O futuro bate à nossa porta: entenda a importância da regulamentação do mercado de carbono no Brasil
O avanço do mercado de carbono no Brasil ainda é pequeno em comparação ao que ocorre na Europa, mas é um passo fundamental para sua consolidação
Vivemos um momento paradigmático. Podemos estar no início de uma janela temporal recheada de novos movimentos que deverão moldar as próximas décadas. Um dos processos que acredito que mais será vitorioso se relaciona com a economia verde, buscando endereçar a descarbonização da economia até 2050 (2060 em certos casos).
Além dos esforços relacionados com energia limpa, inovações tecnológicas automobilísticas e práticas corporativas mais sustentáveis, um dos motes para endereçarmos a questão do efeito estufa será o mercado de carbono, que já tive, inclusive, a oportunidade de discutir brevemente no passado nesta coluna.
Você não sabe o que é um crédito de carbono?
Não se preocupe, eu te explico.
Trata-se de um certificado digital que comprova que uma empresa ou um projeto ambiental (projetos de conservação florestal, reflorestamento de áreas devastadas, energia limpa, biomassa, etc.) evitou a emissão (poluição) de 1 tonelada de CO2 (dióxido de carbono) ou CO2 equivalente (outros gases de efeito estufa, como metano, óxido nitroso e outros) em um determinado ano.
E como funciona o mercado de carbono?
Sabemos que a emissão de gases efeito estufa contribui para a chamada mudança climática (ou aquecimento global), sendo que conter a evolução deste fenômeno é um dos principais desafios da humanidade para os próximos 50 anos.
A concentração de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem diferentes origens, sendo o mais abundante o dióxido de carbono (CO2), presente em 78% das emissões humanas e responsável por 55% das emissões desses gases.
Leia Também
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Entre os mais conhecidos processos que mais contribuem para a emissão desses gases podemos elencar:
- i) geração de energia;
- ii) queima de combustíveis fósseis por transportes;
- iii) desmatamento;
- iv) criação de gado, responsável pela fermentação entérica; e
- v) processos industriais.
O crédito de carbono, por sua vez, funciona como uma ferramenta utilizada por empresas para compensar sua pegada de carbono, ou seu impacto negativo sobre o ambiente derivado da emissão dos gases de efeito estufa, uma vez que certifica que uma tonelada desses gases prejudiciais teve sua emissão evitada ou capturada por meio de algum projeto em algum lugar do mundo.
Por sinal, vale destacar que os processos de certificação são muito longos e costumam levar pelo menos de três a quatros anos.
Muitas leituras entendem o crédito de carbono como uma commodity do futuro ou até mesmo uma possível nova grande moeda global, dado que o crédito é um ativo digital, dolarizado, perene (não expira no mercado voluntário) e globalmente reconhecido, tornando-se, assim, uma espécie de reserva de valor.
Isso mesmo, podemos considerar o crédito de carbono como um investimento, o que tem criado espaço para ele em diversos portfólios ao redor do mundo.
Com o crédito em si explicado, chegamos ao meu ponto de interesse
O Brasil, com um potencial gigante nesse novo mercado de carbono, deu recentemente um grande passo no sentido de regulamentar a situação.
Claro, ainda é um pequeno avanço frente ao que países europeus, por exemplo, já avançaram.
Ainda assim, há espaço para otimismo!
- ESTÁ GOSTANDO DESTE CONTEÚDO? Tenha acesso a ideias de investimento para sair do lugar comum, multiplicar e proteger o patrimônio.
Antes, permita-me esclarecer uma diferença
Precisamos mencionar os dois tipos de mercado de crédito de carbono existentes.
O primeiro é o mercado regulado, em que as empresas são obrigadas a negociar entre si permissões de emissão (poluição), derivadas dos créditos.
Basicamente, os governos estabelecem metas para os setores e a empresa que estourar a meta tem que comprar créditos, enquanto a que ficar abaixo pode vendê-los.
No segundo caso, por outro lado, temos o mercado voluntário, em que as empresas não são obrigadas a comprar crédito de carbono para compensar os impactos negativos de suas atividades sobre o meio ambiente; isto é, não há obrigações legais para fazê-lo — os agentes o fazem por consciência, antecipação de um movimento regulatório, pressão de investidores e demanda de seus consumidores.
Até agora, no Brasil, só possuíamos o segundo caso. Mas algo mudou.
Aguardado desde 2009, finalmente foi apresentado ao mercado o decreto que “regulamenta” o mercado de carbono no Brasil, com foco na exportação de créditos, especialmente para países e empresas que precisam compensar emissões para cumprir com seus compromissos de neutralidade de carbono.
Sim, já possuíamos o mercado de carbono voluntário
A partir de agora, contamos também com o regulado (calma, ainda pode demorar um pouco para ele aparecer de fato, como comentarei a seguir), que estabelece nove setores como elegíveis para planos de redução de emissões de gases de efeito estufa.
Já se esperava algum avanço diante das várias iniciativas apresentadas ao longo de 2021 no sentido de descarbonizar a economia global.
Muitas são as iniciativas ao redor do mundo que chamam a atenção, desde pacotes robustos de infraestrutura nos EUA, bem como planejamento de estruturação social para os próximos anos, como o caso do plano quinquenal na China.
Propostas sustentáveis ganham espaço
Mais e mais propostas ligadas ao mercado sustentável vão surgindo no radar dos investidores, com eventos encabeçados por chefes de Estado estabelecendo metas e compromissos para os próximos anos, como a Cúpula do Clima, no início de 2021.
O último evento relevante foi a 26ª cúpula anual do clima da ONU (COP26), que sinalizou uma nova determinação entre os governos mundiais de abandonar os combustíveis fósseis.
Considerando o potencial brasileiro neste sentido, tendo em vista nossa matriz energética já predominantemente renovável e nossa capacidade de certificação de créditos de carbono, não poderíamos ficar para trás.
Por sinal, muitos já reconhecem o nosso potencial. Tem investidores que nos chamam de Arábia Saudita do crédito de carbono, com potencial de gerar mais de 1,5 bilhão de toneladas por ano.
Sim, somos uma potência ambiental global ainda inexplorada, estando muito abaixo das expectativas. Apenas uma conversão para a média já seria o suficiente para transformar a realidade de nosso país.
Ainda há muito a ser feito
Como disse Felipe Bittencourt, CEO e fundador da WayCarbon, "a bola está em campo, mas o jogo não começou."
Isso porque, em um primeiro momento, as metas de redução não serão impostas de largada, mas sim discutidas com os setores regulados, na forma de acordos: cada setor terá 180 dias, prorrogáveis por mais 180, para apresentar suas propostas.
Endereçamos no decreto como os créditos seriam transacionados e a criação de uma central de registro único que serviria tanto para abrigar os inventários de emissões quanto para o comércio e transferência de créditos de carbono, mas não ficou claro como funcionarão tais dispositivos.
Aliás, como as metas não foram definidas neste momento, podemos dizer que o decreto não criou ainda o mercado regulado, mas, sim, apenas delineou alguns contornos para onde estamos indo.
Para quem estava esperando desde 2009, um pequeno avanço já é um alívio, de fato, mas está longe de ser o ideal. Se tudo der certo conforme o cronograma, apenas em 2025 deveremos ter os primeiros sinais de um mercado de crédito regulado funcionando. De todo modo, ao menos temos alguma sinalização positiva neste sentido.
Para os investidores, o jogo começa a ficar cada vez mais interessante, uma vez que podemos considerar os créditos de carbono como um ativo alternativo e capaz de compor carteiras de investimentos.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje