Tony Volpon: 2025, o ano Trump
A “excepcionalidade americana” deve continuar e ter novo impulso com a vitória de Trump
O grande evento político do ano para a economia global, a eleição americana, passou com uma vitória decisiva de Donald Trump, assegurando também o controle das duas casas legislativas.
Como já discutimos em colunas anteriores, sua vitória implicaria uma sequência de choques para os mercados, e assim muito do que devemos esperar no ano novo se deve ao que será a política econômica do novo governo.
Como alguém muito perspicaz disse, “don’t take Trump literally but take him seriously”, ou “não leve Trump literalmente, mas leve-o a sério”.
Assim, quando ele durante a campanha promete aplicar uma tarifa global de 20% sobre todas as importações, ou uma tarifa de 60% sobre todas as importações chinesas, o que devemos esperar?
Trump 2.0 na prática
Essa incerteza ronda todos os cenários sendo desenhados pelos analistas que, em geral, têm concluído que devemos sim ver uma nova rodada de restrições comerciais e migratórias, mas não nos níveis anunciados durante a campanha.
Isso porque a imposição de tarifas nos níveis discutidos durante a campanha representaria um enorme choque negativo de oferta para a economia americana, elevando fortemente a inflação e derrubando o crescimento. O banco UBS, por exemplo, acredita que uma tarifa global de 10% por parte dos EUA tiraria um ponto percentual do crescimento global.
Leia Também
Veja quanto o seu banco paga de imposto, que indicadores vão mexer com a bolsa e o que mais você precisa saber hoje
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Por isso, a indicação de Scott Bessent como secretário do Tesouro é tão importante. Tendo trabalhado muitos anos com George Soros (que, ironicamente, é um dos mais importantes apoiadores financeiros do partido Democrata), Bessent tem vasta experiência em macroeconomia e, o que será vital para o governo Trump, os mercados globais de renda fixa.
Bessent já defendeu que tarifas devem ser em um primeiro momento uma estratégia de negociação, e que Trump tem ciência da impopularidade política de qualquer alta da inflação. Ele também tem defendido uma versão do programa de “3 flechas” do ex-premiê japonês Shinzo Abe, tendo como metas crescimento econômico de 3%; um déficit nominal fiscal de 3% (neste momento ele está ao redor de 6,5%); e um aumento na produção diária de petróleo em 3 milhões de barris.
Agora, em função dessa nomeação, não se deve esperar que haja alguma “normalização” da política econômica de Trump. O máximo que se deve esperar é uma execução mais cuidadosa e uma melhor apreciação dos custos e riscos das medidas propostas durante a campanha.
Campo minado para Trump
Como fica o cenário para 2025? Primeiro, consideramos que a economia americana está indo muito bem: o crescimento econômico deve fechar o ano ao redor de 2,5% – lembrando que o consenso dos analistas para esse ano em julho estava perto de 0,5%.
Na questão da inflação houve notável progresso, mas ainda temos uma inflação (núcleo do PCE) perto de 3%, mas com alguma esperança que a normalização baixista da computação da inflação de aluguéis, que ainda está atrasada em relação a dados do mercado, e a plena ancoragem das expectativas, apontam para uma convergência para a meta de 2% durante os próximos anos.
Olhando para as promessas da campanha vemos dois fatores antagônicos na questão do crescimento, mas alinhados na questão da inflação.
Aumentos tarifários e restrições migratórias podem ser tratados como um choque negativo de oferta, elevando a inflação e derrubando o crescimento. Desregulação e cortes de impostos aumentam a demanda agregada, elevando tanto o crescimento como a inflação.
Várias análises feitas sobre a primeira “guerra comercial” de Trump entre 2017 e 2018 mostram que o impacto da alta nas tarifas tem uma defasagem de 2 a 3 trimestres, enquanto a alta da demanda agregada, pela antecipação dos mercados financeiros (vide a alta das bolsas desde a eleição) já tem um impacto mais imediato.
Assim, um cenário provável seria um 2025 sobreaquecido, com crescimento perto dos níveis atuais, com um 2026 mais comedido, impactado pelos choques de oferta negativos e a perda de força dos choques positivos fiscais e das condições financeiras.
Tal cenário colocaria o Fed em uma situação difícil, com o choque positivo de demanda sustentando a inflação em um primeiro momento, com pouco alívio ao longo do tempo com a entrada dos efeitos dos choques de oferta.
Isso dito, tudo indica que o Fed está operando uma função de reação bastante assimétrica, aceitando uma inflação entre 2-3%, mas com o dedo no gatilho, caso haja qualquer ameaça de recessão – devemos lembrar que em 2018 Powell baixou os juros no meio da guerra comercial, e que a “boa prática” dentro do sistema de metas é de acomodar choques de oferta se as expectativas estiverem bem ancoradas.
Ainda haveria espaço para cortes adicionais do fed funds em 2025, mas tudo indica que a economia americana ainda opera com uma taxa de juros neutra mais elevada. Outro fator que pode potencialmente elevar a taxa neutra de longo prazo seria a agenda de desregulação sendo capitaneada por Elon Musk e Vivek Ramaswamy, algo que deve ter limitado impacto fiscal, mas pode elevar a produtividade da economia.
- LEIA TAMBÉM: Tony Volpon: Bem-vindo, presidente Trump?
Cenário global com a vitória republicana
Há um caloroso debate sobre como a vitória de Trump e sua agenda econômica vai afetar os mercados. Com o S&P 500 já subindo 31% no último ano, várias casas estão argumentando que pelo menos alguma parte dos prováveis efeitos positivos já foram antecipados na recente valorização das bolsas. Mas ninguém neste momento está tendo a coragem de prever retornos negativos para 2025. Os mais otimistas acreditam que, com os impactos da difusão da Inteligência Artificial e agenda de desregulação, a economia americana pode voltar a ter um crescimento mais perto dos anos 90.
Nos mercados de câmbio global é esperado “mais do mesmo”, com o dólar mantendo sua potência de atração dos fluxos de capitais não somente pela força da economia americana, mas a debilidade dos concorrentes.
A Europa continua a ser uma economia sem dinamismo, com a Alemanha em plena crise econômica e política. Um possível acordo de cessar-fogo na guerra Ucraniana pode ser um choque positivo no próximo ano.
Apesar do último pacote de medidas fiscais, as perspectivas para a economia chinesa continuam sombrias, e uma nova guerra comercial deve colocar pressão adicional sobre o renminbi, o debate atual também sendo quanto disso já foi antecipado pelos mercados.
Em resumo, a “excepcionalidade americana” deve continuar e ter novo impulso com a vitória de Trump. O mercado já precificou os efeitos de suas propostas, pelo menos em parte. Entrando no ano novo, investidores ficarão atentos à capacidade de execução e a quaisquer sinais de radicalização da agenda. Sabendo o que será executado de fato, seja a versão “light” ou “hard” da agenda econômica, o mercado julgará a intensidade dos choques de oferta, e quanto isso vai cobrar do crescimento econômico em 2026.
*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros