🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Felipe Miranda: Penitências marcadas a mercado

Estamos há anos debatendo a questão fiscal, uma preocupação insuperável. Talvez seja o caso de vasculharmos cases capazes de andar bem a despeito das discussões fiscais, do que propriamente esperar por Godot.

27 de fevereiro de 2023
18:54 - atualizado às 19:01
Imagem: Pixabay

Desde que Bia e Beto (COO e CMO da Empiricus, nessa ordem) reclamaram, com toda razão, da repetição da expressão “vocação jesuíta” neste espaço, evito resgatá-la. Mas, sabe como é, vira e mexe o chamamento faz uma visita de cortesia indesejada. “Somos vividos por poderes que fingimos entender” – essa frase, assim mesmo, na voz passiva, também me persegue.

A ideia da penitência está enraizada na herança católica. O sacrifício seria necessário para um bem posterior. Teríamos que pagar, em determinadas situações até eternamente, por qualquer pecado. Virou até piada do Howard Marks: “capitalismo sem falência é igual a catolicismo sem inferno: não funciona.” A culpa ou o medo de um futuro muito ruim como ferramentas para obrigar a andar na linha.

Claro que a coisa é muito anterior ao cristianismo. Os mitos gregos já contemplavam com primor as quatro penitências típicas e os egos associados a cada uma delas. Os paralelos com o mercado financeiro são por minha conta.

Por ter desafiado e enganado os deuses com sua inteligência e esperteza, Sísifo foi condenado a levar uma enorme pedra até o cume de uma montanha; na iminência de completar seu trabalho, a pedra sempre caía até o vale, exigindo a repetição da dinâmica por toda a eternidade. Ao mito, está associada uma persistente preocupação – ao subir com a pedra novamente, Sísifo já antevia o que estava por vir.

O ciclo vicioso do mercado brasileiro

O mercado brasileiro parece enveredar por um ciclo vicioso inquebrável e repetitivo. Do ponto de vista técnico, travamos numa faixa de oscilação entre 105 mil pontos e 115 mil pontos. Batemos na banda superior e voltamos ao vale, sem direção definida. Estamos há anos debatendo a questão fiscal, uma preocupação insuperável. Talvez seja o caso de vasculharmos cases capazes de andar bem a despeito das discussões fiscais, do que propriamente esperar por Godot.

Prometeu roubou o fogo dos deuses e foi punido com uma águia que vinha bicar seu fígado todos os dias, acorrentado ao Cáucaso. Aqui falamos do ego impaciente.

Leia Também

O mercado pede, acertadamente, a definição de um novo e crível arcabouço fiscal. Ao mesmo tempo, lê cada ruído vindo de retórica eleitoreira, com Gleisi Hoffmann sendo talvez a figurinha mais repetida nesse álbum, como garantia de efetivo sinal de mudança na direção da heterodoxia.

Não há nada mais importante do que o estabelecimento de uma nova âncora fiscal no Brasil neste momento. Talvez só a preservação da âncora monetária, infelizmente também em risco, possa estar no mesmo nível de relevância. Contudo, havemos de reconhecer a necessidade de um pouco mais de tempo para isso. Não há meios de, a exemplo de um menino mimado, exigir que isso esteja na mesa desde a largada. “Eu quero do meu jeito, agora e neste lugar.”

Não funciona assim. A materialidade de discursos só vem, nesses casos, depois do discurso. Não há atalhos ou espaço para ansiedade. Quando você pula logo para conclusão a partir de uma retórica de palanque, corre um risco com consequências potenciais muito mais severas: de concluir errado. Há um tempo de acomodação da comunicação entre governo e mercado.

E mesmo algum revanchismo por questões históricas pode ser dissipado com o tempo, viagens internacionais hospitaleiras e reconhecimento da comunidade financeira.

Meta de inflação

Toda a celeuma em torno das metas de inflação é exemplo importante de como as discussões precisariam ser debatidas com mais profundidade e sem viés, de parte a parte. Se Lula erra na forma (de fato, ele erra), o mérito passa longe de ser intocável.

Sergio Werlang, autor do primeiro working paper do Banco Central sobre a implementação do sistema de metas, é um dos defensores de uma meta superior a 3% para a inflação brasileira. E se precisamos de outros argumentos de autoridade, recorremos a Luis Stuhlberger, André Jakurski e Rogério Xavier: em evento no BTG, formaram unanimidade em prol da revisão da meta de inflação.

Voltando aos mitos, Atlas queria importância e protagonismo. Levou logo a tarefa de carregar o mundo inteiro nas costas. Faria Lima e Leblon pedem a atenção do governo para suas questões, o que, aliás, é legítimo.

O governo, inclusive, atira no próprio pé quando reclama do mercado. O dólar sobe, os juros futuros sobem, a inflação desancora, os empresários param de investir por conta da incerteza, o desemprego aumenta.

Mas estariam o Leblon e a Faria Lima preparados também para debater as questões do governo? Será que não teria chegado a hora de sairmos dessa discussão adolescente de quem pode mais e quer mais protagonismo, e enveredarmos por um discurso de união nacional efetiva?

Há, inclusive, oportunidades expressivas de uma agenda conjunta, sendo a ideia de uma “onda verde” talvez a mais emblemática. Por que não unir laços em prol de financiamentos de longo prazo, a taxas de mercado, para a Economia verde? Não haveria meios de aproximar a Faria Lima do pequeno produtor rural, a partir de tecnologia e acessibilidade?

O mercado e a frustração eterna

Para encerrar, Tântalo era o insatisfeito crônico. Já era o mortal queridinho dos deuses, mas queria ele mesmo se transformar num deus. Tomou o castigo da fome e da sede. Quando se debruçava para beber água, essa desaparecia. Ao se aproximar de frutos, esses se afastavam.

O governo eleito é de esquerda. Para alguém de orientação liberal, como eu, não é o desejo íntimo. Mas é a realidade que, como diz Woody Allen, ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife. Enquanto não houver reconhecimento explícito de que se trata de um governo de esquerda, estaremos condenados à eterna frustração.

Se abandonarmos o platonismo ou a espera por uma transmutação pessoal em alguma espécie de deus grego, talvez consigamos reconhecer algum mérito da mediocridade brasileira. A imprensa classifica a eventual reoneração parcial e faseada dos combustíveis como uma “meia derrota de Haddad”.

Não é mentira, mas também poderia ser vista como uma meia vitória. O Brasil não vai bem. Dificilmente irá muito bem. Mas também não vai tão mal quanto o preço de alguns ativos faz crer. Os juros reais são convidativos e o valuation de algumas ações tangencia níveis de ruptura. Isso sugere um modesto e ligeiro otimismo à frente. É o máximo que a penitência me permite.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
DEPOIS DA CALMARIA, A TEMPESTADE

Segunda-feira sangrenta: bitcoin afunda; o que esperar daqui para frente?

7 de abril de 2025 - 15:02

Após breve alívio na sexta-feira, mercado cripto volta a enfrentar pressão vendedora, liquidações bilionárias e queda de indicadores técnicos — mas ainda há um ponto de esperança no horizonte

MEMECOIN CRASH

Após tarifas, criptomoeda de Donald Trump cai 16% e atinge seu menor valor desde o lançamento

4 de abril de 2025 - 16:02

Em menos de 24 horas após o anúncio das tarifas, o token do presidente dos Estados Unidos, $TRUMP, caiu cerca de 16%, mas o mercado cripto ainda mostra resiliência diante das incertezas macroeconômicas

NO OLHO DO FURACÃO

Bitcoin (BTC) em queda — como as tarifas de Trump sacudiram o mercado cripto e o que fazer agora

3 de abril de 2025 - 15:05

Após as tarifas do Dia da Liberdade de Donald Trump, o mercado de criptomoedas registrou forte queda, com o bitcoin (BTC) recuando 5,85%, mas grande parte dos ativos digitais conseguiu sustentar valores em suportes relativamente elevados

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Nos tempos modernos, existe ERP (prêmio de risco) de qualidade no Brasil?

2 de abril de 2025 - 20:00

As ações domésticas pagam um prêmio suficiente para remunerar o risco adicional em relação à renda fixa?

BULL & BRISKET MARKET

Trump Media estreia na NYSE Texas, mas nova bolsa ainda deve enfrentar desafios para se consolidar no estado

31 de março de 2025 - 18:50

Analistas da Bloomberg veem o movimento da empresa de mídia de Donald Trump mais como simbólico do que prático, já que ela vai seguir com sua listagem primária na Nasdaq

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Dedo no gatilho

24 de março de 2025 - 20:00

Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.

O MELHOR DE DOIS MUNDOS

Kraken adquire NinjaTrader por US$ 1,5 bilhão e avança no mercado de futuros e derivativos

20 de março de 2025 - 18:02

O acordo marca a entrada da exchange cripto no mercado de futuros e derivativos nos EUA, ampliando sua base de usuários e fortalecendo a conexão com mercados tradicionais

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas

19 de março de 2025 - 20:00

A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir

BEAR MARKET

Bitcoin (BTC) à beira do inverno: por que o CEO da CryptoQuant prevê um ciclo de baixa para a criptomoeda por até 12 meses

18 de março de 2025 - 19:15

Ki Young Ju decretou o fim do bull market e explicou por que os próximos seis a 12 meses devem ser de lateralização ou queda para a maior criptomoeda do mundo

Top of the pops

PepsiCo adquire marca de refrigerantes prebióticos por US$ 1,95 bilhão (e entra no caminho da Coca-Cola)

18 de março de 2025 - 14:51

Com compra da Poppi, uma das marcas líderes de refrigerantes prebióticos, PepsiCo entra na briga por mercado crescente de bebidas “saudáveis” apenas um mês após anúncio de linha da Coca-Cola para o setor

É HORA DE COMPRAR?

Nem tudo está perdido para a Petrobras (PETR4): este banco vê uma luz no fim túnel após prejuízo de R$ 17 bilhões no 4T24

11 de março de 2025 - 19:01

O Citi considera a ação como uma boa posição de carry (ganhos) em meio ao cenário do mercado brasileiro — saiba se é um bom momento colocar os papéis na carteira agora

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump

10 de março de 2025 - 20:00

Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes

NO CARRINHO DE COMPRAS

Rio Bravo abocanha gestora com mais de R$ 500 milhões em fundos imobiliários — e avisa que vêm mais aquisições por aí

10 de março de 2025 - 14:33

Além da comprar uma parceira do mercado, a Rio Bravo anunciou que segue atenta a novas oportunidades de aquisição

SAÚDE (DO BOLSO)

Coca-Cola saudável? Gigante investe em mercado milionário de refrigerantes prebióticos com nova marca

19 de fevereiro de 2025 - 19:16

Anúncio realizado essa semana antecipa lançamento do Simply Pop, linha de prebióticos que é aposta da gigante das bebidas para abocanhar segmento de US$ 820 milhões

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Recuperação técnica?

17 de fevereiro de 2025 - 20:00

É natural também que os primeiros sinais da inversão de ciclo sejam erráticos e incipientes, gerando dúvidas sobre sua profundidade e extensão. Mas não se engane: no momento em que os elementos forem uníssonos e palpáveis, pode ser tarde demais

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio

12 de fevereiro de 2025 - 20:00

Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias

NO CARRINHO DE COMPRAS

Vai ter remédios nas prateleiras dos mercados? CEO do Assaí (ASAI3) defende proposta e diz que Brasil está atrasado em 20 anos no debate

28 de janeiro de 2025 - 17:19

A proposta de venda de remédios isentos de prescrição médica em supermercados tem gerado polêmica entre o setor farmacêutico e as redes varejistas

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente

18 de dezembro de 2024 - 20:00

Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar

FEBRE ALTA

Hapvida (HAPV3) na enfermaria: ação chega a cair quase 20% na mínima do dia. O que provoca essa hemorragia dos papéis da bolsa?

17 de dezembro de 2024 - 14:02

Ativos amargam queda de 50% no ano e a tendência, segundo grandes bancos, é de que não haja uma recuperação tão rápida; entenda os motivos

MONTANDO POSIÇÃO

Por que as ações do Pão de Açúcar (PCAR3) chegaram a saltar mais de 20% hoje com potencial “ajudinha” do bilionário Nelson Tanure 

16 de dezembro de 2024 - 12:38

A Reag Trust, gestora de fundos supostamente ligada a Tanure, elevou a participação na empresa para cerca de 5,7% do total de ações PCAR3 emitidas pelo GPA

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar