Como os conflitos no Mar Vermelho mexem com o seu bolso — e quais são os ganhadores e perdedores na bolsa
O que parecia uma ação localizada começa a se espalhar e ganhar contornos econômicos mais significativos — e você pode ganhar ou perder dinheiro com isso

O Mar Vermelho está a mais de 10 mil quilômetros do Brasil ou a pelo menos 20 horas de voo de distância. Então é fácil olhar para os conflitos que acontecem por lá e pensar que não afetam os investimentos aqui. Mas, se você faz parte desse grupo de investidores, o Seu Dinheiro tem um recado: esses eventos podem mexer com o seu bolso.
Para saber como isso é uma realidade mais próxima do que parece, precisamos entender primeiro o que acontece no Mar Vermelho — e por que essa é uma rota marítima vital.
É importante também considerar que as tensões na região estão aumentando, com a entrada de novos atores em cena. Por essa razão, há chances de o conflito escalar ainda mais, mudando o quadro traçado para o momento.
Por enquanto, os ataques têm se concentrado em Bab el-Mandeb, um estreito que forma um pequeno ponto de estrangulamento geográfico no Mar Vermelho e tem uma influência enorme nos assuntos mundiais, especialmente sobre o comércio internacional.
O local é a chave para o controle de quase toda a navegação entre o Oceano Índico e o Mar Mediterrâneo por meio do Canal de Suez.
Os recentes ataques das forças Houthi contra a navegação comercial em Bab el-Mandeb levaram uma coalizão liderada pelos EUA a lançar ofensivas militares contra alvos controlados pelos militantes Houthi — e foi aí que o conflito passou a ganhar novos contornos.
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Mas quem são os Houthi?
Os Houthi são rebeldes iemenitas — que levam esse nome por conta de seu fundador, Hussein al-Houthi.
O grupo realizou o primeiro levante em 2004 contra o governo oficial do Iêmen, acusado de estar do lado da Arábia Saudita. Desde 2014, eles controlam a capital Sanaa e grande parte do oeste e do sul do país.
Os Houthi são, em sua maioria, muçulmanos xiitas com vínculos com o Irã — que financia a rebelião contra o governo majoritariamente muçulmano sunita do Iêmen e ataques à Arábia Saudita, também liderada pelos sunitas.
No final de 2023, os Houthi começaram a atacar navios em Bab el-Mandeb em apoio ao Hamas — também ajudado pelo Irã — e que atualmente trava uma guerra na Faixa de Gaza contra Israel.
Desde então, as forças Houthi disparam mísseis contra vários navios no estreito de Bab el-Mandeb, além de mísseis contra Israel.

O peso do Mar Vermelho na economia global
O grande problema desse conflito é que o estreito de Bab el-Mandeb, o Mar Vermelho e o Canal de Suez são ligações vitais da principal rota de navegação do mundo, entre a Ásia e a Europa.
A Organização Marítima Internacional estima que até um quarto da navegação mundial passe por essa região — o que equivale a bilhões de toneladas de carga todos os anos.
Entre essas cargas estão 4,5 milhões de barris de petróleo por dia, originários do Golfo Pérsico e de países asiáticos, de acordo com a Administração de Informações sobre Energia dos EUA.
Não à toa, várias potências mundiais, entre elas EUA e China, mantêm grandes bases militares na região de Bab el-Mandeb para evitar que o estreito seja alvo de hostilidades.
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O primeiro efeito do conflito no seu bolso
O efeito imediato dos ataques dos Houthi em Bab el-Mandeb foi o aumento dos custos do transporte marítimo.
Cálculos do UBS mostram que esses custos subiram 115% desde meados de novembro e até 250% em algumas das rotas China-Europa.
“Os ataques de militantes Houthi no Iêmen a navios que atravessavam o Mar Vermelho perturbaram significativamente as rotas marítimas e fizeram com que pelo menos parte do comércio através do Canal de Suez e do estreito de Bab el-Mandeb fosse desviado para o extremo sul de África — adicionando cerca de 9 dias para uma viagem média entre Taiwan e a Holanda, por exemplo”, diz o economista do UBS, Arend Kapteyn.
O gráfico abaixo mostra o volume diário de comércio que passa pelo Canal de Suez e pelo estreito de Bab el-Mandeb — uma queda de 40% a 45% desde meados de novembro em relação ao ano anterior.

O segundo efeito dos ataques no Mar Vermelho
Custo do transporte marítimo maior geralmente significa aceleração da inflação — e é aqui que os investimentos de quem tem ações na bolsa podem sentir os efeitos reais do conflito.
Os bancos centrais ao redor do mundo iniciaram — ou estão em vias de iniciar, a exemplo do Federal Reserve, nos EUA — o ciclo de afrouxamento monetário. No entanto, se a inflação der novos sinais de aceleração, esse processo pode ficar comprometido e ser postergado.
“Todas as rotas de transporte de contêineres apresentaram aumento de preços. Isso, conjugado com o apetite consumidor dos norte-americanos que não arrefece, já foi suficiente para alterar as expectativas de mercado”, diz o CIO da Empiricus Gestão, João Piccioni.
Há uma semana, as apostas dos investidores de que o Fed cortaria os juros em março em 25 pontos-base (pb) estavam em 70%, de acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group. Agora, essa probabilidade caiu para 55%.
Juros mais altos costumam afastar o investidor de ativos arriscados como as ações. Não por acaso, o Ibovespa acumula uma queda de 5,12% e o dólar sobe 1,6% nos primeiros dias de 2024, considerando o fechamento de quinta-feira (18).
Mas os especialistas defendem cautela neste momento em relação a uma possível disparada da inflação.
“Grosso modo, a relação histórica é que, para cada aumento de 10% nos custos de frete, os custos globais de importação dos EUA sobem apenas 3,2 bp”, diz Kapteyn, do UBS, ressaltando que existem outros efeitos indiretos como o aumento do custo da energia ou o impacto do atraso das entregas.
Questionado se poderemos reviver os problemas na cadeia de suprimentos como aconteceu na pandemia de covid-19, Piccioni é categórico: “vivemos um momento diferente daquele”.
“Hoje, a demanda é bem mais fraca e isso faz toda a diferença”, afirma o CIO da Empiricus Gestão.
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Os vencedores e perdedores na bolsa
Embora os especialistas digam que, no momento, o impacto dos ataques no Mar Vermelho são limitados — ainda que demandem atenção por parte dos investidores — existem vencedores e perdedores na bolsa.
“O resultado final é que qualquer impacto parece bastante limitado no geral para as commodities e restrito ao setor de celulose e papel, enquanto os mercados de minério de ferro e aço dificilmente deverão sofrer quaisquer solavancos — embora ainda possa haver inúmeras ramificações difíceis de avaliar no momento”, afirmam os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner, do BTG Pactual.
Quanto às empresas, Correa e Greiner dizem que a Klabin (KLBN11) poderá ser marginalmente impactada pelo aumento das tarifas de contêineres e isso pode afetar as ações da empresa na bolsa.
Eles lembram que o fluxo de papel para a China, a Europa e o Oriente Médio depende das rotas do Mar Vermelho.
“No final das contas, tudo se resume a rotas e custos de frete. Os custos de frete de contêineres aumentaram 85% no acumulado do ano, o que impacta mais os embarques de celulose e papel”, afirmam os analistas do BTG.
Por outro lado, as siderúrgicas e mineradoras, que também dependem das rotas marítimas para escoar seus produtos, provavelmente não serão afetadas pelo conflito assim como seus papéis na bolsa.
“Não dependem do transporte marítimo de contêineres e os fluxos comerciais através da região são bastante insignificantes para o mercado mais amplo”, dizem os analistas.
Segundo dados do BTG, Brasil e a Austrália representam cerca de 80% da oferta de minério de ferro no mercado marítimo, sendo a Ásia responsável por cerca de 80% da demanda marítima — o que significa que os principais fluxos comerciais não passam pelo Mar Vermelho.
“Quanto ao modal de transporte marítimo entre os exportadores, Suzano, Vale e CSN Mineração dependem exclusivamente de graneleiros para os embarques de celulose e minério de ferro”, dizem os analistas do BTG.
Na bolsa: e o petróleo?
Em relação ao petróleo e ao gás natural, a estrategista em commodities do ING, Ewa Manthey, diz que o aumento da tensão no Mar Vermelho eleva também os riscos de oferta, com os mercados energéticos como os mais vulneráveis.
Ou seja, as ações das petroleiras podem se tornar uma das vencedoras desse confronto caso as tensões na região levem a uma disparada da commodity.
“No entanto, no caso do petróleo e do GNL, ainda não estamos observando qualquer impacto fundamental na oferta. As refinarias e os consumidores poderão inicialmente enfrentar alguma tensão à medida que as cadeias de abastecimento se ajustam”, afirma Manthey.
“Dada a incerteza e o risco de repercussões, os preços do petróleo deverão permanecer relativamente bem apoiados. Para vermos os preços do petróleo subirem significativamente, precisaremos de uma escalada ainda maior e/ou uma perda significativa na oferta de petróleo”, acrescenta.
Manthey lembra que, normalmente, as tensões no Médio Oriente são positivas para o petróleo. “No entanto, aqueles que apostaram no petróleo desde o início do conflito entre Israel e o Hamas ficaram desapontados, uma vez que os preços do petróleo caíram mais de 10% desde o início de outubro”, completa.
Atualmente, o preço do petróleo tipo Brent — usado como referência global e também pela Petrobras (PETR4) — está abaixo dos US$ 80 o barril, enquanto o WTI, a referência norte-americana, está em torno de US$ 73 o barril.
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