Tântalo recebido a bala: corrida em direção às estatais é exagero?
A corrida em direção às estatais na semana passada, dado o atual estágio da eleição, pode encontrar elementos de exagero, em especial quando consideramos todos os riscos externos do momento — não somos uma ilha, ainda que a eleição seja um catalisador muito relevante

"Dentro de paul cruzei com Tântalo
sofrente, pois que a água lhe lambia o mento.
Sedento, não tocava nela: toda vez
que o velho se curvava com garganta seca,
a água tragada se ocultava, e, aos pés, o solo
enegrecia, pois um demo a ressecava.
Pendiam frutos de árvores altifrondosas
sobre a cabeça: rútilas maçãs, romãs,
peras, dulçor de figo, olivas suculentas,
mas quando o ancião erguia as mãos para colhê-las,
o vento as arrojava em meio a umbrosa nuvem.”
A Odisseia, Homero
Tântalo foi aquele camarada que, após roubar o manjar dos deuses e servir-lhes a carne do próprio filho Pélops, acaba castigado com a sentença de não poder saciar sua sede e fome. Lançado ao Tártaro, via a água escoar para longe ao se aproximar; e os frutos das árvores se afastarem de seu alcance.
O Brasil é o país do futuro. Aquele futuro que está logo ali, a um esticar dos braços. Tentamos nos aproximar e, de alguma maneira, o futuro se esvai, escorrega, mais uma vez, à próxima geração.
Talvez pudéssemos nos aproveitar de uma situação global que: privilegia comida e energia, está carente de democracias grandes, pacíficas e consolidadas, prefere o value (bancos e commodities, pra facilitar) ao growth (tecnologia e afins).
Seja por mérito próprio, com as boas reformas realizadas desde o governo Temer, ou por demérito alheio, em que ganharíamos por W.O. (a Rússia virou ininvestível; a China afasta-se dos valores ocidentais e da democracia liberal ao consolidar o poder em torno de Xi Jinping; a Índia está cara, próxima à Rússia e não tem comida e energia), poderíamos ter um belo ciclo pela frente — até porque estamos em estágio mais avançado, pois começamos antes de todos a subir as taxas de juros.
Talvez ainda possamos, mas dificilmente em sua plenitude.
Lula teria a chance de fazer um governo de frente ampla, abraçando formalmente o centro e até a centro-direita. Nomearia Meirelles (por que não o Armínio, que já tirou foto até com o Freixo?), faria seu primeiro discurso de camisa verde e amarela, anunciando que os símbolos de Estado transcendem espectros ideológicos. Governaria para todos. Verdes, amarelos e vermelhos; pretos e brancos. Mandela latino-americano. Mas não. Prefere o silêncio e o não-comprometimento com ninguém. Pede uma Faria Lima mais progressista, mas exige um cheque em branco. Desculpa. Não funciona. A nova âncora fiscal precisa ser explícita e formal, muito além do “La garantia soy yo.”
Bolsonaro tenta revitalizar o verniz liberal. Flerta, discretamente, com as privatizações de Banco do Brasil e Petrobras. Na prática, desde a PEC Kamikase principalmente, solta as torneiras da política fiscal e se preocupa mesmo com a agenda de costumes e com o Alexandre de Moraes.
Leia também: Por que você deveria fazer o MBA Empiricus FAAP?
O mercado faz vista grossa, seja porque tem medo do cheque em branco a Lula (o que tem sua razão de ser) ou porque confia em Paulo Guedes — ah, sim, também há aquela parcela (minoria) mais reaça, saudosa de outros tempos e temerosa a Deus, embora garanta que, na hora de gerir seu dinheiro, adota princípios laicos e científicos.
Na semana passada, a corrida em direção às estatais foi disparada. Pesquisas internas apontando empate entre Lula e Bolsonaro trouxeram fluxo comprador para Banco do Brasil e Petrobras.
“Expectativa racional ou torcida?” Difícil saber, talvez um pouco dos dois, admitiu, ipsis verbis, um grande investidor bilionário em conversa privada. Seriam os torcedores racionais? Ninguém admite os próprios vieses. Se admitisse, os corrigiria e eles desapareceriam. Todos nós nos achamos consistentes.
Apostar na vitória de Bolsonaro, neste momento, no entanto, pode ser um tanto precipitado. Não porque ele não tenha chances reais. Possivelmente, até tenha mais do que a maior parte das pesquisas sugere. Estamos ali, pau a pau. E, quando colocamos a abstenção na conta, qualquer afirmação sobre o resultado da eleição parece muito mais torcida (política é puro viés de confirmação) ou desejo de controle, como se pudéssemos antecipar o futuro e ter previsibilidade. Não sabemos. Simples assim.
Ocorre que, se há indefinição e se trabalhamos com a hipótese de indivíduos avessos a risco, um jogo empatado deveria fazer as pessoas cautelosas, sem apostar numa direção ou outra. Essa é a definição clássica de aversão a risco, uma preferência côncava, em que a combinação linear de uma função está abaixo da própria função. Indivíduos avessos a risco não deveriam participar de jogos cujo valor esperado é zero. Em português, se você é avesso a risco, um par ou ímpar em que você ganha um real em caso de vitória e perde um real em caso de derrota não lhe atrai.
Direto ao ponto: a corrida em direção às estatais na semana passada, dado o atual estágio da eleição, pode encontrar elementos de exagero, em especial quando consideramos todos os riscos externos do momento — não somos uma ilha, ainda que a eleição seja um catalisador muito relevante.
Já reduzimos pela metade nossa posição em estatais como o Banco do Brasil após os fortes ganhos no ano; negociando perto do valor patrimonial e com 50% de chance de dar Lula, que tem sido muito vocal sobre o uso de bancos públicos para aumentar o crédito, difícil ficar na frente deste trem.
Agora, estamos procurando puts (opções de venda) de estatais. Gostamos das estatais ao longo de 2022, mas é importante saber a hora de parar.
O final de semana foi apenas mais um dos sinais de que, se Tântalo viesse para o Brasil, seria recebido a bala.
Taxas, tarifas e um bicho que nunca dorme: Ibovespa enfrenta volatilidade com Fed, Copom, Trump e indicadores
Ibovespa encontra-se no nível mais baixo em quatro meses às vésperas de um novo marco do tarifaço de Trump
Super Quarta é só o aquecimento — a pancada real vem na Super Sexta; o que esperar da Selic — e os trunfos do Brasil contra Trump
O ambiente internacional segue por um fio: uma vírgula fora do lugar ou um dado ligeiramente acima do esperado (impedindo corte de juros) basta para que a volatilidade reassuma o controle
Felipe Miranda: O duelo
A trajetória ficou mais turbulenta. Melhor sentar na mão e se preparar para a volatilidade. O final do filme, contudo, ainda é o mesmo
Aberta a temporada de provas: o balanço dos bancos no 2T25 e o que esperar dos mercados hoje
Bolsa globais avaliam acordos com os EUA; índices futuros de Wall Street indicam que seguirão estendendo os ganhos da semana passada; por aqui, o Ibovespa tenta recuperar o fôlego
O jogo não é ganho no primeiro tempo, mas este segmento de fundos imobiliários se destaca em meio às incertezas
Após cinco meses de alta, o IFIX registra queda em julho; mas estes FIIs se mostram atrativos agora
A estabilidade do Banco do Brasil: como apostar nas ações BBAS3 e o que esperar dos mercados hoje
Negociações (ou não) de acordos com os EUA e temporada de balanços continuam no radar dos investidores por aqui e no exterior
Não pule de cabeça no Banco do Brasil: a ação pode afundar, mas há uma opção de compra protegida para BBAS3
Com potencial de alta caso as coisas deem muito certo e risco de desvalorização relevante caso o cenário se deteriore de vez, comprar BBAS3 nesse momento me parece um pouco precipitado — mas existe uma boa saída
Papo de velho: o que deu errado com a RD Saúde, e o que esperar dos mercados hoje
Acordos comerciais agitam os mercados nesta quinta-feira; após recorde, Wall Street também acompanha balanços do 2T25
Rodolfo Amstalden: Pedido extra para você que já está na fila
O Kit Brasil já está na espera do Tarcísio Trade anyways. Ele pegou a fila para comprar pão francês, presunto, queijo, e agora a esposa ligou no celular pedindo também 200 gramas de enroladinho de salsicha
Adrenalina em alta voltagem na Auren Energia, e o que esperar dos mercados hoje
Nos EUA, futuros operam em leve alta, de olho nas tarifas e nos balanços, após recorde na véspera; por aqui, Ibovespa repercute dados internacionais e resultados do 2T25
Quem te viu, quem te vê, Argentina: o avanço no país vizinho e o que esperar dos mercados hoje
Wall Street e Ibovespa aguardam balanços de grandes empresas e a fala de Jerome Powell, do Fed
O sucesso argentino: o vizinho conserta a casa, enquanto o Brasil segue varrendo para debaixo do tapete
De laboratório de tragédias populistas a espelho de sucesso, Argentina demonstra que há vida política e recuperação econômica fora da armadilha populista latino-americana
Luz na passarela: o destaque da C&A na bolsa este ano, e o que esperar dos mercados hoje
Em dia morno, Wall Street aguarda divulgação de novos balanços; por aqui, Ibovespa segue a reboque e também continua repercutindo as tensões com os EUA
Timing é tudo: o negócio extraordinário da Vivo e o que esperar dos mercados hoje
Wall Street atinge novas máximas históricas e pode dar continuidade aos ganhos; por aqui, mercado repercute retorno do IOF e disputa comercial com EUA
Qual a hora certa de vender uma ação? Tudo depende do preço — e a Vivo (VIVT3) mostra como isso funciona na prática
Nos últimos dias, a Vivo realizou uma operação que nos ajuda a entender na prática o momento de comprar e, mais importante, de vender um ativo
Porquinho chinês ou inglês? A origem do nosso cofrinho e o que esperar dos mercados hoje
Nos EUA, Trump nega rumores de que pretende demitir o presidente do Fed; no Brasil, Moraes decide que aumento do IOF será mantido
Rodolfo Amstalden: O Tarcísio Trade está morto?
Se o governador de São Paulo não for capaz de superar as provocações atuais, vindas tanto da extrema esquerda quanto da extrema direita, não será legitimado no cargo de presidente
Donald Trump: como lidar com um encrenqueiro e sua guerra comercial
Donald Trump não pensa nas consequências ao adotar suas medidas intempestivas. O importante, para ele, é estar nas manchetes dos jornais
Sem olho por olho nem tiro no pé na guerra comercial com os EUA, e o que esperar dos mercados hoje
Ibovespa fechou ontem em leve queda, e hoje deve reagir ao anúncio de uma nova investigação dos EUA contra o Brasil
Estamos há 6 dias sem resposta: o tempo da diplomacia de Trump e o que esperar dos mercados hoje
Enquanto futuros de Wall Street operam em alta, Ibovespa tenta reverter a perda dos últimos dias à espera da audiência de conciliação sobre o IOF
Do coice à diplomacia: Trump esmurra com 50% e manda negociar
Para além do impacto econômico direto, a nova investida protecionista de Trump impulsiona um intrincado jogo político com desdobramentos domésticos e eleitorais decisivos para o Brasil
Felipe Miranda: Carta pela moderação (e cinco ações para comprar agora)
Com todos cansados de um antagonismo que tem como vitoriosos apenas os populistas de plantão, a moderação não poderia emergir como resposta?