Felipe Miranda: A Odisseia — dólar, petróleo e outras cositas más
Diante de um carrego tão alto e com commodities mais caras, sobretudo agora com este rali do petróleo diante do novo corte da Opep, o dólar, objetivamente, não tem sido um bom hedge

Que Ulisses foi um camarada corajoso e um grande guerreiro parece ser consenso. Agora, me surpreende o quanto o cidadão foi visionário, sujeito de vanguarda, capaz de alinhar-se ao autocomprometimento físico, aquela barreira material autoimposta recomendada por psiquiatras e psicanalistas para se evitar o consumo excessivo de substâncias ou comportamentos de alta dopamina, com alto poder viciante e, na maior parte das vezes, bastante deletérios.
Voltando da guerra de Troia, sabia dos perigos de se ouvir o canto das sirenas, aquelas criaturas aquáticas sedutoras, que atraiam marinheiros para o fundo do mar a partir de suas melodias irresistíveis. Para escapar da tentação, Ulisses ordenou a introdução de cera de abelha nos ouvidos dos tripulantes e forçou sua própria amarração ao mastro do veleiro.
Como explica a Dra. Anna Lembke, psiquiatra e professora da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, “uma forma de autocomprometimento é criar barreiras físicas literais e/ou distância geográfica entre nós mesmos e a nossa droga de escolha.”
Se você gasta demais, talvez tenha de cancelar o cartão de crédito e usar apenas dinheiro. Se é um alcoólatra inveterado e vai viajar, possivelmente seja prudente pedir ao hotel para retirar o frigobar do seu quarto. Se não consegue sair do celular, quem sabe a única saída seja colocado dentro de um cofre a partir de determinado horário do dia.
A mesma lógica poderia valer para determinados vícios e comportamentos financeiros, diante de sirenas capazes de emitir cantos e narrativas sedutoras para nos empurrar ao fundo do mar.
O dólar e suas nuances
Cerca de um século atrás, ali pelos fins de 2022, só havia uma conversa inteligetinha: vamos tirar nosso dinheiro do Brasil e correr para as montanhas do dólar. O movimento foi geral, de gente muita rica atendida pelos multi family offices aos investidores de varejo, numa corrida em direção às corretoras com acesso ao mercado internacional.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Passamos pelo primeiro trimestre do ano e o dólar saiu de R$ 5,28 para R$ 5,07. Houve quem ganhou dinheiro, claro: as corretoras com acesso ao mercado internacional e as empresas que montam estruturas em BVI.
Há algumas nuances da história do dólar. Existe um certo consenso no exterior de um ano favorável para mercados emergentes, o que historicamente significou dólar mais fraco.
Modelos econométricos construídos de várias maneiras apontam um valor justo do dólar em torno de R$ 4,60/R$ 4,80. É natural haver algum prêmio, sobretudo em momentos de muita incerteza local, como o atual.
No entanto, com o carrego muito alto, dado que o juro por aqui não deve cair muito e tão cedo, o peso das variáveis financeiras no curto prazo acaba sendo maior do que os fundamentos do mercado de bens — apenas uma variação do já antigo modelo de overshooting do Rudi Dornbusch.
Diante de um carrego tão alto e com commodities mais caras, sobretudo agora com este rali do petróleo diante do novo corte da Opep, o dólar, objetivamente, não tem sido um bom hedge.
Em 2023, esse papel tem sido bem desempenhado pelo caixa (o CDI é um maratonista incansável, que corre bem rapidinho, embora seja pouco sedutor a priori), pelo ouro e, talvez surpreendentemente, pelo bitcoin, diante da sinalização de fim iminente do ciclo de alta de juro nos EUA e do temor com o sistema bancário norte-americano, o que aumenta o apelo das finanças descentralizadas.
Petróleo, a narrativa sedutora que caiu
Por falar em petróleo, eis outra narrativa sedutora recente que acaba de cair.
A ideia era de que a crise bancária norte-americana trazia um aperto monetário não-deliberado e, com isso, seria inevitável uma recessão nos EUA, com consequências marcantes sobre o preço da commodity. Ocorre que o mercado já estava bastante apertado, sofrendo com dificuldades para expandir a oferta.
Em adição, os EUA precisavam (e ainda precisam!) recompor sua reserva estratégica e sempre contamos com a possibilidade de, num mercado oligopolizado, o cartel resolver controlar a produção.
“Gradually, then suddenly”, para citar Hemingway pela enésima vez. As coisas parecem calmas, até que subitamente mudam por completo.
O petróleo sobe quase 7% enquanto escrevo. O mercado corre para comprar petroleiras e vender o que é sensível a taxas de juro, possivelmente mais altas diante da inflação gerada pelo combustível mais caro. Tudo que é growth (crescimento) cai, bancos sobem com juros maiores. Volta o case, ao menos temporariamente, do reflation trade (compramos o que gera caixa no presente, vendemos o resto).
Pequena ressalva sobre fintechs no Brasil: mercado misturou muito joio e trigo. Há coisa que realmente não deveria estar em Bolsa, fake techs inviáveis financeiramente. E há coisas boas, que apenas estavam caras.
Veja Méliuz: acaba de materializar a venda do Bankly e formalmente afirma se preparar para um grande provento extraordinário usando essa grana. Se vier o valor total, seria uma distribuição de R$ 210 M, cerca de 25% de yield.
- Já sabe como declarar seus investimentos no Imposto de Renda 2023? O Seu Dinheiro elaborou um guia exclusivo onde você confere as particularidades de cada ativo para não errar em nada na hora de se acertar com a Receita. Clique aqui para baixar o material gratuito.
Petrobras passará por um teste de fogo
Voltando ao assunto central, por aqui, as empresas juniores de petróleo devem ser as mais beneficiadas, com destaque para PetroRio e 3R. A primeira não tem posições de hedge relevantes e pega na veia o incremento do óleo. A segunda tem maior lifting cost (custo de extração) e, por isso, tem maior sensibilidade e alavancagem operacional a partir de variações da commodity subjacente.
Sobre Petrobras, já fica aquela dúvida. Um petróleo muito barato é ruim, mas muito caro pode ser ainda pior. Política de preços vai enfrentar seu primeiro teste de fogo.
Se mercado notar alguma intervenção mais direta e mudança importante no apreçamento dos combustíveis, de-rating pode ser grande. Minha preferência é por 3R, mais barata, com sólido prognóstico de crescimento da produção e com o trigger de curto prazo de materializar operação de Potiguar.
Como segunda derivada, as empresas de distribuição de combustíveis também podem se beneficiar, com marcação a mercado positiva à frente. Há poucos meses, ninguém queria e agora a narrativa também começa a mudar.
A melhor recomendação para o segundo trimestre talvez seja passar cera de abelha nos ouvidos.
Petrobras (PETR4): produção de petróleo fica estável em trimestre marcado pela queda de preços
A produção de petróleo da estatal foi de 2,214 milhões de barris por dia (bpd) entre janeiro e março, 0,1% menor do que no mesmo período do ano anterior, mas 5,5% maior na comparação trimestral
Para Gabriel Galípolo, inflação, defasagens e incerteza garantem alta da Selic na próxima semana
Durante a coletiva sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do segundo semestre de 2024, o presidente do Banco Central reafirmou o ciclo de aperto monetário e explicou o raciocínio por trás da estratégia
Prio (PRIO3): banco reitera recomendação de compra e eleva preço-alvo; ações chegam a subir 6% na bolsa
Citi atualizou preço-alvo com base nos resultados projetados para o primeiro trimestre; BTG também vê ação com bons olhos
Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA
Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.
Tony Volpon: EUA, novo mercado emergente
Não tenham dúvidas: chegamos todos na beira do abismo neste mês de abril. Por pouco não caímos.
Copom busca entender em que nível e por quanto tempo os juros vão continuar restritivos, diz Galípolo, a uma semana do próximo ajuste
Em evento, o presidente do BC afirmou que a política monetária precisa de mais tempo para fazer efeito e que o cenário internacional é a maior preocupação do momento
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
Agenda econômica: Balanços, PIB, inflação e emprego estão no radar em semana cheia no Brasil e no exterior
Semana traz IGP-M, payroll, PIB norte-americano e Zona do Euro, além dos últimos balanços antes das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos de maio
Agenda intensa: semana tem balanços de gigantes, indicadores quentes e feriado
Agenda da semana tem Gerdau, Santander e outras gigantes abrindo temporada de balanços e dados do IGP-M no Brasil e do PIB nos EUA
Prio (PRIO3): Conheça a ação com rendimento mais atrativo no setor de petróleo, segundo o Bradesco BBI
Destaque da Prio foi mantido pelo banco apesar da revisão para baixo do preço-alvo das ações da petroleira.
Se errei, não erro mais: Google volta com o conversor de real para outras moedas e adiciona recursos de segurança para ter mais precisão nas cotações
A ferramenta do Google ficou quatro meses fora do ar, depois de episódios nos quais o conversor mostrou a cotação do real bastante superior à realidade
Fernando Collor torna-se o terceiro ex-presidente brasileiro a ser preso — mas o motivo não tem nada a ver com o que levou ao seu impeachment
Apesar de Collor ter entrado para a história com a sua saída da presidência nos anos 90, a prisão está relacionada a um outro julgamento histórico no Brasil, que também colocou outros dois ex-presidentes atrás das grades
Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado
Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
Dividendos extraordinários estão fora do horizonte da Petrobras (PETR4) com resultados de 2025, diz Bradesco BBI
Preço-alvo da ação da petroleira foi reduzido nas estimativas do banco, mas recomendação de compra foi mantida
Por que o ouro se tornou o porto seguro preferido dos investidores ante a liquidação dos títulos do Tesouro americano e do dólar?
Perda de credibilidade dos ativos americanos e proteção contra a inflação levam o ouro a se destacar neste início de ano
Fim da linha para o dólar? Moeda ainda tem muito a cair, diz economista-chefe do Goldman Sachs
Desvalorização pode vir da relutância dos investidores em se exporem a investimentos dos EUA diante da guerra comercial com a China e das incertezas tarifárias, segundo Jan Hatzius
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell