Felipe Miranda: O fim da história do Credit Suisse
Instituições tão grandiosas como o Credit Suisse são uma metonímia do mercado. Não é apenas uma figura de linguagem. É o que as define como “risco sistêmico”, grandes demais para falir. Se algo está errado com elas, é porque existe algo tóxico no sistema inteiro.
Escolho as palavras com um pouco mais de cuidado hoje. Tenho muito respeito por instituições centenárias. Há também uma dose subjacente de tristeza.
Um conservador é muito diferente de um reacionário. O primeiro quer conservar, manter, preservar ritos, tradições, instituições e organizações que funcionaram bem por muito tempo, numa ideia sintetizada pela “Lindy's Law” – surgiu como anedota de Albert Goldman, foi formalizada por Benoit Mandelbrot e depois popularizada por Nassim Taleb.
A expectativa de carreira para um comediante de televisão seria proporcional ao total da exposição no passado pela metade. O termo fazia alusão ao restaurante novaiorquino homônimo, centenário e muito frequentado por comediantes.
Mandelbrot definiu a concepção original, concluindo, a partir das leis de Pareto, que se algo tem um certo tempo de vida, provavelmente vai perdurar um total do dobro do tempo, e a cada dia que passa vai durar um pouco mais. Se alguém resistiu ao teste do tempo, tem algum valor.
Aventuras revolucionárias deveriam ser preteridas frente àquilo que, de alguma forma, mesmo com seus defeitos e vícios, funcionou até aqui. Se você está em dúvida sobre o que ler, assistir ou comer (ou até mesmo investir), recorra aos clássicos. As chances de erro são menores.
Já o reacionário quer uma volta a um passado, normalmente de privilégios para si ou para os seus.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
- Leia também: Felipe Miranda: Paixão antiga — futebol e ações
Credit Suisse: é só o começo?
O fim de uma instituição tão longeva e representativa carrega notas tristes. Para um “animal de mercado”, o Credit Suisse é (era) admirável, a despeito de erros recentes tidos por muitos como imperdoáveis (Archegos, Wirecard, etc).
Com os traços pessoais de quem se refere ao BTG como “Pactual" até hoje, com uma voz empostada não-deliberadamente incapaz de esconder algum orgulho interno, as linhas abaixo são escritas.
Há várias questões a serem tratadas sobre a crise bancária internacional. A lista é grande. Existem outros bancos em situação semelhante? Qual o próximo da fila? Ao salvar o Credit Suisse, o UBS seria também levado a problemas? Se o banco era grande demais para falir, não seria também grande demais para ser salvo? O socorro ao First Republic Bank fora suficiente ou em poucos meses estaremos rediscutindo a coisa?
Se os contingent convertible bonds (um instrumento de dívida) foram marcados a zero e as ações do Credit Suisse valem alguma coisa, então, em alguma medida, invertemos a ordem clássica entre credor e acionista, com o segundo furando a fila… O que isso significa para esse mercado de contingent convertible bonds senão sua derrocada iminente?
Trazendo para nosso ambiente, será que estaríamos diante de uma daquelas (talvez raras) oportunidades de ampliarmos nossa pauta de exportação e mostrar ao mundo as virtudes da nossa regulação bancária?
A verdade objetiva é que os bancos brasileiros, ao menos até aqui, passaram incólumes a mais essa turbulência. Ok, ok, boa parte dessa vantagem relativa deriva de nosso oligopólio macunaímico, mas também não precisamos desse sincericídio todo em plena segunda-feira.
Mais dúvidas do que respostas
Muito já foi dito por analistas e imprensa a respeito dos temas acima. A verdade é que, neste momento, há mais dúvidas do que respostas, justamente porque os desdobramentos da crise bancária e das tentativas de sua resolução só serão conhecidos no futuro mesmo. “Caminha que o caminho se abre.”
Minha maior preocupação pessoal, no entanto, reside em uma questão de mais longo prazo: se eu fosse o Saudi National Bank, tendo investido US$ 1,5 bi por 10% do Credit Suisse há poucos meses, não estaria propriamente feliz neste momento. Mais do que o prejuízo em si, a compra de um banco por outro sem aprovação de seus acionistas em assembleia abre precedentes questionáveis.
Se a situação de um banco oferece crise sistêmica, então, algum regulador central pode deliberar sobre seu futuro sem passar pelo ordenamento típico de fusões e aquisições privadas. Sim, sim, não sou ingênuo.
Aprendi com uma frase atribuída a Daniel Dantas (não sei se veio mesmo dele) que, na prática, o direito público se sobrepuja ao direito societário privado. Mas, bicho, estamos falando da Suíça, famosa por sua tradição de neutralidade e discrição, com direito a conta numerada até os ataques terroristas de 2001…
Há uma mensagem tácita relevante aqui: algum planejador central onisciente seria capaz de deliberar melhor sobre o futuro de um banco do que seus acionistas. Hmmm, “who watches the Watchman?” Quem arbitra? Sob quais critérios? E quem regula o arbitrador? A qual escrutínio ele está submetido?
Estamos, de algum modo, atacando égides do capitalismo e dos valores ocidentais clássicos das democracias liberais. Falamos do respeito aos contratos, do direito à propriedade privada (e de como isso está regulado) e da obediência à sinalização do sistema de preços.
O coletivismo à frente do individualismo, ferindo um traço marcante da cultura ocidental e de toda a orientação de Ayn Rand, uma filósofa essencial no instrumentalismo norte-americano.
A inversão de valores ocorre em momento particularmente delicado. Conforme escreveu há mais de 20 anos Francis Fukuyama, os valores ocidentais clássicos pareciam ter vencido a disputa em definitivo contra alternativas, quando caiu o muro de Berlim.
Não havia mais antítese à tese da democracia liberal. Fim da história como um processo dialético. Eis que nos últimos anos líderes autocratas (Putin, Xi, Orban, Erdogan, entre outros) voltaram a ameaçar a democracia liberal, surgindo como alternativa.
- Imposto de Renda sem complicações: não passe perrengue na hora de declarar o seu IR em 2023. Baixe de forma GRATUITA o guia completo que Seu Dinheiro preparou com todas as orientações que você precisa para fazer sua declaração à Receita sozinho. [É SÓ CLICAR AQUI]
Credit Suisse, uma metonímia do mercado
Dois grandes medos, ainda que de baixa probabilidade, nos visitavam.
O primeiro: quando estamos diante de líderes autocratas irresponsáveis, os mecanismos de pesos e contrapesos são, por definição, menos influentes e resistentes. Se o camarada possuir um arsenal atômico e acordar um pouco mais mal humorado, é melhor tentar mantê-lo distante do botão vermelho.
O segundo: a Ucrânia ser a antessala de Taiwan; o embate real a que assistimos se dá entre EUA e China, ainda que esses não estejam em guerra quente.
Agora, fica mais claro um terceiro elemento de preocupação. Quando a China entrou para a OMC em 2001, criou-se a expectativa de sua “ocidentalização”, aumento das liberdades individuais, maior respeito a direitos humanos, democratização etc.
Quando abrimos mão de valores e princípios individuais em prol de um suposto “bem maior” em favor da sociedade, somos nós, ocidentais, que nos aproximamos da coletivização, cujos resultados são menor produtividade, menor crescimento e menor desenvolvimento econômico-social no longo prazo.
Instituições tão grandiosas como o Credit Suisse são uma metonímia do mercado. Não é apenas uma figura de linguagem. É o que as define como “risco sistêmico”, grandes demais para falir. Se algo está errado com elas, é porque existe algo tóxico no sistema inteiro. Essa história merece um outro final.
Direita ou esquerda? No mundo dos negócios, escolha quem faz ‘jogo duplo’
Apostar no negócio maduro ou investir em inovação? Entenda como resolver esse dilema dos negócios
Esse número pode indicar se é hora de investir na bolsa; Log corta dividendos e o que mais afeta seu bolso hoje
Relação entre preço das ações e lucro está longe do histórico e indica que ainda há espaço para subir mais; veja o que analistas dizem sobre o momento atual da bolsa de valores brasileira
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi