🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Estadão Conteúdo

Analisando a situação dos hermanos

Crise Argentina, feitiço do tempo

Os grandes desafios econômicos de Maurício Macri também parecem reimpressões de velhos e bem conhecidos problemas argentinos

Presidente da Argentina, Mauricio Macri
Presidente da Argentina, Mauricio Macri - Imagem: Shutterstock

Pode faltar bife em qualquer parte do mundo, menos em restaurante argentino, certo? Errado. Militar ou civil, o governo argentino muitas vezes limitou a venda interna de carne bovina para favorecer a exportação.

Em outras ocasiões, como em 2006, 2014 e 2018, fez o contrário: restringiu as vendas externas para derrubar o preço e frear a inflação.

Proibição de venda de carne, desemprego, aperto de cinto e problemas cambiais encheram as historietas de Mafalda, na crise de 1971, e renderam ao desenhista Quino o título de Homem do Ano da revista Panorama. Veda, palavra castelhana para proibição ou restrição, aponta uma das grandes marcas da política argentina ao longo de muitas décadas: a intervenção nos preços, no abastecimento e no comércio externo. Indica também dois desafios frequentes, os desarranjos cambiais e os surtos inflacionários.

Os quadrinhos de Mafalda só são encontrados hoje em reedições. Os grandes desafios econômicos do presidente Maurício Macri também parecem reimpressões de velhos e bem conhecidos problemas argentinos. Mas são reais, palpáveis e continuarão a assombrar o país no mandato seguinte, seja qual for o eleito. Pode haver retóricas diferentes, mas os dois candidatos e seus economistas conhecem os dados.

Reservas cambiais caíram de US$ 65,34 bilhões, em abril, para US$ 44,69 bilhões, em maio. Com o susto do mercado, o câmbio saltou para mais de 60 pesos por dólar depois da prévia eleitoral. Houve recuo, depois, mas a cotação continuou distante dos 48 pesos de junho.

A dívida externa saltou de 36,7% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2017, para 51,8%, no fim de 2018. Como o governo tem usado financiamento estrangeiro para cobrir seus gastos, a dívida pública se mistura perigosamente com a dívida externa. Principalmente por isso, o país depende do financiamento negociado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Romper o acordo com o Fundo pode significar insolvência.

Leia Também

Se o presidente, seja quem for, romper o acordo para agradar ao eleitorado, o agravamento da crise cambial e a piora das contas públicas levarão o país a completar mais uma volta no jogo do eterno retorno. Cinéfilos podem lembrar-se do filme Feitiço do Tempo (Groundhog Day), com personagens presos numa armadilha de repetições.

Cristina Kirchner, herdeira de seu marido na Casa Rosada, beneficiou-se do fim de um ciclo desse tipo, mas desperdiçou essa vantagem. Foi eleita em 2007, dois anos depois de concluída uma longa e complicada negociação com os credores, e no ano seguinte à liquidação da dívida com o FMI.

Havia condições para uma nova fase de crescimento. A oportunidade foi em parte aproveitada, mas o governo de novo relaxou a gestão das contas públicas, deu espaço à inflação e, depois de demitir o presidente do Banco Central (BC), ainda usou reservas cambiais para cobrir gastos públicos. Ainda assim, foi reeleita em 2011, manteve o estilo da política econômica e deixou a seu sucessor um país novamente em crise.

Números duvidosos

A alta dos preços era visível no dia a dia e nos cálculos de consultorias privadas, mas os números oficiais eram duvidosos, porque a presidente interferia nas estatísticas do governo. Como seu futuro crítico Jair Bolsonaro, ela se opunha à divulgação de números conflitantes com sua versão dos fatos.

Cristina Kirchner, como seu marido Néstor, praticou um peronismo mais populista que o de alguns antecessores. O marido, no entanto, conseguiu reerguer a economia argentina, renegociar a dívida, consertar a complicada relação com o FMI e o Banco Mundial, e reatar o contato com o mercado financeiro. Quanto ao comércio externo, conseguiu uma relação tranquila e vantajosa com o Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de um acordo automotivo até hoje em vigor e de um quase fechamento do Mercosul para os mercados mais competitivos.

Eleito em 2003, Néstor Kirchner logo se entendeu com Lula e com ele trabalhou para torpedear a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Sem o Mercosul, o governo americano logo negociou acordos comerciais com outros países da América do Sul.

O bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai limitou-se a acordos com mercados em desenvolvimento, na maior parte pequenos, e manteve a conversação com a União Europeia, iniciada na década anterior e só liquidada neste ano (mas dependente, ainda, da aprovação legislativa de todos os participantes).

