Felipe Miranda: A pobreza das ações
Em uma conversa regada a vinho, dois sujeitos se envolvem em um embate atípico, mas quem está com a razão?
Zé Comprinha acha que a Bolsa brasileira está barata.
Zé Vendinha pondera que está barata há pelo menos três anos.
O primeiro faz a tréplica, apontando excepcionalidade na duração do atual bear market das ações ligadas ao ciclo doméstico: “as coisas retornam à média e, depois de tanto tempo com performance ruim, agora a Bolsa deveria andar.”
O segundo quer saber que média é essa e com qual velocidade se dá essa reversão. “Afinal, os índices de ações no Brasil — e você pode pegar o índice que quiser — perdem para o CDI e para a NTN-B mesmo no longo prazo.”
Zé Comprinha busca um argumento de autoridade e apela para o problema da indução: “o fato de o passado ter sido ruim não significa um futuro condenado. Basta olhar para a Bolsa do Japão nos últimos 12 meses. Essa história passou décadas muito mal e agora está voando.”
Zé Vendinha se irrita com a referência a David Hume e sobe a voz: “agora você quer comparar o Brasil ao Japão? Aliás, a Bolsa só está subindo por lá por colher os resultados do Abenomics, aquele conjunto de medidas pró-business de anos atrás, coisas que não vemos por aqui.”
Leia Também
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
O otimista, então, lembra do ciclo econômico e monetário, dizendo que os juros vão cair mundo afora no segundo semestre, alimentando mercados emergentes.
O pessimista contra-argumenta que um ou dois cortes no juro básico nos EUA não vão mexer o ponteiro — afinal, se o bond do JP Morgan paga mais de 6% em dólar, por que o camarada vai sair do quintal dele e investir num mercado emergente qualquer?
- Onde investir? Veja 10 ações em diferentes setores da economia para buscar lucros. Baixe o relatório gratuito aqui.
Quem tem razão sobre a bolsa?
Já são duas horas da manhã e os dois ainda estão parados numa dialética circular, iniciada ao anoitecer. Tomaram uma garrafa de vinho cada um. Decepcionaram-se com a incapacidade de produzir uma síntese daquele embate.
Zé Comprinha está receoso de que seus comentários mais ríspidos possam abalar a amizade de muitos anos. Também se incomoda com o ar de superioridade cética de seu amigo e antagonista, incapaz de produzir qualquer coisa construtiva, valendo-se apenas da acidez para desmontar o otimismo alheio sem gerar qualquer originalidade, mas releva. Ele acende um baseado. Oferece ao amigo.
“Ok, vamos na de dois.”
Cada um tem suas próprias muletas para resolver embates, sejam eles nas dificuldades em produzir consensos, sejam em conversas consigo mesmo.
A verdade é que Zé Comprinha está cansado. Desde julho de 2021, ele sofre com o mau comportamento das ações brasileiras, o que tem lhe custado dinheiro e, ainda pior, a própria autoestima.
Zé Vendinha também está infeliz. Suas LIGs e LCIs vencem nos próximos meses e ele não sabe o que fazer com o dinheiro. Ele é herdeiro de uma família industrial bastante tradicional no estado de São Paulo e não está muito acostumado com a assunção de risco e volatilidade.
Desde que percebeu as iniciativas do governo para coibir a farra com as emissões incentivadas, convive com níveis mais altos de cortisol. Perdeu o apetite sexual, mesmo sua esposa estando mais gostosa do que nunca. Ela mudou de personal trainer e iniciou um ciclo com Clembuterol. Suas veias estão saltadas, indicando os níveis altos de vascularização, os percentuais de gordura são baixos. Músculos proeminentes, mas sem exagero, no tom.
Zé Vendinha vive sua própria dialética interna, enfrentando a ambivalência de alternar entre o orgulho de ver a esposa tão gostosa e os ciúmes do novo personal. Desconfia que eles já estejam transando. No fundo, ele sabe.
A maconha o leva a níveis diferentes de percepção e o faz visitar lugares mais sombrios do próprio psiquismo. Aprendeu a lidar com aquilo e tem suas técnicas para escapar daquela espiral negativa. Os ombros estão relaxados, os músculos como um todo estão quase massageados pelo efeito entorpecente da droga. A mistura do álcool com o THC lhe era perturbadora e, ao mesmo tempo, sedativa. Ele não quer mais o embate, nem consigo, nem com o amigo comprado em Bolsa.
Quer mudar de assunto. Emite um sinal na direção de um acordo:
"David Hume era amigo de Adam Smith.”
“Oi?”
“David Hume. Você não citou o problema da indução, do Hume?”
“Ah, sim. Esquece. Só tentei ganhar o argumento.”
“Não, não. Talvez possa nos ajudar, porque me fez lembrar dos nossos tempos da faculdade, quando líamos Adam Smith. Estavam todos debruçados sobre A Riqueza das Nações, você lembra? A gente queria mesmo era discutir A Teoria dos Sentimentos Morais.”
Zé Vendinha, então, recupera a figura do “espectador imparcial”, aquela figura imaginária capaz de avaliar uma situação com isenção e desinteresse, para promover um exato julgamento moral.
- Já sabe como declarar seus investimentos no Imposto de Renda? Baixe nosso guia de IR e acesse o curso completo da jornalista Julia Wiltgen, de forma totalmente gratuita. É só clicar aqui.
A bandeira branca
As pessoas desconhecidas poderiam não ser bons julgadores de nossos sentimentos e nossas decisões, porque não saberiam as reais razões para aquilo. Já as pessoas muito próximas acabariam enviesadas pelo amor e coisas parecidas, podendo ser muito benevolentes em suas avaliações.
Então, em nossa tentativa de perseguir a “simpatia mútua de sentimentos” (espécie de reciprocidade de sentimentos), a pedra fundamental da antropologia moral de Smith, teríamos de recorrer ao espectador imparcial.
Num grande esforço em prol da honestidade intelectual e da convivência harmoniosa contra aquela polarização com Zé Comprinha, Zé Vendinha levanta a bandeira branca:
“Olha, eu não acho que você esteja de todo errado. Não posso brigar com os dados e, portanto, não mudo de ideia sobre o fato de que as ações brasileiras não tiveram historicamente um bom desempenho — ao menos nas décadas mais recentes. Você também sabe que eu não gosto da expressão ‘a bolsa está barata’, porque ela omite um ponto importante. Barata em relação a que? Mas posso admitir que ela está mesmo barata em relação a outros ativos, seja porque o prêmio de risco projetado está alto em relação a NTN-B, seja porque os spreads de crédito estão amassados".
"Acrescentaria ainda que, em termos macro, se os juros de mercado não subirem muito mais nos EUA e se o governo brasileiro adotar o comportamento típico de convergência à média, assoprando nas próximas semanas depois de ter passado o último mês mordendo, então faria mesmo sentido projetar uma boa performance da Bolsa brasileira. Nada como um casamento de longo prazo, mas um namoro de verão (ou de outono e inverno, sei lá), uma recuperação cíclica natural. Também devo reconhecer que gosto da grande previsibilidade das utilities e comprar Equatorial a 11% de TIR real e Eletrobras a quase 15% pode ser uma boa estratégia de preservação e composição patrimonial ao longo do tempo.”
“Zé, eu também tenho Equatorial e Eletrobras. Agora podemos ir dormir."
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador
Os CDBs que pagam acima da média, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Quando o retorno é maior que a média, é hora de desconfiar dos riscos; investidores aguardam dados dos EUA para tentar entender qual será o caminho dos juros norte-americanos
Direita ou esquerda? No mundo dos negócios, escolha quem faz ‘jogo duplo’
Apostar no negócio maduro ou investir em inovação? Entenda como resolver esse dilema dos negócios
Esse número pode indicar se é hora de investir na bolsa; Log corta dividendos e o que mais afeta seu bolso hoje
Relação entre preço das ações e lucro está longe do histórico e indica que ainda há espaço para subir mais; veja o que analistas dizem sobre o momento atual da bolsa de valores brasileira
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro