Empresas estão fugindo de entrar na bolsa: sem IPOs até agora, o ano pode ser grande fiasco para os mercados — e guerra na Ucrânia está na lista de culpados por isso
Tensões no leste europeu elevam projeções de inflação e juros, tornando o ambiente impróprio para aberturas de capital na bolsa (IPOs).

As aberturas de capital na bolsa (IPOs, na sigla em inglês) dependem de janelas de oportunidade. Acontece que, com a alta dos juros e a disparada da inflação no radar, já havia uma expectativa mais tímida para esse mercado neste ano. Mas se ainda havia uma fresta na janela, ela agora deve se fechar por completo com a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Muitas empresas estão ‘fugindo’ de entrar para a bolsa. Desde o começo do ano, nenhuma companhia abriu capital e 15 desistiram de fazê-lo.
Com uma guerra acontecendo no Leste Europeu, as eleições — que seriam o maior monstro a assombrar os mercados neste ano — agora nem parecem tanta coisa assim.
Para entender melhor o cenário para IPOs neste ano, o Seu Dinheiro conversou com fontes tanto da ponta vendedora quanto da ponta compradora do mercado de ações. Um sinal de que o mar não está para o peixe dos IPOs é que nenhum dos bancos de investimento procurados quis participar da reportagem.
Por que o cenário desfavorece a abertura de capital na bolsa?
Em outubro de 2016, a taxa básica de juros começou sua trajetória de queda. Na época, o Banco Central reduziu a taxa em 0,25 ponto porcentual, para 14% ao ano.
Até então, o BC afirmava que o cenário para a inflação se mostrava mais favorável do que o esperado (saudades).A Selic manteve seguiu caindo até maio de 2018, quando estacionou em 6,5%.
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Assim, os juros só voltaram a mergulhar em setembro de 2019 e atingiram o menor patamar da história, de 2%, em 2020. Os juros tão baixos tinham a intenção de aquecer a economia enquanto o Brasil sofria as primeiras consequências da pandemia.
Agora você pode estar se perguntando…
…o que a Selic tem a ver com os IPOs?
A resposta é simples: quando os juros estão baixos, os investidores buscam por alternativas mais rentáveis para o dinheiro e a bolsa é uma alternativa.
Prova disso é que a B3 terminou 2021 com a marca histórica de 4,2 milhões de pessoas investindo na bolsa, sendo que 41% desse total entrou apenas no ano passado.
Só em 2021, 46 companhias estrearam na B3. O ano só perde para 2007, quando 64 empresas entraram na bolsa.
Porém esse movimento começou a desacelerar no segundo semestre do último ano, como forma de sinalizar que algo estava mudando no ambiente macroeconômico. E isso começou em março passado, quando o BC subiu os juros para 2,75%, dizendo que era um “processo de normalização parcial”.
Agora, com a taxa de juros em 11,75% e a expectativa do mercado de fechar o ano em 12,75%, a relação risco-retorno tende a desfavorecer os investimentos em bolsa e a troca de um pelo outro já é observada nos fundos de investimento.
De acordo com dados da Anbima, os fundos multimercados e de ações — principais compradores dos papéis das novatas que estrearam na B3 nos últimos anos — completaram seis meses de resgates líquidos em fevereiro.
Ao mesmo tempo, os fundos de renda fixa, que não investem em ações, estão com captação positiva. Nos primeiros dois meses de 2022, essa classe de fundos soma R$ 64 bilhões em captação líquida, enquanto os de ações e multimercados observam retiradas de R$ 21 bilhões e R$ 38 bilhões, respectivamente.
A guerra está na lista de culpados por isso
“O elemento guerra traz enorme instabilidade, ao passo que não se sabe até onde ela vai”, afirma Roberto Quiroga, sócio diretor do escritório de advocacia Mattos Filho, um dos principais escritórios que prestam assessoria a empresas em IPOs no Brasil.
“O que já se prevê é um aumento maior da inflação do que o antecipado, e, por consequência, maior aumento de juros. O reflexo para as empresas é a dificuldade de captação de recursos.”
Roberto Quiroga, sócio diretor do Mattos Filho
No entanto, Quiroga afirma que, no estágio atual da guerra, o impacto sobre a captação de recursos ainda não chegou. “Nesse momento, temos uma visão de estabilidade. Se a guerra tiver uma solução rápida, a situação melhora substancialmente. Se não tiver, o panorama vai piorar no decorrer do ano”, analisou.
Quem pode fazer IPO?
Para Alan Riddell, sócio da empresa de auditoria e consultoria KPMG, apesar de o cenário difícil, o mercado de capitais deve continuar aberto para companhias que tenham bons modelos de negócio.
Ele se refere especificamente às empresas ligadas a tecnologia, conectadas com o mundo ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança), bem como o setor de infraestrutura, que, por ter uma visão de prazo mais longo, consegue aguentar ciclos econômicos.
“O mercado está aguardando para entender os riscos para poder precificá-los e avançar. Tem muita empresa de valor que vai poder sim fazer IPO”, diz Riddell.
Poder não é querer
Ainda que os entrevistados julguem que algumas empresas podem sim se capitalizar por meio da bolsa, isso não significa que elas o farão. Por isso, quem puder adiar o IPO, vai adiar, segundo Quiroga. “Não vão se arriscar a entrar num mercado muito tumultuado”, disse.
Amaral, da Equitas, avalia que enquanto não tivermos um ambiente de queda de inflação, será difícil ver novamente a exuberância das aberturas de capital da primeira metade de 2021. No ano passado, a Equitas colocou na carteira algumas das empresas que fizeram IPOs, como Matter Dei, 3Tentos e Eletromídia.
*Este texto é uma pílula da matéria publicada pela repórter Flavia Alemi, para acessar, clique aqui.
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