Como o Fed e um muro deixaram os investidores desnorteados em Wall Street
Noticiário do dia e grande oscilação dos índices internacionais sugerem que os mercados estão mais guiados por seu lado emocional do que o normal
O humor nos mercados já não estava bom desde ontem, quando o Federal Reserve (Fed), banco central americano, foi menos “pombo” do que o mercado esperava. Depois vem o presidente Donald Trump e ameaça um “desligamento” forçado do governo se não derem a ele US$ 5 bilhões para construir o muro na fronteira com o México.
O "tuite" abaixo ilustra bem o que aconteceu quando saíram as notícias de que Trump iria vetar qualquer proposta orçamentária que não estive a seu gosto. O Dow Jones caiu quase 3%. No fim do pregão terminou com baixa de 1,99%. O S&P 500 cedeu 1,58% e o Nasdaq cedeu 1,63%.
<------ Looks at stocks today pic.twitter.com/rZrw7wCCGb
— FreeFall Capital, No exit door when the time comes (@FreefallCapital) December 20, 2018
No mercado de commodities, o petróleo seguiu afundando e barril do tipo WTI fechou negociado na casa dos US$ 46, menor cotação deste julho de 2017. Contrariando correlações históricas, o dólar também perdeu força ante seus pares. O DXY que mede o valor do dólar ante uma cesta de moedas recou cerca de 0,7%, para 96,3 pontos.
Commodities e dólar em baixa parecem condizentes com o "medo" que ronda os mercados de que uma forte desaceleração global está a caminho.
Olhando os dados acima seria de esperar um dia de pânico por aqui também. Mas o Ibovespa caiu apenas 0,47%, para os 85.269 pontos, reforçando um descolamento com relação ao S&P que já dura alguns dias. No câmbio, o dólar passou o dia em baixa e fechou com uma queda de 0,83%, a R$ 3,8561, menor cotação desde a abertura do mês.
Também no "Twitter", o gestor do fundo Alaska Henrique Bredda, invocou o lendário gestor americano Howard Marks para lembrar da prevalência dos ciclos, algo que discutimos aqui antes da decisão do Fed, dizendo que o movimento de juros se mostra menos relevante que o momento do ciclo econômico americano, que parece estar chegando ao fim.
De fato, desde o fim de setembro, Marks vinha alertando sobre alguns exageros no mercado americano e lembrando que o dinheiro relativamente fácil e grande é feito quando os preços estão baixos, o pessimismo é generalizado e os investidores estão fugindo do risco.
Olho pro S&P... olho pro Brasil criando 58.664 empregos e tendo o melhor novembro desde 2010, e lembro do Howard Marks:
"Cycles always prevail eventually. Nothing goes in one direction forever. Tree’s don’t grow to the sky."
— Henrique Bredda (@hbredda) December 20, 2018
- "Ciclos sempre prevalecem. Nada vai em uma única direção para sempre. As árvores não crescem até o céu"
No meio da tarde, enquanto os investidores (os comprados) se descabelavam em Wall Street, surgiram notícias de um discurso do ex-membro do Fed William C. Dudley com a seguinte frase: “O Fed não está lá para aliviar a dor dos mercados”. Ele também disso que o aperto de juros vai seguir enquanto o BC enxergar que o crescimento da economia está acima do que seria sua tendência de longo prazo de cerca de 2%.
DUDLEY SAYS FED NOT THERE TO TAKE AWAY THE MARKET'S PAIN
HAHAHAHAHAHAHA
— zerohedge (@zerohedge) December 20, 2018
Para alguns isso foi uma grande piada, já que a função do Fed seria, justamente, aliviar os mercados. Já outros observadores avaliam que essa história do Fed garantir a "continuidade da festa", acabou. Powell estaria ciente da pouca "munição" que o Fed dispõe caso uma crise financeira ou forte desaceleração econômica realmente venha prevalecer.
Essas notícias e a grande oscilação dos índices internacionais sugerem que os mercados estão mais guiados por seu lado emocional do que o normal. Para encerrar com Howard Marks, ele ensina que as emoções inevitavelmente levam o preço dos ativos para patamares que são insustentáveis. Ou altas vertiginosas ou quedas extremamente pessimistas.
Assim, ao manter essa consciência de que os ciclos são inevitáveis algumas palavras devem ser excluídas do vocabulário do investidor, como "nunca", "sempre", "para sempre", "não pode", "não deve", "tem que que" e "certamente vai". Essas palavras vão aparecer com maior frequência no noticiário econômico e de investimentos conforme os EUA passam pelo seu "fim de ciclo" e o Brasil parece estar começando o seu. Cuidado com elas.
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