Fusão Azul (AZUL4) e Gol (GOLL3): como ela afeta o reinado da Latam e o que acionistas e consumidores ganham (ou não) com isso
Algumas dessas dúvidas sobre a Latam só o tempo dirá, mas há indícios que ajudam a apontar parte das respostas desde já

A possível fusão da Azul (AZUL4) e Gol (GOLL3), controlada pela holding Abra, voltou ao holofote nesta manhã depois das duas assumirem que estão negociando por quais rotas seguirão para atuarem unidas no competitivo setor aéreo nacional. Juntas, as companhias estariam planejando criar uma gigante da aviação capaz de destronar a Latam, sediada no Chile e atual líder do mercado.
Mas como, afinal, essa provável reviravolta interferiria no reinado da Latam? Quão acirrada ficaria a disputa e o que acionistas e consumidores ganhariam (ou não) com isso?
Algumas dessas perguntas só o tempo dirá, mas há indícios que ajudam a apontar parte das respostas desde já. E elas parecem ser de bons ventos para a Latam, assim como para a maturidade do setor aéreo brasileiro como um todo.
Embora competir contra um rival maior e mais estruturado possa parecer um risco, especialistas do setor acreditam que a Latam Airlines claramente está mais competitiva desde a sua passagem pelo Chapter 11 –processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, o mesmo pelo qual a Gol passa hoje.
No caso da Latam, o recurso foi usado de forma voluntária em maio de 2020, reflexo das dificuldades trazidas com a pandemia de covid-19, que na época afetou muitos setores. Para as aéreas, paralisação de transportes, cancelamento de voos, incerteza frente ao dólar, tudo junto e misturado. Aliado à fragilidade de caixa e operações, o cenário para a companhia foi de uma turbulência sem destino e nem hora pra acabar.
Ao ingressar no Chapter 11, o plano da Latam era o de reduzir a dívida e acessar novas fontes de financiamento. Tudo para ter fôlego de seguir em operação, em meio a uma série de falências de empresas aéreas no mundo todo. A desconfiança virou tamanha que o mercado passou até a especular uma possível fusão da Latam com a Azul, veja bem.
Leia Também
Mas o mundo dá muitas voltas.
Permaneçam sentados e com os cintos afivelados
Corta para dois anos e meio depois, em novembro de 2022. Com pompa e alívio a Latam anuncia ao mercado sua saída da Chapter 11, com direito a uma virada de página com requintes de volta por cima. A empresa emergiu da recuperação judicial com uma liquidez de mais de US$ 2,2 bilhões e uma dívida líquida US$ 3,6 bilhões menor — uma redução de cerca de 35% em relação ao período anterior ao processo.
"Hoje é um marco importante para a Latam. Estamos satisfeitos por concluir uma transformação significativa e sair do nosso processo de reorganização com uma posição financeira fortalecida e um compromisso renovado com a excelência operacional", disse o CEO do grupo, Roberto Alvo.
Na reorganização, novos acionistas, que incluíam Sixth Street, Strategic Value Partners e Sculptor Capital Management, se uniram aos acionistas que a empresa já mantinha, Delta, Qatar e a família Cueto.
A maior parte dos recursos foi para, claro, reduzir o endividamento, mas uma fatia foi destinada para fortalecer também a parte operacional, com o intuito de aumentar a eficiência e caixa. Tanto que, nesse caminho, a Latam conseguiu expandir os principais números do negócio. Em setembro de 2022, a empresa passou a atender um total de 142 destinos, o equivalente a 98% do que era voado antes da pandemia (eram 145 destinos em dezembro de 2019).
A melhora operacional e acerto de contas fez com que a Latam recuperasse a confiança do mercado durante a trajetória de turbulência. Em outubro deste ano, a companhia captou US$ 1,4 bilhão com uma oferta de títulos de dívida no exterior, os chamados “bonds", com vencimento em 2030 e remuneração de 7,875%. Com o dinheiro, pagou dívidas, incluindo bônus que venceriam em 2027.
E a liderança voltou a ser sua naquele mesmo mês, segundo dados da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). Ao todo, a companhia obteve quase 39% de participação (RPK) no mercado doméstico brasileiro no acumulado de julho a setembro de 2024. Na operação internacional, a LATAM também lidera com 23,45% do total de participação (RPK) nos voos ligando o Brasil a outros países.
O balanço de 2024 traz os números consolidados: a companhia registrou 34,8 milhões de passageiros transportados em voos domésticos no Brasil, volume 5,6% maior ao período de janeiro a dezembro de 2023.
Enquanto a Latam foi a primeira a levantar a mão e pedir ajuda logo após o início da pandemia, as concorrentes seguiram voo sozinhas. Até agora.
Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente
A questão é que agora o cenário se inverteu - e a Latam está mais fortalecida para qualquer embate. Um relatório recente do BTG defende que a Latam não só ganharia com a fusão das rivais quanto ainda poderia sair mais fortalecida. Isso porque, embora competir contra um rival aéreo maior e mais estruturado possa parecer um risco, a companhia poderia tornar-se uma vencedora indireta da consolidação do setor (e sem comprometer nenhum capital).
“A sobreposição de capacidade entre Gol e Azul não é grande, mas existe em alguns dos hubs mais movimentados do país, como GRU, CGH, SDU e BRB. A Latam poderia naturalmente se beneficiar da racionalização da capacidade aérea nesses aeroportos”, aponta o BTG.
Combinadas, Gol e Azul representariam cerca de 60% do mercado aéreo brasileiro, tornando-se uma grande consolidação e criando um desafio do ponto de vista antitruste.
Sobre isso, o relatório aponta que, em termos legais, é fácil reconhecer o argumento de “empresas falidas” usado para aprovar fusões de empresas, cuja única saída é uma aquisição.
“Com a Gol passando pelo Chapter 11 agora e a Azul ainda precisando de uma grande diluição de capital, esse argumento pode se tornar eficaz. Permitir um acordo como esse também funcionaria em diferentes níveis da combinação de negócios”, traz o documento.
O uso de codeshares, por exemplo, poderia ser uma forma de garantir a aprovação, afirmam os analistas. “Para efeito de comparação, temos outros mercados aéreos onde empresas líderes possuem mais de 60% de participação, como no Chile, por exemplo, com a Latam”.
Uma das iniciativas que ajudou nos resultados da Latam foi a joint venture fechada com a Delta Air Lines, que permitiu a oferta de quatro novas rotas e um crescimento de 58% na oferta de assentos das duas companhias desde o início da parceria.
No passado, a GOL era parte do portfólio de investimentos e parcerias da Delta, mas o acordo chegou ao fim com a joint-venture feita com a LATAM, há um ano.
Questionado em junho sobre o desempenho da Gol, inclusive com uma possível parceria com a Azul no radar, o presidente da Delta, Glen Hauenstein, deixou claro que voltaria a investir na empresa. “O mercado brasileiro é bastante dinâmico, é muito rápido nas mudanças, então eu não penso por si só, não creio que a GOL apresente oportunidades para a Delta e certamente para nossos parceiros pelo globo, eu não vejo oportunidade ali”, afirmou na época.
Sobre a possível fusão da Azul e Gol, a Latam apenas declarou via assessoria de imprensa que “não vai se pronunciar sobre o assunto”.
Atenção tripulação, preparar para a decolagem
Em fato relevante as companhias aéreas deram pistas de como a união será estruturada para equilibrar os interesses tanto da Azul quanto do Grupo Abra. Por governança, o conselho da nova empresa será composto por membros indicados por ambos os lados, além de alguns membros independentes.
Além disso, as marcas Azul e Gol permanecerão separadas, e a liderança será dividida, com o presidente do Conselho indicado pelo Grupo Abra e o CEO pela Azul. Também existe a possibilidade de cláusula “poison pill”, que obriga qualquer comprador de 15% ou mais das ações da nova empresa a fazer uma oferta para adquirir 100% das ações.
Além de 60% do mercado, a nova empresa traria a combinação das operações da Gol, hoje concentradas mais nas capitais, enquanto a parceira atua mais nas cidades do interior.
Nas estimativas do BTG, a receita combinada de Azul e Gol seria de US$ 8 bilhões (cerca de R$ 48 bilhões) e US$ 500 milhões (R$ 3 bilhões) em sinergias. 65% dessas sinergias seriam ser capturadas em até 12 meses após o negócio, chegando a 75% em 2 anos.
As ações das duas decolaram ontem (16/1) com a notícia, reflexo de investidores animados com o que está por vir. Por volta das 14h, os papéis da Gol saltavam 7,98%, negociados a R$ 1,76 (os papéis estão registradas na bolsa sob a categoria “Outras Condições”) e fecharam em alta de 4,29%, a R$ 1,70. Já as ações da Azul voavam 5,44%, a R$ 4,65, figurando como a maior alta do Ibovespa no fechamento.
No entanto, para analistas de grandes bancos, o acordo ainda está bem distante de um terreno firme para aterrissar com segurança.
De fato, o memorando é um sinal verde para a combinação dos negócios, mas ainda não implica em uma obrigação legal imediata ou uma conclusão obrigatória do acordo.
Fora que a Gol ainda está em busca da aprovação de seu plano de recuperação, Chapter 11, nos Estados Unidos. Vale lembrar que a companhia aérea perdeu 85,5% no valor de suas ações no ano passado.
Nesta semana, as duas deram passos financeiros bem importantes. A Gol anunciou um plano de cinco anos para voltar a voar com mais tranquilidade financeira. Dias antes, assim como a Azul, a empresa assinou um acordo bilionário para o perdão de dívidas financeiras com o governo brasileiro.
Mas, para além disso, a visão dos analistas também abarca a falta de firmeza ainda na maneira como essas companhias podem ser melhor precificadas mais para frente. Por isso, Goldman Sachs, BTG Pactual e Santander se posicionaram de forma neutra em relação ao acordo, ainda que vejam a fusão como um passo estratégico, com potencial de melhorar o cenário aéreo brasileiro.
Na visão do Santander, o acordo parece bem positivo, ainda que não tenha sido tão detalhado, e terá “um caminho longo e sinuoso” até que as sinergias potenciais do negócio sejam alcançadas.
Isso inclui a integração de back office (operações de atendimento ao cliente, gestão de voos, etc), esforços comerciais, programas de fidelidade e negócios de carga. Sem contar com os diferentes tipos de aeronaves, treinamento de pilotos e manutenção seriam obstáculos são outros desafios de integração.
O Goldman Sachs ainda menciona um possível risco antitruste, embora a Azul acredite que a sobreposição de rotas entre as duas companhias seja limitada — o que pode evitar questionamentos do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
Para os consumidores seria uma boa forma das companhias voltarem a disputar por preços e vantagens de fato competitivas, tanto de milhas, quanto de ofertas e outros benefícios. Com o mercado como está, as opções para os brasileiros são escassas e, de fato, qualquer empresa sem um competidor à altura tende a normalizar a maneira como já atua, em vez de perseguir uma real melhora de atendimento.
Todos os três bancões concordam, ainda, com a preocupação macroeconômica do país e mundo para 2025 que podem atrapalhar ainda mais qualquer acordo. Volatilidade cambial, flutuações nos preços do combustível, menor demanda por viagens aéreas e a deterioração da economia brasileira estão no pacote.
Preocupações que seriam cruciais para qualquer tipo de negócio, mas que em um cenário de incerteza e turbulência pode deixar as empresas menos líquidas a ponto de ir pelos ares. No caso Latam, aparentemente, o embarque foi antecipado e segue tranquilo.
Depois de um ‘quase divórcio’ na Azzas 2154 (AZZA3), mudanças no conselho levantam bandeira branca
Na manhã desta segunda-feira (30), a companhia anunciou mudanças no conselho de administração; entenda a situação e veja como ficou o quadro
Guararapes (GUAR3): CFO Miguel Cafruni fala da dor e delícia de ter a cadeia completa, e da virada de chave na gestão da dona da Riachuelo
No cargo há pouco mais de um ano, executivo aponta desafio de buscar mais receita e margem e reduzir o endividamento da companhia
Trump afirma já ter um novo dono para o TikTok, mas venda ainda não saiu do papel; entenda o que falta
Com novo prazo, a ByteDance precisa chegar a um acordo até 17 de setembro para evitar um banimento nos EUA
IMC conclui parceria milionária com KFC no Brasil e ajusta estrutura operacional
A operação, que vinha rondando os mercados desde março, cria uma joint venture entre a empresa e uma afiliada da Kentucky Foods Chile
Tecnisa (TCSA3) mira venda de sete terrenos à Cyrela (CYRE3) por R$ 450 milhões; confira o que falta para a operação sair do papel
Além dos terrenos, a operação envolve a venda de CEPACs — títulos que permitem construir acima do limite urbano
Dividendos e JCP: Lojas Renner (LREN3) vai distribuir mais de R$ 200 milhões aos acionistas; confira os detalhes
A varejista de roupas pagará o valor bruto de R$ 0,203061 por ação ordinária, e o dinheiro deve cair na conta dos acionistas em 15 de julho deste ano
Dança das cadeiras: Engie Brasil faz mudanças na diretoria e cria nova área de energias renováveis
Alterações visam alinhamento ao modelo operacional global do grupo
Fale agora ou cale-se para sempre: Minerva (BEEF3) entra com recurso no Cade contra fusão de Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3)
A companhia alega ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica que o aval ao “casamento” desconsidera impactos relevantes à concorrência
Argo e Replan se juntam para criar terceira maior administradora de shoppings do Brasil; conheça
Com 30 shoppings distribuídos pelo país e cerca de R$ 10 bilhões em vendas por ano, conheça a nova gigante do setor
Compra do Banco Master pelo BRB: Galípolo diz que Banco Central precisa de mais informações para avaliar
Operação já foi aprovada pela Superintendência-Geral do Cade e agora aguarda aval da autoridade monetária
Cashback ou BTC: afinal, qual é o modelo de negócios do Méliuz? Falamos com o head da Estratégia Bitcoin da empresa
A empresa diz que o foco em cashback continua valendo como forma de gerar receita; desde o ano passado, porém, a maior parte de seu caixa vem sendo alocado em criptomoedas
Hermanos no contra-ataque: Mercado Livre (MELI34) reage à ofensiva de Amazon e Shopee no Brasil, aponta Itaú
O cenário do e-commerce brasileiro parece uma disputa de mundial, com “seleções” da Argentina, EUA e Cingapura lutando pela “taça” — e todas de olho na entrada da China na competição
Ações da Casas Bahia (BHIA3) voltam a cair hoje após Mapa Capital assinar acordo com bancos para assumir dívida de R$ 1,6 bilhão da varejista
Em meio ao processo de conversão de títulos de dívidas, os papéis da varejista vêm apanhando na bolsa brasileira
Prio (PRIO3) é eleita a favorita do setor pelo Itaú BBA mesmo com queda no preço do petróleo; entenda as razões para a escolha
O banco reafirmou a recomendação de compra para as ações PRIO3 e estabeleceu um novo preço-alvo para o papel na esteira da aquisição da totalidade do campo de Peregrino
Subsidiária da Raízen (RAIZ4) emite US$ 750 milhões em dívida no exterior como parte de estratégia para aliviar Cosan (CSAN3)
A Raízen Fuels Finance, fará a oferta de US$ 750 milhões em notes com vencimento em 2032 e cupom de 6,25%.
Cogna (COGN3) capta US$ 100 milhões com Banco Mundial em busca de transformação digital
Os recursos irão financiar a transformação digital das atividades de graduação e da pós-graduação de uma vertical da companhia
Serena (SRNA3): decisão da AGE abre outro capítulo no fechamento de capital da empresa
A saída da elétrica da bolsa tem sido marcada por turbulências desde a proposta da Actis e do GIC, que ofereceram R$ 11,74 por ação da companhia
Por que as ações da Localiza e Movida despencaram na B3 — spoiler: tem a ver com o governo
Medida do governo pode impactar negativamente as locadoras de veículos, especialmente no valor dos seminovos
Crédito consignado privado ganha espaço no mercado sob liderança do Banco do Brasil (BBAS3), diz BofA
O banco americano considera que, além dos bons resultados ainda iniciais, a modalidade é uma tendência em ascensão
Mais etanol na gasolina: 4 empresas saem na frente, mas só uma é a grande vencedora, segundo o Santander
O cenário é visto como misto para as distribuidoras, mas as produtoras de biocombustíveis podem tirar algum proveito dessa nova regra