Os prós e os contras do pacote fiscal de Haddad; entenda por que os investidores não se empolgaram
Será impressionante se promessa de zerar o déficit fiscal já no primeiro ano do governo Lula for cumprida, mas o próprio governo considera isso improvável

Não é de hoje que o ponto fraco do Brasil tem sido o panorama fiscal. Os últimos três anos servem de prova do argumento. Basta observar o estresse sobre a curva de juros por conta do estouro do teto de gastos em 2020 (pandemia), 2021 (precatórios) e 2022 (bondades, eleição e transição). Foi uma loucura, principalmente por conta do aperto monetário que ocorria em paralelo.
No final da semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou seu primeiro pacote de medidas, visando a reverter o déficit esperado para 2023 de mais de R$ 231 bilhões para um superávit de R$ 11 bilhões.
Realmente, zerar o déficit no ano seria uma missão impressionante se completa, mas a chance de materialização do cenário em questão é relativamente baixa — o próprio Haddad assumiu isso.
Sinal é positivo
Ao mesmo tempo, ainda que atingir 100% do pacote de medidas pareça algo distante, pelo menos a direção é positiva. Em outras palavras, parte do programa fiscal deverá ser cumprido.
Assim, mesmo com Haddad não dando garantias de fechar o ano com superávit, podemos reduzir o déficit esperado, hoje acima de 2% do PIB, para algo entre 0,5% e 1% do PIB (déficit primário de R$ 90 bilhões a R$ 100 bilhões).
Trata-se de um caminho bastante realista. Dessa forma, teríamos um caminho mais razoável para zerar o déficit em 2024, se não conseguirmos os R$ 242,7 bilhões de ajuste já em 2023.
Leia Também
A dieta do Itaú para não recorrer ao Ozempic
Abaixo, o leitor pode conferir o déficit esperado para 2023 e as iniciativas de ajuste fiscal, até atingir na última linha o superávit primário neste ano, com parte das medidas, inclusive, com efeito não só extraordinário para o ano, mas sustentável no longo prazo, podendo ser observado ainda no ano que vem.
O pacote fiscal de Haddad, porém, pouco empolgou os investidores.
O motivo?
São alguns, na verdade.
Começamos com o fato de que qualquer notícia positiva sistêmica foi abafada pelo escândalo em Americanas, impedindo qualquer otimismo mais generalizado com as ações brasileiras neste curto prazo.
Além disso, o plano parece legal, mas tem um problema: 80% das medidas (R$ 192,7 bi) apostam em uma arrecadação maior, como a volta da cobrança de impostos federais sobre os combustíveis e programa de refinanciamento de dívidas tributárias. Pague seus impostos em dia, o governo vai precisar.
Neste sentido, ainda que a direção seja boa, as vias já não agradam tanto o mercado aqui, uma vez que apenas R$ 50 bilhões se referem a cortes de despesas.
É uma mensagem importante, não?
O governo não parece tão disposto a cortar impostos, os quais têm muitas vezes efeito perverso sobre a atividade econômica.
A justificativa de Haddad é de que parte relevante dos impostos cortados no ano passado tinham viés eleitoral e não se justificavam no longo prazo.
Portanto, faria sentido, segundo o governo, trazer a revogação da redução de PIS/Cofins cobrado sobre receita de grandes empresas e voltar a cobrança dos tributos federais sobre a gasolina e etanol a partir de março (a decisão será tomada depois de Prates assumir).
Adicionalmente, falta ainda o novo arcabouço fiscal, sem o qual ficaria difícil trabalhar qualquer expectativa de longo prazo.
Sim, soou bem a fala recente de Simone Tebet, a Ministra do Planejamento e Orçamento, de que o plano de ajuste fiscal anunciado na semana passada é insuficiente e que é necessária uma reforma estrutural na montagem do Orçamento.
Ela tem razão, mas o mercado teme que falte liderança no governo pensando assim, até mesmo porque não sabemos qual será a regra fiscal para os próximos anos.
Pode ser algo positivo, sim, mas ainda não sabemos. Não temos, hoje, como fazer contas e, por isso, nos resta ter paciência e aguardar.
Leia também
- O ataque a Brasília e a reação do mercado: entenda os impactos do 8 de janeiro sobre os ativos brasileiros
- Lula e a transição energética: 3 investimentos alternativos para ficar de olho em 2023
- Brasil, EUA e China: três possíveis surpresas positivas que podem mover os mercados em 2023
E o salário-mínimo?
Por fim, uma última razão pela qual o mercado não ficou tão contente deriva de uma possibilidade de aumentarmos o salário-mínimo de R$ 1.302 para R$ 1.320 (as centrais sindicais brigam até por mais) já em 2023.
Haveria impacto adicional nas contas públicas em 2023, e a decisão acaba sendo de cunho político. Sabemos que o governo atual tem alinhamento com a ideia de aumento real do salário-mínimo, o que gera preocupações adicionais para as contas públicas ainda neste ano.
Ou seja, desenha-se um cenário no qual podemos ter 2% de déficit orçamentário, conforme o projetado para este ano, enquanto podemos levá-lo, no contexto otimista, para 0% no PIB já em 2023. Um cenário base poderia contar com algo entre 0,5% e 1% do PIB para o ano, considerando que parte das medidas serão cumpridas pelos agentes econômicos.
Um cenário mais pessimista
Por fim, um cenário mais pessimista teria ainda um décifit superior a 1% do PIB no ano. A direção ainda não é tão positiva, portanto, ainda que suavemente melhor do que tínhamos anteriormente.
Mas é como falei: precisamos de um combo de ajuste fiscal junto com a criação de uma nova regra fiscal (idealmente com a aprovação da reforma tributária de Appy).
Em sendo o caso, haveria espaço sim para que o fiscal deixe de pressionar a nossa curva de juros e que nossos ativos possam caminhar em uma trajetória mais positiva, diferente do que vimos nos últimos três anos, nos quais os investimentos locais sofreram justamente por conta de tanto estresse fiscal, entre outros motivos.
E o novo regime fiscal?
Infelizmente, pouco se sabe sobre o novo regime fiscal que pretende ser adotado pelo governo Lula. Não há definição concreta por enquanto.
Uma das ideias propõe substituir o teto de gastos públicos, já inutilizado desde a pandemia, por meta de despesas, assim como no conceito de metas de inflação, separando obrigações correntes de curto prazo do gasto com investimento de longo prazo. Até que tenhamos clareza, a abordagem mais adequada seria preservar um conservadorismo.
Um caixa grande (teremos Tesouro Selic rendendo dois dígitos por algum tempo), com algumas posições em renda fixa indexada à inflação (em títulos do Tesouro e em crédito privado), um pouco de Bolsa brasileira (exposição ainda limitada por conta dos riscos locais, em especial se o leitor tiver perfil conservador) e proteções, como dólar e ouro, para caso as coisas fujam do controle nos próximos meses.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Dessa forma, conseguiremos navegar bem em 2023, sem nenhuma aventura muito grande, enquanto esperamos definições mais concretas vindas do governo para além do pacote de medidas já anunciado.
A derrota de Milei: um tropeço local que não apaga o projeto nacional
Fora da região metropolitana de Buenos Aires, o governo de Milei pode encontrar terreno mais favorável e conquistar resultados que atenuem a derrota provincial. Ainda assim, a trajetória dos ativos argentinos permanece vinculada ao desfecho das eleições de outubro.
Felipe Miranda: Tarcisiômetro
O mercado vai monitorar cada passo dos presidenciáveis, com o termômetro no bolso, diante da possível consolidação da candidatura de Tarcísio de Freitas como o nome da centro-direita e da direita.
A tentativa de retorno do IRB, e o que move os mercados nesta segunda-feira (8)
Após quinta semana seguida de alta, Ibovespa tenta manter bom momento em meio a agenda esvaziada
Entre o diploma e a dignidade: por que jovens atingidos pelo desemprego pagam para fingir que trabalham
Em meio a uma alta taxa de desemprego em sua faixa etária, jovens adultos chineses pagam para ir a escritórios de “mentirinha” e fingir que estão trabalhando
Recorde atrás de recorde na bolsa brasileira, e o que move os mercados nesta sexta-feira (5)
Investidores aguardam dados de emprego nos EUA e continuam de olho no tarifaço de Trump
Ibovespa renova máxima histórica, segue muito barato e a próxima parada pode ser nos 200 mil pontos. Por que você não deve ficar fora dessa?
Juros e dólar baixos e a renovação de poder na eleição de 2026 podem levar a uma das maiores reprecificações da bolsa brasileira. Os riscos existem, mas pode fazer sentido migrar parte da carteira para ações de empresas brasileiras agora.
BRCR11 conquista novos locatários para edifício em São Paulo e reduz vacância; confira os detalhes da operação
As novas locações colocam o empreendimento como um dos destaques do portfólio do fundo imobiliário
O que fazer quando o rio não está para peixe, e o que esperar dos mercados hoje
Investidores estarão de olho no julgamento da legalidade das tarifas aplicadas por Donald Trump e em dados de emprego nos EUA
Rodolfo Amstalden: Se setembro der errado, pode até dar certo
Agosto acabou rendendo uma grata surpresa aos tomadores de risco. Para este mês, porém, as apostas são de retomada de algum nível de estresse
A ação do mês na gangorra do mundo dos negócios, e o que mexe com os mercados hoje
Investidores acompanham o segundo dia do julgamento de Bolsonaro no STF, além de desdobramentos da taxação dos EUA
Hoje é dia de rock, bebê! Em dia cheio de grandes acontecimentos, saiba o que esperar dos mercados
Terça-feira terá dados do PIB e início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de olhos voltados para o tarifaço de Trump
Entre o rali eleitoral e o malabarismo fiscal: o que já está nos preços?
Diante de uma âncora fiscal frágil e de gastos em expansão contínua, a percepção de risco segue elevada. Ainda assim, fatores externos combinados ao rali eleitoral e às apostas de mudança de rumo em 2026, oferecem algum suporte de curto prazo aos ativos brasileiros.
Tony Volpon: Powell Pivot 3.0
Federal Reserve encara pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, por cortes nos juros, enquanto lida com dominância fiscal sobre a política monetária norte-americana
Seu cachorrinho tem plano de saúde? A nova empreitada da Petz (PETZ3), os melhores investimentos do mês e a semana dos mercados
Entrevistamos a diretora financeira da rede de pet shops para entender a estratégia por trás da entrada no segmento de plano de saúde animal; após recorde do Ibovespa na sexta-feira (29), mercados aguardam julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começa na terça (2)
O importante é aprender a levantar: uma seleção de fundos imobiliários (FIIs) para capturar a retomada do mercado
Com a perspectiva de queda de juros à frente, a Empiricus indica cinco FIIs para investir; confira
Uma ação que pode valorizar com a megaoperação de ontem, e o que deve mover os mercados hoje
Fortes emoções voltam a circular no mercado após o presidente Lula autorizar o uso da Lei da Reciprocidade contra os EUA
Operação Carbono Oculto fortalece distribuidoras — e abre espaço para uma aposta menos óbvia entre as ações
Essa empresa negocia atualmente com um desconto de holding superior a 40%, bem acima da média e do que consideramos justo
A (nova) mordida do Leão na sua aposentadoria, e o que esperar dos mercados hoje
Mercado internacional reage ao balanço da Nvidia, divulgado na noite de ontem e que frustrou as expectativas dos investidores
Rodolfo Amstalden: O Dinizismo tem posição no mercado financeiro?
Na bolsa, assim como em campo, devemos ficar particularmente atentos às posições em que cada ação pode atuar diante das mudanças do mercado
O lixo que vale dinheiro: o sonho grande da Orizon (ORVR3), e o que esperar dos mercados hoje
Investidores ainda repercutem demissão de diretora do Fed por Trump e aguardam balanço da Nvidia; aqui no Brasil, expectativa pelos dados do Caged e falas de Haddad