Tony Volpon: Bem-vindo, presidente Trump?
Sem dúvida o grande evento de risco para os mercados globais é a eleição americana
Sem dúvida o grande evento de risco para os mercados globais é a eleição americana. Há (escrevo isso uma semana antes do pleito) uma forte divergência entre as pesquisas de opinião mostrando a corrida basicamente empatada e a precificação dos mercados – seja o mercado financeiro, seja as bolsas “preditivas”, ou de apostas em contratos digitais.
Na média de mercados preditivos coletados pelo site RealClear Politics, Trump aparece com 61,3% contra 37,3% para Harris. Tem havido muito debate sobre o motivo dessa divergência pró-Trump em relação às pesquisas, com apoiadores de Harris alegando manipulação intencional dos mercados de apostas para criar um falso clima positivo para o republicano.
Tal alegação não faz sentido. Olhando para um mercado de destaque, o Polymarket, que neste momento tem Trump com 66% e Harris com 34%, há US$ 2,6 bilhões de “value locked” (a Polymarket funciona em uma blockchain). É fácil verificar que há um grande número de participantes operando dos dois lados da aposta.
- Harris, Trump e cripto: relatório disseca como cada candidato pode moldar o futuro da inovação financeira
A fatura está liquidada para Trump?
Uma explicação menos conspiratória seria que, comparando com as últimas duas eleições, pesquisas empatadas são bastante favoráveis a Trump: nesse mesmo momento em 2016, Hillary Clinton liderava as pesquisas nacionais por 4,6% e em 2020 Biden liderava por 7,5%. Como sabemos, Trump ganhou em 2016 e perdeu por muito pouco em 2020.
Mas não devemos achar, somente por causa disso, que a fatura está liquidada para Trump. Pesquisas mostram que Trump tem ganhado muito mais apoio junto ao eleitorado afro-americano e latino, especialmente homens.
Do outro lado, Harris (em relação a Biden em 2020) tem ganhado mais apoio junto às mulheres e ao eleitorado mais idoso.
Leia Também
No “frigir dos ovos” isso pode estar dando a Trump votos inúteis, em estados como Nova York e Califórnia, o que melhora sua pontuação nas pesquisas nacionais, mas não o ajuda na corrida pelo colégio eleitoral.
Assim, há analistas achando possível ter um resultado inusitado: Trump ganhando o voto popular, mas perdendo para Harris no colégio eleitoral. Isso seria uma das razões que Nate Silver, apesar da recente melhora de Trump nas pesquisas, ainda tem ele como leve favorito, 52,9% versus 46,8% para Harris.
O engajamento conta
Eu tenho defendido a tese de que a eleição será decidida pela razão entre eleitores de “baixo engajamento” – que, se votarem, tendem a apoiar Trump por larga maioria; e eleitores de “alto engajamento”, mais educados e com maior renda, que tendem a apoiar Harris também por larga maioria.
O eleitorado de menor engajamento são numericamente maiores, mas tem um percentual de participação menor. Isso, não por acaso, explica o que pode parecer uma estratégia irracional dos dois candidatos de focar nesses últimos dias no seu próprio eleitorado “cativo” e não os indecisos.
Em um ambiente polarizado e quase que rachado ao meio, o importante é fazer o seu eleitorado votar, o que implica amplificar a retórica “nós contra eles”.
Assim, não acho que neste momento podemos dizer algo com muita convicção sobre o resultado final. O tal “turnout”, a participação em uma votação não obrigatória, é a variável mais difícil de prever nas eleições americanas.
O erro dos institutos de pesquisa em 2016 foi, basicamente, de prever a maior participação do eleitorado menos engajado – equívoco repetido em 2020. Assim podemos ver de tudo daqui uma semana (lembrando que é bem possível uma demora de vários dias para cravar o resultado que pode facilmente ser judicializado).
Para não encerrar essa análise sem colocar a minha opinião, ainda acredito (como tenho acreditado há mais de dois anos) na vitória do Trump.
O mercados querem Trump?
E os mercados “tradicionais”? Eles também estão precificando uma vitória do Trump.
A combinação de alta das taxas de juros longas, com a Treasury de dez anos subindo de 3,60% em setembro para 4,30%; o índice do dólar DXY subindo 3,6%, o SP 500 subindo 8% e Bitcoin voltando perto de US$ 70 mil, sinaliza para uma aposta em uma economia americana com crescimento ainda mais forte do que estamos vivendo hoje, com maior inflação e menor espaço para o Fed cortar juros.
Não querendo ser totalmente óbvio, mas tal tendência, se confirmada e aprofundada com a vitória de Trump, não representa uma boa notícia para a economia ou os mercados brasileiros – ou para qualquer outro mercado emergente.
Até pressupondo que Trump não deve executar as partes mais radicais de sua agenda, a combinação de corte de impostos, tarifas sobre importações, fortes restrições à imigração e desregulação da economia terá o efeito de elevar o crescimento e a inflação no curto prazo.
Jay Powell não deve estar vivendo seus melhores momentos. O mercado ainda precifica algum espaço para cortes adicionais (fed funds efetivo está ao redor de 4,80% com a Treasury de 2 anos em 4,15%), mas tanto a possibilidade de vitória de Trump, como os últimos dados da economia que surpreendem positivamente, agora fazem muitos pensar que o corte de 0,50 ponto percentual foi no mínimo um exagero, e talvez um erro.
A questão que fica, confirmando a vitória de Trump, será a reação do mercado de juros e como isso deve impactar as bolsas.
Por ora a esperança de crescimento de receita/lucro adicional tem permitido a bolsa ignorar a alta das taxas de juros, mas isso – a meu ver – não deve se sustentar se o dez anos varar para 5% e o mercado precificar um fim precoce do ciclo de queda de juros (se voltar a precificar alta de juros, aí obviamente "a casa cai").
Mas será outro mundo se Harris ganhar. A curva de juros e o dólar devem sofrer fortes correções, com as bolsas ficando mais de lado. Bitcoin deve voltar aos US$ 50 mil e tanto. Os emergentes – inclusive o Brasil – devem melhorar. Powell – como o nosso Banco Central – deve comemorar. O jogo ainda não acabou.
*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira
Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas
Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região
Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje
Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço
Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo
Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje
Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel
Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.
Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje
Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento
Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada
A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa
Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje
Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento
Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje
Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda
Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem
O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026