Mercado em 5 Minutos: UFC monetário — tentando dar porrada na inflação
Após anos de anormalidade na política monetária, em um período em que várias autoridades adotaram a extrema flexibilização como padrão, finalmente parece termos chegado ao fim da era dos juros negativos

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados de ações asiáticos seguiram Wall Street e fecharam em baixa nesta quinta-feira (22), reagindo ao fato de o Federal Reserve ter anunciado outro grande aumento da taxa de juros para esfriar a inflação galopante.
Xangai, Tóquio e Hong Kong caíram, enquanto os preços do petróleo subiram, o que pode beneficiar o Brasil.
Ontem (21), na batalha contra a inflação, o Federal Reserve elevou em 75 pontos-base a taxa de juro, conforme o esperado.
No Brasil, o Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano, mas deu declarações bem agressivas no comunicado que acompanha a decisão.
Ou seja, nos dois casos houve tom hawkish (contracionista) por parte das autoridades. No final, a luta contra a inflação é o tema mais importante do ano.
A ver...
Leia Também
Olhando para cima: Ibovespa busca recuperação, mas Trump e Super Quarta limitam o fôlego
00:38 — O “manteu” mais hawkish do mundo
Antes que alguém se incomode: sim, o correto seria “manteve”, mas como todas as newsletters matinais devem estar fazendo a mesma piada, eu não perderia a minha chance de brilhar.
Conforme o esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano. A decisão, entretanto, não foi unânime, com dois diretores do Bacen votando por uma alta de 25 pontos-base.
De qualquer forma, o ciclo de aperto monetário brasileiro parece ter chegado ao fim… Pero no mucho.
Em um tom bastante agressivo em seu comunicado, o Copom indica que não hesitaria em retomar o ajuste caso a desinflação não transcorra como esperado; ou seja, podemos voltar a subir se for necessário — é bem provável que não seja, mas o comunicado hawkish deu o tom de como será a comunicação nos próximos meses.
O fim do ciclo (por enquanto), ainda que haja manutenção da taxa por bastante tempo neste patamar, permite que os investidores passem a elucubrar sobre a eventual queda dos juros em um segundo momento, que deverá acontecer, ao menos marginalmente, no segundo semestre do ano que vem.
Isso pode ser bom para as ações (há espaço para correção hoje, sim, mas o ganho nos próximos meses com expansão de múltiplos pode ser grande), ainda que fique no ar essa posição de "se precisar, farei mais."
01:45 — O porrete de Powell
O Federal Reserve também foi contracionista ontem, provocando realização nos mercados americanos na tarde de quarta-feira (os mercados europeus e asiáticos fizeram catch-up com o movimento negativo nesta quinta-feira).
Como esperado, o banco central aumentou a sua taxa de juros em 75 pontos-base, para a faixa entre 3,00% e 3,25% ao ano, a mais alta desde o início de 2008.
O que chamou a atenção, porém, foi a fala dura de Jerome Powell, o presidente do Fed, e a atualização das expectativas dos membros da autoridade monetária.
No Resumo de Projeções Econômicas, foi apresentado ao mercado uma expectativa de que a taxa de juros possa subir para até algo entre 4% e 4,5% até o final de 2022.
Em sendo o caso, isso significaria mais 150 pontos de ajuste, podendo ser um aumento de 75 pontos-base pela quarta vez consecutiva em novembro, seguido por 50 pontos em dezembro e 25 pontos em fevereiro.
Naturalmente, essa contração monetária não será suave. Reduzir a inflação provavelmente exigirá um período sustentado de crescimento abaixo da tendência, com algum abrandamento das condições de trabalho.
Tanto é verdade que a mediana de projeções para o PIB dos EUA em 2022 passa de 1,7% para 0,2%. No ano que vem, a economia deverá crescer 1,2%. Neste caso, o desemprego poderia subir para algo ao redor de 4,5% entre 2023 e 2024.
Note que o movimento é relevante e deveria promover revisões nos lucros corporativos, abrindo espaço para novas mínimas nos mercados americanos.
O tom mais agressivo de Powell ao admitir o risco de uma recessão marca o ciclo de aperto monetário dos países centrais, que deverá continuar enquanto nós, brasileiros, já nos damos o luxo (pelo menos por enquanto) de termos encerrado o ciclo de aperto.
Nos EUA, os juros deverão continuar a subir e serão mantidos por lá por algum tempo, até que a inflação se mostre mais controlada.
03:18 — Todo mundo está subindo juros…
Na Europa, onde os mercados caem nesta manhã, os investidores se debruçam sobre a reunião de política monetária do Banco da Inglaterra, que deverá subir a taxa de juros em pelo menos 50 pontos-base (uma dose maior de 75 pontos não é descartada).
É curioso que o BC inglês age de maneira contracionista enquanto o governo segue com uma tendência fiscal do governo mais expansionista, muito parecido com o modus operandi atual das democracias ocidentais (Brasil, EUA e cia. ltda.).
Os juros mais altos viraram moda e até o Banco Nacional Suíço aumentou as taxas de juros em 75 pontos-base, para 0,5% ao ano (até junho deste ano, quando elevou a taxa em 25 pontos, o banco central suíço manteve os juros estáveis em -0,75% desde 2015), tirando o país do território negativo (mais sobre isso na sequência).
É o fim da era dos juros negativos na Europa — a Suíça foi o último país europeu com uma taxa negativa, uma resposta ao índice de inflação ter atingido 3,5% no mês passado, sua taxa mais alta em três décadas.
04:12 — Até o Japão "meio" que cedeu…
Na Ásia, durante o pregão de quinta-feira, o Banco do Japão não fez nada e manteve sua política monetária inalterada.
Apesar de sabermos que o BC japonês adora ver o mundo pegar fogo e mesmo assim não fazer nada, chama a atenção a falta de resposta diante da desvalorização do iene, próximo de seu valor mais baixo em duas décadas.
Por outro lado, apesar de não movimentar os juros, a instituição parece ter realizado uma intervenção direta para defender a moeda (as chamadas “medidas decisivas” no mercado de câmbio), provocando uma valorização de mais de 2%.
Naturalmente, os japoneses serão os últimos a se movimentarem. A economia japonesa é um caso à parte e deve ser avaliada separadamente.
04:48 — O fim da era do juro negativo
Depois de anos de anormalidade na política monetária, em um período no qual várias autoridades adotaram movimentos de extrema flexibilização como padrão, finalmente parece termos chegado ao fim da era dos juros negativos.
A Dinamarca, a primeira a ficar abaixo de zero, em 2012, levou sua taxa de juros para território positivo na quinta-feira passada, depois que o Banco Central Europeu saiu das taxas negativas em julho.
Com a alta de hoje na Suíça, o Japão será o único grande banco central com juros negativos, mas os japoneses são um caso à parte (talvez o jogo mude por lá com a saída de Haruhiko Kuroda da presidência em abril).
Os desafios financeiros e econômicos da última década forçaram os banqueiros centrais a serem pioneiros na estratégia, depois de já terem reduzido as taxas para zero para enfrentar a crise da dívida europeia.
Conceitualmente, a ideia era penalizar os detentores de dinheiro e reacender a atividade econômica ao estimular os empréstimos. Parece que criamos uma grande anomalia nos mercados.
Resta saber se os juros negativos terão ido embora para sempre. Francamente? Entendo ser possível voltarmos para lá, mas pouco provável, principalmente em um curto espaço de tempo.
Os próximos anos serão de mais inflação e mais juros ao redor do mundo. É a nova realidade. A realidade da nova década.
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Mercados globais operam em queda, com ouro e petróleo em alta com aumento da aversão ao risco
Labubu x Vale (VALE3): quem sai de moda primeiro?
Se fosse para colocar o meu suado dinheirinho na fabricante do Labubu ou na mineradora, escolho aquela cujas ações, no longo prazo, acompanham o fundamento da empresa
Novo pacote, velhos vícios: arrecadar, arrecadar, arrecadar
O episódio do IOF não é a raiz do problema, mas apenas mais uma manifestação dos sintomas de uma doença crônica
Bradesco acerta na hora de virar o disco, governo insiste no aumento de impostos e o que mais embala o ritmo dos mercados hoje
Investidores avaliam as medidas econômicas publicadas pelo governo na noite de quarta e aguardam detalhes do acordo entre EUA e China
Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua
Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio
Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria
Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências
Pesou o clima: medidas que substituem alta do IOF serão apresentadas a Lula nesta terça (10); mercados repercutem IPCA e negociação EUA-China
Entre as propostas do governo figuram o fim da isenção de IR dos investimentos incentivados, a unificação das alíquotas de tributação de aplicações financeiras e a elevação do imposto sobre JCP
Felipe Miranda: Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve
O anúncio do pacote alternativo ao IOF é mais um reforço à máxima de que somos o país que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Insistimos num ajuste fiscal centrado na receita, sem anúncios de corte de gastos.
Celebrando a colheita do milho nas festas juninas e na SLC Agrícola, e o que esperar dos mercados hoje
No cenário global, investidores aguardam as negociações entre EUA e China; por aqui, estão de olho no pacote alternativo ao aumento do IOF
Azul (AZUL4) no vermelho: por que o negócio da aérea não deu samba?
A Azul executou seu plano com excelência. Alcançou 150 destinos no Brasil e opera sozinha em 80% das rotas. Conseguiu entrar em Congonhas. Chegou até a cair nas graças da Faria Lima por um tempo. Mesmo assim, não escapou da crise financeira.
A seleção com Ancelotti, e uma empresa em baixa para ficar de olho na bolsa; veja também o que esperar para os mercados hoje
Assim como a seleção brasileira, a Gerdau não passa pela sua melhor fase, mas sua ação pode trazer um bom retorno, destaca o colunista Ruy Hungria
A ação que disparou e deixa claro que mesmo empresas em mau momento podem ser ótimos investimentos
Às vezes o valuation fica tão barato que vale a pena comprar a ação mesmo que a empresa não esteja em seus melhores dias — mas é preciso critério
Apesar da Selic, Tenda celebra MCMV, e FII do mês é de tijolo. E mais: mercado aguarda juros na Europa e comentários do Fed nos EUA
Nas reportagens desta quinta, mostramos que, apesar dos juros nas alturas, construtoras disparam na bolsa, e tem fundo imobiliário de galpões como sugestão para junho
Rodolfo Amstalden: Aprofundando os casos de anomalia polimórfica
Na janela de cinco anos podemos dizer que existe uma proporcionalidade razoável entre o IFIX e o Ibovespa. Para todas as outras, o retorno ajustado ao risco oferecido pelo IFIX se mostra vantajoso
Vanessa Rangel e Frank Sinatra embalam a ação do mês; veja também o que embala os mercados hoje
Guerra comercial de Trump, dados dos EUA e expectativa em relação ao IOF no Brasil estão na mira dos investidores nesta quarta-feira
O Brasil precisa seguir as ‘recomendações médicas’: o diagnóstico da Moody’s e o que esperar dos mercados hoje
Tarifas de Trump seguem no radar internacional; no cenário local, mercado aguarda negociações de Haddad com líderes do Congresso sobre alternativas ao IOF
Crônica de uma ruína anunciada: a Moody’s apenas confirmou o que já era evidente
Três reformas estruturais se impõem como inevitáveis — e cada dia de atraso só agrava o diagnóstico
Tony Volpon: O “Taco Trade” salva o mercado
A percepção, de que a reação de Trump a qualquer mexida no mercado o leva a recuar, é uma das principais razões pelas quais estamos basicamente no zero a zero no S&P 500 neste ano, com uma pequena alta no Nasdaq
O copo meio… cheio: a visão da Bradesco Asset para a bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje
Com feriado na China e fala de Powell nos EUA, mercados reagem a tarifas de Trump (de novo!) e ofensiva russa contra Ucrânia
Você já ouviu falar em boreout? Quando o trabalho é pouco demais: o outro lado do burnout
O boreout pode ser traiçoeiro justamente por não parecer um problema “grave”, mas há uma armadilha emocional em estar confortável demais