Pensando em investir na indústria de games? Veja ‘Efeito Borboleta’ antes de tomar uma decisão
O bater das asas da Apple afetou diretamente o Facebook – e também repercutiu em outros setores de tecnologia, entre eles, o de games mobile

Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia.
Na semana passada, escrevi bastante sobre o momento atual do Meta Platforms (o bom e velho Facebook).
Falei sobre a queda das ações, o contexto atual e se acredito ou não se tratar de uma oportunidade de investimentos.
Volto ao tema hoje, mas pela tangente: vamos numa pegada "Efeito Borboleta".
O filme, que fala sobre como uma ação qualquer possui efeitos de segunda, terceira e muitas ordens geralmente imprevisíveis, se aplica muito bem a este caso.
O bater das asas da Apple afetou diretamente o Facebook, mas gerou uma série de efeitos borboleta em vários outros setores de tecnologia, entre eles, o de games mobile.
Leia Também
A seguir, vou explicar o que mudou no setor, e como você pode investir nessas mudanças.
Os games antes da borboleta
Acho bastante elucidativa a história do estúdio de games mobile Zynga (Nasdaq: ZNGA), responsável por jogos bastante famosos como FarmVille 3, Harry Potter Puzzles & Spells, Game of Thrones Slots Casino e outros.
Se você voltar no tempo comigo, vai se lembrar que houve uma época em que FarmVille e Facebook eram praticamente sinônimos.
Talvez a Zynga seja o maior subproduto que o negócio de publicidade do Facebook foi capaz de produzir.
A fórmula de um IPO bilionário
Em resumo, sua história seguiu por anos uma lógica simples: desenvolver um jogo -> investir milhões de dólares em campanhas de Facebook mirando a conversão de downloads -> monetização dos usuários (cosméticos, upgrades, vidas e outros itens "in game") -> declínio lento do jogo.
Num determinado momento, a Zynga possuía um cockpit de operações similar aquelas salas de controle de lançamentos de foguete.
Ao invés de gráficos sobre condições meteorológicas, performance de infinitos sensores e afins, esse cockpit acompanhava suas infinitas campanhas, peças e estratégias sendo implementadas no Facebook.
O retorno em dólares era a métrica primária, secundária e terciária da companhia e cada funcionário sabia exatamente quantos dólares o seu trabalho trouxe.
De imediato, o que ficava claro era que a Zynga não estava no negócio de desenvolver jogos incríveis, e sim num business de arbitragem: gastar o máximo possível no Facebook para adquirir usuários, testando inúmeras formas de manter a monetização maior que o custo de captação.
Essa fórmula rendeu à Zynga um IPO bilionário.
Em 2011, ela captou US$ 1 bilhão no seu IPO, a maior oferta pública de uma empresa de tecnologia desde o Google.
Após a estreia, rapidamente as suas ações subiram de US$ 10 para US$ 15 dólares.
O que se seguiu, foi uma história digna de "estudo de caso" nas escolas de MBA.
O bater das asas
Pioneiros da internet lembram com nostalgia de como era barato fazer marketing digital nos idos de 2010.
Num tuíte recente, Tobias Lutke, fundador do Shopify, brincou com a ideia dizendo que se você comprar uma "keyword" digitada aleatoriamente no Google hoje, além de ser algumas vezes mais caro que naqueles tempos, você ainda terá pelo menos 3 competidores diferentes.
Após o IPO, a Zynga viu o seu custo por lead aumentar vertiginosamente.
Nos trimestres seguintes, a velocidade de crescimento das despesas operacionais superou em muito a velocidade de crescimento da receita.
De repente, a fórmula deixou de funcionar: a Zynga havia alcançado um platô. Dali em diante, crescer organicamente era muito caro, e gerava retornos decrescentes.
Entre 2012 e 2020, as receitas da Zynga permaneceram estáveis, oscilando num intervalo entre US$ 700 e US$ 900 milhões anuais.
O crescimento viria apenas através de aquisições, impondo uma elevadíssima diluição aos seus acionistas.
A quantidade de ações da companhia praticamente dobrou desde o IPO: na prática, seus acionistas se apropriaram cada vez menos de um resultado operacional que pouco crescia.
Apenas cerca de 10 anos depois, em agosto de 2020, as ações voltaram a negociar nos patamares do IPO.
O efeito borboleta
E então, veio a Apple.
Ao mudar a sua política de privacidade e impactar a capacidade do Facebook de otimizar seus algoritmos, foram impactados indiretamente todos os anunciantes que dependiam do Facebook para captação de novos usuários.
Entre esses anunciantes, um dos maiores nichos é o segmento de games mobile, sendo a Zynga um dos seus grandes representantes.
Se você voltar no gráfico de cotações acima, verá que a ação, em 2021, teve uma queda relevante, saindo cerca de US$ 10 para aproximadamente US$ 6.
À beira do abismo
Sem poder compartilhar dados dos usuários com anunciantes, o custo por lead no Facebook cresceu substancialmente, e muitos games mobile que não tinham uma monetização tão elevada perderam por completo a sua viabilidade econômica.
De repente, apenas publishers (empresas que administram o ciclo de comercialização de games) com acesso à dados proprietários conseguiam realizar boas campanhas de conversão e utilizando sobretudo canais alternativos, como outras "ad networks".
Na minha opinião, a Zynga estava à beira do abismo, pronta para mergulhar.
Proposta de aquisição
Até que a companhia recebeu uma proposta de aquisição da Take Two, a publisher dona das estúdios Rockstar Games (do GTA) e 2K.
Hoje, não faz sentido investir num estúdio de games mobile "puro".
Empresas como essa tornaram-se reféns de uma equação em que o sucesso é um dos resultados menos prováveis, forçando uma consolidação.
A Zynga foi adquirida pela Take Two, e outros estúdios estão sendo adquiridos por gigantes que possuem acesso à dados e, portanto, conseguem construir mecanismos para escalar novos games.
Na batalha pela sobrevivência na indústria dos games, a Apple impôs que, daqui em diante, apenas os maiores e mais fortes conseguirão crescer, e o farão engolindo os menores, como no caso entre Take Two e Zynga.
Se você quiser investir na indústria, minha opinião é a seguinte: associe-se aos grandes players. Nos próximos anos, eles se tornarão ainda maiores.
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.
A temporada de balanços já começa quente: confira o calendário completo e tudo que mexe com os mercados hoje
Liberamos o cronograma completo dos balanços do terceiro trimestre, que começam a ser divulgados nesta semana
CNH sem autoescola, CDBs do Banco Master e loteria +Milionária: confira as mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matérias sobre o fechamento de capital da Gol e a opinião do ex-BC Arminio Fraga sobre os investimentos isentos de IR também integram a lista das mais lidas
Como nasceu a ideia de R$ 60 milhões que mudou a história do Seu Dinheiro — e quais as próximas apostas
Em 2016, quando o Seu Dinheiro ainda nem existia, vi um gráfico em uma palestra que mudou minha carreira e a história do SD
A Eletrobras se livrou de uma… os benefícios da venda da Eletronuclear, os temores de crise de crédito nos EUA e mais
O colunista Ruy Hungria está otimista com Eletrobras; mercados internacionais operam no vermelho após fraudes reveladas por bancos regionais dos EUA. Veja o que mexe com seu bolso hoje
Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)
Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA