🔴 ONDE INVESTIR EM NOVEMBRO: AÇÕES, DIVIDENDOS, FIIS E CRIPTOMOEDAS – CONFIRA

Felipe Miranda: Penitências marcadas a mercado

Estamos há anos debatendo a questão fiscal, uma preocupação insuperável. Talvez seja o caso de vasculharmos cases capazes de andar bem a despeito das discussões fiscais, do que propriamente esperar por Godot.

27 de fevereiro de 2023
18:54 - atualizado às 11:08
Imagem: Pixabay

Desde que Bia e Beto (COO e CMO da Empiricus, nessa ordem) reclamaram, com toda razão, da repetição da expressão “vocação jesuíta” neste espaço, evito resgatá-la. Mas, sabe como é, vira e mexe o chamamento faz uma visita de cortesia indesejada. “Somos vividos por poderes que fingimos entender” – essa frase, assim mesmo, na voz passiva, também me persegue.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A ideia da penitência está enraizada na herança católica. O sacrifício seria necessário para um bem posterior. Teríamos que pagar, em determinadas situações até eternamente, por qualquer pecado. Virou até piada do Howard Marks: “capitalismo sem falência é igual a catolicismo sem inferno: não funciona.” A culpa ou o medo de um futuro muito ruim como ferramentas para obrigar a andar na linha.

Claro que a coisa é muito anterior ao cristianismo. Os mitos gregos já contemplavam com primor as quatro penitências típicas e os egos associados a cada uma delas. Os paralelos com o mercado financeiro são por minha conta.

Por ter desafiado e enganado os deuses com sua inteligência e esperteza, Sísifo foi condenado a levar uma enorme pedra até o cume de uma montanha; na iminência de completar seu trabalho, a pedra sempre caía até o vale, exigindo a repetição da dinâmica por toda a eternidade. Ao mito, está associada uma persistente preocupação – ao subir com a pedra novamente, Sísifo já antevia o que estava por vir.

O ciclo vicioso do mercado brasileiro

O mercado brasileiro parece enveredar por um ciclo vicioso inquebrável e repetitivo. Do ponto de vista técnico, travamos numa faixa de oscilação entre 105 mil pontos e 115 mil pontos. Batemos na banda superior e voltamos ao vale, sem direção definida. Estamos há anos debatendo a questão fiscal, uma preocupação insuperável. Talvez seja o caso de vasculharmos cases capazes de andar bem a despeito das discussões fiscais, do que propriamente esperar por Godot.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Prometeu roubou o fogo dos deuses e foi punido com uma águia que vinha bicar seu fígado todos os dias, acorrentado ao Cáucaso. Aqui falamos do ego impaciente.

Leia Também

O mercado pede, acertadamente, a definição de um novo e crível arcabouço fiscal. Ao mesmo tempo, lê cada ruído vindo de retórica eleitoreira, com Gleisi Hoffmann sendo talvez a figurinha mais repetida nesse álbum, como garantia de efetivo sinal de mudança na direção da heterodoxia.

Não há nada mais importante do que o estabelecimento de uma nova âncora fiscal no Brasil neste momento. Talvez só a preservação da âncora monetária, infelizmente também em risco, possa estar no mesmo nível de relevância. Contudo, havemos de reconhecer a necessidade de um pouco mais de tempo para isso. Não há meios de, a exemplo de um menino mimado, exigir que isso esteja na mesa desde a largada. “Eu quero do meu jeito, agora e neste lugar.”

Não funciona assim. A materialidade de discursos só vem, nesses casos, depois do discurso. Não há atalhos ou espaço para ansiedade. Quando você pula logo para conclusão a partir de uma retórica de palanque, corre um risco com consequências potenciais muito mais severas: de concluir errado. Há um tempo de acomodação da comunicação entre governo e mercado.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

E mesmo algum revanchismo por questões históricas pode ser dissipado com o tempo, viagens internacionais hospitaleiras e reconhecimento da comunidade financeira.

Meta de inflação

Toda a celeuma em torno das metas de inflação é exemplo importante de como as discussões precisariam ser debatidas com mais profundidade e sem viés, de parte a parte. Se Lula erra na forma (de fato, ele erra), o mérito passa longe de ser intocável.

Sergio Werlang, autor do primeiro working paper do Banco Central sobre a implementação do sistema de metas, é um dos defensores de uma meta superior a 3% para a inflação brasileira. E se precisamos de outros argumentos de autoridade, recorremos a Luis Stuhlberger, André Jakurski e Rogério Xavier: em evento no BTG, formaram unanimidade em prol da revisão da meta de inflação.

Voltando aos mitos, Atlas queria importância e protagonismo. Levou logo a tarefa de carregar o mundo inteiro nas costas. Faria Lima e Leblon pedem a atenção do governo para suas questões, o que, aliás, é legítimo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O governo, inclusive, atira no próprio pé quando reclama do mercado. O dólar sobe, os juros futuros sobem, a inflação desancora, os empresários param de investir por conta da incerteza, o desemprego aumenta.

Mas estariam o Leblon e a Faria Lima preparados também para debater as questões do governo? Será que não teria chegado a hora de sairmos dessa discussão adolescente de quem pode mais e quer mais protagonismo, e enveredarmos por um discurso de união nacional efetiva?

Há, inclusive, oportunidades expressivas de uma agenda conjunta, sendo a ideia de uma “onda verde” talvez a mais emblemática. Por que não unir laços em prol de financiamentos de longo prazo, a taxas de mercado, para a Economia verde? Não haveria meios de aproximar a Faria Lima do pequeno produtor rural, a partir de tecnologia e acessibilidade?

O mercado e a frustração eterna

Para encerrar, Tântalo era o insatisfeito crônico. Já era o mortal queridinho dos deuses, mas queria ele mesmo se transformar num deus. Tomou o castigo da fome e da sede. Quando se debruçava para beber água, essa desaparecia. Ao se aproximar de frutos, esses se afastavam.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O governo eleito é de esquerda. Para alguém de orientação liberal, como eu, não é o desejo íntimo. Mas é a realidade que, como diz Woody Allen, ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife. Enquanto não houver reconhecimento explícito de que se trata de um governo de esquerda, estaremos condenados à eterna frustração.

Se abandonarmos o platonismo ou a espera por uma transmutação pessoal em alguma espécie de deus grego, talvez consigamos reconhecer algum mérito da mediocridade brasileira. A imprensa classifica a eventual reoneração parcial e faseada dos combustíveis como uma “meia derrota de Haddad”.

Não é mentira, mas também poderia ser vista como uma meia vitória. O Brasil não vai bem. Dificilmente irá muito bem. Mas também não vai tão mal quanto o preço de alguns ativos faz crer. Os juros reais são convidativos e o valuation de algumas ações tangencia níveis de ruptura. Isso sugere um modesto e ligeiro otimismo à frente. É o máximo que a penitência me permite.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje

5 de novembro de 2025 - 8:04

Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje

4 de novembro de 2025 - 7:50

O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação

4 de novembro de 2025 - 7:10

Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998

3 de novembro de 2025 - 22:11

Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.

DÉCIMO ANDAR

Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários

2 de novembro de 2025 - 8:00

Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje

31 de outubro de 2025 - 7:58

A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi

SEXTOU COM O RUY

Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado

31 de outubro de 2025 - 6:07

A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje

30 de outubro de 2025 - 7:34

A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas

29 de outubro de 2025 - 20:00

Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje

29 de outubro de 2025 - 8:10

Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje

28 de outubro de 2025 - 7:50

A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul

28 de outubro de 2025 - 7:31

Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje

27 de outubro de 2025 - 8:09

Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo

24 de outubro de 2025 - 8:03

Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje

SEXTOU COM O RUY

Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel

24 de outubro de 2025 - 6:01

Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje

23 de outubro de 2025 - 8:21

Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada

22 de outubro de 2025 - 20:00

A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje

22 de outubro de 2025 - 7:58

Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje

21 de outubro de 2025 - 8:00

Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem

21 de outubro de 2025 - 7:35

O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar