No Brasil do ministro da Economia, Paulo Guedes, “o pior já passou” — estamos falando de uma nação resiliente e com capacidade de resposta. Segundo ele, o país saiu fortalecido da pandemia e reduziu impostos para estimular a logística em meio à guerra da Ucrânia, que encareceu o combustível.
Esse panorama otimista foi compartilhado durante um painel na Expert XP 2022, no qual o ministro foi interrompido pelo menos nove vezes; todas, para aplausos e gritos de seus admiradores.
Guedes citou a inflação em queda, o emprego subindo e as sucessivas revisões para cima do crescimento do país.
O ministro pediu aos presentes que se atentassem para os fatos, e não para as narrativas. Também reclamou dos “mas” que costuma ouvir quando fala de algum dado positivo — e recebeu nova rodada de aplausos por isso.
Mas, Guedes…
Ainda que os dados puros validem a narrativa de Guedes, é necessário entrar no detalhe para fazer uma análise criteriosa. E, nesse sentido, o cenário não parece tão cor de rosa assim. Vamos aos fatos:
A inflação ainda não caiu
Os dados mais recentes da alta de preços na economia brasileira apontam uma desaceleração, não uma queda, como dito por Guedes. O IPCA-15 de julho cresceu 0,13%, menos que os 0,17% que o mercado esperava. Mas tudo às custas da redução do imposto sobre combustíveis, energia e telecomunicações, uma medida de viés populista tomada às vésperas das eleições.
O emprego é informal
Ainda que a taxa de desemprego do Brasil tenha caído para 9,3% no trimestre encerrado em junho, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, a mesma pesquisa divulgada há poucos dias informa que o número de trabalhadores informais no país é um recorde, informação que não foi citada por Guedes.
Entre os 98,3 milhões de pessoas que estão ocupadas, 40% delas atuam em trabalhos informais, sem qualquer proteção ou direitos trabalhistas, dando uma amostra da precariedade do mercado de trabalho.
Guedes e o PIB: para cima — e para baixo
O crescimento do Brasil, de fato, tem sido revisado para cima, algo que Guedes atribui ao desempenho do seu governo. O Fundo Monetário Internacional (FMI), inclusive, elevou as estimativas para o PIB do Brasil neste ano, para alta de 1,7%.
Assim, Guedes afirmou que o país está num “longo caminho de crescimento”. Porém, o FMI também revisou o PIB para 2023 para baixo. De uma alta antes esperada de 1,4%, o FMI agora enxerga uma expansão de apenas 1,1% no ano que vem.