Gestores brasileiros e dos EUA têm diferentes opiniões sobre a inflação; como escolher a melhor leitura para lucrar?
Entre brasileiros e americanos, nossos multimercados largaram na frente. O tempo dirá qual foi a conduta correta a ser tomada

Em 2014, quando estudava em Cambridge, Massachusetts, decidi tirar a carteira de habilitação americana. Pesquisei na internet o processo, avaliei se os custos caberiam no meu orçamento de bolsista, liguei para um amigo e marcamos juntos a prova teórica já naquela mesma semana.
O processo era muito simples e sem burocracia. O material de estudo para a prova teórica estava todo no site do departamento de trânsito do estado.
Como o calendário de entrega de resultados do estágio estava apertado, viramos duas noites estudando e resolvemos a primeira etapa do processo nesses dois dias.
A prova prática
O próximo passo era a prova prática. Também não era necessário fazer aulas de autoescola.
Precisávamos apenas de um carro com um “motorista responsável” — alguém que tivesse pelo menos 21 anos de idade e dois anos de habilitação no estado de Massachusetts.
Na hora da prova, apenas duas novidades em relação à prova brasileira.
Leia Também
A primeira: antes de colocar o carro em movimento, é preciso colocar o braço esquerdo para fora do carro e fazer os sinais de virar à esquerda, direita e devagar, que devem ser usados caso as luzes do veículo não funcionem.
As diferentes interpretações
A segunda, e provavelmente a que mais reprova os brasileiros, é a placa de “Pare”. Isso mesmo. A placa de “Pare” é visualmente idêntica à brasileira. Mesmo formato, cores e dizeres.
Contudo, o comportamento de um motorista americano ao ver essa placa em um cruzamento é: parar completamente o veículo, esperar três segundos, avançar cuidadosamente até ter visibilidade completa do cruzamento e então prosseguir.
Naturalmente não são todos os motoristas que seguem esses passos à risca quando não estão sendo avaliados ou monitorados de perto, mas não há dúvida de que há uma diferença estrutural de entendimento, interpretação e comportamento entre brasileiros e americanos perante o mesmo sinal.
A inflação americana
De forma análoga, estamos vendo hoje uma grande divergência entre os gestores de fundos brasileiros e americanos (principalmente de ações) sobre um dos sinais mais relevantes para o mercado: inflação americana.
O mesmo indicador, leituras diametralmente diferentes.
Por lá, há um entendimento de que grande parte da inflação é transitória devido aos gargalos produtivos, muito por causa da política de Covid zero da China e pela escalada dos preços do petróleo e do gás natural devido ao conflito no Leste Europeu. Portanto, o tempo conta a favor da normalização.
Sendo assim, é prudente “contar até três” antes de prosseguir com uma política monetária mais restritiva.
Pé no acelerador dos juros
Já aqui, a maioria dos gestores vê uma inflação americana muito mais arraigada e que o forte componente de demanda, devido principalmente aos estímulos fiscais sem precedentes, é preponderante à escassez de oferta, o que, definitivamente, não condiz com o nível de aperto das condições financeiras atuais.
Neste caso, o banco central já está atrasado.
É preciso avançar mais rapidamente.
Os brasileiros e a inflação
Talvez uma boa explicação para essa divergência de visões seja o fato de que grande parte dos gestores americanos não experimentou ou nem lembra mais como é viver em um mundo inflacionário. O mesmo ocorre com os investidores em geral por lá.
Por outro lado, nós brasileiros temos um histórico inflacionário muito forte e um passado ainda muito recente de perda de poder de compra acelerado.
Fomos criados neste ambiente em que ficar parado é muito perigoso e, no final do dia, esperar custa muito caro. É comum encontrar alocação em commodities (direta ou indireta) e em títulos indexados à inflação nos nossos portfólios.
Pode-se dizer que, quem já viveu na pele o problema, leva ligeira vantagem na hora de tomar as decisões. Está aí um benefício de ser emergentes.
Os multimercados e a inflação
Estamos em um “cruzamento” com diversos sinais de alerta. Entre brasileiros e americanos, nossos multimercados largaram na frente. O tempo dirá qual foi a conduta correta a ser tomada.
Até lá, nós da equipe dos Melhores Fundos seguimos a tradição brasileira. Mantemos estruturalmente posições em uma cesta de commodities, nos títulos indexados à inflação e, claro, nos melhores multimercados da indústria.
Essa é a nossa leitura dos sinais.
Um abraço,
Laís
Leia também:
- Com queda de 20% desde o IPO, Eletromidia (ELMD3) anuncia recompra de ações após balanço do 1T22
- Inflação no Japão — sim, você leu certo — acelera ao maior ritmo em quase 30 anos e coloca o banco central em alerta
- A terra da garoa e dos negócios: Cencosud compra Giga Atacadista; saiba mais sobre o negócio de R$ 500 milhões
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos
Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento
Se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso da Ambipar
As críticas a uma Petrobras ‘do poço ao posto’ e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (2)
No Brasil, investidores repercutem a aprovação do projeto de isenção do IR e o IPC-Fipe de setembro; no exterior, shutdown nos EUA e dados do emprego na zona do euro
Rodolfo Amstalden: Bolhas de pus, bolhas de sabão e outras hipóteses
Ainda que uma bolha de preços no setor de inteligência artificial pareça improvável, uma bolha de lucros continua sendo possível