Trump cortou as asinhas do Brasil? Os efeitos escondidos da tarifa de 50% chegam até as eleições de 2026
A taxação dos EUA não mexe apenas com o volume de exportações brasileiras, mas com o cenário macroeconômico e político do país

“O Brasil está menos atrativo do que estava ontem, antes disso começar”. Foi assim que o estrategista-chefe da Avenue, Will Castro, definiu a situação do país depois da notícia de que o presidente Donald Trump aumentará de 10% para 50% a tarifa sobre a importação de produtos brasileiros a partir de 1 de agosto.
Ficaram de fora os produtos que já são alvo de taxação, como aço e alumínio, além de automóveis, autopeças, cobre, semicondutores, madeira e minerais críticos. O sobrepreço não será acumulativo.
Além disso, novas taxas ainda devem ser anunciadas, especialmente sobre cobre, produtos farmacêuticos e semicondutores — e podem atingir o Brasil.
Nas contas do BTG Pactual, a partir do começo do mês que vem, a tarifa efetiva de importação para produtos brasileiros nos EUA sobe 35,5 pontos percentuais (p.p), ficando acima de 37%.
Cabe destacar que os EUA são o segundo maior destino das exportações brasileiras, perdendo apenas para a China. Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 40 bilhões ao mercado norte-americano.
- VEJA MAIS: Sem “economês”, o podcast Touros e Ursos, do Seu Dinheiro, traz semanalmente os principais destaques dos investimentos; receba os episódios em primeira mão aqui
Impacto da taxação de Trump para a economia brasileira
Segundo estimativas do BTG Pactual, assumindo que parte das exportações brasileiras será redirecionada gradualmente para outros mercados, o impacto estimado para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 é de US$ 7 bilhões, equivalente a 0,3% da atividade econômica do país. Para 2026, o dano será na casa dos US$ 13 bilhões, ou 0,6% do PIB.
Leia Também
Caso os EUA estendam a tarifa de 50% a todos os produtos — eliminando as exceções que englobam petróleo bruto, o principal produto da pauta de exportação para os EUA —, a perda adicional seria relativamente modesta: de US$ 8 bilhões em 2025 e de US$ 14 bilhões em 2026.
É importante lembrar que ainda não está claro se as exportações de petróleo estarão ou não isentas dessa nova tarifa. Até porque, o petróleo não foi incluído nos anúncios do Dia da Libertação, quando Trump intensificou a guerra comercial contra os parceiros do país.
Veja abaixo os produtos mais exportados para os EUA do Brasil em 2024:

Para a Monte Bravo, no cenário mais severo — ou seja, escalada do embate tarifário a partir de uma retaliação brasileira — pode haver um recuo de até US$ 14,7 bilhões nas exportações brasileiras.
Mas o câmbio pode equilibrar as contas. Uma desvalorização do real ante o dólar pode aliviar parte do impacto.
Com a nossa moeda perdendo valor ante a deles, os produtos do Brasil ficam mais baratos lá fora e mais caros aqui dentro, o que tende a aumentar o volume geral das exportações e reduzir o das importações, melhorando o saldo comercial em pouco mais de US$ 9 bilhões.
Nesse contexto, o Brasil deve estreitar ainda mais suas relações com a China. A corrente de comércio entre os dois países supera os US$ 160 bilhões, mais do que o dobro da corrente entre Brasil e EUA.
O acordo entre Mercosul e União Europeia também representa uma alternativa relevante para mitigar as perdas no acesso ao mercado norte-americano.
Partindo desse pressuposto, o impacto seria limitado para as exportações. “O Brasil é um país relativamente fechado, cerca de 20% do nosso PIB é derivado do comércio global, sendo que a China é o principal parceiro, não os EUA. Então as tarifas tendem a ter um impacto reduzido quando pensamos no PIB como um todo”, afirma Castro.
Ele ressalta que, como a pauta exportadora do país é focada em commodities, esse volume que poderíamos perder nos EUA pode ser compensado por outros parceiros, até mesmo o gigante asiático. BTG, Goldman Sachs e XP também veêm impactos limitados nesse sentido.
No entanto, o economista e professor do Insper Roberto Dumas Damas discorda. “Muita gente fala que o impacto dessa tarifa não é tão grande. Não é bem assim. Você tem um impacto direto e indireto”, alerta em entrevista ao Seu Dinheiro.
Ele fala que diversos setores vão sentir efeitos negativos. “Prejudica o agronegócio”, diz Dammas, citando produtos exportados como suco de laranja, café, celulose e carne bovina — todos com forte presença nas exportações para os EUA. O café, por exemplo, é uma das principais mercadorias brasileiras vendidas ao mercado americano.
E as consequências não param aí: Dumas Damas chama atenção para a pressão cambial que já está no radar. Com o real se desvalorizando, o dólar pode bater R$ 5,60, ou até mais.
Isso encarece os insumos agrícolas importados — como fertilizantes nitrogenados, cloreto de potássio e etc. O resultado é um aumento no custo de produção do agronegócio brasileiro, que já vem pressionado.
Tudo isso nos leva ao real problema de toda essa situação, na visão do economista.
O real problema
Essa dinâmica alimenta efeitos mais indiretos na inflação, juros e câmbio. “Os preços das commodities acabam subindo, impulsionando ainda mais a resiliência da inflação brasileira”, afirma Dumas Damas. E isso, claro, atrapalha os planos do Banco Central de reduzir os juros.
Para ele, não é correto olhar apenas o efeito direto sobre exportações. “Você tem impactos indiretos que vão pelo câmbio, pelo preço das commodities, pelo custo de produção no agronegócio. Bate na inflação, bate nos juros e freia o crescimento econômico.”
Ontem, antes do anúncio da tarifa de Trump ao Brasil, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que a Selic — atualmente em 15% ao ano — só deve começar a cair quando as expectativas para a inflação estiverem ancoradas.
Além disso, as coisas podem piorar bastante caso o governo brasileiro resolva retaliar os norte-americanos — algo que o presidente Lula já prometeu fazer.
O petista confirmou que aplicará tarifas retaliatórias em resposta ao anúncio de Trump de impor 50% de tarifa sobre produtos brasileiros. Ele invocou a Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril no Congresso, que permite ao Brasil adotar contramedidas proporcionais para proteger a competitividade nacional.
Ou seja, as importações ficam mais caras.
“Aí você começa a ter um impacto em outros setores, que não são só os relacionados com a pauta exportadora no Brasil. O efeito se espalha para outras áreas da economia, porque muitos insumos e serviços utilizados por empresas brasileiras vêm dos Estados Unidos. Isso acaba gerando aumento de custos e pressionando a inflação internamente”, reforça Castro, da Avenue.
Outra frente que pode ser prejudicada é o fluxo de capital estrangeiro para o país, que garantiu ao Ibovespa o posto de melhor investimento do primeiro semestre, com uma valorização de 15%. Mesmo que ainda seja cedo para cravar isso na visão dos especialistas, é algo que está no radar.
“Eu acho que o normal seria o investidor estrageiro que entrou, sair agora e, pelo menos, embolsar a parte dos lucros, já que foi um bom ganho no ano. Não estou dizendo que acabou a festa para a bolsa, eu acho que depende também da postura do governo e como essa resposta vai avançar”, diz Castro.
Com saída de capital estrageiro, a tendência é que o dólar se valorize, na visão dos especialistas.
As eleições de 2026
Outro ponto para se considerar são as consequências da taxação no cenário político, mais precisamente, nas eleições de 2026 — que afeta diretamente o mercado de capitais brasileiro.
Com a taxa de 50%, o Brasil entra para a lista de países com as maiores tarifas médias aplicadas pelos Estados Unidos. Cabe lembrar que, até então, entre os mortos e feridos da guerra comercial de Donald Trump, nós estávamos no segundo grupo, com machucados de pouca gravidade.
No Dia da Libertação, o Brasil recebeu uma das tarifas mais brandas anunciadas por Trump. Isso trouxe grande alívio aos mercados e nem mesmo a taxação de 25% sobre aço e alumínio, oficializada em março, havia gerado grande turbulência.
Na verdade, o país se beneficiou parcialmente da guerra comercial: com o aumento da aversão ao risco e a saída de capital dos EUA, parte desses recursos acabou encontrando espaço por aqui.
Mas Trump não estava sendo “bonzinho” conosco.
O Brasil enfrentava tarifas mais brandas porque mantém um déficit na balança comercial com os Estados Unidos — ou seja, compra mais do que vende. Na ocasião, a ofensiva de Trump mirava principalmente países com superávit nas trocas com os EUA, vistos por ele como responsáveis pelos desequilíbrios comerciais norte-americanos.
Por isso Trump não deu uma motivação econômica para sobretaxar o Brasil, o viés foi político. O presidente norte-americano abriu a carta com a nova taxação citando o tratamento dado pela justiça brasileira ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a regulamentação das redes sociais em curso por aqui.
Na visão de Dumas Damas, o posicionamento de Trump representa uma interferência na soberania do Brasil. “Ele usou um lado político, que de política econômica não tem nada”, afirma.
Para ele, a coalizão de direita na disputa pela presidência em 2026 pode sair prejudicada pela argumentação de Trump. Até então, um governo de direita vinha sendo antecipado como um fator positivo para os mercados domésticos, com a expcativa de mais responsabilidade fiscal.
“A Faria Lima e o mercado em geral estavam comprando alguém menos populista no pleito e isso estava trazendo benefícios para a nossa bolsa. Agora essa coalizão perde força porque a esquerda já está chamando a sobretaxa de ontem de tarifas do Bolsonaro”, reforça Dumas Damas.
Caso Lula venha a se reeleger para um quarto mandato, o professor avalia que o petista pode interpretar o resultado como um endosso popular ao seu estilo de governo.
“Veja, se eu sou reeleito pela quarta vez, então eu entendo que todo mundo apoia a minha verve de que gasto é vida. Posso aumentar meus gastos fiscais”, diz.
Lotofácil, Quina e Dupla Sena dividem os holofotes com 8 novos milionários (e um quase)
Enquanto isso, começa a valer hoje o reajuste dos preços para as apostas na Lotofácil, na Quina, na Mega-Sena e em outras loterias da Caixa
De Lula aos representantes das indústrias: as reações à tarifa de 50% de Trump sobre o Brasil
O presidente brasileiro promete acionar a lei de reciprocidade brasileira para responder à taxa extra dos EUA, que deve entrar em vigor em 1 de agosto
Tarifa de 50% de Trump contra o Brasil vem aí, derruba a bolsa, faz juros dispararem e provoca reação do governo Lula
O Ibovespa futuro passou a cair mais de 2,5%, enquanto o dólar para agosto renovou máxima a R$ 5,603, subindo mais de 2%
Não adianta criticar os juros e pedir para BC ignorar a meta, diz Galípolo: “inflação ainda incomoda bastante”
O presidente do Banco Central participou de uma audiência pública na Câmara dos Deputados e ressaltou que a inflação na meta é objetivo indiscutível
Lotofácil deixa duas pessoas mais próximas do primeiro milhão; Mega-Sena e Quina acumulam
Como hoje só é feriado no Estado de São Paulo, a Lotofácil, a Quina e outras loterias da Caixa terão novos sorteios hoje
Horário de verão pode voltar para evitar apagão; ONS explica o que deve acontecer agora
Déficit estrutural se aprofunda e governo pode decidir em agosto sobre retorno da medida extinta em 2019
Galípolo diz que dorme tranquilo com Selic em 15% e que o importante é perseguir a meta da inflação
Com os maiores juros desde 2026, Galípolo dispensa faixa e flores: “dificilmente vamos ganhar o torneio de Miss Simpatia no ano de 2025”
Investidores sacam R$ 38 bilhões de fundos no ano, e perdem a oportunidade de uma rentabilidade de até 35,8% em uma classe
Dados da Anbima mostram que a sangria dos multimercados continua, mas pelo menos a rentabilidade foi recuperada, superando o CDI com folga
Cury (CURY3): ações sobem na bolsa depois da prévia operacional do segundo trimestre; bancos dizem o que fazer com os papéis
Na visão do Itaú BBA, os resultados vieram neutros com algumas linhas do balanço vindo abaixo das expectativas. O BTG Pactual também não viu nada de muito extraordinário
Bolsa, dólar ou juros? A estratégia para vencer o CDI com os juros a 15% ao ano
No Touros e Ursos desta semana, Paula Moreno, sócia e co-CIO da Armor Capital, fala sobre a estratégia da casa para ter um retorno maior do que o do benchmark
Lotofácil inicia a semana com um novo milionário; Quina acumula e Mega-Sena corre hoje valendo uma fortuna
O ganhador ou a ganhadora do concurso 3436 da Lotofácil efetuou sua aposta em uma casa lotérica nos arredores de São Luís do Maranhão
Cruzar do Atlântico ao Pacífico de trem? Brasil e China dão primeiro passo para criar a ferrovia bioceânica; entenda o projeto
O projeto pretende unir as ferrovias de Integração Oeste-Leste (Fiol) e Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia Norte-Sul (FNS) ao recém-inaugurado porto de Chancay, no Peru.
Primeira classe só para Haddad: Fazenda suspende gastos em 2025; confira a lista de cortes da pasta
A medida acontece em meio à dificuldade do governo de fechar as contas públicas dentro da meta fiscal estabelecida para o ano
Bolsa, bancos, Correios e INSS: o que abre e fecha no feriado de 9 de julho em São Paulo
A pausa pela Revolução Constitucionalista de 1932 não é geral; saiba como funciona a Faria Lima, os bancos e mais
Agenda econômica: IPCA, ata do Fed e as tarifas de Trump; confira o que deve mexer com os mercados nos próximos dias
Semana marcada pelo fim do prazo para as tarifas dos EUA em 9 de julho, divulgação das atas do Fed e do BoE, feriado em São Paulo e uma série de indicadores-chave para orientar os mercados no Brasil e no mundo
ChatGPT vai ter que pagar direitos autorais? Brics acende discussão sobre ‘injustiça’ da inteligência artificial
Mais uma vez, países emergentes e países desenvolvidos devem entrar em uma disputa sobre os termos para tratamento de informações
O roubo do século, o voto de confiança para o Banco do Brasil (BBAS3), o super iate da Ferrari e os novos milionários do Brasil chamam a atenção nesta semana
Veja as notícias mais lidas no Seu Dinheiro de domingo passado (29) para cá
Mega-Sena acumula para R$ 28 milhões e Lotofácil tem ganhador ‘fominha’ de Roraima que leva o prêmio inteiro sozinho
Sorteios do concurso 2884 da Mega e do 3435 da Lotofácil aconteceram na noite deste sábado (5)
Além da Mega-Sena, você tem mais 2 chances para ficar milionário hoje; veja os prêmios das loterias
Loterias da Caixa revelam os números ganhadores nesta noite
Corte de juros fica para depois: bancos adiam otimismo com a Selic, segundo pesquisa; saiba quando a redução deve vir
A maioria crê que a redução da taxa básica de juros deve acontecer por conta de horizonte de política monetária mais próximo da meta de inflação de 3%