🔴 META: ATÉ R$ 334,17 POR NOITE – CONHEÇA A ESTRATÉGIA

Felipe Miranda: No meio está a virtude, sendo os extremos, vícios

Se insistirmos na convergência acelerada da inflação em 3%, possivelmente mergulharemos o país numa recessão, com o risco real de uma grave crise de crédito e quebradeira no meio do caminho

6 de fevereiro de 2023
18:41 - atualizado às 12:57
porcentagem
Imagem: Shutterstock

Ok, se todos querem, eu cedo. Macroeconomia em plena segunda-feira dá até indigestão, mas bora lá. Vamos falar do debate do momento: metas de inflação e potencial interferência do Executivo na política monetária.

Começo com uma pergunta honesta: se Paulo Guedes, Sérgio Werlang, Afonso Bevilaqua, Arminio Fraga ou qualquer outro economista dos “nossos”, quero dizer, alguém tipicamente alinhado ao arcabouço ortodoxo da ciência jovem, propusesse uma revisão para cima nas metas de inflação à frente, acharíamos mesmo um absurdo?

Gostamos de acreditar que o interlocutor não importa. Autoengano ou delírio coletivo. Os argumentos de autoridade são emprestados com frequência. Se uma autoridade em determinado assunto fala alguma coisa, há enorme inclinação ex-ante em julgá-la pertinente. “Quem é você pra criticar o que fulano falou?”.

De algum modo, uma das variações para o brasilianíssimo “você sabe com quem está falando?”, em uma adaptação minha para o clássico de Roberto da Matta, talvez melhor redigida no caso com “você sabe com quem está debatendo?”

Ditadura do argumento

A ideia do “framing" (ou efeito da estruturação) é bastante estudada nas Finanças Comportamentais. A forma com que um problema é apresentado importa. O interlocutor também.

Conforme já nos demonstraram Persio Arida e Deirdre McCloskey ainda nos anos 80, numa ideia que vem se tornando cada vez mais mainstream com as ideias de Robert Shiller (“Narrative economics”) ou mesmo Nassim Taleb (falácia da narrativa), os debates dialéticos na Ciência Econômica não são vencidos por superação positiva, mas, sim, pela corrente com as melhores regras de retórica.

Ou seja, não ganha o melhor argumento, apenas o mais convincente (nem sempre são a mesma coisa). E é por isso que a “ditadura do argumento” deveria ter ficado lá nos anos 80 também, dando lugar à “ditadura do teste” – bom, esse é outro assunto; desviei, desculpe.

Retomo o argumento central.

É legítima a ideia de que precisamos fazer convergir a inflação brasileira à média emergente, por volta de 3% ao ano. Devidamente, o CMN estabeleceu metas nessa direção, o que acho louvável.

Contudo, as circunstâncias importam. Não há estrutura sem uma soma de conjunturas. Não podemos trabalhar com as mesmas premissas e os mesmos parâmetros para o modelo se a realidade objetiva é outra.

“Se o mundo muda, eu mudo.” Isso deveria valer inclusive (ou talvez, principalmente) para os liberais, que, assim como eu, gostam de citar Ayn Rand, seu objetivismo e a defesa implacável do respeito à realidade objetiva, sem platonismos.

As metas de inflação

Quando iniciamos o debate para a convergência das metas de inflação a 3% ao ano, o mundo era outro. Ainda convivíamos com a ideia de que o mundo enfrentava uma estagnação secular, cujas consequências eram crescimento baixo, inflação baixa e juro baixo.

Não se contestava a ideia do Fim da História, pois acreditávamos que a democracia liberal e os valores ocidentais clássicos haviam solapado qualquer hipótese alternativa – até Putin invadir a Ucrânia e Xi Jinping ameaçar Taiwan; agora, não há mais como confiar no coleguinha autocrático e beligerante.

O nearshore e o friendshore reorganizam as cadeias de suplemento globais e causam uma inflação mais alta. Também não tínhamos tantos estímulos monetários e fiscais por conta da covid-19, e as políticas de imigração eram mais frouxas, o que permitia a contratação de mão de obra mais barata.

Mesmo quando entendemos a necessidade de apertar a política monetária brasileira, a ideia original era levar a Selic a 7%, talvez 8%. Não se imaginava o tamanho do choque nem a persistência da inflação.

O mundo inteiro mudou. Estamos diante de um novo equilíbrio macro, de menor produtividade, mais inflação, mais custo do capital e mais juros.

Mesmo o Fed vai levar tempo para alcançar a sua tradicional meta de inflação de 2%, nível com o qual sempre trabalhou historicamente. Imagine para um país emergente, nesse contexto, atingir níveis de inflação jamais alcançados, recorde de baixa num ambiente de tendência a preços subindo acima da média histórica.

Se insistirmos nessa convergência acelerada a 3%, possivelmente mergulharemos o país numa recessão, com o risco real de uma grave crise de crédito e quebradeira no meio do caminho.

Americanas já é um evento de crédito importante, capaz de gerar efeitos sistêmicos – se até o Olimpo do capitalismo está em xeque, o que dizer dos demais prêmios de risco?

Na fila, temos a Light acendendo a luz amarela e a Oi indo para sua segunda recuperação judicial. Haverá alguma outra baleia boiando? E como ficam as empresas que se alavancaram com a Selic a 2% e agora veem o custo de sua dívida próximo a 20%?

Os ciclos econômicos oferecem elementos de histerese; se você estica a corda demais, muita gente morre no meio do caminho.

Não podemos jamais nos apegar a dogmas, ideologias ou discursos demagógicos prontos. Há, sim, espaço para um debate profundo envolvendo a revisão das metas de inflação no Brasil.

O que seria melhor para o Brasil?

Um possível caminho seria o próprio Banco Central, por meio de um de seus competentes PhDs, publicar um Working Paper abrindo o debate acadêmico sobre a hipótese, a que se seguiria um simpósio de política monetária semelhante (guardadas as devidas proporções, claro) àquele de Jackson Hole.

Isso permitiria uma avaliação técnica e científica da viabilidade da ampliação do prazo de convergência para uma meta de inflação de 3% no Brasil, mais distante de ideologias e discursos inflamados. O que seria o melhor para o Brasil? Essa deveria ser a discussão.

Há um contraponto importante. Talvez até mais importante do que o argumento aqui exposto. Essa conversa não pode, em nenhum momento, enveredar para um radicalismo do outro lado.

Nada seria mais desastroso do que uma interferência direta no Banco Central, uma pressão política em prol de uma redução impertinente da Selic ou uma mudança institucional na independência do Banco Central neste momento. Suas consequências seriam a explosão dos juros longos e da taxa de câmbio, alimentando uma dinâmica inflacionária mais perversa e um ciclo vicioso que forçaria a juros mais altos.

Se Lula quer juros mais baixos, a primeira coisa a fazer é parar de falar sobre isso. O dólar cairia, os juros longos também. O Copom poderia iniciar um ciclo de queda da Selic.

Acho que não é novidade para ninguém. Mas, na real, se você se acha original, apenas não leu o suficiente. Tudo já estava lá em Platão e Aristóteles. A virtude está no meio.

Compartilhe

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Com mundo de olho na abertura dos Jogos Olímpicos, mercado aguarda PCE para o pontapé inicial na bolsa

26 de julho de 2024 - 7:52

Além de Wall Street, Ibovespa também repercute hoje os números do Governo Central e o balanço da Vale no segundo trimestre

SEXTOU COM O RUY

“Caçadores de ações”: a empresa que ainda está fora do radar dos investidores, mas é por pouco tempo

26 de julho de 2024 - 6:08

A ótima prévia operacional nos deixa mais confiantes de que essa companhia está no caminho certo para voltar a dar lucro ainda em 2024, podendo inclusive se tornar uma boa pagadora de dividendos para quem tem paciência e pensa no longo prazo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Bugs, bolhas e tecnologia: Big techs azedam o clima nas bolsas em dia de PIB dos EUA e de IPCA-15

25 de julho de 2024 - 8:07

Ibovespa ainda tem que lidar com petróleo e minério de ferro em queda e dólar em alta com mercado à espera do balanço da Vale

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Obrigado, mas não, obrigado

24 de julho de 2024 - 20:30

Recentemente, a startup de cibersegurança Wiz deixou passar uma oferta de US$ 26 bilhões feita pela dona do Google

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A maionese desanda na bolsa: Big techs e minério de ferro pesam sobre os mercados internacionais e Ibovespa paga a conta

24 de julho de 2024 - 7:47

Enquanto resultados trimestrais da Tesla e da dona do Google desapontam investidores, Santander Brasil dá início à safra de balanços dos bancões por aqui

CRYPTO INSIGHTS

Tudo o que você precisa saber sobre os ETFs de Ethereum (ETH) que acabaram de ser lançados

23 de julho de 2024 - 17:36

Segue um dashboard da Bloomberg mostrando as gestoras que estão criando seus respectivos ETF´s de Ether, tickers, taxas, exchanges de negociação e custodiantes

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Ibovespa fica a reboque do exterior antes dos balanços das big techs

23 de julho de 2024 - 8:02

Enquanto temporada de balanços ganha tração em meio a agenda fraca, Ibovespa se prepara para os resultados dos bancões

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Uma rotação setorial está em andamento — e ela conversa com o ‘Trump Trade’

23 de julho de 2024 - 6:37

Rotação setorial coincide com esgotamento da valorização das ‘big techs’ em Wall Street e inflação desacelerando nos EUA

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Erro de design na indústria de multimercados

22 de julho de 2024 - 20:03

O que aconteceu para os conhecedores de política monetária restritiva perderem tanto dinheiro no começo de 2024?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O poder dos fatos novos: Ibovespa reage a desistência de Biden e corte de juros na China

22 de julho de 2024 - 8:04

A bolsa brasileira tem pela frente uma agenda carregada, com os balanços da Vale e do Santander e o IPCA-15; lá fora, PCE é o destaque

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar