Receita de torta búlgara
O que é verdade e o que é ficção? Qual é o limite entre sonho e realidade? Como se estabelecem narrativas oficiais sem qualquer aderência à concretude das coisas?

“Você é humano?” Eu já ouvi muita coisa por aí, mas essa pergunta, até então, era inédita. Olha, normalmente, carrego uma boa dose de ceticismo debaixo do braço. Agora, sempre tive alguma boa convicção de que pertencia a essa espécie aí, sim. Papai e mamãe também me pareciam seres humaninhos bem caracterizados, sem muita dúvida. O que naturalmente me fazia pertencer à classe.
Confesso que, desde sábado, porém, essa dúvida tem me visitado. Meu cérebro está em chamas feito a Amazônia. As pessoas colocam essas questões importantíssimas na nossa cabeça de maneira muito inconsequente. Depois, elas vão embora e a gente fica se perguntando aquilo. Baita irresponsabilidade.
A pergunta inicial veio depois da minha ausência na festa que a interlocutora havia dado em comemoração à famosíssima Data Limite. Manja a Data Limite, né? Não? Num acredito.
De acordo com o Chico Xavier, no dia em que o homem pousou na Lua, ou seja, em 19 de julho de 1969, as entidades intergalácticas se reuniram temerosas sobre o avanço tecnológico e potencialmente destruidor dos habitantes do Planeta Terra. Os terráqueos saberiam fazer bom uso do avanço espacial e da energia nuclear? Era uma questão fundamental. Parada séria para o médium.
Nessa narrativa, segundo a turminha extraterrestre casca-grossa, a Terra compõe um equilíbrio universal muito bem desenhado, preciso e rigoroso. Então, se a gente enveredasse pela via da guerra nuclear e explodisse esse lugar, o Universo inteiro teria problema. Imagina a treta.
Daí ficou combinado o seguinte: a trupe da pesada lá das galáxias nos deu um prazo de 50 anos, findo em 19 de julho de 2019, para provar que a gente sabia brincar e não explodiria o planeta. Mais precisamente, o trato era assim: “Se esses humanos malucos não entrarem numa nova guerra nuclear, então nós, os extraterrestres, literalmente os verdadeiros picas das galáxias, vamos visitar a Terra e apresentar aos terráqueos os reais conhecimentos universais, as paradas mais sinistras que existem por aí”.
Leia Também
Se você percebeu, passamos no teste. Você pode até argumentar que foi por pouco ou que já vivemos dias melhores na nossa história, mas, seja como for, aos trancos e barrancos, estamos aprovados! Para celebrar esse momento mágico e tentar receber da maneira mais hospitaleira possível os nossos eventuais futuros companheiros alienígenas, esses meus amigos comemoram religiosamente a Data Limite, sempre com uma festa de arromba.
Eu tenho pensado nisso porque o Trump e o chinês não podem escalar muito essa guerra comercial, sabe? As relações são tão profundas e grandiosas que recrudescer demais as tensões pode levar a um rompimento com potencial nuclear. Trump precisa da economia fora da recessão e do S&P 500 em alta, por conta do efeito riqueza poderoso nos EUA, se quiser se reeleger. Ao mesmo tempo, a China toca uma transição bem complexa para uma economia com menos presença do Estado, mais focada em consumo (e menos em investimento) e mais voltada ao mercado interno. Perder de forma súbita a conexão com o profícuo mercado consumidor norte-americano teria consequências brutais sobre os PMIs chineses, com desdobramento imediato e significativo sobre a pressão social e os indicadores de desenvolvimento econômico.
Também não me dou a expectativas ingênuas. Não acho que o conflito entre EUA e China vá ser resolvido do dia para a noite. Não está em jogo aqui só uma disputa egóica e topetuda de quem grita mais alto. É a primeira ameaça material à soberania americana e até mesmo de alguns valores ocidentais consagrados e devidamente caracterizado pelo Fim da História de Francis Fukuyama. Depois de muito tempo, voltamos a ter uma antítese à tese da democracia liberal, com a China tentando recuperar seu protagonismo milenar em direção a um mundo bipolar ou até mesmo multipolar.
Não é apenas a China que passará por uma nova longa marcha, conforme discurso recente de Xi Jinping. Toda a discussão comercial, de soberania e de tecnologia entre EUA e China, provavelmente será uma maratona, num percurso marcado por idas e vindas, sem uma explosão, nem uma resolução súbita e definitiva. Precisaremos conviver com este novo mundo, em que a caminhada da globalização não obedece mais a uma linha reta e unidirecional.
A racionalidade humana talvez sugeriria que o caminho da reglobalização total fosse o mais natural. Ocorre, porém, que possivelmente o próprio conceito de racionalidade estrita, conforme a teoria neoclássica, é que precise ser revisto. Na racionalidade ecológica de Gerd Gigerenzer, a única racionalidade possível é aquela que se liga à sobrevivência. E, de novo, voltamos a afastar a hipótese de uma completa destruição entre americanos e chineses, capaz de matar todo mundo.
Essas coisas todas deram um nó na minha cabeça. Deveria ter Data Limite para um monte de coisa. Chega de determinados assuntos, sabe? Ando sonhando com ETs, com o delírio da Débora Falabella na peça “Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante”, com o fraquíssimo filme “Bacurau” (tenho certeza de que boa parte da mídia elogia tudo que o Kleber Mendonça Filho faz sem sequer ler) e, pasme, até com delações premiadas. Estou ali dormindo e aparece a língua presa do Palocci. É um horror. Tanta coisa para sonhar…
O último pesadelo foi assim: um banqueiro havia feito uma gentileza (totalmente republicana) a um empreiteiro, antes de estourar os problemas todos. O empreiteiro, sempre muito educado e polido, escreveu um e-mail agradecendo a atitude. O banqueiro, interessado em fazer negócios (é da sua natureza), devolveu: “Imagina. Vale uma torta búlgara e dois mandatos”.
Como você talvez saiba, apesar do nome, torta búlgara é uma receita tipicamente brasileira, mais precisamente baiana, uma espécie deliciosa de bolo de chocolate com massa cremosa, assada em banho-maria. A mulher do banqueiro amava a receita da torta búlgara feita pela esposa do empreiteiro. O banqueiro, que, como eu, sabe que “happy wife, happy life”, já foi logo pedindo o agrado para a patroa. E, “já que estou ali, aproveitando”, deu aquela lembrada na possibilidade de pegar um mandato de um M&A, de uma emissão de dívida ou de um IPO da empreiteira, quem sabe… Ganhar dinheiro é como fritar um bife.
Conversa normal, claro. Papo de quase brother, meio superficial, meio que puxando assunto, daqueles típicos de elevador, quando não se tem muita proximidade, mas é preciso manter-se cordial e recatado.
Mas, na minha perversa atividade onírica, deu ruim. No pesadelo, pintou o seguinte relatório da Polícia Federal: “Vale investigar o uso do código ‘torta búlgara’, em alusão à presidente Dilma Rousseff, cujo pai, Petar, nasceu em Gabrovo, na Bulgária. Ademais, ‘mandatos’ se referem, provavelmente, à compra de votos e a apoios a MPs, de um senador e um deputado”.
O que é verdade e o que é ficção? Qual é o limite entre sonho e realidade? Como se estabelecem narrativas oficiais sem qualquer aderência à concretude das coisas?
Não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz. Raul Seixas seria um grande investidor de Bolsa. Não se deixaria levar por manchetes sensacionalistas e se apegaria à única coisa que interessa no final do dia: o verdadeiro fundamento, o real valor dos ativos.
Fora do tiroteio retórico e tarifário entre EUA e China, a Bolsa brasileira está barata no entorno dos 100 mil pontos. A inesperada queda da produção industrial hoje (-0,3 por cento, contra +0,5 por cento esperado) veio para afastar as preocupações com repasse cambial para a inflação e para referendar a tese de que o Copom continuará com as reduções da Selic, provavelmente para 5,0 por cento, quem sabe até menos.
Se você é humano como eu, provavelmente carrega, mesmo que em pequena medida, algum dos mais elementares sentimentos da nossa espécie: a ganância. E, desafiando Gordon Gekko, a ganância pode não ser boa, mas entre ganhar ou perder dinheiro, acho que todos preferimos a primeira opção. A esses preços, as ações estão tão saborosas quanto uma torta búlgara. Venha comer comigo outras delícias na Carteira Empiricus, que segue voando em qualquer cenário concreto ou até mesmo imaginário.
Mercados
Mercados brasileiros iniciam a terça-feira com tendência de baixa, acompanhando o clima negativo no exterior. Notícia da Bloomberg sugere dificuldade para agendamento de reunião entre EUA e China para debater questões comerciais, enquanto possibilidade de nova eleição no Reino Unido gera alguma preocupação.
Internamente, destaque para produção industrial e IPC-Fipe. Nos EUA, saem PMI/Markit, ISM e investimentos em construção.
Ibovespa Futuro cai 0,5 por cento, dólar está perto do zero a zero e juros futuros recuam.
Tem offshore? Veja como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa jurídica no IR 2025
Regras de tributação de empresas constituídas para investir no exterior mudaram no fim de 2023 e novidades entram totalmente em vigor no IR 2025
A coruja do Duolingo na B3: aplicativo de idiomas terá BDRs na bolsa brasileira
O programa permitirá que investidores brasileiros possam investir em ações do grupo sem precisar de conta no exterior
Como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa física no imposto de renda 2025
Tem imóvel na Flórida? Investe por meio de uma corretora gringa? Bens e rendimentos no exterior também precisam ser informados na declaração de imposto de renda; veja como
Dólar fraco, desaceleração global e até recessão: cautela leva gestores de fundos brasileiros a rever estratégias — e Brasil entra nas carteiras
Para Absolute, Genoa e Kapitalo, expectativa é de que a tensão comercial entre China e EUA implique em menos comércio internacional, reforçando a ideia de um novo equilíbrio global ainda incerto
É hora de aproveitar a sangria dos mercados para investir na China? Guerra tarifária contra os EUA é um risco, mas torneira de estímulos de Xi pode ir longe
Parceria entre a B3 e bolsas da China pode estreitar o laço entre os investidores do dois países e permitir uma exposição direta às empresas chinesas que nem os EUA conseguem oferecer; veja quais são as opções para os investidores brasileiros investirem hoje no Gigante Asiático
Tarifaço de Trump pode não resultar em mais inflação, diz CIO da Empiricus Gestão; queda de preços e desaceleração global são mais prováveis
No episódio do podcast Touros e Ursos desta semana, João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, fala sobre política do caos de Trump e de como os mercados globais devem reagir à sua guerra tarifária
Dividendos da Petrobras (PETR4) podem cair junto com o preço do petróleo; é hora de trocar as ações pelos títulos de dívida da estatal?
Dívida da empresa emitida no exterior oferece juros na faixa dos 6%, em dólar, com opções que podem ser adquiridas em contas internacionais locais
Não foi só o Banco Master: entre os CDBs mais rentáveis de março, prefixado do Santander paga 15,72%, e banco chinês oferece 9,4% + IPCA
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado; no mês passado, estoque de CDBs no país chegou a R$ 2,57 trilhões, alta de 14,3% na base anual
Renda fixa para abril chega a pagar acima de 9% + IPCA, sem IR; recomendações já incluem prefixados, de olho em juros mais comportados
O Seu Dinheiro compilou as carteiras do BB, Itaú BBA, BTG e XP, que recomendaram os melhores papéis para investir no mês
110% do CDI e liquidez imediata — Nubank lança nova Caixinha Turbo para todos os clientes, mas com algumas condições; veja quais
Nubank lança novo investimento acessível a todos os usuários e notificará clientes gradualmente sobre a novidade
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.
Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação
XP rebate acusações de esquema de pirâmide, venda massiva de COEs e rentabilidade dos fundos
Após a repercussão no mercado, a própria XP decidiu tirar a limpo a história e esclarecer todas as dúvidas e temores dos investidores; veja o que disse a corretora
PGBL ou VGBL? Veja quanto dinheiro você ‘deixa na mesa’ ao escolher o tipo de plano de previdência errado
Investir em PGBL não é para todo mundo, mas para quem tem essa oportunidade, o aporte errado em VGBL pode custar caro; confira a simulação
De Minas para Buenos Aires: argentinos são a primeira frente da expansão do Inter (INBR32) na América Latina
O banco digital brasileiro anunciou um novo plano de expansão e, graças a uma parceria com uma instituição financeira argentina, a entrada no mercado do país deve acontecer em breve
XP Malls (XPML11) é desbancado por outro FII do setor de shopping como o favorito entre analistas para investir em março
O FII mais indicado para este mês está sendo negociado com desconto em relação ao preço justo estimado para as cotas e tem potencial de valorização de 15%
Mata-mata ou pontos corridos? Ibovespa busca nova alta em dia de PIB, medidas de Lula, payroll e Powell
Em meio às idas e vindas da guerra comercial de Donald Trump, PIB fechado de 2024 é o destaque entre os indicadores de hoje
Debêntures da Equatorial se destacam entre as recomendações de renda fixa para investir em março; veja a lista completa
BB e XP recomendaram ainda debêntures isentas de IR, CRAs, títulos públicos e CDBs para investir no mês
Vencimento de Tesouro Selic paga R$ 180 bilhões nesta semana; quanto rende essa bolada se for reinvestida?
Simulamos o retorno do reinvestimento em novos títulos Tesouro Selic e em outros papéis de renda fixa
Estrangeiro “afia o lápis”, mas ainda aguarda momento ideal para entrar na bolsa brasileira
Segundo o Santander, hoje, os investidores gringos mantêm posições pequenas na bolsa, mas mais inclinados a aumentar sua exposição, desde que surja um gatilho apropriado