Passo adiante

Com Néstor Kirchner, a Argentina deu um passo adiante depois de uma fase extraordinariamente confusa, marcada por desastres como a quebra do Tesouro, o congelamento de depósitos, o fim da dolarização, o calote da dívida pública (interna e externa), uma explosão de preços e enorme instabilidade política. A crise iniciada em 2001 resultou, em parte, do impacto causado pela desvalorização do real no começo de 1999 e pelo duro ajuste da economia brasileira. Mas os desarranjos maiores da Argentina eram mesmo internos.

Em anos anteriores, a dolarização implantada pelo peronista Carlos Menem, eleito em 1989, havia produzido alguma disciplina. Com paridade entre o peso e o dólar, o Banco Central só poderia emitir moeda se houvesse acumulação de reservas. Essa camisa de força freou a inflação. Os preços comportados e alguma contenção fiscal deram espaço aos negócios, permitiram uma fase de prosperidade e Menem foi reeleito.

Ao encerrar seu segundo mandato, em 1999, a economia já estava menos disciplinada, as contas públicas pareciam menos saudáveis e já se perguntava em quanto tempo a dolarização se esgotaria e seria preciso desvalorizar o peso. O balanço dos dois mandatos inclui a privatização do sistema elétrico e da companhia de petróleo. Externamente, houve a criação do Mercosul e o início das negociações da Alca e do acordo com a União Europeia.

O antecessor de Menem, Raúl Alfonsín, eleito em 1983, havia conduzido o país no começo da redemocratização. A herança econômica do período militar havia sido desastrosa. O novo presidente governou com muita dificuldade num ambiente de hiperinflação, de instabilidade social e de inquietação nos quartéis. Alfonsín acabou abandonando o posto antes do fim do mandato. Mas deixou, como parte importante do seu legado, o início da punição dos chefes da ditadura.

Repetição dos pontos

Alguns pontos marcaram todos os governos argentinos desde a redemocratização e compõem a imagem da repetição. O peronismo foi importante em todos os momentos, pela filiação dos governantes ou pelo peso da oposição. O sindicalismo peronista, representado principalmente pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) foi sempre um ator de relevo e uma referência para as definições de política.

O populismo nunca desapareceu, embora praticado com intensidades variáveis. Presidentes com o mesmo rótulo político foram capazes de valorizar padrões liberais, como Carlos Menem, ou fortemente intervencionistas, como Néstor e Cristina Kirchner. As contas públicas nunca ficaram em ordem por muito tempo, as dificuldades cambiais foram recorrentes e a inflação, contida em alguns períodos, sempre retornou com grande problema.

Nenhum governo foi esquerdista, na Argentina, embora o presidente Jair Bolsonaro possa pensar o contrário. Depois da redemocratização, figuras importantes da ditadura militar foram processadas e punidas. Nenhum governante civil defendeu a ditadura ou apontou um torturador como herói nacional.

*Com o jornal O Estado de S. Paulo.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
UM BRINDE, UM HIT

Malbec World Day: 10 rótulos para apreciar o vinho favorito dos brasileiros 

17 de abril de 2025 - 12:01

De passaporte francês e alma argentina, a uva ainda é uma das mais cultivadas da Argentina e ganha cada vez mais adeptos por aqui

HORA DE BATER O MARTELO

Acionistas da Petrobras (PETR4) votam hoje a eleição de novos conselheiros e pagamento de dividendos bilionários. Saiba o que está em jogo

16 de abril de 2025 - 11:44

No centro da disputa pelas oito cadeiras disponíveis no conselho de administração está o governo federal, que tenta manter as posições do chairman Pietro Mendes e da CEO, Magda Chambriard

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Respira, mas não larga o salva-vidas: Trump continua mexendo com os humores do mercado nesta terça

15 de abril de 2025 - 8:14

Além da guerra comercial, investidores também acompanham balanços nos EUA, PIB da China e, por aqui, relatório de produção da Vale (VALE3) no 1T25

MILEI FAZENDO HISTÓRIA

Vai dar para ir para a Argentina de novo? Peso desaba 12% ante o dólar no primeiro dia da liberação das amarras no câmbio

14 de abril de 2025 - 18:22

A suspensão parcial do cepo só foi possível depois que o governo de Javier Milei anunciou um novo acordo com o FMI no valor de US$ 20 bilhões

AUMENTO DA ISENÇÃO

Tabela progressiva do IR é atualizada para manter isento quem ganha até 2 salários mínimos; veja como fica e quando passa a valer

14 de abril de 2025 - 11:47

Governo editou Medida Provisória que aumenta limite de isenção para R$ 2.428,80 a partir de maio deste ano

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Smartphones e chips na berlinda de Trump: o que esperar dos mercados para hoje

14 de abril de 2025 - 8:46

Com indefinição sobre tarifas para smartphones, chips e eletrônicos, bolsas esboçam reação positiva nesta segunda-feira; veja outros destaques

