Enquanto o mercado estava fechado aqui no Brasil, uma bomba estourou: por meio de um comunicado enviado à CVM, a Americanas (AMER3) informou um rombo contábil da ordem de R$ 20 bilhões.
Na sequência dos fatos, os agora ex-CEO, Sérgio Rial, e ex-CFO e ex-diretor de relações com os investidores, André Covre, renunciaram aos cargos. A presença de Rial à frente da varejista era vista com bons olhos pelos analistas.
Acreditava-se que o “efeito Rial” de médio e longo prazo seria parecido com o de suas passagens por empresas como o Santander Brasil, a Seara e a Marfrig — nas três companhias, o executivo liderou um processo bem-sucedido de reestruturação.
Esperava-se que Rial poderia fazer o mesmo com a Americanas. No entanto, ele mal ficou dez dias formalmente no cargo, já que assumiu a cadeira de CEO no último dia 2.
Em meio ao turbilhão, as casas de análise preferiram não pagar para ver. Há quase uma unanimidade: Morgan Stanley, XP, Itaú BBA, Bradesco BBI e Banco Safra suspenderam suas recomendações para as ações da Americanas, retirando também seus preços-alvo para AMER3.
Já a Genial Investimentos cortou a recomendação para os papéis de compra para venda, reduzindo o preço-alvo de AMER3 de R$ 28,40 para R$ 9,40.
Americanas (AMER3) em maus lençóis
São basicamente três os fatores que fizeram com que boa parte das casas de análise retirassem suas recomendações: governança corporativa, impactos negativos no caixa e um cenário macroeconômico desafiador pela frente.
Começando pela dança das cadeiras do alto escalão da Americanas, a saída de Rial preocupa, mas o Itaú enxerga como positiva a criação de um comitê independente para lidar com a crise. O conselho de administração nomeou interinamente João Guerra como CEO e diretor de relações com investidores.
“O Sr. Guerra é um executivo de longa data da empresa nas áreas de tecnologia e áreas de recursos humanos”, destaca o relatório. Há rumores de que Rial dê algum tipo de assessoria ao comitê, mas não se sabe ao certo se como membro ou consultor externo.
Impactos no caixa: um “buraco” de R$ 20 bilhões?
Antes de mais nada, é preciso entender do que se tratam esses R$ 20 bilhões. A Americanas cita no comunicado que foram encontrados problemas em "lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores".
Uma das especulações do mercado é de que o montante se refere a financiamentos bancários para a compra de estoque e que não foram lançadas corretamente no balanço.
Americanas: possível alavancagem maior do que o esperado
Em outras palavras, isso demonstra que os impactos no caixa não seriam substanciais. No entanto, destaca a XP, poderia significar que a empresa está mais alavancada do que vem demonstrando nos últimos balanços.
E isso influencia diretamente na avaliação de saúde financeira da varejista, tendo em vista que os efeitos diretos são no próprio custo da dívida e na corrosão do capital de giro.
Quem explica melhor essa situação são os analistas Iago Souza, Igor Mendes e Vinicius Esteves, da Genial.
“[Essa operação] reduziria a conta de Fornecedores no passivo, que teve seu valor declarado no balanço do terceiro trimestre de 2022 em R$ 5 bilhões”.
Nesse caso, as obrigações financeiras da Americanas seriam quatro vezes maiores.
Expansão do varejo pode dar respiro à Americanas
O novo cenário macroeconômico pós-pandemia continua como uma incógnita. Analisando especificamente o Brasil, os dados de varejo da última quarta-feira (11) não são nada animadores.
De acordo com o IBGE, o volume de vendas do varejista caiu 0,6% em novembro na comparação com outubro, acima do esperado pelo mercado, que esperava recuo de 0,3%.
No acumulado de 2022, o setor teve alta de 1,1%, também aquém das expectativas de expansão de 1,9%. A perspectiva com a reabertura chinesa e os problemas na cadeia de distribuição são fatores ainda incertos para determinar o futuro do varejo — e este é mais um ponto de incerteza dos analistas.
E as ações…
A abertura do pregão desta quinta-feira foi conturbada para os investidores do varejo. Até quem não tem nada a ver com o assunto bambeou nos primeiros minutos da sessão.
Começando pela Americanas, os papéis AMER3 permaneciam em leilão até 11h20. Já a Via (VIIA3), antiga Via Varejo, e Magazine Luiza (MGLU3) são as maiores quedas do dia, com recuos de 7,69% e 6,93%, respectivamente.
O setor como um todo recuava em bloco por volta das 11h:
Empresa | Ativo | Preço | Variação | Var. 12m |
Lojas Renner | LREN3 | 20,59 | -1,11% | -14,45% |
Grupo De Moda Soma | SOMA3 | 9,96 | -2,35% | -9,60% |
Arezzo | ARZZ3 | 78,76 | -0,30% | 17,32% |
Lojas Marisa | AMAR3 | 1,35 | -2,88% | -57,76% |
Lojas C&A | CEAB3 | 2,45 | -6,84% | -56,56% |
Guararapes | GUAR3 | 5,54 | -2,12% | -41,21% |