China encara o mesmo tipo de crise econômica da qual o Japão levou 30 anos para sair – e pode ter ainda mais dificuldade que seus vizinhos
Enquanto Japão acaba de subir juros pela primeira vez em 17 anos, com bolsa batendo nas máximas, China se vê diante de um colapso no mercado imobiliário – e pode não ter aprendido com os vizinhos, diz Business Insider

Na segunda quinzena de março, o Japão tomou uma decisão de política monetária histórica: elevou sua taxa básica de juros pela primeira vez em 17 anos, colocando fim à era de juros negativos no país.
O longo período de expansão monetária foi uma das formas que os japoneses finalmente encontraram para lidar com uma crise econômica que se arrastava desde os anos 1990 e que levou 30 anos para ser debelada.
Agora, à medida que o Japão emerge do período de dificuldades, outro país asiático se vê diante de condições similares àquelas que desencadearam o colapso econômico na Terra do Sol Nascente – mas num cenário muito menos amigável para se reerguer do que seus vizinhos japoneses.
Em análise publicada neste domingo (31) no site Business Insider, a jornalista e correspondente Linette Lopez compara a crise econômica que se abateu sobre o Japão ao que ocorre hoje com a China, cuja economia se vê envolta por incertezas, com dificuldade de crescimento e colapso no mercado imobiliário, enquanto o mercado acionário mergulha e é visto como muito arriscado pelos grandes investidores globais.
Os temores em relação ao crescimento econômico chinês vêm afetando as empresas brasileiras ligadas a commodities, que têm no Gigante Asiático seu principal parceiro comercial.
O caso mais notório é o da Vale (VALE3), companhia de maior peso no Ibovespa, que vem sendo arrastada pela fraqueza do preço do minério de ferro.
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O tortuoso caminho do Japão
Após uma forte crise imobiliária no início dos anos 1990, a economia japonesa encolheu por três décadas, durante as quais empresas e famílias tiveram que poupar e pagar suas dívidas, reduzindo a inovação e o investimento.
Trabalhadores encararam estagnação de salários, e as famílias viram sua renda encolher. Com menos renda, mais dívida e mais poupança, o consumo reduziu, e as empresas começaram a cortar preços para tentar vender, o que levou o país a entrar em uma espiral deflacionária.
Levou anos, porém, para que o Japão acertasse no nível de estímulo monetário que pudesse de fato começar a reanimar a economia, e apenas oito anos atrás as taxas caíram para o campo negativo, de modo que empresas e famílias tivessem que pagar para manter seu dinheiro poupado.
Após grandes pacotes de estímulos, a economia começou a responder, e os japoneses passaram aos poucos a tomar crédito, algo que lhes despertou desconfiança por muito tempo dado o alto endividamento que havia sido enfrentado na crise.
A desvalorização do iene que se seguiu a esses estímulos, embora deixe a população insatisfeita, foi um fator que ajudou as exportações japonesas e contribuiu para a volta do crescimento, além de atrair investimentos estrangeiros para o país.
As ações de empresas nipônicas voltaram a ser visadas por investidores globais e o índice Nikkei, principal indicador da bolsa de valores do país, voltou às máximas após 34 anos.
A inflação, que antes era impulsionada pelos custos no lado da oferta, passou a ser puxada pela demanda. O papel do Japão na economia global contribuiu fortemente para suportar essa recuperação, tanto pelas exportações quanto pelo turismo.
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China se vê diante de um desafio parecido
De acordo com o artigo do Business Insider, a China agora se vê diante de um desafio parecido com o que o Japão encarou nas últimas décadas.
O mercado imobiliário chinês, uma das principais bases da economia do país, está à beira de um colapso, com um nível de endividamento nas alturas.
O Gigante Asiático tem a vantagem de ter como exemplo a experiência do seu vizinho, enquanto o Japão teve que tatear e descobrir sozinho o caminho para sair da armadilha deflacionária.
O problema é que, comparada ao Japão, a China está em condições piores, defende o artigo; tanto pela mentalidade do regime de Pequim e pelas soluções que vêm sendo implementadas quanto pelas relações do país com o resto do mundo.
"O sucesso recente do Japão resulta de um esforço de décadas por parte das autoridades, de negociações cuidadosas com os seus parceiros comerciais e das estranhas condições em que a economia do Japão se encontrou ao longo do caminho. Tudo isto será quase impossível para Pequim recriar – pelo menos, não sem irritar as autoridades de Bruxelas a Brasília."
Linette Lopez, em artigo para o Business Insider
Semelhanças e diferentes entre China e Japão
A jornalista destaca que a China tem hoje algumas condições similares às do Japão dos anos 1990, mas outras são radicalmente diferentes.
Do lado das semelhanças, quando a crise começou no Japão, o tamanho da economia do país em comparação ao da economia americana era parecido com o da China hoje.
A natureza da crise também é semelhante: perda de dinamismo econômico com alto endividamento e mudanças na demografia que diminuem a força de trabalho (notadamente, o envelhecimento da população).
Já do lado das diferenças, uma bem importante é que o Produto Interno Bruto per capita (PIB per capita) do Japão no início dos anos 1990 era de US$ 41.266, enquanto o da China é de apenas US$ 12.800.
Segundo Lopez, as autoridades chinesas hoje acreditam que poderão contar com os fatos de que a economia do país ainda tem espaço para crescer, de que é possível mobilizar o mercado doméstico e de que haverá ainda uma série de parceiros comerciais, apesar de as relações com os EUA terem azedado.
A jornalista lembra, porém, que levou anos para o Japão concluir que era preciso uma boa política de estímulos e, depois, acertar a mão nesses incentivos.
Os chineses sabem disso, mas ainda de acordo com a publicação, pode ser que nunca estejam dispostos a adotar o tipo de estímulo necessário para reanimar a economia em crise.
"Xi Jinping [presidente da China] deu poucos sinais de que está disposto a inundar de dinheiro os famintos governos locais do país ou mesmo as famílias para estimular o consumo. Ele não acredita realmente em dar dinheiro aos consumidores para que eles decidam o que fazer com os recursos", diz Lopez.
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Como a China vem enfrentando sua crise
Em vez disso, ela continua, a solução encontrada pelo presidente chinês tem sido mobilizar a indústria do país para produzir bens de alto valor agregado, o que mantém o controle do Estado sobre a economia, ditando aos bancos para onde direcionar o crédito, e coloca o Gigante Asiático em condições de competir com outras potências mundiais – ao menos na opinião de Xi.
Assim, Pequim tem investido pesado na fabricação de veículos elétricos, semicondutores, telefones celulares, telas de computador e outras tecnologias, além de incentivar as empresas locais a comprarem os artigos chineses.
O problema é que, enquanto a China espera que o resto do mundo também esteja disposto a comprar seus produtos, as condições encontradas nos outros países, hoje, já não são tão amigáveis a esses artigos quanto antes – ou como foram aos produtos japoneses ao longo dos anos.
Enquanto o Japão enfrentou sua crise em um mundo mais favorável à globalização, a tendência hoje – diante de guerras em regiões economicamente importantes, conflitos ideológicos e comerciais entre Ocidente e Oriente, tensões geopolíticas e a quebra das cadeias de produção da recente pandemia – é desglobalizar.
Grandes economias têm procurado diversificar seus fornecedores, transferir produções para nações geograficamente próximas e aliadas, além de criar barreiras a produtos chineses baratos demais, que possam desmantelar cadeias de produção e empregos nos seus respectivos países.
Poucos amigos
Além disso, enquanto o Japão investiu em manter boas relações com os EUA, não é isso que a China vem fazendo.
"Ainda que Xi convide os líderes dos EUA para irem à China falar sobre o quão aberto é o país, marcas americanas vêm sendo atacadas, os escritórios dos EUA têm sido invadidos por autoridades chinesas e as empresas financeiras e consultorias estão saindo da China", diz o Business Insider.
O câmbio é outro problema. A desvalorização do iene que tornou os produtos japoneses mais atrativos no resto do mundo não foi uma grande questão para as demais economias, e o fato de que o Japão ainda precisava importar muito, principalmente energia, manteve seu balanço de pagamentos equilibrado.
A China, no entanto, é um país majoritariamente exportador, e se o yuan se desvalorizar, seus produtos ficarão ainda mais baratos, inundando os demais mercados, o que não deve ser bem aceito pelas grandes economias globais.
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