Seguindo o calendário da temporada de balanços do quarto trimestre de 2022, a Vale (VALE3) apresenta seus números nesta quinta-feira (16), atraindo os olhares do mercado para aquela que é a empresa com maior peso dentro do Ibovespa (15,72%). Mas o foco dos investidores estará mesmo é no futuro da mineradora.
Mais do que os números já mais ou menos antecipados com a divulgação de sua prévia operacional, os investidores devem acompanhar com mais atenção o comportamento do preço do minério de ferro e como se encaminha a reabertura chinesa, maior mercado da companhia brasileira.
De maneira geral, o quarto trimestre é sazonalmente mais forte para as mineradoras, o que deve trazer números melhores para a Vale em termos de vendas. Isso traz também equilíbrio para a empresa, que teve uma produção elevada nos três meses anteriores, além de implicar na diluição dos custos.
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Espera-se também que a empresa tenha conseguido praticar preços melhores na reta final de 2022, impulsionada pelo prêmio do minério de ferro.
Vale (VALE3): o que o mercado espera
Segundo as projeções do BTG Pactual, a Vale deve anunciar um lucro líquido de US$ 3,2 bilhões no quarto trimestre de 2022, além de uma receita de US$ 11,6 bilhões.
Isso representa uma queda de 39,5% e de 11,2% na comparação com o mesmo período de 2021, respectivamente.
Já o consenso da Bloomberg aponta um lucro líquido de US$ 2,9 bilhões, enquanto a receita líquida seria de US$ 11,1 bilhões.
Para Pedro Acioli, analista de commodities da gestora Mantaro Capital, outros pontos que também devem ser observados com cuidado na divulgação do balanço do Vale são as questões operacionais, como o andamento de licenciamentos ambientais e a recuperação das perdas provocadas pelo desastre de Brumadinho, em Minas Gerais, que completa 4 anos.
"O mercado esperava que a Vale fosse se recuperar mais rápido após esse episódio, mas é um objetivo sempre postergado", diz.
Neste ano, a empresa deve desembolsar R$ 7,8 bilhões com reparações pelo rompimento da barragem. O valor inclui provisões para os acordos feitos com a Justiça e projetos da Vale na região, como monitoramento de barragens e manejo de rejeitos.
O futuro da Vale (VALE3)
Uma vez que os números que a Vale (VALE3) apresentará em seu balanço não devem trazer grandes surpresas e estão bem precificados, analistas e gestores estão monitorando mesmo é o processo de reabertura da China, o principal mercado da mineradora.
É ele que ditará como serão os próximos balanços da companhia, a depender do ritmo da retomada e, claro, da demanda por minério.
"O mercado vai buscar analisar quais setores vão se beneficiar mais desse processo de reabertura, como está o apetite. Mas, num primeiro momento, os setores de serviços e alimentos devem se beneficiar mais por conta da demanda reprimida, como aconteceu nas demais economias. A indústria e o setor de construção civil ainda estão em crise", diz Gabriela Joubert, analista-chefe do Inter Research.
Na semana passada, o JP Morgan cortou a recomendação das ações da Vale, de compra para neutro, fixando um preço-alvo de R$ 93,00 para a mineradora ao fim deste ano — um potencial de valorização de 6,7%, se considerado o fechamento de terça-feira (14).
As mudanças foram feitas de olho no que pode ser classificado como um excesso de otimismo com o setor de mineração e siderurgia após a reabertura da China. A Vale ainda vai se beneficiar deste evento, não há dúvidas, mas a leitura é de que o rali recente visto nos papéis já foi longe demais e não justifica compra neste momento.

Na avaliação dos analistas do banco americano, haverá outras oportunidades de entrada no ativo ao longo deste ano, conforme a reabertura da China comece a ter efeitos de fato.
Já o minério de ferro, essencial para dar alguma visibilidade ao investidor, deve atingir um preço médio de US$100 por tonelada em 2023, nas projeções do Santander. No primeiro semestre deste ano, o preço por tonelada deve ficar acima desta marca, diz o banco, em relatório.
Pedro Acioli, da gestora Mantaro Capital, diz que hoje não está tão animado com a tese da Vale justamente pelo impacto do preço do minério na companhia. Segundo ele, o nível já está alto demais.
A divisão de metais básicos
Outro ponto que está no radar do mercado é: o que a Vale pretende fazer com sua área de metais básicos, já que há meses são discutidas uma possível abertura de capital para essa divisão — ou, até mesmo, uma venda parcial?
Agentes do mercado apontam, inclusive, que somente uma solução definitiva para esta área da empresa seria capaz de destravar valor de fato para a mineradora, com a consequente valorização de suas ações na bolsa.
As últimas notícias sobre o tema relatam que a GM pode pagar até US$ 2 bilhões por parte da divisão de metais básicos da Vale. A montadora já estaria na segunda fase de um processo de licitação; seu interesse, claro, é na obtenção de uma fonte de cobre e níquel que sirva para sua produção de veículos elétricos.
Hoje, a Vale já fornece esses materiais para a Tesla; a japonesa Mitsui & Co e um fundo de investimentos da Arábia Saudita, entre outros, também estão interessados nessa divisão.
A necessidade de separar os negócios de minério de ferro e de metais básicos surgiu a partir das projeções de que a demanda por cobre e níquel aumentarão consideravelmente nos próximos anos.
"A monetização dessa área vem ganhando força e vai destravar valor da companhia, então os investidores devem olhar bem esta parte na divulgação do balanço", afirma Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research.
Outro ponto importante, segundo ele, e que deve ser analisado com cuidado, é a geração de caixa da Vale, que está bem alta. Isso pode provocar uma distribuição interessante de dividendos ou até mesmo um programa de recompra de ações.
O relatório de produção da Vale (VALE3)
No fim de janeiro, a Vale (VALE3) divulgou seu relatório de produção e vendas dos últimos três meses do ano passado. O documento mostra que a extração de minério de ferro chegou a 80,8 toneladas métricas (Mt), uma leve queda de 1% na comparação com o quarto trimestre de 2021. No ano, o indicador recuou 2%, para 307,8 Mt.
Segundo a Vale, o desempenho negativo, mas muito próximo à estabilidade, deve-se a dois fatores: atrasos de licenciamentos na Serra Norte e o processamento de estéril jaspilito e performance operacional no S11D.
Os efeitos foram parcialmente compensados pelo crescimento contínuo da operação em Vargem Grande e alta na produção via processamento a seco em Brucutu. Além disso, a maior compra de terceiros também ajudou a segurar o indicador.
Já as vendas de finos da matéria prima do aço também registraram um tímido recuo de 0,7% na base trimestral e ficaram em 81,2 Mt. O acumulado anual foi de 260,6 Mt, recuo de 3,8% ante o ano anterior.