Coisa de Rico, livro de Michel Alcoforado que promete uma investigação da riqueza no Brasil, vale o burburinho?
Lançado em agosto, Coisa de Rico (Todavia R$ 89,90) narra a trajetória do “antropólogo do luxo” Michel Alcoforado, que se infiltrou entre os mais ricos do país para entender o que, afinal, torna alguém rico no Brasil
Se no último mês um livro dominou os feeds e stories das redes sociais, esse livro é Coisa de Rico (Todavia), de Michel Alcoforado. O autor promete, logo de início, um ensaio de antropologia que explique o que é ser rico no Brasil, afirmando – de maneira jocosa – que nenhum economista, historiador ou sociólogo conseguiria explicar o fascínio dos brasileiros por bens de consumo nos outlets americanos durante o começo dos anos 2010.
No começo do livro encontramos o casal emergente Mário Jorge e Claudette, são eles que abrem as portas do mundo da riqueza para Michel Alcoforado e deixam muito claro que ele precisará se infiltrar nas camadas mais abastadas da população brasileira, usando "mocassins marrons, calça bege, óculos de tartaruga e blazer azul-marinho com botões dourados de Miami".
Olívia, uma herdeira que mora na Suíça, é quem guia Michel pelo árduo caminho de infiltração nas elites tradicionais brasileiras, das famílias ditas “quatrocentonas”. O autor conta, então, que precisou se tornar outra pessoa para ter acesso ao mundo dos brasileiros endinheirados.
Utilizando a identidade de “antropólogo do luxo” Alcoforado conseguiu transitar pelas camadas mais abastadas da sociedade, entrevistando 53 pessoas para sua pesquisa, que resultou na tese de doutorado.
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As teses
De maneira geral, Alcoforado sustenta duas teses. A primeira é que no Brasil ninguém se considera rico, pois a riqueza seria relacional. Desta maneira, sempre há alguém mais rico.
A segunda tese construída ao longo do livro é que no Brasil a riqueza é expressa através de bens de consumo, as “coisas de rico” do título. Mais que dinheiro no banco, relógios, perfumes, bolsas de grife e automóveis são os fatores distintivos.
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O problema com o fôlego
Apesar das cenas espirituosas, Coisa de Rico perde fôlego na segunda metade. Encerrada a narrativa da infiltração, o texto se fragmenta em descrições soltas e citações de clássicos da sociologia e antropologia, sem grande aprofundamento.
Os dados de mercado tampouco acrescentam: são muitos – talvez demais –, mas não dizem quase nada além dos pontos que o autor quer legitimar. As próprias teses carecem de densidade.
Alcoforado parece se preocupar mais com o que faz alguém se sentir rico no Brasil do que com o que de fato faz alguém rico, e o texto acaba soando mais como um conjunto de “causos” do que o fruto de uma reflexão produzida depois de quinze anos de pesquisa.
O mesmo pode ser dito sobre a tese que dá nome ao livro. Ao longo de toda a história, a riqueza – o que se pode constatar pelo esplendor das tumbas egípcias, por exemplo – foi expressa por meio de objetos materiais, e o Brasil não é exceção.
Essa busca por legitimação através da materialidade – em especial por meio de objetos luxuosos e ostentatórios – é uma característica das fortunas emergentes nas mais diversas culturas, diferente do “dinheiro velho”, que se distingue pelo refinamento. Aqui o autor não aponta nenhuma novidade.
Em uma das cenas, por exemplo, o autor diz que “[os novos ricos] enfrentam uma intensa maratona de trocas de endereço de modo que consigam encontrar um lugar capaz de abrigar suas novas identidades”, e aproveita para esclarecer a um grupo de emergentes que Warren Buffett, com uma fortuna de 162 bilhões de dólares, continuou morando na mesma casa em Omaha. A escolha de Buffett é profundamente infeliz, pois o bilionário americano é famoso justamente por sua austeridade atípica. O livro está repleto de exemplos como esse.
Vale o hype?

De modo geral, o texto é divertido e entretém até certo ponto – a primeira metade –, mas depois perde o impulso e a coesão narrativa. Além disso, o tom de coluna social, a profundidade das análises que não ultrapassam o lugar-comum, os vieses e cacoetes do autor se mostram enfadonhos. Seria difícil imaginar uma releitura do livro.
Coisa de Rico, no fim, reafirma as teses que critica: o fetiche do luxo e a superficialidade como estilo.
*O texto reflete somente as opiniões do autor.
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