O que o preço sobre lucro (P/L) nos diz sobre uma ação? Entenda a importância do indicador
Quando falamos com gestores de ações, é o múltiplo Preço/Lucro (P/L) quem domina as discussões sobre a atratividade de um investimento

O preço de qualquer ativo – ações inclusive – é a resultante do fluxo de caixa que ele gera no futuro, trazido a valor presente por meio de uma taxa de desconto.
Por definição, quando o preço de qualquer ativo financeiro muda, duas coisas ou ambas têm que ter acontecido:
- ou a perspectiva do fluxo de caixa que a empresa vai gerar no futuro mudou,
- ou a taxa de desconto mudou,
- ou uma combinação dos dois.
Apesar de todos sabermos que o valor de uma empresa está nos fluxos de caixa que ela irá gerar no futuro, quem escuta o Market Makers sabe que quando falamos com gestores de ações é o múltiplo Preço/Lucro (P/L) quem domina as discussões sobre a atratividade de um investimento.
Isso acontece porque o P/L – como qualquer outro múltiplo – é um atalho que o investidor usa para entender como o mercado enxerga o comportamento futuro dos fluxos de caixa da empresa.
E convenhamos que é muito mais fácil projetar o lucro dos próximos três anos do que o fluxo de caixa que a empresa vai gerar nos próximos 10 anos até a perpetuidade.
A importância desse indicador para ações
Mas apesar de ser um atalho, o P/L é mais do que uma simples referência de preço.
No clássico Modelo de Dividendos Descontados, ou DDM (Dividend Discount Model), uma empresa retém uma porcentagem fixa "b" de seus lucros atuais "L" e distribui o saldo (1 - b)L para investidores na forma de dividendos.
Assume-se que todos os lucros retidos sejam destinados a novos investimentos que ofereçam um retorno igual ao retorno atual da empresa (ROIC ou ROE).
Essas suposições levam a uma taxa de crescimento "g" que se aplica tanto aos lucros quanto aos dividendos. O ‘preço’ da empresa é o valor presente do fluxo projetado de dividendos, descontado a uma taxa de desconto "k".
O preço sobre lucro
Resumindo os dois parágrafos anteriores, o P/L é uma função do:
Leia Também
O lixo que vale dinheiro: o sonho grande da Orizon (ORVR3), e o que esperar dos mercados hoje
Promessas a serem cumpridas: o andamento do plano 60-30-30 do Inter, e o que move os mercados hoje
- Retorno sobre o capital investido (ROIC) que uma empresa gera em seus investimentos;
- Lucro que a empresa retém no balanço para poder reinvesti-lo com o mesmo ROIC;
- Crescimento do lucro por ação que, por sua vez, depende do ROIC e do lucro retido;
- Taxa de desconto, que nada mais é que o custo de oportunidade do investimento.
Com base nisso temos a fórmula derivada da teoria DDM:
P/L = (1 – b) / k – g
b = lucro retido pela empresa
k = taxa de desconto
g = crescimento do lucro ou ROIC * (1-b)
Ou seja, se uma empresa investe 30% do lucro para novos investimentos com um ROIC de 20% a uma taxa de desconto de 10%, então:
P/L = (1 – 0,7) / (0,10 – 0,06) = 25 vezes
Veja que se o ROIC fosse 10%, a empresa teria que investir 60% do lucro para gerar o mesmo g de 6% (10% * 60%), então:
P/L = (1 – 0,4) / (0,10 – 0,06) = 15 vezes
Quando o múltiplo contrai por conta de um maior denominador (lucro maior faz o múltiplo P/L cair), a ação não necessariamente está mais barata já que ela merece passar a negociar com desconto uma vez que a empresa vai precisar investir mais dinheiro - e, consequentemente, pagar menos dividendos - para gerar o mesmo g.
Dessa forma, é matematicamente correto uma empresa que cresce com ROIC robusto negociar a um múltiplo P/L maior do que uma empresa com ROIC menor.
Os múltiplos de uma empresa
A tabela abaixo resume bem essa equação de diferentes cenários de ROIC para diferentes taxas de crescimento (g):

Fonte: What Does a Price-Earnings Multiple Mean?; Credit Suisse
Portanto, apesar de ser um atalho, não dá para dissociar o fato de que quando o mercado paga um múltiplo maior por uma empresa é porque acredita que esta tende a gerar mais caixa do que a média em algum período no futuro. Em outras palavras, é da análise do fluxo de caixa que deriva o múltiplo de uma empresa.
Na Carteira Market Makers, temos uma empresa que reinveste ~35% do lucro líquido expandindo o seu MOAT a um ROIC entre 30 e 40%. Colocando na fórmula, é uma daquelas empresas que poderia negociar a pelo menos 30x:
P/L = (1-0,65) / [0,125 – (30% * 35%)] = 32,5 vezes
Atualmente, ela negocia a meros 14 vezes o lucro do ano que vem - que por sua vez deve subir 20%.
Não é a mais descontada em termos de múltiplo da nossa carteira, mas hoje é a nossa segunda maior posição.
Tem interesse em conhecer? Clique aqui e aproveite a oportunidade para entrar em nossa Comunidade de investidores.
Um abraço,
Matheus Soares
A ação “sem graça” que disparou 50% em 2025 tem potencial para mais e ainda paga dividendos gordos
Para os anos de 2025 e 2026, essa empresa já reiterou a intenção de distribuir pelo menos 100% do lucro aos acionistas de novo
Quem paga seu frete grátis: a disputa pelo e-commerce brasileiro, e o que esperar dos mercados hoje
Disputa entre EUA e Brasil continua no radar e destaque fica por conta do Simpósio de Jackson Hole, que começa nesta quinta-feira
Os ventos de Jackson Hole: brisa de alívio ou tempestade nos mercados?
As expectativas em torno do discurso de Jerome Powell no evento mais tradicional da agenda econômica global divide opiniões no mercado
Rodolfo Amstalden: Qual é seu espaço de tempo preferido para investir?
No mercado financeiro, os momentos estatísticos de 3ª ou 4ª ordem exercem influência muito grande, mas ficam ocultos durante a maior parte do jogo, esperando o técnico chamar do banco de reservas para decidir o placar
Aquele fatídico 9 de julho que mudou os rumos da bolsa brasileira, e o que esperar dos mercados hoje
Tarifa de 50% dos EUA sobre o Brasil vem impactando a bolsa por aqui desde seu anúncio; no cenário global, investidores aguardam negociações sobre guerra na Ucrânia
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Em dia de agenda esvaziada, mercados aguardam negociações para a paz na Ucrânia
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
Na pujança da indústria de inteligência artificial e de seu entorno, raramente encontraremos na História uma excepcionalidade tão grande
Investidores na encruzilhada: Ibovespa repercute balanço do Banco do Brasil antes de cúpula Trump-Putin
Além da temporada de balanços, o mercado monitora dados de emprego e reunião de diretores do BC com economistas
A Petrobras (PETR4) despencou — oportunidade ou armadilha?
A forte queda das ações tem menos relação com resultados e dividendos do segundo trimestre, e mais a ver com perspectivas de entrada em segmentos menos rentáveis no futuro, além de possíveis interferências políticas
Tamanho não é documento na bolsa: Ibovespa digere pacote enquanto aguarda balanço do Banco do Brasil
Além do balanço do Banco do Brasil, investidores também estão de olho no resultado do Nubank
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro
Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço
Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais
De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo
Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses
As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?
Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo
Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente
Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço
Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar
Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim
O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?
Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias.
Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque
Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin
Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito
Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo
De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras
Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado