Bolsa ladeira abaixo, dólar morro acima: o estrago que o dado de inflação dos EUA provocou nos mercados
Os investidores ainda encararam o segundo dia de depoimentos do presidente do Fed, Jerome Powell, ao Congresso e uma declaração polêmica de Trump sobre os preços

O jogo só acaba quando termina — e quando o assunto é inflação, esse ditado do esporte vale ainda mais. Nesta quarta-feira (12), o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA derrubou as bolsas lá fora e aqui, fez o dólar disparar e mostrou que a partida do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não está ganha.
Desde que o BC dos EUA realizou a maior sequência de aperto monetário em décadas, a inflação vem desacelerando do pico de dois dígitos para números mais próximos da meta de 2% ao ano.
Só que desde o final do ano passado, dados mostram uma estagnação no processo de combate à inflação por lá — e o CPI de janeiro só reforçou essa tendência de reaquecimento dos preços.
No mês passado, o índice de preços ao consumidor norte-americano saltou 0,5% em base mensal, colocando a taxa de inflação anual em 3%. Os números estão acima das respectivas estimativas da Dow Jones de 0,3% e 2,9%.
O núcleo do CPI, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, subiu 0,4% no mês e 3,3% nos últimos 12 meses, ambos também acima do esperado.
Falando ao Congresso pelo segundo dia, o presidente do Fed, Jerome, Powell disse que o relatório de inflação de hoje oferece o mais recente lembrete de que o banco central fez "grande progresso" no sentido de aproximar a inflação de sua meta, mas "ainda não chegamos lá".
Leia Também
A reação dos mercados ao dado — que não é o preferido do BC dos EUA para medir a inflação, mas também é acompanhado de perto — não foi das melhores.
Uma ampla liquidação ocorreu após a divulgação do CPI com o Dow Jones recuando 400 pontos e a maior parte componentes do S&P 500 e do Nasdaq operando com 1% de queda.
No fechamento, o Nasdaq conseguiu se recuperar, terminando o dia com alta de 0,03%, enquanto Dow e S&P 500 minimizaram as perdas, recuando 0,50% e 0,27%, respectivamente.
A maioria das ações de tecnologia de mega capitalização, incluindo Amazon, Microsoft e Alphabet, recuaram. Os papéis de empresas do setor de consumo também passaram a operar no vermelho a exemplo da Home Depot, junto com ações de bancos que podem ser prejudicadas se a economia desacelerar sob o peso de juros muito altos.
No mercado de dívida, o yield (rendimento) dos títulos do Tesouro norte-americano de 10 anos, uma referência para hipotecas e outros empréstimos, saltou para além de 4,6% após o CPI.
Por aqui, o impacto da aceleração da inflação nos EUA também foi sentido. O Ibovespa passou a cair mais de 1%, encerrando o dia aos 124.380,21 pontos (-1,69%). Já o dólar no mercado à vista renovou máxima intradia ao tocar R$ 5,7873, e acabou a sessão cotado a R$ 5,7631 (-0,08%).
- VEJA MAIS: Brasil está na mira do tarifaço de Trump – confira os impactos dessa mudança nos seus investimentos
Inflação acelerando, juros em alta
A reação do mercado tem um motivo: a aceleração da inflação reduz ainda mais as chances de cortes de juros nos EUA este ano — que já eram poucas.
Em dezembro, o comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) apresentou as atualizações das projeções econômicas e reduziu de quatro para duas as probabilidades de diminuição da taxa referencial em 2025.
Em janeiro, o Fomc manteve os juros na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano e, desde então, o presidente do Fed, Jerome Powell, vem reafirmando que o banco central norte-americano não tem pressa para fazer ajustes na política monetária.
Falando ontem na primeira das duas aparições semestrais no Congresso, Powell voltou a repetir a mensagem aos senadores. Hoje, ele está na Câmara e voltou a dar o mesmo recado aos investidores.
Imediatamente após a participação de Powell no Senado, os investidores adiaram as chances de corte de juros nos EUA neste ano de junho para julho. Depois dos dados de inflação de hoje, a probabilidade do primeiro corte foi postergada para setembro.
A ferramenta FedWatch do CME Group mostrava chance estimada de corte de 55,1% em setembro — primeiro mês em que a probabilidade supera 50%.
O cenário mais provável para setembro continua sendo de redução de 0,25 ponto porcentual (40,5%), enquanto as apostas para afrouxamento de 0,50 ponto porcentual baixaram consideravelmente, de 23,1% antes da divulgação do CPI para 12,8% após o dado. A chance de manutenção dos juros, entretanto, cresceu de 28,2% para 44,9%.
COMO o MERCADO reagiu a MEDIDAS de TRUMP e DEEPSEEK: e O QUE FAZER com AÇÕES INTERNACIONAIS AGORA
O que pensam os especialistas sobre a inflação e os juros nos EUA
Se o mercado adiou para setembro a probabilidade de corte de juros nos EUA este ano, os especialistas estão ainda mais céticos sobre a continuidade do afrouxamento monetário pelo Fed.
Para a Capital Economics, a inflação tem oscilado nos mesmos níveis por algum tempo e claramente não está mais em trajetória firme de queda.
Neste cenário, a consultoria britânica diz que o corte único de 0,25 pp neste ano precificado pelo mercado é dovish demais, isto é, uma visão demasiadamente favorável ao afrouxamento monetário.
“O Fed deixará os juros inalterados pelo menos nos próximos 12 meses”, diz a Capital Economics, descartando qualquer chance de corte de juros em 2025.
Em nota a clientes, o banco canadense CIBC diz que o dado de inflação de janeiro legitima a postura do Federal Reserve de manter os juros inalterados até ver uma desaceleração nos preços.
Já André Valério, economista do Inter, vê chance de corte de juros nos EUA no segundo semestre, provavelmente em setembro.
“A retomada dos cortes antes disso dependerá de uma piora substancial do mercado de trabalho, que, como o payroll indicou na última sexta, não parece estar no horizonte”, diz.
- SAIBA MAIS: Com o 4T24 no radar, analista acredita que uma ação exportadora deve ter “resultado excelente” e ser um dos grandes destaques de fevereiro
Ainda tem o Trump...
O presidente dos EUA, Donald Trump, não concorda nem com o mercado, nem com Powell e muito menos com os especialistas.
O republicano reagiu à aceleração do índice de preços ao consumidor de janeiro em publicação na Truth Social.
"Inflação do Biden acelera!", escreveu ele, sugerindo que o aumento de preços segue como efeito da gestão passada, do ex-presidente democrata Joe Biden.
Trump, que tomou posse em 20 de janeiro, vem adotando uma série de medidas que podem ajudar a alimentar a inflação nos EUA — tarifas comerciais, endurecimento das regras de imigração e isenção de impostos.
Muitos especialistas dizem que a pausa que o Fed vem fazendo no corte de juros tem relação com os efeitos que essas medidas devem ter sobre a economia norte-americana.
Em dezembro, embora não tenha citado Trump nominalmente, o Fomc dizia que as mudanças na política em Washington poderiam afetar o ritmo do afrouxamento monetário no país.
Cuidado com a cabeça: Ibovespa tenta recuperação enquanto investidores repercutem ata do Copom
Ibovespa caiu 0,77% na segunda-feira, mas acumula alta de quase 7% no que vai de março diante das perspectivas para os juros
Inocentes ou culpados? Governo gasta e Banco Central corre atrás enquanto o mercado olha para o (fim da alta dos juros e trade eleitoral no) horizonte
Iminência do fim do ciclo de alta dos juros e fluxo global favorecem, posicionamento técnico ajuda, mas ruídos fiscais e políticos impõem teto a qualquer eventual rali
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.
Goldman Sachs de saída da Oncoclínicas? Banco vende maior parte da fatia em ONCO3 para gestora de private equity; operação reacende discussão sobre OPA
O banco norte-americano anunciou a venda de 102.914.808 ações ordinárias ONCO3, representando 15,79% do capital social total da Oncoclínicas
Investir em Petrobras ficou mais arriscado, mas ainda vale a pena colocar as ações PETR4 na carteira, diz UBS BB
Mesmo com a visão positiva, o UBS BB cortou o preço-alvo para a petroleira estatal, de R$ 51,00 para os atuais de R$ 49,00
Eles perderam a fofura? Ibovespa luta contra agenda movimentada para continuar renovando as máximas do ano
Ata do Copom, balanços e prévia da inflação disputam espaço com números sobre a economia dos EUA nos próximos dias
Agenda econômica: Ata do Copom, IPCA-15 e PIB nos EUA e Reino Unido dividem espaço com reta final da temporada de balanços no Brasil
Semana pós-Super Quarta mantém investidores em alerta com indicadores-chave, como a Reunião do CMN, o Relatório Trimestral de Inflação do BC e o IGP-M de março
Sem OPA na Oncoclínicas (ONCO3): Empresa descarta necessidade de oferta pelas ações dos minoritários após reestruturação societária
Minoritários pediram esclarecimentos sobre a falta de convocação de uma OPA após o Fundo Centaurus passar a deter uma fatia de 16,05% na empresa em novembro de 2024
Juros nas alturas têm data para acabar, prevê economista-chefe do BMG. O que esperar do fim do ciclo de alta da Selic?
Para Flávio Serrano, o Banco Central deve absorver informações que gerarão confiança em relação à desaceleração da atividade, que deve resultar em um arrefecimento da inflação nos próximos meses
Co-CEO da Cyrela (CYRE3) sem ânimo para o Brasil no longo prazo, mas aposta na grade de lançamentos. ‘Um dia está fácil, outro está difícil’
O empresário Raphael Horn afirma que as compras de terrenos continuarão acontecendo, sempre com análises caso a caso
Bolão fatura sozinho a Mega-Sena, a resposta da XP às acusações de esquema de pirâmide e renda fixa mais rentável: as mais lidas da semana no Seu Dinheiro
Loterias da Caixa Econômica foram destaque no Seu Dinheiro, mas outros assuntos dividiram a atenção dos leitores; veja as matérias mais lidas dos últimos dias
Engie Brasil (EGIE3) anuncia compra usinas hidrelétricas da EDP por quase R$ 3 bilhões — e montante pode ser ainda maior; entenda
O acordo foi firmado com a EDP Brasil (ENBR3) e a China Three Gorges Energia, com um investimento total de R$ 2,95 bilhões
AgroGalaxy (AGXY3) adia outra vez balanço financeiro em meio à recuperação judicial
A varejista de insumos para o agronegócio agora prevê que os resultados do quarto trimestre de 2024 serão divulgados em 22 de abril
Dividendos e JCP pingando na carteira: Rede D’Or (RDOR3) e outras 4 empresas anunciam mais de R$ 1 bilhão em proventos
Além do gigante hospitalar, a Localiza, Grupo Mateus, Track & Field e Copasa anunciaram JCPs e dividendos; saiba como receber
Por que a ação da Casas Bahia (BHIA3) salta 45% na B3 na semana, enquanto outra varejista desaba 18%?
A ação da varejista acumulou uma valorização estelar superior a 45% nos últimos pregões; entenda o movimento
Fundador do Nubank (ROXO34) volta ao comando da liderança. Entenda as mudanças do alto escalão do banco digital
Segundo o banco digital, os ajustes na estrutura buscam “aumentar ainda mais o foco no cliente, a eficiência e a colaboração entre países”
Ação da Petz (PETZ3) acumula queda de mais de 7% na semana e prejuízo do 4T24 não ajuda. Vender o papel é a solução?
De acordo com analistas, o grande foco agora é a fusão com a Cobasi, anunciada no ano passado e que pode ser um gatilho para as ações
Hora de comprar: o que faz a ação da Brava Energia (BRAV3) liderar os ganhos do Ibovespa mesmo após prejuízo no 4T24
A empresa resultante da fusão entre a 3R Petroleum e a Enauta reverteu um lucro de R$ 498,3 milhões em perda de R$ 1,028 bilhão entre outubro e dezembro de 2024, mas bancos dizem que o melhor pode estar por vir este ano
Agora vai, Natura (NTCO3)? Mercado não “compra” a nova reestruturação — mas ações tomam fôlego na B3
O mercado avalia que a Natura vivencia uma verdadeira perda, dada a saída de um executivo visto como essencial para a resolução da Avon. O que fazer com as ações NTCO3 agora?
Não fique aí esperando: Agenda fraca deixa Ibovespa a reboque do exterior e da temporada de balanços
Ibovespa interrompeu na quinta-feira uma sequência de seis pregões em alta; movimento é visto como correção