda ou não, debêntures incentivadas continuarão em alta; entenda por quê
A “corrida pelos isentos” para garantir o IR zero é menos responsável pelas taxas atuais dos títulos do que se pode imaginar. O fator determinante é outro e não vai mudar tão cedo
Renda fixa: Tesouro IPCA+ pode render 60% em um ano e é a grande oportunidade do momento, diz Marília Fontes, da Nord
Especialista aponta que as taxas atuais são raras e que o fechamento dos juros pode gerar ganhos de até 60% em um ano
Quanto rendem R$ 10 mil na renda fixa conservadora com a Selic estacionada em 15% — e quais são os ativos mais atrativos agora
Analistas de renda fixa da XP Investimentos simulam retorno em aplicações como poupança, Tesouro Selic, CDB e LCI e recomendam ativos preferidos na classe
Tesouro Selic deve ser primeiro título do Tesouro Direto a ter negociação de 24 horas, diz CEO da B3
Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional, também falou sobre o que esperar do próximo produto da plataforma: o Tesouro Reserva de Emergência
Nada de 120% do CDI: CDB e LCA estão pagando menos, com queda de juros à vista e sem o banco Master na jogada; veja a remuneração máxima
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado e mostra que os valores diminuíram em relação a julho