FIM DE UMA ERA

Dólar livre na Argentina: governo Milei anuncia o fim do controle conhecido como cepo cambial; veja quando passa a valer

11 de abril de 2025 - 19:58

Conhecido como cepo cambial, o mecanismo está em funcionamento no país desde 2019 e restringia o acesso da população a dólares na Argentina como forma de conter a desvalorização do peso

ÚLTIMO ROUND

Eletrobras (ELET3) convoca acionistas para aprovar acordo com governo federal e encerrar disputa

11 de abril de 2025 - 15:00

A União ingressou em 2023 com ação questionando dispositivo do estatuto da Eletrobras que limitou a 10% o poder de voto de qualquer acionista

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Taxa sobre taxa: Resposta da China a Trump aprofunda queda das bolsas internacionais em dia de ata do Fed

9 de abril de 2025 - 8:45

Xi Jinping reage às sobretaxas norte-americanas enquanto fica cada vez mais claro que o alvo principal de Donald Trump é a China

DISTINÇÃO PARA OS HERMANOS

Partiu Argentina? Três restaurantes recebem estrela Michelin em 2025; veja quais

8 de abril de 2025 - 19:01

Guia francês reconheceu dois estabelecimentos em Mendoza e um em Buenos Aires

ENTRE A CRUZ E A ESPADA

Javier Milei no fogo cruzado: guerra entre China e EUA coloca US$ 38 bilhões da Argentina em risco

8 de abril de 2025 - 18:31

Enquanto o governo argentino busca um novo pacote de resgate de US$ 20 bilhões com o FMI, chineses e norte-americanos disputam a linha de swap cambial de US$ 18 bilhões entre China e Argentina

DANÇA DAS CADEIRAS

Sai Durigan, entra Anelize: Banco do Brasil (BBAS3) convoca assembleia de acionistas para trocar 5 dos 8 membros do conselho; veja as indicações

8 de abril de 2025 - 13:20

Colegiado passará por mudanças depois de governo Lula ter manifestado a intenção de trocar liderança do conselho; reunião está marcada para 30 de abril do Banco do Brasil

conteúdo BTG Pactual

Brasil x Argentina na bolsa: rivalidade dos gramados vira ‘parceria campeã’ na carteira de 10 ações do BTG Pactual em abril; entenda

5 de abril de 2025 - 12:00

BTG Pactual faz “reformulação no elenco” na carteira de ações recomendadas em abril e tira papéis que já marcaram gol para apostar em quem pode virar o placar

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Um café e um pão na chapa na bolsa: Ibovespa tenta continuar escapando de Trump em dia de payroll e Powell

4 de abril de 2025 - 8:16

Mercados internacionais continuam reagindo negativamente a Trump; Ibovespa passou incólume ontem

MAIS QUE FRIENDS, HERMANOS

Lula reclama e Milei “canta Queen”: as reações de Brasil e Argentina às tarifas de Trump

3 de abril de 2025 - 16:13

Os dois países foram alvo da alíquota mínima de 10% para as exportações aos EUA, mas as reações dos presidentes foram completamente diferentes; veja o que cada um deles disse

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Nem tudo é verdade: Ibovespa reage a balanços e dados de emprego em dia de PCE nos EUA

28 de março de 2025 - 8:04

O PCE, como é conhecido o índice de gastos com consumo pessoal nos EUA, é o dado de inflação preferido do Fed para pautar sua política monetária

SOCORRO INTERNACIONAL

Argentina em apuros: governo Milei pede US$ 20 bilhões emprestados ao FMI

27 de março de 2025 - 18:02

Ministro da Economia negocia com Banco Mundial, BID e CAF; ao longo de sua história, país já realizou 23 empréstimos junto ao Fundo Monetário internacional.

O QUE SABEMOS ATÉ AGORA

Isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil: o que muda para cada faixa de renda se proposta de Lula for aprovada

18 de março de 2025 - 18:43

Além da isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês, governo prevê redução de imposto para quem ganha entre R$ 5 mil e R$ 7 mil; já quem ganha acima de R$ 50 mil deve pagar mais

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O rugido do leão: Ibovespa se prepara para Super Semana dos bancos centrais e mais balanços

17 de março de 2025 - 7:59

Além das decisões de juros, os investidores seguem repercutindo as medidas de estímulo ao consumo na China

BARILOCHE NA GELADEIRA

Bariloche ficou caro depois de Milei? Veja quanto custa uma viagem de 5 dias durante a alta temporada

15 de março de 2025 - 7:49

Valorização artificial do peso e inflação ainda alta fizeram com que os serviços de turismo e a hotelaria tivessem um aumento significativo de preços

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar