Felipe Miranda: Outubro rosa, eleições da Argentina e Treasuries
À luz dos acontecimentos recentes e da provável desvalorização adicional do peso, vão tentar convencê-lo a reservar o Dom Julio e tomar um Malbec. Nada contra, mas prefiro o pinot da Patagônia para jantar no Crizia.

“Não basta ter a voz mais melodiosa para entoar um tango. Não. É preciso senti-lo. Há que se viver o seu espírito.” Difícil discordar de Carlos Gardel neste tema. Buffett diria que ele está em seu círculo de competência. O povo argentino parece mesmo atender a uma vocação especial para a dramaticidade.
Surpreendendo o consenso, Sérgio Massa, o candidato da situação, liderou o primeiro turno das eleições na Argentina. Num primeiro momento, pelo menos, a posição foi interpretada como uma vitória do kirchenerismo (ou do peronismo, se preferir) e da esquerda latino-americana. Será mesmo o caso?
A princípio, Milei e Bullrich representam o espectro da direita e, de novo, ao menos de largada, deveriam gozar de maior proximidade ideológica. Somados, seus votos ultrapassam com folga o percentual capturado por Massa.
O risco para a direita seria Milei ser percebido como um lunático radical, pronto para ir para o arriscado tudo ou nada. Então, Macri (e todo o establishment ortodoxo) poderia se aproximar de Massa, que viria para o centro num governo de Frente Ampla.
Milei, no entanto, já abranda seu discurso e tenta se aproximar do mainstream, mostrando-se agora como menos radical e disposto a também convergir para o centro. Aliás, a pior coisa que poderia acontecer com a direita seria eleger um aventureiro inconsequente. Medidas inconsequentes costumam ter consequências profundas e perversas.
Uma eventual tragédia imposta por um plano anarco-capitalista radical poderia macular indevidamente o liberalismo na Argentina e condenar o país a uma espécie de perpetuidade do peronismo. Cada país tem o liberal que merece — Friedman e Hayek se contorcem no túmulo.
Leia Também
Nesse sentido, o segundo lugar pode ser pedagógico para Milei, que deveria caminhar em direção a Macri. Em sendo o caso, haveria todas as condições ainda de ser eleito, com um discurso mais ortodoxo e centrista.
Indo por aí, o mercado reagiria positivamente, ao menos no curto prazo, levando os bonds argentinos para algo mais próximo a 40% do valor de face. Então, seria a hora de vender.
- VEJA TAMBÉM: Formação exclusiva de criptomoedas é lançada pela B3 em parceria com a Empiricus Research; inscreva-se gratuitamente
Argentina: dois tangos tristes
O tamanho do problema argentino não é obra do acaso (pelo menos, não apenas do acaso). Foi necessário muito esforço para produzir uma tragédia desse tamanho.
O sacrifício social de curto prazo necessário para realizar o ajuste não goza do necessário apoio popular. Aí a tentação de arriscar uma solução mágica chega para visitá-los justamente na hora mais escura. Somos velhos demais para acreditar em solução mágica.
Na ausência de um, acordamos com dois tangos tristes (pleonasmo?) nesta segunda-feira. O yield dos Treasuries de 10 anos bateu a fatídica marca de 5%. Tecnicamente, não há muita diferença entre 4,98% e 5%, mas essas barreiras psicológicas servem de acionamento de ordens de stop e chamam atenção do investidor marginal.
Como lembrou recentemente Jamie Dimon, ir dos 3% para os 5% é bem diferente de irmos dos 5% para os 7%. Nesses níveis mais altos, coisas estranhas começam a acontecer. O risco de aparecer uma baleia boiando, encontrar um cadáver no meio da pista ou trombar com a mula sem cabeça no elevador do prédio aumenta bem.
Como investir em BDRs? Veja a melhor forma de se expor ao dólar com ações internacionais
No landing?
Eu nunca comprei muito essa história do “no landing”. Temos uma tendência arraigada em extrapolar para o futuro as condições presentes e perpetuá-las.
Antes, o juro seria zero para sempre, o home office tinha virado tendência secular e não haveria mais escritórios corporativos grandes, lojas físicas seriam extintas, por aí vai. Agora, o juro não vai parar de subir nunca e a economia vai continuar crescendo sem percalços.
Assim, violamos um princípio básico de ciclicidade da economia e dos mercados. O preço do cobre já nos emite um sinal importante nessa direção hoje e ele costuma ser um bom indicador antecedente da atividade econômica.
Acreditar em “no landing” da economia norte-americana seria, em grande medida, desqualificar os efeitos da política monetária. Romperíamos com os livros-texto — como aliás tentamos fazer recentemente com aquele absurdo da moderna teoria moderna (em outro sentido); deu no que deu.
Como todo mundo travou taxas muito baixas por bastante tempo quando o juro estava zero (famílias, empresas e compradores de imóveis), talvez os efeitos da política monetária demorem um pouco mais, mas eles serão sentidos. Ou desta vez é diferente para a política monetária?
As taxas de juro nominal em papéis soberanos de 10 anos a 5% ao ano chamam a atenção — nada mal para os formadores de poupança de longo prazo. Contudo, os TIPS (as NTN-Bs dos EUA), pagando 2,5% real me parecem particularmente mais atraentes.
Ainda que o movimento técnico de curto prazo possa empurrar essas taxas para níveis ainda maiores, está um tanto claro o descolamento sobre o fundamento de longo prazo — seria bastante improvável convivermos com juros reais de 2,50% nos EUA por 10 anos.
Além da oportunidade em si, isso é particularmente importante porque baliza o apreçamento de todos os demais ativos no mundo. Em especial neste momento, tudo virou uma grande sensibilidade em cima dos Treasuries e dos TIPS.
Se a coisa acalmar por lá (como deve mais à frente), as curvas de juro em países emergentes também deveriam ir pelo mesmo caminho. Com efeito, sempre que compramos NTN-B pagando 6% de juro real no Brasil ganhamos dinheiro.
Argentina, Brasil e o quando importa
Obviamente, isso se desdobra para nossas posições em Bolsa. Uma anedota para ilustrar o ponto. Na sexta-feira, almocei com um grande amigo que me lembrou o seguinte: “quando comprei as ações de Direcional a R$ 10, elas estavam mais caras do que hoje. Agora, a R$ 16,71, negociam a 5x lucros, abaixo do que eram lá atrás, quando nem existia a Riva, eram muito muito menos líquidas e não havia ciclo de afrouxamento monetário em curso. Esse é só um caso. Tem coisa muito barata hoje e é por isso que estou reduzindo meus shorts. Tudo deveria andar bem quando o Treasury acalmar.”
Claro que o “quando" aí importa. Uma ideia boa na hora errada é apenas uma ideia errada. Mas poucas coisas são menos arriscadas do que comprar uma excelente empresa ao preço certo.
À luz dos acontecimentos recentes e da provável desvalorização adicional do peso, vão tentar convencê-lo a reservar o Dom Julio e tomar um Malbec. Nada contra, mas prefiro o pinot da Patagônia para jantar no Crizia.
Alguns trades são óbvios, outros nem tanto. Qualquer paixão me diverte, mas sem muito drama. Vida longa ao rock.
Labubu x Vale (VALE3): quem sai de moda primeiro?
Se fosse para colocar o meu suado dinheirinho na fabricante do Labubu ou na mineradora, escolho aquela cujas ações, no longo prazo, acompanham o fundamento da empresa
Novo pacote, velhos vícios: arrecadar, arrecadar, arrecadar
O episódio do IOF não é a raiz do problema, mas apenas mais uma manifestação dos sintomas de uma doença crônica
Bradesco acerta na hora de virar o disco, governo insiste no aumento de impostos e o que mais embala o ritmo dos mercados hoje
Investidores avaliam as medidas econômicas publicadas pelo governo na noite de quarta e aguardam detalhes do acordo entre EUA e China
Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua
Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio
Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria
Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências
Pesou o clima: medidas que substituem alta do IOF serão apresentadas a Lula nesta terça (10); mercados repercutem IPCA e negociação EUA-China
Entre as propostas do governo figuram o fim da isenção de IR dos investimentos incentivados, a unificação das alíquotas de tributação de aplicações financeiras e a elevação do imposto sobre JCP
Felipe Miranda: Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve
O anúncio do pacote alternativo ao IOF é mais um reforço à máxima de que somos o país que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Insistimos num ajuste fiscal centrado na receita, sem anúncios de corte de gastos.
Celebrando a colheita do milho nas festas juninas e na SLC Agrícola, e o que esperar dos mercados hoje
No cenário global, investidores aguardam as negociações entre EUA e China; por aqui, estão de olho no pacote alternativo ao aumento do IOF
Azul (AZUL4) no vermelho: por que o negócio da aérea não deu samba?
A Azul executou seu plano com excelência. Alcançou 150 destinos no Brasil e opera sozinha em 80% das rotas. Conseguiu entrar em Congonhas. Chegou até a cair nas graças da Faria Lima por um tempo. Mesmo assim, não escapou da crise financeira.
A seleção com Ancelotti, e uma empresa em baixa para ficar de olho na bolsa; veja também o que esperar para os mercados hoje
Assim como a seleção brasileira, a Gerdau não passa pela sua melhor fase, mas sua ação pode trazer um bom retorno, destaca o colunista Ruy Hungria
A ação que disparou e deixa claro que mesmo empresas em mau momento podem ser ótimos investimentos
Às vezes o valuation fica tão barato que vale a pena comprar a ação mesmo que a empresa não esteja em seus melhores dias — mas é preciso critério
Apesar da Selic, Tenda celebra MCMV, e FII do mês é de tijolo. E mais: mercado aguarda juros na Europa e comentários do Fed nos EUA
Nas reportagens desta quinta, mostramos que, apesar dos juros nas alturas, construtoras disparam na bolsa, e tem fundo imobiliário de galpões como sugestão para junho
Rodolfo Amstalden: Aprofundando os casos de anomalia polimórfica
Na janela de cinco anos podemos dizer que existe uma proporcionalidade razoável entre o IFIX e o Ibovespa. Para todas as outras, o retorno ajustado ao risco oferecido pelo IFIX se mostra vantajoso
Vanessa Rangel e Frank Sinatra embalam a ação do mês; veja também o que embala os mercados hoje
Guerra comercial de Trump, dados dos EUA e expectativa em relação ao IOF no Brasil estão na mira dos investidores nesta quarta-feira
O Brasil precisa seguir as ‘recomendações médicas’: o diagnóstico da Moody’s e o que esperar dos mercados hoje
Tarifas de Trump seguem no radar internacional; no cenário local, mercado aguarda negociações de Haddad com líderes do Congresso sobre alternativas ao IOF
Crônica de uma ruína anunciada: a Moody’s apenas confirmou o que já era evidente
Três reformas estruturais se impõem como inevitáveis — e cada dia de atraso só agrava o diagnóstico
Tony Volpon: O “Taco Trade” salva o mercado
A percepção, de que a reação de Trump a qualquer mexida no mercado o leva a recuar, é uma das principais razões pelas quais estamos basicamente no zero a zero no S&P 500 neste ano, com uma pequena alta no Nasdaq
O copo meio… cheio: a visão da Bradesco Asset para a bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje
Com feriado na China e fala de Powell nos EUA, mercados reagem a tarifas de Trump (de novo!) e ofensiva russa contra Ucrânia
Você já ouviu falar em boreout? Quando o trabalho é pouco demais: o outro lado do burnout
O boreout pode ser traiçoeiro justamente por não parecer um problema “grave”, mas há uma armadilha emocional em estar confortável demais
De hoje não passa: Ibovespa tenta recuperação em dia de PIB no Brasil e índice favorito do Fed nos EUA
Resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre será conhecido hoje; Wall Street reage ao PCE (inflação de gastos com consumo)