Cleópatra e Marco Antônio, Tristão e Isolda, Paris e Helena de Troia: a história está cheia de casais famosos. Inspirados (ou não) pelos livros e lendas, um casal norte-americano pode estar prestes a entrar para os anais do mundo do crime como “Bonnie e Clyde” do bitcoin.
Ilya Lichtenstein, ou “Dutch”, um cidadão russo-americano, e sua esposa Heather Morgan foram presos em Manhattan, Nova York, nesta semana acusados de conspirar para lavar quase 120.000 bitcoins, o equivalente a US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 23,6 bilhões).
As criptomoedas foram parar nas mãos do casal após o ataque hacker à corretora Bitfinex em 2016. Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a maior parte do bitcoin perdido na época já foi recuperado, totalizando cerca de US$ 3,6 bilhões.
A ironia
Os dois acusados já eram conhecidos no país mesmo antes mesmo de entrarem na mira da justiça e ganharem o infame apelido. Morgan, que se autointitula como “O crocodilo de Wall Street”, canta rap no aplicativo Tik Tok sob alcunha de Razzlekhan.
Além disso, sua ficha também conta com contribuições para a Forbes, incluindo um artigo sobre como as empresas podem se blindar contra cibercriminosos.
Já a suposta conta de Lichtenstein no Twitter exibe posts frequentes sobre a Web 3.0 e criptomoedas, enquanto seu LinkedIn lista cargos de consultor de uma startup de blockchain e investidor em projetos semelhantes.
O crime
Como os dois passaram de consultor e artista de rap para criminosos? Segundo as autoridades dos EUA, eles não participaram do ataque hacker, mas parte dos 120 mil bitcoins roubados em 2016 foram parar na carteira de Lichtenstein.
Para despistar as autoridades, o casal criou contas falsas e usou programas de computador automatizados para realizar várias transações, depositando os ativos em exchanges de criptomoedas para dificultar o rastreamento.
Eles também usaram contas baseadas nos EUA para fazer suas atividades parecerem legítimas e envolveram-se até mesmo em compras de NFTs com as moedas roubadas.
A descoberta
Um processo judicial de 34 páginas revela como a fraude foi descoberta: em posse de mandados de busca para a atividade online do casal, agentes especiais recuperaram arquivos de uma conta que detinha as chaves privadas da carteira original.
Com as chaves em mãos, os investigadores obtiveram o endereço da carteira do destinatário e elucidaram o esquema de lavagem, recuperando 94 mil bitcoins no processo.
O casal ainda tentou esconder seu papel na lavagem de criptomoedas estabelecendo novas identidades. Lichtenstein e Morgan passaram um mês na Ucrânia em 2019 e suas atividades "às vezes parecem tiradas das páginas de um romance de espionagem", indica o documento.
Para os promotores, Morgan aprendia a língua enquanto os dois se preparavam para a vida na Rússia.
No início deste ano, uma busca no apartamento do casal encontrou US$ 40.000 em dinheiro em espécie, mais de 50 dispositivos eletrônicos, dois livros ocos e uma bolsa com a etiqueta "telefone descartável".
As autoridades também acreditam ter acessado uma conta de armazenamento em nuvem de Lichtenstein. Os arquivos criptografados incluem uma planilha com várias contas e carteiras adicionais e arquivos com variações da palavra “sujo” em seus nomes, como “carteira_suja”.
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*Com informações do Business Insider