🔴TRÊS ROBÔS CRIADOS A PARTIR DE IA “TRABALHANDO” EM BUSCA DE GANHOS DIÁRIOS – ENTENDA AQUI

Cenário (aparentemente) binário: o governo Lula e o fim do Brasil

Na retórica, a responsabilidade fiscal foi condenada e o mercado financeiro virou o malvado favorito da vez, como se não fosse apenas um mecanismo de alocação de recursos que obedece às sinalizações do sistema de preços

21 de novembro de 2022
18:13
teto de gastos se quebrando | Ibovespa
Imagem: Andrei Morais/ Shutterstock

"Eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! (…) Este mundo é muito misturado …”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“Preto é preto? Branco é branco? Ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade”.

Quando falta conteúdo, muita gente cita o Buffett. Tenho uma regra interna, que não conto pra ninguém: se, em uma conversa, o interlocutor cita uma frase do velhinho, sempre tentando impressionar com um argumento de autoridade pseudossofisticado, desligo meu aparelho do centro auditivo Telex. Apelou, perdeu.

Entre nós dois aqui, posso confessar que sempre preferi as ideias de Soros àquelas de Buffett. A dialética e a endogeneidade da teoria da reflexividade me parecem mais capazes de descrever o funcionamento das coisas do que o maniqueísmo da dicotomia entre preço e valor intrínseco.

É como se esse último, que eu nunca encontrei na rua, vivesse isolado do mundo, com suas próprias (intrínsecas) características, sem influência externa, passível de ser tocado e medido com precisão.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Kant resolveu essa questão há tempos. A realidade só existe a partir do nosso próprio filtro. Então, o tal valor intrínseco teria efeitos do olhar do observador, passando, assim, a ser extrínseco.

Leia Também

Dicotomia infantil

Se a linguagem nos impõe limites intransponíveis, melhor apelar para a arte, que costuma apontar boas respostas, ainda que ela não saiba. Volto ao clássico (e citado aqui repetidas vezes) de Guimarães Rosa, com sua capacidade atemporal de descrever problemas ontológicos.

Perdão, desculpe a digressão intrometida, mas permita-me perguntar: qual foi o momento exato em que você passou a amar sua esposa (ou seu marido)? Quando você percebeu ser apto a realizar a tarefa hoje desempenhada com grande facilidade?

O mocinho contra bandido, o médico e o monstro, o genocida contra o comunista, os apartamentos comprados com dinheiro vivo contra as mazelas do petrolão, a rachadinha e o mensalão, o neoliberalismo contra o desenvolvimentismo, o Lula 1 contra o Dilma 3 (Deus tenha piedade de nós!), a política social contra a fiscal.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Vivemos uma dicotomia infantil na análise brasileira, numa guerra retórica de bem contra o mal. Nas minhas ideias platônicas, concordo que ninguém é voluntariamente mau. Ah, e como gosta de repetir o Pondé, se você se acha do bem, meu amigo, tenho até medo do tanto de maldade que carrega dentro de si sem perceber.

Convivem dentro da gente, dos políticos (que, sim, são pessoas também) e dos países (formados por pessoas, que criam suas instituições formais e informais) ambivalências e multiplicidades variadas, resultando em equilíbrios, muitas vezes, fora dos dois extremos.

A pergunta de 1 bilhão de dólares

Neste momento, a pergunta de um bilhão de dólares parece ser: Lula terá responsabilidade fiscal?

Voltamos ao problema da linguagem e do observador. Não vejo resposta precisa possível neste momento. Talvez, no entanto, as últimas sinalizações e a observação da História brasileira possam permitir arriscar um palpite.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

As indicações das últimas duas semanas foram as piores possíveis. Discutimos o orçamento de 2023 sem a definição da equipe à frente da Economia. Foi enviada uma PEC, que batizei de “PEC da Boa Sorte” (prescinde de explicação), com gastos muito além do razoável (estamos falando de 2% do PIB a mais de gasto, sem anúncio de contrapartidas de receita tributária ou redução de despesa) e por prazo indefinido.

Na retórica, a responsabilidade fiscal foi condenada e o mercado financeiro virou o malvado favorito da vez, vilão nacional, como se não fosse apenas um mecanismo de alocação de recursos que obedece às sinalizações do sistema de preços. Só há dois botões: você compra se vai subir; você vende se vai cair.

Lula e o fim do Brasil

Como qualquer outro analista, vi as notícias com preocupação. Aumentou a probabilidade de caminharmos para um novo equilíbrio macro de pior qualidade, com maior presença do Estado na Economia (e queda da já combalida produtividade dos fatores), mais inflação e mais juros.

Também hei de reconhecer que todos nós, ainda que de maneira não deliberada, estamos sujeitos aos próprios vieses. É sempre muito difícil, mesmo que não se admita, traçar a linha exata de onde começa a análise, onde termina a torcida. Os analistas também são humanos, muitos, inclusive, da pior qualidade.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ressalvas feitas e ponderações à parte, o cenário “O Fim do Brasil” ainda não me parece o mais provável, vendo boas chances de as sinalizações das últimas semanas comporem retórica negocial do que propriamente uma caminhada pragmática naquela direção.

Gostemos ou não de Lula, falamos de uma das maiores lideranças políticas da história brasileira, talvez a maior, com capacidade ímpar de leitura das situações políticas e articulação. O próximo Congresso é diferente do atual, mais à direita, conservador e bolsonarista, tendo boa parte já com cabeça em 2026. Seu espaço de negociação tende a ser menor em 2023 do que neste momento.

Por isso parece fazer sentido pedir tudo que for possível (e até o impossível!), sem prazo definido, para não ter de voltar ao balcão de negócios à frente, quando as coisas ficam mais difíceis pra ele. Lula tenta mais graus de liberdade agora, pois sabe que não os terá depois na mesma magnitude.

Do outro lado, o Congresso

Do outro lado, há o Parlamento. Por que assinar um cheque em branco agora, se haveria, no limite, o risco até de o novo Congresso revisitar a PEC da transição em 2023? Boa parte do Parlamento será renovado. Por que muitos sairiam assinando um orçamento sem saber os rumos do país? Vamos dar uma licença para gastar por quatro anos, sem nem saber quem será o ministro da Fazenda e o novo regime fiscal? Não seria mais racional manter para si o poder de barganha e aprovar um prazo menor, voltando a negociar em 2023?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Como sabe o Capitão Nascimento, o sistema é f…. E ele reage. O senador Alessandro Vieira já trabalha numa PEC alternativa, envolvendo “apenas" R$ 70 bilhões de gastos fora do teto, para 2023.

Boa parte dos deputados do chamado “Centrão" se reúne com o mundo empresarial e o sistema financeiro — não nos iludamos: ainda estamos no Brasil e parte desse pessoal é funcionário, devidamente remunerado, por grandes grupos empresariais. Lobby não formalizado, mas institucionalizado — da série, jaboticabas. Entre outras coisas, isso ajuda a explicar porque é tão difícil explodir o país.

A própria PEC original não é binária. Há espaço para sua desidratação. Davi Alcolumbre foi explícito ao dizer que o texto final será muito diferente do inicial.

Os sinais do último final de semana também são mais palatáveis. Guilherme Mello, o representante da Unicamp (e isso diz muita coisa!) na equipe de transição, deu entrevista à Folha quase como um fiscalista. O presidente Lula disse ter recebido construtivamente a carta de Armínio, Bacha e Malan. "Conselho bom a gente escuta” (tomara!).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A imprensa fala da possibilidade de anúncio iminente do novo ministro da Fazenda e do novo regime fiscal — um olhar atento talvez aponte boa probabilidade de Felipe Salto estar na secretaria do Tesouro; é um excelente quadro, que já fala quase como um governista.

Ademais, há de se notar o nível da reação ao discurso populista, que antagoniza política fiscal e social. Eu me pergunto se Perón seria o mesmo na era das redes sociais, dos grupos de Zap e da maior disseminação da informação. A imprensa tradicional, com sólidos e críticos editoriais de Folha e Globo, alvos típicos do bolsonarismo, se revolta contra a irresponsabilidade (não custa lembrar: “Globo golpista” foi expressão cunhada pelo petismo).

Lula 1, Dilma 3

Por fim, em democracias consolidadas, com mecanismos de pesos e contrapesos, imagina-se que alguma racionalidade prevaleça ao final, ainda que não muita e mesmo depois de tentarmos vários outros caminhos. Se insistir na aventura heterodoxa de experimentações com a macroeconomia, Lula corre o risco de inviabilizar seu governo logo na entrada.

Se a Selic for mesmo a 15%, conforme já se especula, mataremos famílias mais pobres, endividadas nos vários cartões de crédito, novidade da era dos bancos digitais e fintechs (dá-lhe seleção adversa; qualquer contra-argumento pode ser invalidado pela observação dos resultados do segundo trimestre, simplesmente horrorosos para a situação creditícia).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A resposta seria a necessidade de mais auxílio emergencial. Entramos na espiral de mais dívida, mais dólar, mais juro. A dominância fiscal captura a agenda. Chegamos ao Dilma 3 e, sendo assim, seguindo à risca o processo, ao governo Alckmin. Como político experiente, ainda que possa questionar os manuais ortodoxos de Economia, Lula sabe dessa lição.

Aqui, porém, não há espaço para falsas esperanças ou expectativas ingênuas. Entre o Lula 1 e o Dilma 3, talvez fiquemos como algo no meio do caminho, típico da mediocridade brasileira de sempre e do caráter macunaímico de que Lula é grande representante.

Enquanto isso, como resumiu Samuel Pessoa, voltamos ao Brasil velho de guerra, paraíso do CDI. As taxas de juro oferecem oportunidades formidáveis na renda fixa. Aproveite enquanto é tempo. Nossa Black Week já está no ar.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor

13 de agosto de 2025 - 20:00

Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço

13 de agosto de 2025 - 8:52

Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo

12 de agosto de 2025 - 8:13

Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?

12 de agosto de 2025 - 6:18

Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente

11 de agosto de 2025 - 19:58

Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar

11 de agosto de 2025 - 8:08

Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim

VISÃO 360

O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?

10 de agosto de 2025 - 8:00

Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias. 

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque

8 de agosto de 2025 - 8:22

Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin

SEXTOU COM O RUY

Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito

8 de agosto de 2025 - 7:01

Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras

7 de agosto de 2025 - 8:21

Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?

6 de agosto de 2025 - 19:59

A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília

6 de agosto de 2025 - 8:22

Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump

5 de agosto de 2025 - 8:31

Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump

5 de agosto de 2025 - 6:27

Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno

4 de agosto de 2025 - 20:00

O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão

4 de agosto de 2025 - 8:28

Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil

TRILHAS DE CARREIRA

Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece

3 de agosto de 2025 - 8:30

Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale

1 de agosto de 2025 - 8:34

Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem

SEXTOU COM O RUY

A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata

1 de agosto de 2025 - 6:08

Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale

31 de julho de 2025 - 8:13

Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar