Lula é mais do que favorito para vencer as eleições, mas tudo pode mudar se Bolsonaro jogar a toalha — e o mercado adoraria
Embora o mercado já esteja precificando Lula na presidência, os investidores, traders profissionais e gestores vão gostar muito de uma alternativa na Presidência

Estou hospedado em um resort do balneário de Porto de Galinhas, em Pernambuco. Hoje, conversando com a camareira do meu quarto, perguntei em quem ela iria votar.
“Lula”, foi a pronta resposta.
Arrisquei e perguntei o porquê.
“Por causa desse salário mínimo miserável. Fora os preços no supermercado que não param de subir...”
Ela não falou de mensalão, petrolão, privatizações, reformas da máquina do Estado, Covid-19, programas de privatização, reforma tributária, etc.
A única coisa que a interessa é seu padrão de vida, que caiu uma enormidade.
Leia Também
Talvez por causa das Odetes da vida (nome fictício), no momento Lula tem aproximadamente 44% das intenções de voto, contra 22% de Jair Bolsonaro.
Mesmo faltando oito meses para as eleições, acho pouco provável que a situação vá mudar. E, se mudar, Lula deverá aumentar a folga sobre o capitão-presidente, podendo inclusive vencer no primeiro turno.
Esta é a terceira de uma série de crônicas de Ivan Sant'Anna sobre os pré-candidatos às eleições de 2022. Confira as outras análises:
- Sergio Moro
- Jair Bolsonaro
- Lula (você está aqui)
De derrota em derrota
No início de sua carreira política, Luiz Inácio Lula da Silva definitivamente não era um vencedor.
Insistia em disputar cargos majoritários, como o de governador de São Paulo, em 1982, oportunidade em que tirou um melancólico 5º lugar.
Em 1989, tentou pela primeira vez a presidência da República. Conseguiu ir para o segundo turno após uma disputa apertadíssima com Leonel Brizola, que levou vários dias para ser apurada.
Na rodada decisiva, em 17 de dezembro de 1989, Collor bateu Lula por 53,03% contra 46,97% dos votos.
Luiz Inácio não desistiu. Em 1994, enfrentou Fernando Henrique Cardoso. O curioso dessa eleição é que, seis meses antes do primeiro turno, Lula liderava folgadamente as pesquisas.
Isso se devia à inflação, alta do dólar e outras mazelas causadas justamente por causa da possibilidade de um governo petista.
Mas veio o plano Real, deu certo desde o primeiro dia e FHC bateu Lula no primeiro escrutínio por capote: 54,24% a 27,07.
Aprovada a PEC da reeleição, Fernando Henrique não encontrou dificuldades em se manter no poder. Mais uma vez venceu no primeiro turno. Recebeu 53,06% dos votos contra 31,71% de Lula e 10,97% de Ciro Gomes.
- GUIA PARA BUSCAR DINHEIRO: baixe agora o guia gratuito com 51 investimentos promissores para 2022 e ganhe de brinde acesso vitalício à comunidade de investidores Seu Dinheiro
Lula contra Lula
Finalmente, em 2002, chegou a vez de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para ser eleito, abdicou de quase tudo que defendera até então, coisas como moratórias interna e externa, socialização dos bancos, tributação de grandes fortunas e outros programas de esquerda.
Evidentemente que foi ajudado pelos pronunciamentos insossos do candidato tucano, José Serra.
Só que, ao contrário de seu antecessor, FHC, Lula precisou de um segundo turno.
Eleito, Luiz Inácio foi beneficiado por uma transição impecável perpetrada por Fernando Henrique e seus principais assessores.
Se foi por sorte, ou competência, o certo é que durante os oito anos dos dois mandatos Lula o Brasil teve um crescimento anual médio de 4%. Mesmo assim, ele precisou ir ao segundo turno contra Geraldo Alckmin, oportunidade na qual recebeu 60,83% dos votos contra 39,27% do oponente.
Apoiada por Lula, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, assumiu a presidência em 2011 e conseguiu se reeleger, em 2015, graças a uma campanha bem urdida por seu marqueteiro João Santana que, literalmente, apresentou os adversários subtraindo comida do prato do povão.
Pois bem, Dilma sofreu um processo de impeachment e afastada do cargo em 2016.
Foi substituída no Planalto por Michel Temer, que não tinha pretensões, e muito menos chances, de continuar no cargo. Ele se limitou a presidir as eleições, vencidas por um personagem exótico e controvertido.
Evidentemente, estou me referindo a Jair Bolsonaro. Apoiado por uma legião de fanáticos, que aplaudem suas declarações por mais absurdas que sejam:
“Eu sou favorável à tortura.”
“Fui num quilombola (sic) em Eldorado Paulista. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas.”
A impressão que dá é que Jair Bolsonaro não quer ser presidente, a não ser “jogando fora das quatro linhas” (a expressão é dele), hipótese que não será tolerada pelas Forças Armadas.
- Os repórteres do Seu Dinheiro comentam toda semana sobre os temas que mexem com o seu bolso. Aperte o play e siga o nosso podcast:
O que esperar de Lula no governo
Já que para o exótico capitão está difícil, vejamos como se comporta o favorito.
Em minha opinião, durante a campanha eleitoral Lula terá dois discursos. No primeiro deles, aberto, dirá que vai baixar o preço dos combustíveis, aumentar o Bolsa Família, reajustar o valor do salário-mínimo acima da inflação e que não privatizará nenhuma estatal.
Com exceção do último item, que se choca frontalmente contra o ideário do PT, acho que ele fará pelo menos dois anos de governo austero, antes de começar a soltar as benesses que prometeu ao eleitorado.
E se Bolsonaro desistir?
Há outra hipótese da qual o mercado (com exceção de alguns poucos analistas, entre os quais me incluo) não está cogitando.
Refiro-me à possibilidade de Bolsonaro, ao ver que suas chances de se reeleger são mínimas, se desincompatibilizar do cargo para concorrer a uma cadeira na Câmara ou no Senado, em busca de imunidade parlamentar.
Nessa hipótese, pode embolar tudo na corrida presidencial.
Se Lula, sem Jair Bolsonaro como adversário, enfrentar, digamos, Sergio Moro, Ciro Gomes ou João Doria o panorama eleitoral vai mudar completamente.
Não acredito que um eleitor de Bolsonaro, sem ter o “mito” na tela da urna eletrônica, vá votar em Lula.
Embora, no momento, o mercado já esteja precificando Luiz Inácio Lula da Silva na presidência, os investidores, traders profissionais e gestores vão gostar muito de uma alternativa que não seja o sapo barbudo (apelido criado por Leonel Brizola) na presidência da República.
Leia também:
- Por que Bolsonaro corre o risco de se transformar no primeiro presidente em exercício a perder a reeleição
- Como Sérgio Moro pode se tornar o candidato dos sonhos do mercado financeiro nas eleições 2022
- Por que o IPO do Nubank pode ser uma armadilha para principiantes na bolsa
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos
Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento
Se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso da Ambipar