Nem diabo, nem Prada: o legado de Anna Wintour, a lendária editora da Vogue americana, em 10 fatos
Ícone da moda global, Wintour anunciou seu afastamento como editora-chefe da Vogue essa semana; famosa pela rigidez, seu impacto vai muito além do retrato caricato de ‘O Diabo Veste Prada’

O anúncio de que Anna Wintour, a editora-chefe da Vogue americana, está se afastando do cotidiano editorial da publicação pegou de surpresa o universo da moda nesta quinta-feira (26).
Na prática, Anna segue como editora global de conteúdo da Condé Nast, o conglomerado de mídia que ainda inclui títulos como GQ, Vanity Fair e Wired. A mudança, no entanto, altera o status da mulher que, por 37 anos, tornou-se um ícone para fora das fronteiras do mercado editorial.
Para além do corte de cabelo e dos óculos que tornaram-se sua assinatura visual, a editora britânica de 75 anos também ficou conhecida pela rigidez com que conduz seu trabalho.
A fama acabou ganhando projeção com a publicação do livro O Diabo Veste Prada (2003), de Lauren Weisberger, ex-assistente de Wintour. Transformada em filme em 2006, com Meryl Streep e Anne Hathaway, a obra de ficção é assumidamente inspirada na experiência de Weisberger na Vogue e ilustra uma editora temida e por vezes inescrupulosa. Foi o bastante para reforçar a imagem da retratada, que virou ícone pop.
Apesar do sucesso do livro e do filme, que arrecadou US$ 326 milhões e rendeu a Streep uma indicação ao Oscar, resumir o legado e o impacto de Anna Wintour a uma caricatura é um equívoco. Mesmo controversa, sua figura é essencial para entender como a moda evoluiu nas últimas décadas e, especialmente, no início do século 21.

Abaixo, trazemos alguns fatos para compreender Anna Wintour além da fama de O Diabo Veste Prada.
Jornalismo no sangue
Anna Wintour não é a primeira, nem a única jornalista em sua família. Seu pai, Charles Wintour (1917 - 1999) foi um proeminente editor britânico em meados do século 20, quando famosamente assumiu a direção do London Evening Standard de 1959 a 1976, e depois novamente, de 1978 a 1980. Seu maior legado foi na cobertura política e de artes dramáticas de Londres na época.
Charles teve cinco filhos e ainda outro destaque editorial na família, o jornalista britânico e editor de diplomacia do The Guardian, Patrick Wintour.
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Mas antes, a moda
O primeiro trabalho de Anna Wintour foi em uma popular butique londrina quando tinha apenas 15 anos. Posteriormente, ela ainda prestou serviços à Harrods antes de fazer aulas de moda em uma escola local, por influência dos pais.
O jornalismo profissional não apareceria para ela até 1970, quando ingressou o time da recém-formada revista britânica Harper's & Queen (posteriormente Harper's Bazaar) como assistente editorial.
Rebelde com causa
Desde o início da carreira, a visão inovadora de Wintour sobre a moda lhe rendeu embates e até mudanças na carreira. Sua passagem pela Harper's & Queen acabou após longas disputas com a editora da revista. Já em Nova York, para onde se mudou após a saída do título anterior, ela passou nove meses na Harper's Bazaar americana, mas acabou demitida por seus ensaios considerados trangressores, em que questionava o status quo da moda da época.
Os anos (nada) perdidos
Na década que separa a carreira Wintour na Harper's Bazaar americana e na Vogue, ela somou uma série de experiências em diferentes títulos. Foram nestes anos, porém, que ela se tornou uma editora de moda conhecida. Momentos notáveis incluem sua passagem pela revista Viva, pela revista Savvy (que reformaria seu olhar sobre a mulher leitora) e, finalmente, pela celebrada revista New York. Sua intenção, desde o início, no entanto, estava voltada para as páginas da Vogue.

Re-Vogue-lução
O início de Wintour na Vogue foi tudo, menos tranquilo. Antes à frente da edição britânica da revista, que assumiu em 1985, ela promoveu radicais mudanças editoriais e na equipe. Isso começaria a emprestar a ela a fama de rígida. O Nuclear Wintour, como ficou conhecido o período, fazia alusão a Nuclear Winter, o inverno nuclear. Sua intenção era renovar a proposta do título, alinhando-o à edição americana da revista.
Já em 1988, quando assume a Vogue americana, sua primeira capa na edição é um statement em si. Ela mostrava a modelo israelense Michaela Bercu em um par de jeans de US$ 50 da Guess e uma blusa Christian Lacroix avaliada em US$ 10 mil, com barriga de fora e um olhar para fora da câmera. Ali ela demonstrava a que vinha pela frente: um olhar renovado e casual, high low, menos ligado aos cânones da revista e da moda até então.
Rígida, sim, mas...
Wintour é frequentemente descrita como alguém pontual, exigente, que se entedia facilmente e que valoriza a personalidade. "Não gosto de gente que diz sim para tudo que eu possa sugerir. Quero gente com quem possa discutir, que discorde, e apresente um ponto de vista que se reflita na revista", disse ela. No documentário The September Issue (mais sobre ele abaixo), ela ainda admitiria que, por vezes, ela "fica muito brava" no trabalho.
Por outro lado, quem convive com ela também dá notas sobre sua generosidade. Sua filha, Bee Schaffer, garante que Wintour põe todos à frente dela própria.

O império Vogue
A gestão de Wintour tem como marca a renovação necessária e à relevância que a Vogue assumiu, especialmente nos anos 1990, na era das super modelos, e no início dos anos 2000.
Sob sua supervisão, a revista ainda expandiu suas operações com três publicações nascendo de sua gestão, a Teen Vogue, Vogue Living e a Men's Vogue.
O Diabo Veste Prada e The September Issue
O enorme sucesso de O Diabo Veste Prada, com Maryl Streep no papel de uma editora ultimamente cruel, deu a Wintour um novo foco de atenção em meados dos anos 2000. Em vez de aborrecer-se com o filme, Wintour viria a celebrá-lo (ao menos publicamente), considerando-o "realmente divertido" e elogiando sua aptidão para colocar a moda como entretenimento.
Ainda assim, no ano seguinte ao lançamento de O Diabo Veste Prada, um documentário sobre Anna Wintour seria produzido. Lançado em 2009 com direção de R. J. Cutler, The September Issue mostraria os bastidores reais de produção da edição de 2007 da Vogue americana, considerada a mais volumosa da história da publicação.
O filme expõe a personalidade de Anna e mesmo algumas contradições, notadamente em sua relação de oposição com a diretora criativa Grace Coddington. Ainda assim, o retrato que prevalece é de profissionalismo e do comprometimento absoluto da editora com o produto.

Nem Prada...
Falando do estilo pessoal da editora, sempre em escrutínio, suas escolhas parecem menos ligadas ao utilitarismo minimalista da italiana Prada e mais próximo à elegância atemporal da francesa Chanel. Ela também é historicamente associada a calçados da grife Manolo Blahnik.
...e nem um diabo
Para além de suas funções editoriais, Anna Wintour tem uma vasta atuação voluntária, que exerce principalmente como anfitriã do The Met Gala, o baile anual do Instituto de Moda do Metropolitan Museum of Art, em Nova York. A estimativa é de que, o longo dos anos à frente do baile, a editora tenha arrecadado mais de US$ 400 milhões em fundos, apenas para a ala. O instituto, aliás, ganhou novo nome em homenagem a ela em 2014.
Sua atuação, no entanto, não se restringe ao museu, tendo atuado no levantamento de mais de US$ 10 milhões para instituições ligadas ao HIV/AIDS, além da criação de um fundo de mentoria para jovens designers, o CFDA/Vogue Fashion Fund.
Com informações de The Telegraph, Harper's Bazaar e The September Issue.
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