Trump e Lula podem ter algo em comum: veja o que pode aliviar a fúria do republicano e tirar o Brasil da mira dos EUA
Em entrevista ao Seu Dinheiro, o cientista político e presidente da Eurasia, Ian Bremmer, aponta quais serão os pontos nevrálgicos da relação do Brasil de Lula com o governo de Trump 2.0

Democrata ou republicano, não importa quem é o presidente dos EUA, o Brasil nunca foi uma prioridade para a política externa norte-americana. Mas, sob a primeira gestão de Donald Trump, Washington esnobou Brasília e colocou a Argentina nos holofotes — basta lembrar que ele foi o primeiro presidente desde Jimmy Carter (1977-1981) a não visitar Brasília.
Trump volta à Casa Branca nesta segunda-feira (20) e há uma chance de essa relação deslanchar em meio às muitas cascas de banana no caminho.
Embora o consenso seja de que só existam faíscas entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e Trump na versão 2.0, os dois líderes podem explorar uma via para uma parceria em águas mais tranquilas. Quem diz isso é o cientista político e presidente da Eurasia, Ian Bremmer.
“Enquanto Brasília está se esforçando para construir pontes para um relacionamento produtivo, desafios significativos permanecem. A abordagem pragmática de Lula poderia, teoricamente, se alinhar ao estilo transacional de Trump”, afirma Bremmer em entrevista ao Seu Dinheiro.
Ainda assim, não há como negar que a relação do Brasil de Lula com os EUA de Trump não será das mais fáceis.
O petista não foi convidado para a posse do republicano. A embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, foi a encarregada de representar o governo no evento.
Leia Também
A ausência de convite a Lula, no entanto, não é o sinal mais claro das tempestades que podem cair sobre essa relação. Historicamente, os governantes costumam evitar participar de cerimônias de posse no exterior por questões de segurança, optando por enviar diplomatas como representantes.
Por outro lado, advogados de Jair Bolsonaro (PL) afirmaram que o ex-presidente estava na lista de convidados de Trump, mas ele precisa de autorização judicial para viajar, já que teve o passaporte apreendido em 2024 durante a operação que investigava a tentativa de golpe de Estado.
Na última quinta-feira (16), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou o pedido de devolução do passaporte de Bolsonaro e disse que Michelle, sua esposa, estaria na posse do republicano.
“Se o ex-presidente Bolsonaro for preso, algo que não parece improvável, Trump e seus aliados podem ver isso como perseguição política, semelhante a como Trump percebe seus próprios problemas legais”, afirma Bremmer.
O ponto nevrálgico da relação Brasil-EUA
O ponto nevrálgico da relação Brasil-EUA sob a nova gestão de Trump, no entanto, passa longe da presença/ausência de Lula na posse de hoje.
O País corre o sério risco de entrar na mira do novo chefe da Casa Branca e ser alvo de tarifas pesadas — assim como as já prometidas para a China, o México e o Canadá, por exemplo —, segundo Bremmer.
“Se o governo brasileiro irritar Trump demais, há um risco aumentado de imposição de tarifas injustificadas, ainda que o comércio bilateral seja robusto”, diz o presidente da Eurasia.
E isso não é pouca coisa. Em 2024, as exportações brasileiras para os EUA ultrapassaram a marca de US$ 40 bilhões, totalizando US$ 40,3 bilhões em 2024, pela primeira vez na história comercial entre os dois países.
O Brasil também brinca com fogo, segundo Bremmer, na proximidade com inimigos de Trump, a exemplo da China.
Este ano o Brasil preside o Brics — grupo de países emergentes formado originalmente também pela Rússia, Índia, China e África do Sul e que, no ano passado, foi ampliado para contemplar países como o Irã, outra pedra no sapato de Washington.
“A liderança do Brasil no Brics e sua parceria estratégica com a China adicionam complexidade ao relacionamento com os EUA sob a gestão de Trump”, diz Bremmer.
ONDE INVESTIR EM 2025: Como buscar lucros em dólar com investimentos internacionais
O X da questão entre o Brasil de Lula e os EUA de Trump
Se o ponto nevrálgico entre Brasil e EUA é o tarifaço que Trump pode impor — ainda que sem justificativa plausível — o x da questão dessa relação é outro: Elon Musk.
O bilionário foi um grande apoiador da campanha republicana à Casa Branca no ano passado a ponto de ser escolhido por Trump para o Doge, sigla em inglês para Departamento de Eficiência Governamental.
Ainda que a escolha seja simbólica, já que o órgão não é federal, caberá a Musk — junto com Vivek Ramaswamy, que deixou a disputa republicana para apoiar Trump em 2024 — aconselhar o novo presidente na tomada de decisões relacionadas a mudanças nos gastos do governo norte-americano.
A proximidade de Trump e Musk, que, no passado, já foi crítico do republicano, pode trazer dores de cabeça ao governo Lula, segundo Bremmer.
“O envolvimento de Elon Musk com X no Brasil é um ponto de discórdia. O judiciário brasileiro, que não mostra sinais de ceder, também pode exacerbar as tensões”, diz.
Vale lembrar que, depois de inúmeros embates com Musk — alguns deles públicos, nas redes sociais — o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o X no Brasil porque a plataforma do bilionário não havia cumprido a determinação de indicar um representante legal da empresa no Brasil.
O tango de Milei: Argentina vai tirar Trump para dançar?
Ao que tudo indica, o segundo governo de Trump deve começar de onde parou em relação à proximidade com a América Latina: estreitar laços com a Argentina — prova disso é que o presidente Javier Milei foi o primeiro líder a ser recebido pelo republicano antes mesmo de assumir a Casa Branca.
Quando Trump assumiu pela primeira vez o comando da maior economia do mundo, Maurício Macri era o presidente da Argentina, e os dois viviam trocando declarações públicas de apoio. E não era sem motivo: ambos eram antigos conhecidos, cujas famílias já haviam realizado negócios bilionários em Nova York.
Milei é líder do partido de ultradireita La Libertad Avanza na Argentina e não escondeu suas preferências por Trump durante a campanha às eleições presidenciais dos EUA.
“Trump encontrará mais alinhamento ideológico com a Argentina sob Javier Milei, o que significa que o Brasil precisará agir com cuidado para evitar pressão desproporcional de um governo Trump”, diz Bremmer.
Desde que assumiu a presidência argentina, em dezembro passado, elegeu EUA e Israel como os principais aliados em política externa.
No dia 6 de novembro do ano passado, quando a vitória de Trump já era incontestável, Milei correu para expressar "apoio incondicional" à "liderança" do republicano — a quem classificou como um "exponente do mundo livre, ocidental e capitalista".
Vão voltar às boas? A nova declaração de Elon Musk que pode mudar os rumos da briga pública com Donald Trump
Há quem diga que um deles pode retomar a amizade depois de declarar arrependimento das declarações recentes
Trump anuncia conclusão de acordo entre EUA e China: ‘O relacionamento está excelente!’
Tarifas, no entanto, permanecem; veja o que disse o presidente americano na sua rede social, Truth Social
Sem prazo para acabar, mas com estratégia sem precedentes: os bastidores das negociações entre EUA e China em Londres
As negociações entre os representantes dos dois países acontecem depois que Trump manteve uma longa conversa por telefone com o presidente chinês, Xi Jinping
Elon Musk que se cuide! No hall da fama da WWE: a saga de Donald Trump nos ringues
O bilionário sul-africano talvez não saiba, mas a briga que ele está puxando é com uma verdadeira lenda certificada dos ringues
Bastidores revelados: o que Trump e Xi conversaram por mais de uma hora em meio à guerra de tarifas
Após meses sem contato direto, presidentes da China e dos EUA conversam por telefone sobre comércio entre as duas potências — mas não foi só isso
Presidente dos EUA quebra o silêncio e Musk dispara: “Sem mim, Trump teria perdido a eleição”
Briga entre Elon Musk e Donald Trump esquenta nesta quinta-feira (5); acusações envolvem subsídios para veículos elétricos, comando da Nasa e suposta “ingratidão” presidencial
A nova tacada de Milei para os argentinos tirarem o dólar debaixo do colchão
A grana guardada não é pouca: o Instituto Nacional de Estatística e Censo estima que US$ 246 bilhões estão fora do sistema bancário do país
Em clima de guerra: Elon Musk se junta à oposição e intensifica ataques ao plano econômico de Donald Trump
Após deixar o governo, Musk amplia críticas ao pacote orçamentário de Trump; bilionário fala em “escravidão por dívidas” e confronta presidente dos Estados Unidos
‘Abominação repugnante’ — Elon Musk e Donald Trump, do ‘match’ político à lavação pública de roupa suja
Elon Musk detona projeto de Donald Trump menos de uma semana após deixar governo dos Estados Unidos
Instabilidade no verão europeu: é seguro viajar para Itália, Turquia e Grécia após erupção do vulcão Etna e terremoto?
Fenômenos naturais atingiram alguns dos destinos mais populares para as férias de julho
Por que o mercado erra ao apostar que Trump vai “amarelar”, segundo a Gavekal
Economista-chefe da consultoria avalia se o excepcionalismo norte-americano chegou ao fim e dá um conselho para os investidores neste momento
Rússia lança maior ataque com drones contra a Ucrânia desde o início da guerra — e tensão no Leste Europeu volta a subir
Segundo a Força Aérea Ucraniana, Moscou lançou 472 drones contra o território ucraniano
Trump dobra tarifas sobre aço e irrita aliados — UE ameaça retaliação, Canadá e Austrália reagem
A decisão norte-americana entra em vigor no dia 4 de junho e reacende as tensões com parceiros comerciais. Veja as reações
Trump encerra a semana com mais um anúncio polêmico: aumento das taxas sobre importações de aço de 25% para 50%
A afirmação foi feita durante um comício para trabalhadores da siderúrgica U.S. Steel em Pittsburgh, na Pensilvânia.
Casa Branca leva a melhor: justiça dos EUA suspende decisão que barrava tarifas de Trump; governo ganha tempo para reverter sentença
Corte de Apelações suspende liminar que derrubava tarifas impostas por Trump; ações são unificadas e prazo para novas manifestações jurídicas vai até 9 de junho
Bolsas se animam com decisão de tribunal americano que barrou tarifas de Trump; governo já recorreu
Tribunal de Comércio Internacional suspendeu tarifas fixa de 10%, taxas elevadas e recíprocas e as relacionadas ao fentanil. Tarifas relacionadas a alumínio, aço e automóveis foram mantidas
Na dúvida, fica como está: ata do Fed indica preocupação com as possíveis consequências das tarifas de Trump
A decisão pela manutenção das taxas de juros passou pelo dilema entre derrubar a atividade econômica e o risco de aumento de inflação pelas tarifas
“Estou decepcionado”: Elon Musk reclama de projeto de Trump sobre impostos e gastos nos EUA
O bilionário soltou o verbo em relação a um importante projeto de lei do presidente norte-americano, que pode dar fôlego à política de deportações
Trump volta atrás de tarifa de 50% contra a UE; bolsas europeias recuperam fôlego com morde-assopra
Vale lembrar que, até então, as tarifas anunciadas para a UE incluíam apenas impostos de 20% sobre as importações do bloco
A aposentadoria de Warren Buffett: ‘não vou ficar em casa vendo novela’, diz o megainvestidor
Bilionário anunciou a saída do cargo de CEO no começo deste mês; em entrevista à jornal americano, ele falou mais sobre os planos futuros