O poder oculto da fofoca: como ela pode alavancar ou destruir sua carreira
A fofoca é uma prática comum em qualquer ambiente. Mas é preciso ter cuidado com os comentários, especialmente no meio profissional

“O Homo Sapiens é, antes de mais nada, um animal social. A cooperação social é essencial para a sobrevivência e a reprodução”
Yuval Noah Harari
No livro "Sapiens: Uma Breve História da Humanidade", o historiador e filósofo Yuval Noah Harari destaca que nossa capacidade única de criar e compartilhar histórias foi fundamental para a formação de grandes grupos sociais e cooperação em larga escala.
Nesse sentido, a fofoca desempenharia um papel na manutenção da coesão e conexão social, por ser uma forma de compartilhar histórias sobre outras pessoas. Além disso, a boataria pode ser um meio de transmitir normas e reforçar a conformidade em um grupo.
No entanto, Harari também alerta para os perigos das narrativas falsas ou distorcidas que podem surgir por meio da fofoca, como a manipulação de informações para controlar as pessoas e perpetuar desigualdades.
Ou seja: sob a perspectiva histórica, a fofoca tem seu valor. Talvez a gente só esteja nesse nível de desenvolvimento social graças à bendita. Partindo dessa análise macro e adentrando mais no mundo do trabalho corporativo, quais papéis e efeitos ela desempenha sobre as nossas carreiras?
Leia Também
A fofoca geralmente se baseia em informações parciais ou não verificadas e pode ser motivada por diferentes razões, como satisfazer a curiosidade, ganhar poder ou influência social, prejudicar a reputação de alguém ou simplesmente como uma forma de entretenimento.
Pare para pensar na última fofoca que você estava disseminando. Você se recorda se realmente tinha checado as informações faladas? E qual era o seu objetivo em (re)passá-la adiante?
No calor da emoção, parece que ela não vai causar problema algum para ninguém, não é? Mas sabemos que há um custo que pode ser bem alto para as pessoas envolvidas em disseminar e, principalmente, para quem é alvo da fofoca.
Leia também
- 4 verdades sobre transição de carreira que você não vai ler em posts no LinkedIn
- Você largaria um emprego bem remunerado para perseguir a carreira dos sonhos? Antes de responder, conheça a história da Ester
- Os testes de personalidade de carreira são uma grande furada?
Fofoca pode afetar o clima...
Imagine uma fofoca que começa assim: "Nossa, você viu os resultados da empresa? Já ouvi dizer que vai rolar facão".
E, assim, começa um boato sobre uma coisa que pode ou não acontecer, mas que terá impacto direto sobre o clima de uma área ou empresa.
Uma pessoa trabalhando sob o risco de ser demitida a qualquer momento provavelmente terá seu desempenho afetado em decorrência disso. Ou ainda, mesmo que seja provável um layoff, estaria aquela pessoa ou área na lista?
Decisões de saída antecipada "antes que o barco afunde" poderiam ser tomadas sem o devido aprofundamento da situação por informações parciais ou insuficientes.
...desregular times...
"Vixe, não sei se você ficou sabendo que a área de marketing vai ser fundida com a de vendas."
Nesse exemplo, o time de marketing passa a ser menos colaborativo com vendas, porque quer mostrar que a fusão dessas áreas não é benéfica para ninguém. Dadas as devidas adequações de contexto, você já ouviu essa história antes?
Em decorrência de um rumor infundado, times de alta performance podem deixar de atuar no mesmo patamar por gatilhos como o medo ou a incerteza.
...e segregar pessoas e criar barreiras nas relações
"Desde que fulano veio para o nosso time, nosso chefe tem interagido de uma forma estranha com o restante da equipe."
É só questão de (pouco) tempo para que o "fulano" esteja sendo isolado pelos demais. Afinal, ele pode por em risco a promoção de várias pessoas. Se ele for reconhecido primeiro, vai demorar ainda mais para que outros ascendam.
Outro clássico do mundo corporativo é: "aquele cara é uma mala sem alça e sem rodinha, dificulta tudo no nosso projeto". De uma opinião — totalmente pessoal e individual — por alguma interação não muito agradável à estigmatização completa é só uma questão rápida de tempo.
É impressionante como nos tornamos rapidamente vítimas e/ou também carrascos em definir ou ser definido por uma imagem estigmatizada. Vale para o bem, mas principalmente para o mal.
E quando falo que vale para o bem, é quando soltamos comentários positivos sobre alguém, tal como: "nossa, sicrano é ótimo em comunicação e apresentação", acreditando que só tem desdobramentos bons a partir disso. Engano seu.
Sicrano pode estar em um momento da carreira em que está tentando se movimentar para outra área, e essa competência em específico não vai jogar a favor — ela só reforça que ele deve continuar onde está e, assim, ele nunca será considerado para essa transição.
Poxa, mas então fofoca nunca é bom?
Como bem apontado por Harari, há uma perspectiva positiva, sim. E, no caso do mundo do trabalho, também.
Conversas informais, vulgo fofoquinhas no café da firma, podem ser uma forma de compartilhar informações importantes ou alertar para problemas em potencial. Por exemplo, estar atento aos comentários que a alta liderança faz sobre os resultados da empresa, como forma de ter um termômetro para direcionar suas ações dentro e fora do seu departamento.
Em alguns casos, a fofoca pode até mesmo ser uma forma de conexão social e alívio do estresse, quando por exemplo se faz um comentário sobre um artista famoso ou algum evento externo à organização — interações que não interferem em nada no dia a dia do trabalho.
Como zelador do clima organizacional na minha empresa e também mentor de profissionais, meu conselho é atentar-se para que a fofoca não se torne demasiadamente tóxica. Aqui vão algumas regras e checklist que eu uso para endereçar isso:
- Não às fake news: o que estou dizendo tem fundamento? Eu realmente chequei a origem e veracidade da informação que vou compartilhar?
- Qual a minha real intenção em criar e/ou compartilhar a fofoca: o que direi sobre a pessoa ou situação tem qual intenção real: derrubar o coleguinha? Prejudicar um trabalho que eu sei que foi muito bem executado? Ou ainda: estou fazendo uso da fofoca para dificultar a vida da pessoa porque eu tenho inveja do sucesso dela?
- Ao espalhar uma fofoca, é bom lembrar que podem estar fazendo o mesmo sobre nós: eu gostaria de estar sendo condenado a uma imagem ou estigma pelas costas, como consequência de uma fofoca maldosa e infundada?
Por fim, vale lembrar que fofoca é condenar alguém, de certa forma, àquela imagem ou julgamento que eu estou fazendo. Não é legal fazer com o outro aquilo que não gostaria que fosse feito comigo.
E, por mais piegas que seja dizer isso, quando João está falando de Maria, João está, no fundo, falando dele mesmo. A forma como eu julgo alguém ou uma situação fala muito mais sobre mim do que o outro. A fofoca tem essa mesma essência: ela fala muito mais de quem cria e repassa do que quem está sendo alvo da história.
Fofocar é um ato geralmente irresponsável; muitas vezes, quem cria ou repassa a fofoca não arca com as consequências e impactos sobre quem é o alvo.
Até a próxima,
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos
Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento
Se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso da Ambipar
As críticas a uma Petrobras ‘do poço ao posto’ e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (2)
No Brasil, investidores repercutem a aprovação do projeto de isenção do IR e o IPC-Fipe de setembro; no exterior, shutdown nos EUA e dados do emprego na zona do euro
Rodolfo Amstalden: Bolhas de pus, bolhas de sabão e outras hipóteses
Ainda que uma bolha de preços no setor de inteligência artificial pareça improvável, uma bolha de lucros continua sendo possível