Por que a bolsa Birkin da Hermès virou um ícone da moda — e por que é tão difícil comprar uma
Quem vê o prestígio da Birkin atualmente pode nem imaginar que, na verdade, tudo começou com uma confusão no avião e um saquinho para enjoo

O que veio primeiro: a escassez ou a exclusividade? É verdade que uma coisa está relacionada à outra, especialmente no mundo do luxo. E se existe um item de grife que leva esses conceitos ao limite é a bolsa Birkin, da francesa Hermès. Isso porque o modelo é tão exclusivo e escasso que nem mesmo quem tem dinheiro para comprar consegue sair da loja com uma na mão.
Não, as coisas não são tão fáceis assim para quem sonha com a Birkin própria no armário. Porque não é sobre dinheiro nem produto, é sobre história e relacionamento com a marca, como explica a especialista em luxo e fundadora do Infoluxo, Manu Berger.
E é por isso que, na atualidade, vemos florescer um mercado de super fakes (falsificações extremamente fiéis) e de second-hand (venda de usados) de Birkins. Afinal, quem não tem cão, caça com gato.
Para quem está de fora desse universo, as maiores dúvidas que ficam são: por que esta bolsa é tão difícil de conseguir? E por que ela pode chegar a cifras tão exorbitantes?
O Seu Dinheiro foi atrás da história completa do maior ícone da moda de luxo mundial. Quem vê o prestígio da Birkin atualmente pode nem imaginar que, na verdade, tudo começou com uma confusão no avião e um saquinho para enjoo.
“Birkin, tipo a bolsa?”
É impossível falar da bolsa Birkin sem falar da mulher (Jane) Birkin. Foi graças a um encontro não planejado com a atriz-cantora que Jean-Louis Dumas, o então CEO da empresa, criou a bolsa que se tornaria o maior ícone da maison.
A história parece de filme. Birkin recebeu um upgrade de cabine em um voo, mas, ao fazer a mudança de assento, acabou deixando cair todos os pertences de sua bolsa no corredor do avião. O diálogo que se seguiu poderia facilmente ser encontrado no streaming mais próximo:
— Você deveria ter uma bolsa com bolsos, disse o passageiro ao lado de Birkin.
— O dia que a Hermès fizer com uma com bolsos, eu terei uma dessas, respondeu a atriz.
—- Mas eu sou a Hermès, e eu posso colocar bolsos pra você.
O passageiro, que era ninguém menos do que Dumas, que se juntou à Birkin para fazer um protótipo do modelo. Desenhado por ambos em um saquinho para enjoo, a ideia é que a bolsa fosse maior que a Kelly (outro ícone da marca, nomeado em homenagem à princesa Grace Kelly).
Em 1984, Jane recebeu um dos primeiros modelos-teste — o mesmo que será leiloado em 10 de julho pela Sotheby’s, em uma venda que promete superar os maiores recordes mundiais de leilões de moda.
- Além da peça, a cantora também recebia royalties, que ela destinava a instituições de caridade. O valor era estimado em US$ 40 mil (R$ 221 mil) por ano.
Desde então, foram feitas algumas mudanças no design original. Ou seja, mesmo que você tenha a sorte e a honra de poder comprar uma Birkin, ela não será exatamente como foi a da atriz inglesa. As diferenças, no entanto, passam despercebidas pelo olhar destreinado.
Ao longo da vida, a cantora contava a anedota que, quando fornecia seu nome para check-in em hotéis e imigrações em aeroportos, as pessoas perguntavam: “o sobrenome é Birkin, tipo a bolsa?”.
‘Fazer uma Birkin é como um balé’: a mágica do savoir-faire
Toda essa história quase hollywoodiana, no entanto, não é o que justifica todo o prestígio e exclusividade que a Birkin carrega até hoje.
É o savoir-faire incomparável da Hermès, que antes mesmo de lançar esse modelo, já era reconhecida mundialmente pela extrema qualidade de suas criações.
Os artesãos da marca são treinados por anos para conseguirem fazer uma bolsa Birkin, começando com peças mais simples para enfim chegarem ao item mais exigente da maison.
O processo de fabricar uma única peça leva, no mínimo, 18 horas, e é feito por uma só pessoa, do início ao fim. “É literalmente um balé [de agulhas e linhas]”, descreve Manu Berger, que esteve cara a cara com um dos profissionais responsáveis por fazer a Birkin.
Esta mesma maestria e atenção aos detalhes é usada também para fazer os modelos Kelly e Constance, considerados a santíssima trindade da marca.

Mais um fator que contribui significativamente para a escassez do item são os couros raros usados na fabricação.
A bolsa mais cara já vendida no mundo é, até o momento, a Diamond Himalaya Birkin 30, feita com a pele de um crocodilo-do-Nilo, pintada em tons de branco e cinza. Em 2022, a Sotheby’s a leiloou por mais de US$ 450 mil (R$ 2,4 milhões).
Tal savoir-faire da Hermès é reconhecido e certificado pelo Comité Colbert, instituição francesa que resguarda os princípios do luxo. Todas as bolsas da marca são feitas em território francês, em cerca de doze fábricas espalhadas pelo país. E é também este comitê que assegura a veracidade do “made in France”.
No começo do ano, uma polêmica envolvendo a China pôs em xeque esse princípio, ao mostrar vídeos de Birkins sendo produzidas em fábricas chinesas, por valores bem mais acessíveis. No entanto, a história logo foi apurada: eram fabricantes de super fakes, em busca de atenção midiática.
É importante ressaltar, no entanto, que existem, sim, ateliês de restauração oficiais da Hermès fora da França. É em lugares como esses que as peças são revitalizadas, nas mãos de profissionais treinados nas fábricas francesas.
No vídeo abaixo, é possível ver como funciona um desses ateliês em Hong Kong:
Por que é tão difícil comprar uma bolsa Birkin?
Além do treinamento intensivo recebido pelos artesãos, a marca francesa também treina os seus vendedores para lidarem com a frustração, explica Manu Berger.
A sensação decepcionante de sair da loja sem a compra tão desejada — mesmo tendo o dinheiro em mãos — é, afinal de contas, bem comum entre os clientes.
Nesse sentido, as marcas de luxo, em especial a Hermès, vão na contramão total das últimas tendências do varejo, que aposta cada vez mais no e-commerce. A começar pelo fato de que os modelos mais desejados da marca nem são vendidos no site.
O que importa nesse caso é o relacionamento com a marca, mediado justamente através dos vendedores. Por isso, o momento em que um consultor te convida para ver uma Birkin é visto como uma chancela, uma validação de que você merece ter aquele produto em mãos, por respeitar a história por trás dele.
Geralmente, essa validação vem só depois que você já comprou outros itens da marca, embora não exista uma quantidade nem um valor exato para liberar o acesso à bolsa. O mesmo acontece com a Rolex, que só permite a compra de certos modelos de relógio depois que os clientes já estão no ecossistema da marca há um tempo.
Berger explica melhor: “Quando a Hermès vende uma Birkin, ela não vende uma bolsa. Ela vende a história, o relacionamento, o savoir-faire, o tempo, a raridade. Ela vende um símbolo, não um produto.”
Sendo assim, o objetivo da marca não é vender pelo lucro ou para conferir status a quem, simplesmente, tem dinheiro. A ideia é que a bolsa seja passada de geração em geração, quase como um patrimônio familiar, e não que ela seja só postada no Instagram ou usada para servir um drink dentro, em uma ostentação vazia.
“A Hermès vende a relação com o tempo”, explica a fundadora do Infoluxo.
A ‘lista negra’ da Hermès
É por se preocupar tanto com esse relacionamento e com o próprio legado que a maison francesa tem uma regra de ouro que coloca clientes diretamente na lista negra caso a desobedeçam: é proibido revender as bolsas da Hermès.
- A Ferrari tem um princípio semelhante de “lista de cancelados”, mas, no caso, a montadora italiana condena as personalizações dos carros e observa com rigor a imagem pública dos compradores.
No livro Como entrei na lista negra da Hermès: Minha Vida à Caça da Birkin, a Bolsa mais Desejada do Mundo, o autor Michael Tonello retrata sua incessante busca pelas Birkins ao redor do mundo e como fez para “burlar” o sistema, comprando lenços e outros itens de menor valor em diferentes lojas ao redor do mundo.
O frenesi ao redor da Birkin tornou-se tão intenso que atualmente o mercado de revenda (ou second-hand) da Hermès tornou-se, na verdade, um mercado first-hand, explica Berger. Ou seja: os vendedores vão atrás de itens nunca antes usados para revender para quem tem dinheiro, mas não tem relação com a marca francesa.
A “pegadinha” é que as bolsas revendidas saem por valores muito mais exorbitantes do que os praticados nas lojas oficiais.
“Quem não tem acesso vai pagar o dobro do preço para ter. Mas só o produto não é luxo. Produto é consequência do luxo”, diz a especialista.
* Com informações da Vogue e do New York Times.
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