Mas só se fala em política monetária? Então saiba o que esperar da Super Quarta dos bancos centrais
Os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos decidem os juros na quarta-feira; na quinta-feira será a vez da zona do euro e da Inglaterra

As primeiras semanas do ano foram emocionantes, sem dúvida. Agora, encerramos janeiro com o início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que será concluída amanhã, dia 1º de fevereiro, depois do fechamento de mercado. Em escala global, a semana também ganha contornos relevantes em relação à política monetária.
Começamos com o próprio Federal Reserve, dos EUA, que apresentará amanhã sua primeira decisão de 2023 por meio do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), transformando nossa quarta-feira em uma Super Quarta (combinação de encontros dos BCs do Brasil e dos EUA).
Na sequência, na quinta-feira, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra (BoE) também divulgarão seus respectivos juros. Enquanto os americanos devem elevar a taxa em 25 pontos-base, os europeus e os britânicos devem optar por uma elevação de 50 pontos-base. Fica em aberto o tom que cada um adotará.
Um destaque interessante lá fora é que teremos na sexta-feira o relatório de emprego dos EUA (payroll), que deverá mostrar que os empregadores criaram 185 mil empregos em janeiro, em comparação com 223 mil em dezembro. Caso as expectativas sejam frustradas, o Fed terá ainda mais espaço para desacelerar o aperto monetário.
Enquanto isso, na Europa, os dados da Zona do Euro também devem mostrar uma inflação desacelerada e uma economia estagnada. O que também serve de motivo para desacelerar o processo de aperto monetário, podendo penalizar em demasia a economia se for realizado em uma dose muito elevada.
- Pensando em como buscar lucros em 2023? Este material completo e exclusivo mostra os caminhos mais promissores para buscar ganhos com ações, FIIs, BDRs e muito mais neste ano. CONFIRA AS INDICAÇÕES AQUI
Mas e o Brasil?
Bem, o nosso Banco Central do Brasil deverá manter os custos de empréstimos inalterados em 13,75% ao ano, também deixando a expectativa apenas para o comunicado que acompanha a decisão. Aliás, há bastante apreensão sobre o tom que o Copom adotará em relação aos próximos passos a serem tomados.
Leia Também
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
O motivo principal deriva da questão fiscal, que ajudou na deterioração das projeções de inflação para 2023 em diante. Em outras palavras, já sabíamos que o Bacen estava trabalhando com a ancoragem das expectativas de 2024 e que já havia sinalizado a abertura para mais juros se necessário, mas as coisas pioraram bastante.
Com a reviravolta na PEC da Transição, que transformou o superávit do ano passado em expectativa de déficit em 2023, o Brasil passa por uma das maiores expansões fiscais de sua história. Há problemas graves derivados disso, principalmente quando colocado em paralelo a um péssimo discurso revisionista sobre a independência do BC e as metas de inflação.
Dito de outra forma, não pegou bem o início de governo, mesmo com o pacote fiscal do Haddad (aumento de arrecadação para minimizar o déficit em 2023) e com a boa equipe de Simone Tebet. Vivemos elevações nos vértices da curva de juros e voltamos a flertar com o risco de desancoragem da inflação — intervir no CMN e aumentar a meta de inflação seria um erro gigantesco.
Então para onde estamos indo?
Em primeiro lugar, entendo que a taxa terminal se manterá em 13,75% ao ano, com as ameaças de mais juros servindo apenas para mostrar a cautela do BC em relação ao contexto econômico. A diferença ficará com o período em que teremos mais juros, que aumenta toda vez que os riscos ficam mais evidentes.
Ou seja, se antes um início de queda da Selic já poderia ser esperado para o início do segundo semestre, ficamos agora com o quarto trimestre de 2023 e olhe lá, com chance de só começar o processo no começo do ano que vem, a depender dos próximos passos orçamentários do governo.
Isso sem falar da bomba fiscal do ICMS, uma vez que os governadores estão pedindo compensação e o custo para a União pode ser de até R$ 36,9 bilhões, dificultando ainda mais o posicionamento do orçamento público brasileiro e aprofundando o déficit esperado para 2023, o que seria horrível no contexto atual.
Em segundo lugar, as perspectivas de inflação se tornaram mais difíceis mesmo, com expectativa de retorno dos impostos removidos no ano passado e com o esgarçamento fiscal recente. Temos trabalhado com uma projeção de inflação para 2023 de pelo menos 5,50% — se confirmado, voltaríamos a estourar o teto da meta.
O que esperar do comunicado do Copom
Com isso, seria natural esperarmos uma comunicação mais dura, podendo sinalizar agravamento no balanço de risco e alteração da assimetria. O BC não subirá mais os juros, muito provavelmente, mas o manterá elevado por mais tempo, prejudicando as estimativas de atividades para 2023 e 2024, que já não eram das melhores.
Em terceiro lugar, o jogo fiscal ainda está em aberto, uma vez que não conhecemos o novo arcabouço. O mercado entende a necessidade de se alterar o teto de gastos, mas o seu substituto ainda é uma incógnita. Isso fará com que o BC alerte os agentes sobre a situação das contas públicas, que já viram dias melhores.
Por fim, não entendo como provável uma intervenção do Executivo no Conselho Monetário Nacional (CMN) ou no BCB. As ameaças devem ficar mais na retórica demagógica tradicional de Lula, que consegue transitar por diferentes ambientes a depender com que esteja falando, do que qualquer outra coisa.
Vejo um tom duro ser mantido até que um novo arcabouço crível seja colocado para discussão e efetivamente votado no Congresso, que está decidindo sua presidência e suas mesas diretoras nesta semana; aliás, na quarta-feira também. Assim, devemos conviver com juros elevados até o terceiro trimestre.
A partir disso, poderemos começar a reduzir os juros cada vez mais ao longo de 2024, mas de maneira gradual, sem grandes surpresas. O problema é que o custo disso será uma penalização no crescimento econômico, com o consequente aumento do desemprego, enquanto a inflação não é colocada efetivamente em seu devido lugar.
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro
Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço
Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais
De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo
Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses
As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?
Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo
Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente
Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço
Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar
Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim
O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?
Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias.
Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque
Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin
Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito
Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo
De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras
Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado
Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?
A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.
Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília
Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores
Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump
Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro
O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump
Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem
Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno
O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira
No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão
Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil
Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece
Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?
Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale
Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem
A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata
Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda
O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale
Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA