Até que enfim! A temporada de resultados finalmente começou para trazer novidades corporativas — um prato cheio para quem estuda o mercado e está sempre de olho no comportamento das ações ou na tendência para os dividendos.
Não me leve a mal, mas aqueles períodos entre os balanços das empresas são terríveis para os investidores. Você começa a prestar atenção em muita coisa que, às vezes, nem tem tanta importância assim para o longo prazo — e só porque não há mais nada para fazer.
Em um dia você gosta do lucro da empresa e se convence que quer ser acionista dela por décadas.; mas, nem uma semana depois, se pega pensando em fugir do país porque as últimas novidades de Brasília "são horríveis e vão fazer o país quebrar".
Veja que nada mudou com relação à empresa. Como uma boa companhia brasileira, provavelmente ela já deve ter passado por períodos econômicos complicados, inflação alta, juros abusivos, por aí vai… E ainda continua viva para contar a história.
Como diz aquele ditado: "cabeça vazia é a oficina do diabo".
As cartas das gestoras
É óbvio que é importante ficar atento às novidades, mas guarde uma parte do tempo para se distanciar um pouco da quantidade frenética de notícias — que, às vezes, mais atrapalham do que ajudam.
Para ocupar parte do tempo não preenchido pelos resultados, eu gosto de ler cartas de grandes investidores, ou de gestoras renomadas, mesmo que sejam antigas. Elas nos ajudam a aprender mais sobre investimentos, e nos preparam para situações que nunca passamos, mas que já foram vividas por alguns dos melhores do mundo.
Estou falando das cartas de gestoras como a Dynamo e a Atmos, ou de gurus como Howard Marks e Warren Buffett. Com a temporada de resultados ainda para começar, na semana passada eu resolvi ler a última carta de Buffett para os investidores da Berkshire Hathaway, e me deparei com um trecho bastante interessante sobre dividendos.
Dividendos: não foque apenas no yield
Eu já comentei algumas vezes nesta coluna sobre a importância de não se atentar apenas aos dividendos imediatos na hora de investir.
Ao ler a última carta anual da Berkshire Hathaway, me deparei com um trecho particularmente interessante para os amantes de dividendos, e que apenas corrobora com essa visão.
Nela, Warren Buffett lembra que, em 1995, terminou de comprar todas as ações da American Express que gostaria. O investimento total foi de US$ 1,3 bilhão, o que rendeu para a Berkshire dividendos de US$ 41 milhões naquele ano.
Mas isso não é pouco?
Repare que, na época, o rendimento de US$ 41 milhões sobre um investimento de US$ 1,3 bilhão correspondia a um dividend yield de 3,2%.
Com os juros norte-americanos acima dos 5% na época, convenhamos que o yield da Amex estava longe de ser um espetáculo. Mas veja só o que aconteceu com esses dividendos ao longo dos últimos 30 anos.

Nem é o crescimento dos dividendos que mais impressiona, e sim o crescimento no valor das ações. Enquanto os dividendos anuais se multiplicaram por sete vezes, o valor investido na American Express cresceu 17 vezes desde então.

Por volta da mesma época, a Berkshire também finalizou sua compra de ações da Coca-Cola, cujo desfecho é muito parecido. O aporte foi de US$ 1,3 bilhão para um dividendo de US$ 75 milhões em 1994 — na época, um yield modesto de 5%.
Mas, desde então, os dividendos anuais se multiplicaram por nove vezes, enquanto o valor do investimento em KO se tornou 19 vezes maior.

Desses dois casos, tiramos três lições importantes para os investidores focados em renda. A primeira diz respeito à magnitude do dividend yield.
Talvez ele não esteja entre os mais elevados no momento do investimento, mas se o negócio é sustentável e os resultados têm boas perspectivas, nada impede que esse dividendo se multiplique nos anos seguintes.
Além disso, fica claro como crescimentos sustentáveis de dividendos normalmente estão associados a ganhos de capital vultuosos. Ou seja, um tipo de retorno normalmente estará associado ao outro, e dificilmente você terá um caso em que os dividendos cresçam sem que isso se reflita em uma re-precificação da ação.
Dividendos: o oposto também é verdadeiro
E isso nos leva ao último tópico: da mesma forma que o crescimento de dividendos ao longo dos anos provoca uma boa valorização das ações, uma queda consistente nos dividendos distribuídos normalmente também estará associada a uma desvalorização brutal no preço das ações, porque muita gente que só tinha os papéis por causa dos rendimentos vão pular do barco — e, assim, o investidor vai buscar outras fontes de renda mais estáveis.
M. Dias Branco (MDIA3), Odontoprev (ODPV3) e AES Brasil (AESB3) são apenas alguns exemplos recentes.



Isso apenas corrobora com o que eu já falo por aqui há algum tempo: selecionar seus investimentos apenas pelo dividend yield e esquecer de todo o resto provavelmente será bastante perigoso para o seu patrimônio.
Às vezes o yield nem é um dos mais vistosos, mas se o modelo de negócio é sustentável, longevo, e se a companhia é operada por uma boa gestão, nada impede que eles tragam excelentes dividendos nos anos seguintes. Buffett que o diga.
Nossa missão na série Vacas Leiteiras é justamente encontrar essas empresas que, além de bons yields, também tenham negócios capazes de sobreviver e prosperar ao longo dos anos.
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Um grande abraço e até a semana que vem!