E se a Selic caísse um pouco mais?
Para reunião desta quarta-feira, manutenção em 6,5% é unanimidade, mas há elementos que permitem uma discussão sobre quão estimulativa está a política monetária

O Comitê de Política Monetária (Copom) tem sua última reunião de 2018 nesta quarta-feira e não se espera nada diferente da manutenção da Selic em 6,5% ao ano. No entanto, começam a surgir mais elementos a embasar uma discussão se não haveria espaço para quedas adicionais.
O assunto parece tedioso em uma primeira avaliação, mas pode ser determinante para os investimentos ao longo de 2019. Selic ainda menor estimularia um rearranjo em toda a curva de juros deixando ainda mais atrativos os prefixados de longo prazo e Notas do Tesouro Nacional (NTN-B) que encontramos no Tesouro Direto.
Além disso, Selic menor também daria impulso ao mercado de renda variável, contribuindo para melhorar o resultado das empresas, e estimularia uma ainda tímida recuperação da atividade, que se refletiria com mais força nos fundos de investimento imobiliário.
Toda a agenda do próximo governo se estrutura na expectativa com relação à realização de reformas de natureza fiscal, notadamente a reforma da Previdência. No entanto, o comportamento da inflação, que continua surpreendendo para baixo, e a anêmica retomada da atividade permitem uma discussão sobre o espaço para um ajuste da política monetária. Dado que não existe folga orçamentária para o governo fazer política fiscal anticíclica. O dinheiro acabou.
Tratamos desse tema no domingo ao falar sobre o que pode ser feito enquanto o governo eleito não começa a dar andamento a sua agenda. O economista e pesquisador do Grupo de Conjuntura Econômica da UFRJ, Ricardo de Menezes Barboza, tinha chamado atenção para o fato de que mesmo com todo o estímulo monetário, dado pela queda da Selic de 14,25% para 6,5%, a economia teima em não responder. Segundo o especialista, o juro real pode não estar tão abaixo da taxa neutra.
Toda a discussão gira em torno desses conceitos fundamentais para a política monetária. Falar que a Selic está em 6,5% tem pouco valor se não levarmos em conta a inflação, o juro esperado pelo mercado e essa coisa mais esotérica chamada taxa neutra.
Leia Também
As maiores altas e quedas do Ibovespa em abril: alívio nos juros foi boa notícia para ações, mas queda no petróleo derrubou petroleiras
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Já tratamos desse tema com um pouco mais de profundidade aqui, mas o que precisamos entender é que a taxa real é a taxa nominal descontada da inflação. No caso, consideramos aqui a taxa nominal como o juro de mercado (swap de 360 dias) descontado da inflação projetada para os próximos 12 meses. Essa taxa está na casa dos 2,8% ao ano.
Já a taxa neutra, taxa estrutural ou “r-star” é uma variável não observável, mas que grosso modo seria a taxa capaz de fazer a economia crescer sem gerar pressão inflacionária. Outra forma de traduzir o conceito é que a taxa real é aquela que nem estimula nem atrapalha o crescimento.
Tudo isso para dizer que é possível que nossa taxa neutra pode estar menor do que pensamos, o que abre espaço para o Copom pensar em voltar a cortar a Selic.
A última pesquisa feita pelo próprio BC sobre o tema é de abril de 2017. As estimativas na época mostram taxa neutra de 5% no curto prazo, variando entre 4,5% a 4% num intervalo de dois a cinco anos.
Hoje, com o juro real de 2,8% temos a política monetária estimulativa, como bem diz o BC nos seus comunicados oficiais. Ou seja, a taxa real está abaixo do considerado neutro.
Acontece que algumas estimativas mostram que a taxa neutra pode estar ao redor de 2,5% a 3%. Foi isso que um estudo dos especialistas do Itaú nos mostrou nesta semana. Com isso, temos que o juro real atual pode não estar tão estimulativo quanto se pensa.
No relatório, os especialistas do Itaú dizem que “a recuperação apenas moderada, a partir de 2017, apesar dos juros baixos e após a maior recessão da história do Brasil desde o pós-guerra, traz à tona a necessidade de reavaliarmos o quão estimulativas estão as condições monetárias”. E, por isso, eles partiram para uma nova estimação.
Vou poupar o leitor que chegou aqui até dos detalhes matemáticos, mas o ponto é que o juro neutro caiu nos últimos anos, reflexo da maior austeridade fiscal e da ampliação do crédito, do mercado de capitais e de alteração em outros vetores financeiros, como empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Pelas estimativas do banco, o juro neutro cedeu de 10% no período 2003 a 2008 para cerca de 3% desde 2012.
Mas qual a chance de uma queda acontecer?
Ser conservador está entre as primeiras regras do manual do bom banqueiro central. Uma conhecida alusão diz que o BC é o cara que tira a bebida da mesa quando a festa está começando a ficar boa.
No nosso caso, o BC tem enfatizado em todas as diferentes formas de comunicação que a continuidade de ajustes e reformas é essencial para manutenção da inflação e dos juros baixos e para a redução da taxa estrutural. O BC também diz que revisa as estimativas para essa taxa.
No entanto, essas afirmações e mesmo a postura do BC não devem mudar no curto prazo, pois ainda há grande incerteza sobre a implementação dessa agenda pretendida pelo próximo governo. Além disso, o BC também leva em conta os desafios provenientes do mercado externo.
Por outro lado, o BC não pode ignorar sua função reação (que dita o que deve ser feito com a taxa de juros) caso as projeções de inflação continuem sistematicamente abaixo da meta e a economia siga com uma recuperação muito gradual. O regime de metas vale para os dois lados.
O Relatório de Inflação que sai dia 20 pode estimular essa discussão, pois detalhará projeções até 2021. A atuação do BC, no entanto, visa primordialmente 2019 e, com peso crescente, 2020, em função dos efeitos cumulativos e defasados das ações de política monetária sobre o lado real da economia.
O Banco Fibra foi um dos primeiros a divulgar o “call” de Selic estável em 6,5% ao longo de todo o ano de 2019. No mercado, as projeções do Focus que estavam firmes em 8% desde o começo do ano, já caíram para 7,5%.
O cenário alternativo do Fibra, com 20% de probabilidade, é de que o BC retome o ciclo de queda no último trimestre de 2019, “caso o governo Bolsonaro seja bem-sucedido na aprovação das reformas que garantam a melhora do quadro fiscal no longo prazo, notadamente a reforma da Previdência. Esse recuo da Selic nominal seria simplesmente o reconhecimento da queda da 'taxa neutra' de juros da economia brasileira”.
Quase metade dos apostadores de bets também são investidores — eles querem fazer dinheiro rápido ou levar uma bolada de uma vez
8ª edição do Raio-X do Investidor, da Anbima, mostra que investidores que diversificam suas aplicações também gostam de apostar em bets
14% de juros é pouco: brasileiro considera retorno com investimentos baixo; a ironia é que a poupança segue como preferência
8ª edição do Raio-X do Investidor da Anbima mostra que brasileiros investem por segurança financeira, mas mesmo aqueles que diversificam suas aplicações veem o retorno como insatisfatório
JP Morgan rebaixa Caixa Seguridade (CXSE3) para neutra após alta de 20% em 2025
Mesmo com modelo de negócios considerado “premium”, banco vê potencial de valorização limitado, e tem uma nova preferida no setor
Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA
Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo
Mesmo investimentos isentos de Imposto de Renda não escapam da Receita: veja por que eles precisam estar na sua declaração
Mesmo isentos de imposto, aplicações como poupança, LCI e dividendos precisam ser informadas à Receita; veja como declarar corretamente e evite cair na malha fina com a ajuda de um guia prático
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.
Copom busca entender em que nível e por quanto tempo os juros vão continuar restritivos, diz Galípolo, a uma semana do próximo ajuste
Em evento, o presidente do BC afirmou que a política monetária precisa de mais tempo para fazer efeito e que o cenário internacional é a maior preocupação do momento
Quanto e onde investir para receber uma renda extra de R$ 2.500 por mês? Veja simulação
Simulador gratuito disponibilizado pela EQI calcula o valor necessário para investir e sugere a alocação ideal para o seu perfil investidor; veja como usar
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
Tem offshore? Veja como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa jurídica no IR 2025
Regras de tributação de empresas constituídas para investir no exterior mudaram no fim de 2023 e novidades entram totalmente em vigor no IR 2025
FI-Infras apanham na bolsa, mas ainda podem render acima da Selic e estão baratos agora, segundo especialistas; entenda
A queda no preço dos FI-Infras pode ser uma oportunidade para investidor comprar ativos baratos e, depois, buscar lucros com a valorização; entenda
A coruja do Duolingo na B3: aplicativo de idiomas terá BDRs na bolsa brasileira
O programa permitirá que investidores brasileiros possam investir em ações do grupo sem precisar de conta no exterior
Normas e tamanho do FGC entram na mira do Banco Central após compra do Banco Master levantar debate sobre fundo ser muleta para CDBs de alto risco
Atualmente, a maior contribuição ao fundo é feita pelos grandes bancos, enquanto as instituições menores pagam menos e têm chances maiores de precisar acionar o resgate
Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado
Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
Como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa física no imposto de renda 2025
Tem imóvel na Flórida? Investe por meio de uma corretora gringa? Bens e rendimentos no exterior também precisam ser informados na declaração de imposto de renda; veja como
Bradesco dispara em ranking do Banco Central de reclamações contra bancos; Inter e PagSeguro fecham o pódio. Veja as principais queixas
O Bradesco saiu da sétima posição ao fim de 2024 para o primeiro colocado no começo deste ano, ao somar 7.647 reclamações procedentes. Já Inter e PagSeguro figuram no pódio há muitos trimestres
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Rodolfo Amstalden: Seu frouxo, eu mando te demitir, mas nunca falei nada disso
Ameaçar Jerome Powell de demissão e chamá-lo de frouxo (“a major loser”), pressionando pela queda da taxa básica, só tende a corromper o dólar e alimentar os juros de longo prazo
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell