Empresas de dono ou com capital pulverizado: qual a melhor opção para investir na bolsa?
Capital pulverizado e gestão profissional são considerados boas práticas de governança, mas para o acionista, ações de companhias com controle definido podem trazer retornos formidáveis
"Investir em ações é para o longo prazo." Você já deve ter ouvido essa frase umas cinquenta mil vezes, pelo menos. Basta ler alguns livros sobre os melhores investidores de todos os tempos para que esse "mantra" fique ecoando para sempre na sua cabeça.
O problema é que, depois de analisar e entender as perspectivas do setor e de chegar à conclusão de que aquele será um investimento para o longo prazo, você acaba comprando ações de uma companhia cujo CEO está pensando apenas no bônus do próximo ano, bem diferente de você.
Mas como esse desalinhamento pode te prejudicar?
Um bônus pela irresponsabilidade
Isso já aconteceu muitas e muitas vezes no mercado financeiro, especialmente nos anos de bull market: CEOs cujos bônus são definidos pelo preço das ações no final do ano fazem de tudo para tentar inflar o preço delas antes de a data de corte chegar.
Por exemplo, eles podem tomar uma dívida gigantesca para adquirir a maior concorrente e prometer sinergias impossíveis de serem capturadas.
Isso fará a ação disparar no curto prazo, e provavelmente renderá um belo bônus para o próprio CEO no fim do ano.
E quando ele tiver deixado o comando da companhia alegando "motivos pessoais", já curtindo um ano sabático no Caribe, as ações estarão desmoronando como um castelo de cartas. Ou seja, quem mais deveria ser punido acabou se tornando o maior beneficiário da manobra irresponsável.
Leia Também
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
- ESTÁ GOSTANDO DESTE CONTEÚDO? Tenha acesso a ideias de investimento para sair do lugar comum, multiplicar e proteger o patrimônio.
Desalinhamento de interesses
Apesar de parecer um caso exagerado, ele já aconteceu inúmeras vezes. Mas problemas ocasionados pelo desalinhamento de interesses acontecem até mesmo sem haver má-fé por parte do gestor.
Por exemplo, muitas vezes o tal CEO até tem boas intenções, mas não tem parte relevante do seu patrimônio investido na empresa. Isso normalmente faz com que as decisões sejam menos responsáveis do que deveriam, já que se tudo der errado ele "somente" perderá o emprego.
Será que se esse CEO, na verdade, fosse o fundador da empresa e tivesse quase todo o seu patrimônio investido nela, as decisões seriam diferentes? Será que o impacto dessas decisões seriam melhores ou piores para os preços das ações?
Para tentar responder essa pergunta, a Bain & Company fez uma pesquisa bastante interessante.
Fundadores são a alma do negócio
O gráfico abaixo mostra o retorno de empresas do S&P 500 lideradas pelo fundador, pela família fundadora ou que contavam com membros fundadores no Conselho de Administração (linha azul) comparado com os retornos das outras empresas que não se encaixavam nessa categoria (linha cinza). O retorno das "founder-led companies" foi 3,1 vezes superior no período destacado.

Por que isso acontece? O que melhora quando os fundadores estão presentes no dia a dia? Entre os motivos, alguns se destacam.
A obsessão pela empresa e seus clientes, o fato de praticamente todo o patrimônio estar investido no negócio, a mentalidade de dono, a alocação de capital mais responsável (fundadores prezam mais pelo caixa e menos por aquisições mirabolantes), a necessidade de receber dividendos e a inspiração para os funcionários se refletem em resultados melhores. Além disso, nunca é demais lembrar que, para um CEO contratado, o cargo normalmente é apenas mais um trabalho, enquanto para um fundador trata-se da vida dele.
O Brasil não é para amadores
Muito bonitos os resultados do estudo lá fora, mas aqui no Brasil as coisas costumavam ser bem diferentes num passado não muito distante.
Para começar, tornou-se frequente que herdeiros sem muita capacidade e disciplina assumissem as empresas de família. Em outros casos, a falta de regras de governança permitiu que famílias fundadoras/controladoras fizessem muita sacanagem com acionistas minoritários em décadas passadas – o empréstimo da Gerdau ao haras da família controladora é um bom exemplo, mas não é o único.
Felizmente, as coisas têm melhorado por aqui. Várias dessas companhias até embarcaram em um modelo mais evoluído, com uma gestão (CEO) profissionalizada acompanhada de perto pelos membros da família fundadora no Conselho. A capacidade técnica de um combinada com o melhor interesse no longo prazo do outro.
A própria Gerdau embarcou nesse modelo, depois de passar por uma crise financeira há alguns anos, e hoje colhe excelentes frutos dessa mudança, como a venda de ativos ruins, boa rentabilidade, baixo endividamento e ótimos dividendos – a GGBR4 está no Vacas Leiteiras, inclusive.
Não existe regra, mas normalmente ajuda
Como vimos, o fato de a família fundadora/controladora estar próxima nem sempre ajudou os acionistas minoritários.
Além disso, o fato de não ter um controlador não impediu empresas como a Lojas Renner de apresentar valorizações gigantescas na década passada.
No entanto, é importante lembrar que isso só aconteceu porque a Renner tinha um bom modelo de negócios e estava sob o comando de um CEO (José Galló) que era tão obsessivo pela empresa e pelos clientes quanto qualquer fundador seria.
Cada caso é um caso, e para colocar as probabilidades a seu favor você vai precisar se certificar que o negócio é bom e que o CEO é competente. Se tiver uma família controladora observando tudo de perto e defendendo os interesses de longo prazo e os dividendos dos acionistas minoritários, melhor ainda.
Duas outras empresas que se encaixam nesse estilo de gestão – família controladora no Conselho e CEO profissional – são a Intelbras (que também está no Vacas) e a Irani. Esta última fabrica e vende embalagens, um modelo de negócios pouco cíclico e que tem permitido a ela atravessar a tempestade da bolsa nos últimos dias sem grande volatilidade.
Por se tratar de uma microcap com ótimo potencial, ela inclusive faz parte do Microcap Alert. Se quiser conferir todos os outros ativos da série, deixo aqui o convite.
Um grande abraço e até a semana que vem!
Ruy
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso