Quanto custa a ‘assessoria gratuita’? O que muda com a regra que obriga à divulgação da remuneração dos assessores de investimento
A norma da CVM obriga os assessores de investimentos e outros profissionais do mercado a divulgarem suas formas e valores de remuneração, além de enviarem um extrato trimestral aos clientes

No mercado financeiro não existe almoço grátis, já diz o ditado. E o alerta vale para os assessores de investimento, profissionais que auxiliam os investidores a traçarem estratégias para o portfólio e cujos serviços ainda hoje são anunciados como "gratuitos" por algumas casas.
Às vezes é tão difícil encontrar os preços nas letrinhas miúdas do “menu” das assessorias que o serviço realmente parece não ter custo. Contudo, as taxas estão lá — e essa assimetria de informações já gerou diversos processos ligados a prejuízos e possíveis conflitos de interesses em operações que rendem mais para os escritórios.
Com o objetivo de que os clientes dos assessores e outros intermediários do mercado possam ter acesso a essas informações antes de tomar a decisão de investimento, entra em vigor nesta sexta-feira (1º) um dos principais trechos da chamada “resolução da transparência”, como ficou conhecida a Resolução nº 179 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
- LEIA MAIS: Onde investir na renda fixa? Este simulador gratuito compara o rendimento de diferentes títulos do mercado – acesse aqui.
Conforme indica o apelido, a norma obriga os assessores de investimentos, antes conhecidos como agentes autônomos, e outros profissionais do mercado a divulgarem suas formas e valores de remuneração.
Os investidores também terão acesso a um extrato trimestral de remuneração dos assessores. O documento deve detalhar todos os valores que os investimentos daquele cliente renderam ao profissional durante o período.
Mas nem todo o mercado de capitais estará sujeito às novas regras. Os produtos de investimento bancários, por exemplo, ficarão de fora, o que gerou críticas de associações do setor e gerou um novo apelido para a norma: meio transparente.
Leia Também
Por outro lado, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) se inspirou no texto e também vai exigir mais transparência dos gestores de fundos de investimento a partir de 1º de novembro.
Na reportagem a seguir, o Seu Dinheiro traz os principais destaques da Resolução 179 da CVM, a norma “gêmea” editada pela Anbima e os pontos de atenção levantados pelos representantes dos assessores de investimentos e de corretoras e distribuidoras de valores mobiliários.
Novo marco regulatório para assessores de investimentos
Vale destacar que a maior parte da Resolução 179 já está em vigor desde junho do ano passado. Junto com outra norma da CVM, a Resolução 178, ela forma o novo marco regulatório para a atividade de assessor de investimentos — saiba mais aqui.
Já o trecho que trata especificamente sobre informações da remuneração e conflito de interesses dos profissionais passaria a valer em janeiro deste ano. Mas o prazo passou para 1º de novembro.
A resolução da transparência
Agora, com a nova data se aproximando, os investidores já podem se preparar para ver as mudanças nos sites e ambientes de investimentos a partir de sexta-feira.
A primeira delas é que o intermediário — como os escritórios, corretoras e distribuidoras de valores — passe a divulgar, em uma página específica dos seus portais na internet, a estrutura de remuneração de seus profissionais e eventuais conflitos de interesse a que estejam sujeitos.
Não é preciso expor os valores ou percentuais efetivamente praticados, e sim parâmetros gerais adotados. De acordo com a CVM, as informações devem ser “verdadeiras, completas, consistentes e não induzir o investidor a erro”.
Atualmente, o modelo de remuneração mais utilizado é o comission based (comissão), no qual a cobrança varia de acordo com o produto escolhido ou recomendado pelo assessor.
Existe também a opção fee-based, que ainda é pouco comum e na qual se define uma taxa percentual fixa que incide sobre a totalidade dos recursos do cliente sob custódia.
Já na seção de conflitos de interesse deve constar qualquer tipo de incentivo que possa levar o assessor a recomendar determinadas operações aos clientes em virtude do recebimento de remuneração por meio de taxa de corretagem ou de rebates e comissões pela venda de determinado ativo, por exemplo.
Quem já é cliente dos assessores de investimentos verá valores e percentuais efetivos e terá acesso a relatório trimestral
Além das informações gerais, há ainda regras específicas para comunicações com quem já é cliente do assessor ou corretora.
Uma delas diz que o intermediário deve indicar, no mesmo ambiente que o cliente utiliza para transmitir a ordem de investimento, como ele será remunerado, incluindo os valores percentuais para distribuição do produto ou serviço especificamente ofertado.
Caso essa informação não seja conhecida no momento do investimento — como ocorre quando a remuneração considera a diferença entre os preços de compra e venda dos ativos, o chamado spread —, a CVM estabelece que os valores sejam estimados “de forma razoável e consistente”, com as cifras usualmente vistas em situações similares.
A Resolução 179 estabelece também a criação de um extrato trimestral de remuneração. O documento deve ser enviado até 30 dias após o encerramento do trimestre e conter os ganhos do intermediário no período de referência.
Anbima divulga regras de transparência para fundos
Além dos assessores e corretoras de valores, os fundos de investimento também terão que obedecer a novas normas de transparência a partir de 1º de novembro. Em linha com a CVM, a Anbima adaptou a autorregulação de fundos e incluiu novas regras para divulgação da remuneração pela prestação de serviços do tipo.
O gestor poderá optar por deixar de fora do regulamento todas as taxas cobradas pela prestação e distribuição do produto, que são distintas. Em seu lugar, deverá informar uma taxa global correspondente à soma de todas as cobranças.
Além disso, precisará manter em seu site, em local de fácil acesso para o investidor, um documento detalhando cada taxa devida a cada prestador. A publicação deve incluir também informações gerais sobre a classe ou subclasse do fundo.
- Temporada de balanços: fique por dentro dos resultados e análises mais importantes para o seu bolso com a cobertura exclusiva do Seu Dinheiro; acesse aqui gratuitamente
Regulação “míope” e transparência para poucos: as críticas das entidades do setor à Resolução CVM 179
Se a resolução da CVM inspirou a Anbima a estender a transparência aos fundos, o mesmo efeito não ocorreu com o Banco Central, que regula a atividade de outro profissional que lida com os investimentos dos brasileiros: os gerentes de banco.
“Como está, a resolução vai acabar exigindo transparência de apenas 15% do mercado de investimentos – mesmo com 85% desse mercado nas mãos de conglomerados financeiros”, diz a Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord).
A Ancord reconhece que a transparência é fundamental, mas alega que o texto atual da resolução “vai desequilibrar o mercado financeiro e gerar uma concorrência desleal”.
O presidente da Associação Brasileira dos Assessores de Investimento (ABAI), Diego Ramiro, também destaca que qualquer norma que venha no sentido de trazer transparência para o investidor é positiva.
Assim como a Ancord, Ramiro criticou, em entrevista ao Seu Dinheiro, a ausência dos dados sobre produtos bancários.
“Aquele ponto que era positivo para o cliente vai ser míope, pois você vai receber seu extrato com os investimentos, só que aqueles ligados a produtos bancários não terão a remuneração aberta, e o cliente não vai conseguir ver o todo. A transparência teria que ser de todos para todos”, diz ele.
O presidente da ABAI cita ainda outro ponto de preocupação na norma: a falta de diretrizes específicas sobre o relatório trimestral aos investidores.
“Cada plataforma vai poder mostrar da maneira que ela entender que tem que ser feita transparência. A nossa preocupação do lado da assessoria é que o cliente não consiga comparar ‘banana com banana’. A partir do momento em que não temos uma padronização, quem utiliza a XP vai ver as informações de um jeito e no BTG de uma forma diferente, por exemplo.”
Para sanar todas essas preocupações, as associações pediram à CVM a entrada em vigor da resolução em fases. No entanto, a autarquia indeferiu o pedido e manteve o “Dia D” da resolução da transparência para o início de novembro.
Donald Trump: um breve balanço do caos
Donald Trump acaba de completar 100 dias desde seu retorno à Casa Branca, mas a impressão é de que foi bem mais que isso
Azul (AZUL4) volta a tombar na bolsa; afinal, o que está acontecendo com a companhia aérea?
Empresa enfrenta situação crítica desde a pandemia, e resultado do follow-on, anunciado na semana passada, veio bem abaixo do esperado pelo mercado
Quase metade dos apostadores de bets também são investidores — eles querem fazer dinheiro rápido ou levar uma bolada de uma vez
8ª edição do Raio-X do Investidor, da Anbima, mostra que investidores que diversificam suas aplicações também gostam de apostar em bets
14% de juros é pouco: brasileiro considera retorno com investimentos baixo; a ironia é que a poupança segue como preferência
8ª edição do Raio-X do Investidor da Anbima mostra que brasileiros investem por segurança financeira, mas mesmo aqueles que diversificam suas aplicações veem o retorno como insatisfatório
Salão de Xangai 2025: BYD, elétricos e a onda chinesa que pode transformar o mercado brasileiro
O mundo observa o que as marcas chinesas trazem de novidades, enquanto o Brasil espera novas marcas
Mesmo investimentos isentos de Imposto de Renda não escapam da Receita: veja por que eles precisam estar na sua declaração
Mesmo isentos de imposto, aplicações como poupança, LCI e dividendos precisam ser informadas à Receita; veja como declarar corretamente e evite cair na malha fina com a ajuda de um guia prático
Quanto e onde investir para receber uma renda extra de R$ 2.500 por mês? Veja simulação
Simulador gratuito disponibilizado pela EQI calcula o valor necessário para investir e sugere a alocação ideal para o seu perfil investidor; veja como usar
Tem offshore? Veja como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa jurídica no IR 2025
Regras de tributação de empresas constituídas para investir no exterior mudaram no fim de 2023 e novidades entram totalmente em vigor no IR 2025
Nova temporada de balanços vem aí; saiba o que esperar do resultado dos bancos
Quem abre as divulgações é o Santander Brasil (SANB11), nesta quarta-feira (30); analistas esperam desaceleração nos resultados ante o quarto trimestre de 2024, com impactos de um trimestre sazonalmente mais fraco e de uma nova regulamentação contábil do Banco Central
Foco em educação: Potencia Ventures faz aporte de R$ 1,5 milhão na UpMat
Potencia Ventures investe R$ 1,5 milhão na startup UpMat Educacional, que promove olimpíadas de conhecimento no país.
A coruja do Duolingo na B3: aplicativo de idiomas terá BDRs na bolsa brasileira
O programa permitirá que investidores brasileiros possam investir em ações do grupo sem precisar de conta no exterior
Caso Tupy (TUPY3): CVM frustra gestora Charles River e mantém assembleia para troca de conselho fiscal
O pedido de adiamento da assembleia foi realizado sob a alegação de falta de informações essenciais sobre os direitos dos acionistas a respeito da eleição dos membros do conselho
JBS (JBSS3) avança rumo à dupla listagem, na B3 e em NY; isso é bom para as ações? Saiba o que significa para a empresa e os acionistas
Próximo passo é votação da dupla listagem em assembleia marcada para 23 de maio; segundo especialistas, dividendos podem ser afetados
O turismo de luxo na Escandinávia é diferente; hotéis cinco-estrelas e ostentação saem do roteiro
O verdadeiro luxo em uma viagem para a região escandinava está em praticar o slow travel
Como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa física no imposto de renda 2025
Tem imóvel na Flórida? Investe por meio de uma corretora gringa? Bens e rendimentos no exterior também precisam ser informados na declaração de imposto de renda; veja como
OPA do Carrefour (CRFB3): com saída de Península e GIC do negócio, o que fazer com as ações?
Analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro indicam qual a melhor estratégia para os pequenos acionistas — e até uma ação alternativa para comprar com os recursos
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell
Como declarar fundos de investimento no imposto de renda 2025
O saldo e os rendimentos de fundos devem ser informados na declaração de IR. Saiba como declará-los
Dólar fraco, desaceleração global e até recessão: cautela leva gestores de fundos brasileiros a rever estratégias — e Brasil entra nas carteiras
Para Absolute, Genoa e Kapitalo, expectativa é de que a tensão comercial entre China e EUA implique em menos comércio internacional, reforçando a ideia de um novo equilíbrio global ainda incerto
Como o melhor chef confeiteiro do mundo quer conquistar o brasileiro, croissant por croissant
Como o Mata Café, chef porto-riquenho Antonio Bachour já deu a São Paulo um tira-gosto de sua confeitaria premiada; agora ele está pronto para servir seu prato principal por aqui