Os fundos de cannabis acumulam perdas de quase 50% em 12 meses, mas seus entusiastas seguem firmes na tese de investimento; entenda por quê
Ainda que possa haver acomodação, os avanços na regulamentação e na legalização devem prosseguir nos próximos anos, beneficiando esses ETFs
Os primeiros fundos de investimentos no setor de cannabis chegaram ao Brasil no fim de 2019 envoltos mais em euforia do que em polêmicas. E, no início de 2021, quando o valor desses fundos disparou, a tese de ganhos exponenciais com a “indústria da maconha” parecia começar a se cumprir mais rápido do que imaginavam seus maiores entusiastas.
Pouco tempo depois, entretanto, a euforia passou — esses fundos mudaram de curso e passaram a registrar fortes perdas. Um ano depois de terem atingido seu ápice, os ETFs ligados à cannabis encontram-se distantes de suas máximas históricas.
Para muito além da volatilidade, eles apresentam desvalorização acumulada de aproximadamente 50% nos últimos 12 meses. O que mais chama a atenção, porém, é o fato de os principais defensores da tese de investimento em cannabis seguirem firmes em suas posições.
O Seu Dinheiro resolveu, então, investigar os motivos que levam à queda desses fundos e por que seus entusiastas mantêm-se irredutíveis na defesa de que ganhos exponenciais podem ser obtidos em um futuro relativamente próximo.
Como investir em cannabis
Apenas duas corretoras oferecem no momento acesso a fundos de cannabis no Brasil: a XP, que administra o Trend Cannabis, e a Vitreo, com os fundos Canabidiol, Canabidiol Light e Cannabis Ativo — o BTG Pactual, dono da Vitreo, oferece acesso a este último através de sua plataforma de investimentos.
Entramos em contato tanto com a XP quanto com a Vitreo para falar sobre o desempenho dos fundos de cannabis até aqui e as perspectivas para o futuro. A XP, no entanto, não quis comentar sobre o fundo Trend Cannabis, que acumula perda de 50% em relação ao seu preço de lançamento.
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Tese inalterada
Na Vitreo, fomos atendidos por George Wachsmann. Ele é Chief Investiment Officer (CIO) e sócio fundador da casa — e prefere ser chamado de Jojo. Pois bem: em entrevista ao Seu Dinheiro, Jojo adianta sua posição sem meias palavras. “A tese [de investimento] está inalterada”, afirma.
O primeiro fundo de canabis da Vitreo foi lançado em outubro de 2019. Batizado ‘Vitreo Canabidiol’, ele ficou restrito a investidores qualificados — aqueles com patrimônio investido igual ou superior a R$ 1 milhão.
“Eu adoraria estar lançando o fundo hoje, e não quando a gente lançou”, admite Jojo. “Se formos pensar em timing de mercado, a gente lançou antes da hora”, acredita ele. Desde o lançamento, o Canabidiol caiu mais de 50%, desempenho em linha com o de outros fundos desse mercado.
‘Só uma pontinha’
Ao contrário do que se poderia supor, Wachsmann segue firme na tese e sustenta que quem vai investir nesse tipo de fundo precisa ter em mente que é preciso ser parcimonioso com setores voláteis, como o de cannabis. "Eu falava que era só uma pontinha. Se a pessoa respeitou a pontinha, entendeu que era longo prazo, beleza", diz ele.
O fato, segundo Jojo, é que a regulamentação e a legalização da indústria da cannabis não vão parar. Pode ser que ocorra alguma acomodação nos avanços, como agora, mas o CFO da Vitreo não vê espaço para retrocessos.
Foi só em 2020, por exemplo, que a Organização das Nações Unidas (ONU) retirou a maconha da lista de drogas consideradas mais perigosas, o que a equiparava à cocaína ou à heroína.
Jojo conta que, quando lançou o primeiro fundo, tinha medo de ver alguma manchete estampada como “Vitreo lança fundo de maconha”.
Era um tabu econômico que virou um tabu sociocultural. O grande desafio é saber quando a ciência vai vencer os costumes. É um processo geracional.
Jojo Wachsmann, Chief Investiment Officer (CIO) e sócio fundador da Vitreo

Avanços legislativos e regulatórios
Jojo enfatiza que, mesmo sob governos conservadores nos Estados Unidos e no Brasil em anos recentes, houve avanços consideráveis na legislação nos dois países. Ainda assim, ainda há um tabu a ser vencido.
Num passado mais distante, por lobby dos setores de bebidas alcoólicas e algodão nos EUA, o cânhamo era escanteado e a maconha era considerada uma droga perigosa. Mas, quando se fala em cannabis, é preciso salientar que se trata de um produto bastante versátil — sua aplicação vai muito além da extração da substância entorpecente.
A começar pela produção de cânhamo para fins industriais. Ela inclui a produção de tecidos, roupas, fibras e sementes para alimentação e rações animais. Abrange também a indústria de cosméticos. “Tudo isso sem contar um leque absurdo de usos na medicina", diz ele. "O que sabemos hoje é só a pontinha de um iceberg”.
Considerando esse leque amplo de possibilidades, o sócio fundador da Vitreo mantém-se bastante otimista em relação às perspectivas de futuro desses fundos de cannabis.
“A gente fala do potencial de um mercado hoje ilegal de ser legalizado. Grandes empresas já investem indiretamente. Alimentos e bebidas, vestuário, farmacêuticas, cosméticos”, pontua. “Se o negócio está 50% mais barato e minha tese está inalterada, eu gosto dele agora o dobro do que eu gostava”, diz ele.

Pandemia aumentou preocupação com saúde
Além de todas as questões regulatórias e legislativas envolvidas, com cada sociedade avançando em seu ritmo — mas avançando —, Jojo chama a atenção para o fato de a pandemia ter aumentado a preocupação do mundo com a saúde.
“Imagine, por exemplo, se surgisse um remédio contra covid à base de canabidiol. Ou uma vacina. A aceleração que a aprovação disso não teria? E o tabu sociocultural e a legislação estão andando mesmo em tempos de governos mais conservadores”, enfatiza ele.
Nos EUA, desde 2012, 18 Estados e o Distrito de Columbia aderiram à autorização do uso adulto — antes chamado de recreativo — da maconha. Já o uso medicinal é autorizado em 38 dos 50 Estados norte-americanos, além de Washington, a capital.
A recente retração nos preços dos ativos que compõem os fundos de cannabis justifica-se por uma inesperada paralisia do Congresso dos EUA em levar adiante projetos de lei importantes para o avanço dessa indústria. O principal deles é o Safe Banking Act, que permitirá o acesso dessas empresas ao sistema financeiro nos EUA.
Outros projetos dispõem sobre iniciativas de inclusão social e permissão para que as cargas de produtos à base de cannabis sejam transportadas através de Estados onde tanto o uso medicinal quanto o adulto da maconha são proibidos.
O que não se esperava era que esses projetos fossem travar justamente numa legislatura de maioria democrata, sob um presidente democrata (Joe Biden), uma vez que o partido é visto como mais progressista em relação ao tema. Um futuro avanço nessas pautas, portanto, abriria caminho para uma nova esticada nos preços desses ativos.
No Brasil, afirma Jojo, “estamos caminhando na direção de uma legalização. Hoje você pode mais coisa do que podia há alguns anos. Pode importar remédio, fabricar aqui”. De acordo com ele, muita gente olha para o Brasil, onde “o número de pessoas envolvidas nesses projetos é gigantesco”.
Segundo um levantamento da Kaya Mind, empresa especializada no estudo do mercado de cannabis, uma eventual regulamentação da indústria no Brasil poderia gerar 117 mil empregos formais e movimentar mais de R$ 26 bilhões (sendo cerca de R$ 8 bilhões em impostos) no país em um prazo de quatro anos.

Mudando vidas
Na entrevista com Jojo, um argumento chamou bastante a atenção. “Conversa com alguém que tenha um familiar que faça uso de medicamento à base de cannabis”, sugeriu. “Você sai da esfera de ganhar dinheiro e entra no âmbito de salvar vidas, de mudar a qualidade de vida das pessoas”.
Medicamentos à base de canabidiol são hoje usados em escala crescente no tratamento de transtornos de espectro autista, epilepsia, dores crônicas, distúrbios de sono e ansiedade. A partir da fala de Jojo, passamos a pesquisar o assunto e acabamos em contato com o doutor Renato Anghinah.
Neurologista, professor livre docente na Universidade de São Paulo, Anghinah é também CMO - sigla para Chief Medical Officer - da HempMeds, uma das pioneiras na produção de medicamentos à base de cannabis. E, entre seus pacientes estão dois ícones do esporte nacional, os ex-pugilistas Maguila e Éder Jofre.
Ambos sofrem de encefalopatia traumática crônica, provocada por anos e anos de pancadas nos ringues. Antes do contato com Anghinah, entretanto, eles eram tratados como pacientes de Alzheimer.
Sem a correção do diagnóstico, é improvável que os dois ex-pugilistas ainda estivessem vivos. “No meu primeiro contato com o Éder Jofre, ele estava à beira da morte, fraco, sem se alimentar. Isso foi há dez anos. No mês que vem ele deve completar 86 anos”, conta o neurologista.
O diagnóstico correto foi viabilizado pela participação de Anghinah nas pesquisas feitas no cérebro — doado pela família — de outro herói do esporte brasileiro: o zagueiro Bellini, capitão da seleção brasileira campeã do mundo em 1958. Em 2014, uma equipe de médicos constatou que, ao contrário do que se imaginava, Bellini não morreu de Alzheimer, mas de encefalopatia traumática crônica.
Todo esse contexto é necessário para explicar como Anghinah se envolveu nas pesquisas com cannabis e como os medicamentos à base de canabidiol melhoraram consideravelmente a qualidade de vida de seus dois notórios pacientes — e também de outros menos famosos.
“Nunca cheguei nem perto de ser um ativista. Apenas me ative às evidências científicas sobre os benefícios desses medicamentos”, resumiu Anghinah, que desde o fim do ano passado coordena um curso de medicina canabinoide na USP.
No caso de Maguila, ele explica que primeiro parou de tratar o Alzheimer e entrou com o tratamento para encefalopatia. “Há cerca de dois anos, quando ele começou a ficar mais ansioso, entramos com o canabidiol. É um bom coadjuvante. Ele ganhou muita qualidade de vida”, relata o neurologista.

Benefícios da medicina canabinoide
O envolvimento de profissionais como Anghinah empresta credibilidade à medicina canabinoide. Na entrevista ao Seu Dinheiro, o neurologista enfatizou em diversas ocasiões a preocupação dele e de outros estudiosos do tema com as evidências científicas e com a qualidade do diagnóstico, visando às corretas indicação e prescrição dos medicamentos.
O que já se sabe é que os remédios à base de canabidiol têm menos efeitos colaterais e não geram dependência.
“É preciso estar atento às interações medicamentosas, mas eles têm substituído bem os opioides nos Estados Unidos, onde essa substância tornou-se um problema de saúde pública”, diz Anghinah.
Sobre os tabus envolvendo a maconha, o especialista acredita que o preconceito em relação aos remédios à base de canabidiol é maior entre a comunidade médica do que entre os pacientes; para ele, a expansão desse mercado é um caminho sem volta — a barreira final é a aprovação do plantio.
Isso deve causar resistência por diferentes motivos. Mas é um caminho sem volta. Trata-se de um mercado ainda microscópico. A tendência é de crescimento por muitos anos.
Renato Anghinah, neurologista, CMO da HempMeds
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