O que ninguém está vendo
O Brasil, como um país subdesenvolvido , sempre foi muito problemático. Nunca houve espaço para qualquer discussão além da macroeconomia. Estávamos sempre centrados em inflação, desemprego, câmbio, juro.
Após uma semana viajando a trabalho, você chega em casa e percebe que seu filho está gravemente doente. Sua esposa evitou perturbá-lo com essa preocupação enquanto você estava fora. Há algum tempo, não se limpa a sala. A poeira já é espessa e os móveis estão desarrumados. Algumas peças de roupa estão espalhadas pelo corredor que leva aos quartos e a lâmpada da cozinha queimou. Aquilo está uma verdadeira bagunça.
Bem, o que você faz? Imagino que, se for minimamente parecido comigo, você leva seu filho ao hospital. Depois pensamos no resto. O pó despejado nos cantos da sala pode esperar. A febre da prole não.
Se há um problema grave e mais estridente, outros acabam em segundo plano. E é assim mesmo que deve ser. Ocorre, porém, que, como nós quatro sabemos, o diabo pode estar nos detalhes, em coisas esquecidas aqui e ali que podem fazer toda a diferença ao final do processo.
O Brasil, como um país subdesenvolvido (ou emergente, para usar o eufemismo para nossas mazelas históricas), sempre foi muito problemático. Nunca houve espaço para qualquer discussão além da macroeconomia. Estávamos sempre centrados em inflação, desemprego, câmbio, juro. Se ocorre um grande incêndio onde você mora, não há como perder-se em questões menores. Como resultado, nós nem sequer formamos bons microeconomistas.
Primeiro, era a falta de dólares, diante de uma dívida predominantemente em moeda estrangeira num país de baixa corrente de comércio — nas palavras da economista Maria da Conceição Tavares, o tal “estrangulamento externo”, nome pomposo para a dificuldade em obter reservas em moeda forte. Depois, numa economia hiperinflacionária, só se falava em domar os preços. Subsequentemente, a questão dominante é de ordem fiscal. Estamos todos concentrados em conferir uma trajetória convergente para a relação dívida/PIB.
Viés fiscalista
Não estou aqui criticando o viés fiscalista do governo. Ao contrário. Só depois de resolvida essa questão, no sentido de darmos um plano de voo crível para nossa dívida, é que veremos o crescimento se acelerando mais fortemente. Contudo, se enterrarmos nossas cabeças no solo e centrarmos a discussão tão somente no trio dívida pública, desemprego e crescimento, deixaremos escapar coisas muito importantes já em curso na economia brasileira. E, junto com elas, deixaremos também passar excelentes oportunidades de investimento que daí decorrem, o que é mais importante para os nossos fins aqui.
Leia Também
Por que isso é especialmente interessante? Como estão todos discutindo reformas macro e as manchetes dos jornais só falam da Previdência e da guerra comercial sino-americana, há coisas de cunho micro fora do radar. Lembrando um pouco do que fora feito no governo Lula 1 com a tríade Marcos Lisboa, Murilo Portugal e Joaquim Levy, agora temos um esquadrão na política econômica brasileira empenhado em implementar uma agressiva agenda micro, de abertura comercial e acordos bilaterais, de definição e atualização de marcos regulatórios, de uma agenda ampla e profunda de concessões e privatizações.
Meu ponto principal é que essa agenda abre espaço para excelentes oportunidades de investimento, sem que você dependa, por exemplo, do estado de espírito dos dois mais famosos cavaleiros de Thanatos — Donald Trump e Xi Jinping — ou da disposição de Davi Alcolumbre para votar a reforma da Previdência no Senado.
Não precisamos ir muito longe. Veja o que aconteceu com as ações da Ecorodovias na sexta (27). Elas subiram 3,2 por cento num dia ruim de Bolsa, após vitória no leilão para concessões de trechos da BR-364 e da BR-365, com sinergias para suas operações na ligação entre Minas Gerais e Goiás. É só um exemplo de uma série de concessões relevantes para as empresas rodoviárias, incluindo os iminentes aditivos aqui no Estado de São Paulo. A Ecorodovias negocia a uma taxa interna de retorno (TIR) real de cerca de 8 por cento em Bolsa e pode ser beneficiada fortemente dessa plataforma de concessões. A CCR também está bem posicionada e pode ser um player de menor risco.
O fato é que o ministro Tarcísio Gomes de Freitas tem um diagnóstico impecável da necessidade de desenvolver a infraestrutura brasileira e em cada um de seus discursos e manifestações públicas você percebe a disposição dele em tocar esse pipeline, com velocidade e profundidade. Veja, por exemplo, as declarações recentes sobre a prorrogação da Malha Paulista, com impacto imediato e relevante sobre a Rumo — comprei as minhas a 7 reais e não penso em vender uma única ação antes dos 30 reais.
Não é exclusividade dele, tampouco do setor de infraestrutura em âmbito federal. A ministra Tereza Cristina também goza de um olhar e uma competência privilegiados sobre o agronegócio brasileiro, fazendo avançar paulatinamente o segmento e dando contornos bem pragmáticos a um nicho especial da nossa economia, focados em eficiência.
Por sua vez, o brilhante secretário Marcos Troyjo desempenha um papel fundamental no sentido de abrir a economia brasileira e participar da confecção de importantes acordos comerciais, o que vai se traduzir em aumento das exportações e facilitação da importação de bens de capital, com impacto sobre a produtividade e a inflação.
No Banco Central...
No Banco Central, Roberto Campos Neto, além de estar, acertadamente, com uma postura mais contundente no sentido de reduzir a taxa Selic, tem uma abordagem clara em desenvolver o mercado de capitais brasileiro. Cumpre aqui pontuar o trabalho do diretor João Manoel Pinho de Mello, certamente um de nossos melhores microeconomistas.
E, claro, temos um programa de privatização monstruoso a ser tocado pelo também brilhante secretário Salim Mattar. Talvez haja uma primeira impressão de certa lentidão no processo ou de falta de ousadia, com uma listagem tímida de empresas públicas a serem passadas ao setor privado. Considero um erro pensar assim. As coisas levam tempo mesmo.
Primeiro, porque o próprio Salim vem do setor privado. Até você se acostumar com a burocracia e todas as amarras do setor público e com as vicissitudes do pântano das negociações políticas, mesmo as republicanas, demora um pouco mesmo. É um outro mindset, uma realidade completamente diferente. Depois, porque acabou a palhaçada de nomeações políticas, dos apadrinhados e dos amigos do rei — antes, elas superavam metade mesmo em cargos técnicos. Agora, não tem mais nada nesse sentido. Zero. Isso é uma conquista formidável, não só em termos éticos, mas também em eficiência.
Além disso, o pipeline total de empresas a serem privatizadas não foi tornado público. Mesmo que joias da coroa como Banco do Brasil ou Petrobras não passem à iniciativa privada inteiramente, braços dessas companhias acabarão privatizados. E a Eletrobras, para mim, em que pesem declarações pontuais contrárias de Davi Alcolumbre, vai rolar — a chave aqui me parece ser Rodrigo Maia e o jogo está positivo em termos líquidos.
Saindo do âmbito federal e falando de São Paulo, por exemplo, também devemos caminhar a passos largos nesse sentido. João Doria precisa de um bom sequenciamento de reformas e, mais objetivamente, precisa do dinheiro para os cofres do Estado. A Sabesp é uma que deve rolar e poderia dobrar em Bolsa no caso de privatização.
Resumidamente, pela primeira vez na história brasileira, temos uma condução da política econômica efetivamente liberal. Estamos exatamente na transição de um modelo de crescimento comandado pelo Estado para outro em que o setor privado puxa a expansão.
Talvez você dissesse que as declarações do presidente Jair Bolsonaro nem sempre são de cunho liberal, no que eu concordaria. Bolsonaro pode até falar besteira de vez em quando, mas, em termos práticos, ele não faz besteira. A política econômica segue liberal e, daí, surgem excelentes oportunidades de investimento. Conforme essa transição for maturando, teremos os preços das ações acompanhando o crescimento das empresas e de sua participação na economia.
Se a reforma da Previdência, junto ao retorno do crescimento econômico, confere uma trajetória convergente para a dívida pública brasileira no longo prazo, poderemos finalmente apagar o incêndio macro que sempre caracterizou a história do nosso país. Então, pela primeira vez, poderemos focar nas questões microeconômicas. Evidentemente, o investidor que se antecipar a isso sairá à frente.
Mercados
Mercados brasileiros iniciam a semana perto do zero a zero, em dia de agenda local fraca. Investidores monitoram desdobramentos da guerra comercial lá fora, com governo Trump negando novas sanções às empresas chinesas — na sexta, especulação era de que seria exigido delas a deslistagem da NYSE (a Bolsa de Nova York). Em paralelo, chineses confirmaram envio de comitiva aos EUA para negociar tarifas em outubro. Ainda assim, persiste o clima de cautela, mesmo depois de indicadores da indústria chinesa terem vindo acima do esperado. Na Europa, desemprego na Alemanha veio um pouco pior do que as expectativas e gerou algum desconforto.
Na agenda doméstica, relatório Focus trouxe revisão para baixo nas estimativas para taxa Selic — mediana das projeções agora projeta juro básico em 4,75 por cento ao ano ao final de 2019. Dados do setor público consolidado completam a agenda. Nos EUA, sai atividade na região da Chicago.
Banco Central desiste de criar regras para o Pix Parcelado; entenda como isso afeta quem usa a ferramenta
O Pix parcelado permite que o consumidor parcele um pagamento instantâneo, recebendo o valor integral no ato, enquanto o cliente arca com juros
FII com dividendos de 9%, gigante de shoppings e uma big tech: onde investir em dezembro para fechar o ano com o portfólio turbinado
Para te ajudar a reforçar a carteira, os analistas da Empiricus Research destrincham os melhores investimentos para este mês; confira
Quina faz um novo milionário; Lotofácil e Dia de Sorte também têm ganhadores
Enquanto a Quina, a Lotofácil e a Dia de Sorte fizeram a festa dos apostadores, a Mega-Sena e a Timemania acumularam nos sorteios da noite de quinta-feira (4).
Mercado aposta em corte da Selic em janeiro, mas sinais do Copom indicam outra direção, diz Marilia Fontes, da Nord
Para a sócia da Nord, o BC deve manter a postura cautelosa e dar sinais mais claros antes de fazer qualquer ajuste
Fundos de pensão que investiram em títulos do Banco Master entram na mira da Justiça em meio a irregularidades nos investimentos
Investigações apontam para aplicações financeiras fora dos protocolos adequados nos casos dos fundos Amazonprev, Rioprevidência e Maceió Previdência
Time sensação do Campeonato Brasileiro, Mirassol arrecada o equivalente a um terço do orçamento municipal
Sensação do Brasileirão, o Mirassol arrecadou cerca de um terço do orçamento municipal e levou a pequena cidade paulista ao cenário internacional com a vaga na Libertadores
Joesley Batista viajou para a Venezuela para pedir renúncia de Maduro: qual o interesse da JBS e da J&F no país?
Joesley Batista tem relações com o presidente Donald Trump e pediu pelo fim das tarifas sobre a carne. A JBS também tem negócios nos Estados Unidos
Lotomania e Super Sete aproveitam bola dividida na Lotofácil e pagam os maiores prêmios da noite nas loterias da Caixa
Lotofácil manteve a fama de loteria “menos difícil” da Caixa, mas cedeu os holofotes a outras modalidades sorteadas na noite de quarta-feira (3).
Alerta Selic: o que pode impedir o BC de cortar os juros, segundo Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual
A projeção do banco é que a Selic encerre 2025 em 15% e que os cortes comecem de forma gradual em janeiro, alcançando 12% ao final de 2026
Ibovespa a 300 mil pontos? ASA vê a bolsa brasileira nas alturas, mas há uma âncora à vista
Em um cenário dúbio para 2026, os executivos da instituição financeira avaliam o melhor investimento para surfar um possível rali e ainda conseguir se proteger em um ambiente negativo
Segundo carro elétrico mais vendido do Brasil atinge marca histórica de vendas no mundo
Hatch elétrico chinês atinge marca histórica em apenas quatro anos e reforça a estratégia global da BYD no mercado de veículos eletrificados
Retrospectiva Spotify 2025: Bad Bunny lidera o mundo e dupla sertaneja domina o Brasil (de novo); veja como acessar o seu Wrapped
Plataforma divulga artistas, álbuns e músicas mais ouvidos do ano e libera função Wrapped para todos os usuários
De bailarina a bilionária mais jovem do mundo: a trajetória da brasileira que construiu uma fortuna aos 29 anos sem ser herdeira
A ascensão de Luana Lopes Lara à frente da Kalshi mostra como a ex-bailarina transformou formação técnica e visão de mercado em uma fortuna bilionária
Daniel Vorcaro — da ostentação imobiliária à prisão: o caso da mansão de R$ 460 milhões em Miami
A mansão de R$ 460 milhões comprada por Daniel Vorcaro em Miami virou símbolo da ascensão e queda do dono do Banco Master, hoje investigado por fraudes
Lotofácil 3552 faz os primeiros milionários de dezembro nas loterias da Caixa; Mega-Sena e Timemania encalham
A Lotofácil não foi a única loteria a ter ganhadores na faixa principal na noite de terça-feira (2). A Dia de Sorte saiu para um bolão na região Sul do Brasil.
Banco Master: Ministério Público quer Daniel Vorcaro de volta à prisão e TRF-1 marca julgamento do empresário
Uma decisão de sábado soltou Vorcaro e outros quatro presos na investigação do Banco Master
Qual signo manda na B3? Câncer investe mais, Libra investe melhor — e a astrologia invade o pregão
Levantamento da B3 revela que cancerianos são os que mais investem em ações, mas quem domina o valor investido são os librianos
BC Protege+: Como funciona a nova ferramenta do Banco Central que impede a abertura de contas não autorizadas
Nova ferramenta do Banco Central permite bloquear a abertura de contas em nome do usuário e promete reduzir fraudes com identidades falsas no sistema financeiro
CNH sem autoescola: com proposta aprovada, quanto vai custar para tirar a habilitação
Com a proposta da CNH sem autoescola aprovada, o custo para tirar a habilitação pode cair até 80% em todo o país
A palavra do ano no dicionário Oxford que diz muito sobre os dias de hoje
Eleita Palavra do Ano pela Oxford, a expressão “rage bait” revela como a internet passou a usar a raiva como estratégia de engajamento e manipulação emocional