Felipe Miranda: Por que a bolsa brasileira performa tão mal?
Uma dúvida me persegue: por que a Bolsa brasileira performa tão mal? Não falo deste ano ou dos últimos 24 meses… me refiro a intervalos longos
Existe um grande debate sobre a eficiência dos mercados, tanto sobre sua definição quanto sobre a verossimilhança da ideia. Felizmente, ainda gozo de faculdades mentais razoáveis e, portanto, tenho mais dúvidas do que respostas.
Estou certo de que afirmar o constante apreçamento correto dos ativos financeiros, como se eles descontassem a todo momento toda a informação relevante de maneira adequada, sem qualquer tipo de fricção, não encontra respaldo empírico.
Mas também desconfio que isso não invalide o cerne da ideia. A hipótese de mercados eficientes pertence ao campo teórico, servindo de um modelo geral e exigindo capacidade de abstração.
Há várias situações em que os preços se descolam dos fundamentos estritos, seja por assimetria informacional, seja por restrições de liquidez, seja pelo carácter ciclotímico dos mercados e dos investidores.
Isso não quer dizer — e talvez esse seja o ponto essencial da história — que você possa dispor de uma regra para sistematicamente bater o mercado.
Eficiências e ineficiências do mercado
A discussão está insuportavelmente polarizada também sobre esse tema. Ou o mercado é eficiente em 100% do tempo e em todos os aspectos, ou é completamente ineficiente. Onde perdemos as nuances?
Leia Também
O mercado pode ter suas ineficiências, muitas vezes anedóticas, e ainda assim não sermos capazes de nos apropriarmos delas de maneira consistente.
Em resumo, o mercado me parece eficiente na maior parte das vezes e, quando ele fica ineficiente, não há uma lógica estrita para seu retorno à normalidade — talvez isso até seja um corolário lógico: se ele se afasta da eficiência, saímos do campo da total racionalidade; então, por que haveríamos de supor que ele retornaria ao normal seguindo um padrão estritamente racional?
“Onde você está vendo uma arbitragem normalmente existe um prêmio de risco”. Cansei de ouvir do meu orientador…
- [Carteira recomendada] 10 ações brasileiras para investir agora e buscar lucros – baixe o relatório gratuito
O que está por trás da performance da bolsa brasileira
Não sei se pela trajetória acadêmica ou pelo histórico familiar (pouco importa), uma dúvida me persegue: por que a Bolsa brasileira performa tão mal?
Veja: não estou falando deste mês, do ano ou dos últimos 24 meses… me refiro a intervalos longos mesmo.
Olha só: a Empiricus vai completar 15 anos de vida em 2024. Quando criamos nossa empresa, o Ibovespa estava em torno de 66 mil pontos. Dobrou num intervalo de 15 anos. Ele perde do CDI de goleada.
Contra as NTN-Bs, a comparação é uma covardia. Se olharmos frente ao IFIX, no período de análise relativa possível, o índice de ações também fica bem atrás. O Ibovespa perde até da poupança!
Estamos falando de um intervalo de 15 anos. É longo prazo sob qualquer ótica.
Chance de ser o Warren Buffett da bolsa brasileira
Alguns poderiam argumentar que o Ibovespa é uma medição ruim, muito concentrado em poucos nomes, como commodities e bancos ou telecomunicações no passado.
Refaça o exercício para outros índices e, no geral, vai chegar à mesma conclusão.
“Ah, mas tem alguns fundos de ações com retorno espetacular nesse intervalo.”
Claro que tem. São os sobreviventes, a cauda direita de uma distribuição de probabilidade. A Bolsa é uma média. Alguns vão ter retorno excepcional.
A probabilidade de você ser o Warren Buffett é baixíssima. Mas a probabilidade de existir um Warren Buffett no mundo (e até mesmo que ele tenha desfrutado de uma boa ajuda da aleatoriedade, o que não atesta contra sua competência) é bastante grande.
Risco e retorno na bolsa brasileira
Quando você começa a estudar Finanças, logo nas primeiras aulas se depara com uma linha ascendente que relaciona retorno e risco. Faz sentido, não é mesmo?
Se há um ativo de maior retorno e menor risco, todo mundo corre para comprá-lo. Seu preço aumenta e, rapidamente, seu retorno prospectivo diminui.
A relação entre risco e retorno é uma decorrência da eficiência dos mercados.
Quando você vê a Bolsa brasileira com performance inferior à renda fixa, estamos desafiando uma questão elementar. Temos um ativo de maior risco e menor retorno. No longo prazo! Estamos numa situação de confronto à prescrição teórica clássica.
Então, há três possibilidades:
- Os livros-texto de Finanças deverão ser reescritos, passando a conter um asterisco. “Um ativo de maior risco deve carregar maior retorno esperado, com exceção das ações brasileiras”.
- Os mercados brasileiros são estruturalmente ineficientes no apreçamento das ações. Elas são sistematicamente mais arriscadas do que a renda fixa mas rendem menos.
- Esse foi, embora longo, um período extraordinário, uma exceção para, à frente, recuperarmos toda essa performance negativa anterior.
Há várias hipóteses explicativas, mas nenhum consenso na literatura.
A aposta da Verde em ações da bolsa brasileira
Na semana passada, participei do podcast Market Makers com Luiz Parreiras, gestor da Verde Asset.
Em determinado momento, saí brevemente da posição de entrevistado para assumir como entrevistador.
Perguntei a Parreiras por que, nos últimos anos, o fundo Verde tem rodado com uma posição em ações brasileiras inferior às suas origens, quando tinha cerca de 1/3 em Bolsa local.
Embora não tenha ficado claro ali, era minha curiosidade em torno do comportamento do Prêmio de Risco de Mercado (justamente quanto a Bolsa paga ou deveria pagar acima da Renda Fixa) se manifestando.
Estava implícito pra mim que, se a Verde reduziu por anos sua posição em ações, tinha percebido, tácita ou formalmente, essa performance mais negativa da classe frente a alternativas.
A pergunta também poderia ter sido: “por que a Bolsa deixou de ser tão interessante para vocês?” Ou, “o que vocês viram de pior nas ações brasileiras?”
- CONFIRA TAMBÉM: Pessimista com China, fundo Verde volta a apostar contra a moeda do gigante asiático, mas monta posição tática na bolsa; entenda
Três razões para a nova dinâmica da Verde
Com mais didática e inteligência, Parreiras respondeu algo mais ou menos assim, encontrando três razões para a nova dinâmica:
I. No passado, o PIB nominal brasileiro crescia cerca de 10% ao ano.
Como o PIB acaba, mesmo grosseiramente, sendo uma proxy para o crescimento das receitas das empresas e as companhias listadas representam uma “nata" do capitalismo local, o faturamento das firmas na Bolsa crescia bem, quase por osmose.
Assim, se fizesse seu dever de casa e controlasse as despesas, o lucro de uma companhia listada crescia, nominalmente, cerca de 20% com alguma facilidade. Estava praticamente contratada uma alta das ações.
II. Os juros no Brasil sempre foram muito altos.
Só conseguia rodar acima do seu custo de capital uma companhia extremamente eficiente (ou, e isso está na minha conta: aquela pertencente ao núcleo dos amigos do rei; no país do incentivo, um subsídio aqui ou ali garante o retorno do acionista). Isso criava monopólios ou oligopólios.
A Selic veio caindo, o capital ficou mais acessível, a capacidade de competir, no geral, aumentou (embora as condições de negócio ainda sejam sofríveis).
Os monopólios e os grandes conglomerados econômicos, a maior parte listada em Bolsa, agora enfrentavam concorrência. Isso reduz sua lucratividade e derruba as ações do incumbente, cujo peso nos índices de ações é grande.
III. Foi percebido que o crédito no Brasil tinha um desempenho melhor em termos de risco e retorno.
A classe rendia basicamente tão bem (ou até melhor) do que as ações e com uma fração da sua volatilidade. Então, cerca de 15% anteriormente destinado à renda variável passou a ir para o crédito.
Hoje, as ações brasileiras representam cerca de 15% do portfólio. Se somarmos os 15% do crédito, chegamos basicamente nos 30% anteriores destinados à Bolsa.
Essa foi só uma palhinha do episódio. Vale a pena ouvi-lo na íntegra. Todos nós devemos deferências à Verde, que ajudou a moldar o mercado de capitais brasileiro. Por isso, foi uma honra dividir aquela bancada.
Num mercado dominado por sábios formados em cursos de trading de final de semana, será muito difícil ensinar truques velhos a cães novos. Ainda assim, nunca cansaremos de tentar.
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador