Quem quer ser o Nubank? Mercado de IPO nos EUA está fechado, mas a janela da NYSE deve reabrir para empresas brasileiras no 2º trimestre
Alex Ibrahim, da NYSE, fala sobre os IPOs em 2022 e as empresas brasileiras que podem seguir os passos do Nubank

A Bolsa de Nova York (NYSE) teve um 2021 de dar inveja: com a injeção de recursos na economia por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e os juros estruturalmente baixos, as ações americanas tiveram um desempenho pujante e os IPOs foram recorde. Mais de 250 companhias estrearam na NYSE apenas no ano passado, entre elas, o Nubank (NUBR33) — uma história bem-sucedida e que chamou a atenção de muitas empresas brasileiras.
Afinal, ao abrir seu capital, o roxinho conseguiu um valor de mercado de US$ 41,5 bilhões, indo direto ao topo da lista das instituições financeiras mais valiosas da América Latina. É verdade que, nas semanas seguintes, as oscilações dos papéis tiraram o Nubank desse posto; ainda assim, o caso foi emblemático dentro do meio corporativo nacional.
O mercado americano seria mais atrativo que o brasileiro? Um IPO nos Estados Unidos, com a exposição maior aos investidores internacionais — sejam eles pessoas físicas, fundos institucionais, holdings ou grandes gestoras — é mais interessante que a abertura de capital na boa e velha B3?
A resposta é complexa e depende muito do plano de negócio de cada empresa. Mas, no que depender da NYSE, as portas estão abertas para companhias do mundo todo: a Bolsa de Nova York está investindo pesado na internacionalização de sua base. Dito isso, há um porém.
Quem pretende vir a público na NYSE precisará ter um pouco de paciência, já que as condições favoráveis vistas em 2021 desapareceram neste início de ano. Com a iminência de uma alta de juros pelo Fed, a retirada mais forte de estímulos da economia americana e as incertezas geopolíticas da guerra entre Rússia e Ucrânia, a janela de IPOs está fechada no curtíssimo prazo.
"Não vai acontecer nada no primeiro trimestre, ele vai ser muito fraco para os mercados de capitais no mundo, incluindo aqui", disse Alex Ibrahim, head de mercados internacionais da NYSE, em conversa com o Seu Dinheiro. Já em dezembro do ano passado, segundo ele, muitas empresas começaram a adiar os planos de IPO para o começo de 2022, empurrando o cronograma de aberturas de capital para frente.
Leia Também
Ibrahim é brasileiro, mas fez carreira no exterior — trabalha na NYSE desde o ano 2000, onde ocupou diversos cargos até chegar à posição atual. E, na condição de executivo que acompanha de perto o processo de IPOs na Bolsa de Nova York, sobretudo os de empresas internacionais, ele pondera que a janela poderá ser reaberta já a partir de abril.
Tudo depende, é claro, da evolução dos mercados financeiros daqui para frente. Empresas que já estão com o processo de IPO em andamento seguem dialogando com bancos e corretoras, tentando mapear o momento ideal para colocar uma oferta de ações na rua; é uma questão de aguardar pela redução da cautela e da volatilidade.
"O cronograma já começa a ser montado para o segundo trimestre em diante", diz. "Quem já está engajado, está esperando a janela reabrir; nós já vemos empresas se posicionando para lançar os IPOs no segundo e no terceiro trimestre".

NYSE: mudança de perfil
A análise do perfil das companhias que procuram a NYSE para abrir o capital revela algumas tendências do mercado. Em primeiro lugar, há a explosão do setor de tecnologia entre os IPOs, com uma ampla dominância de fintechs, empresas de e-commerce, análise de dados e outras semelhantes — as outras duas brasileiras que fizeram IPO na Bolsa de Nova York em 2021, a VTEX e a CI&T, atuam nessa área.
Ibrahim ressalta, inclusive, que a NYSE tem batido de frente com a Nasdaq, a bolsa que tradicionalmente é associada ao segmento tech: dos cinco maiores IPOs do setor, quatro ocorreram na tradicional bolsa de NY. Mas, passado esse momento de euforia com o setor, há uma ligeira mudança de perfil em andamento.
Com a perspectiva de aumento de juros nos EUA, o valuation das empresas de tecnologia tem sido drasticamente afetado — juros altos impactam diretamente as companhias cujo fluxo de caixa está mais concentrado no futuro, e não no presente. Como resultado, as ações desse segmento têm tido perdas relevantes nos últimos meses.
E, de certa maneira, esse cenário tem inibido os planos de abertura de capital de empresas de tecnologia, abrindo espaço para outros segmentos da economia que não eram tão ativos no front de IPOs.
Nesse cronograma [para 2022] que está começando a ser montado, você pode ver outros setores. Consumo, energia, mineração — a gente vê um pouco de diversificação do tipo de empresas.
Alex Ibrahim, head de mercados internacionais da NYSE
No que diz respeito à diversificação geográfica, Ibrahim ressalta que há interesse de empresas de diversos países numa eventual abertura de capital na NYSE. Além do Brasil, ele destaca companhias de Israel, Cingapura, Tailândia, Reino Unido, Canadá, México e Colômbia como postulantes.
Por fim, o executivo ainda lembra do ganho de popularidade das chamadas SPAC, as empresas de aquisição de propósito específico. São uma espécie de "casca": fazem o IPO e levantam dinheiro com o único objetivo de comprar outras empresas, representando uma rota alternativa para a abertura de capital.
Nesse front, há um caso bastante relevante envolvendo o Brasil: a Eve, subsidiária da Embraer (EMBR3) que produz eVTOLs — os "carros elétricos voadores" apontados como solução para a mobilidade urbana no mundo — foi comprada pela Zanite, uma SPAC negociada na Nasdaq.
Com a operação, a Eve chegará às bolsas mesmo sem fazer um IPO propriamente dito; aliás, chama a atenção o fato de que apesar de a Zanite ser negociada na Nasdaq, a holding que controlará a Eve será listada na NYSE. "Esse mercado de SPAC tem sido bem ativo, é uma forma nova de as empresas acessarem o mercado financeiro", diz Ibrahim.

IPOs: janela pronta para abrir
A aposta de Ibrahim quanto à reabertura da janela de IPOs a partir do segundo trimestre não é à toa. Em março, o Federal Reserve provavelmente começará a subir os juros da economia americana — um evento que, se por um lado, diminui a atratividade do mercado de ações, por outro tende a trazer clareza ao panorama de investimentos.
Afinal, caso haja uma sinalização mais nítida quanto ao cronograma de altas de juros, é possível fazer um planejamento mais ordenado das estratégias de investimento. Ao mesmo tempo, o conhecimento de novos dados de inflação nos EUA, com mais dados para analisar a tendência dos preços ao longo de 2022 e 2023, também ajuda a calibrar as carteiras.
"Mas, como eu disse, Ucrânia e Rússia... isso não é uma coisa boa", pondera o brasileiro, atento aos desdobramentos geopolíticos do conflito armado no leste europeu — e aos impactos que ele pode trazer à economia global e ao sentimento dos investidores. "[num cenário de] instabilidade global, em que não sabemos o que pode acontecer, as empresas seguram [os planos] um pouco".
Em relação às empresas brasileiras em específico, há um elefante na sala a ser tratado: por um motivo ou por outro, muitas das companhias nacionais que fizeram IPO nos EUA têm tido desempenhos bastante turbulentos, em especial as do setor de pagamentos: as ações da PagSeguro, na NYSE, caem 41% em 2022; as da Stone, no Nasdaq, recuam 34%.
Mesmo o badalado Nubank tem sofrido com uma volatilidade intensa: precificado a US$ 9 no IPO, no começo de dezembro, o roxinho viu suas ações dispararem a US$ 11,85 ainda na primeira semana de negociação; mas, passado o frenesi inicial, os papéis recuaram a US$ 6,75 no fim de janeiro — agora, estão na casa de US$ 7,70.
Sendo assim, será que, mesmo com a janela aberta, as empresas brasileiras não ficam receosas quanto a um IPO nos EUA? Para Ibrahim, a questão é complexa.
"É difícil projetar, o setor global de fintechs não tem tido um desempenho bom. Se o mercado não está bem, não está sendo precificado bem, isso cria um impacto nas transações a caminho", diz ele, ressaltando que, no curtíssimo prazo, realmente é difícil montar um argumento para IPO — o que pode mudar em questão de meses, a depender da evolução do cenário macro.

ADRs, BDRs e a parceria entre B3 e NYSE
Da mesma maneira que as empresas brasileiras têm acessado a NYSE, as americanas também começam a ganhar volume na B3: desde que os BDRs — os recibos de ações de empresas dos EUA negociados por aqui — foram abertos a qualquer tipo de investidor, nomes como Tesla, Amazon, Microsoft e Google têm sido companhia cada vez mais comum a Vale, Petrobras e Itaú Unibanco nos portfólios.
Ibrahim, olhando de fora, aprova o produto e faz menção à bolsa do México: por lá, as negociações envolvendo empresas estrangeiras é superior à de companhias nacionais, o que contribuiu para sustentar níveis elevados de movimentação financeira no mercado como um todo. A B3, pondera ele, pode ir por um caminho semelhante.
O executivo também elogia o processo conduzido pelo Nubank em seu IPO, com uma oferta simultânea de ações na bolsa de Nova York e de BDRs no Brasil. "Funcionou super bem, a NYSE trabalhando diretamente com a B3, criando uma fluidez entre os dois mercados. Você cria mais liquidez, a torta fica maior".
O caminho oposto também é válido: empresas brasileiras com programas de ADRs — recibos de ações locais negociados nos EUA — elevam o seu banco de liquidez e permitem que uma gama maior de investidores possa negociar os ativos. E Ibrahim ressalta que, em linhas gerais, o nível de governança das empresas do Brasil é bastante elevado, o que facilita os planos quanto a uma eventual listagem de ADRs na NYSE.
Esse relacionamento entre os dois mercados é muito bom para a diversificação de investidores. Lógico, tem custos, tem os registros e processos burocráticos de listagem, mas é tudo muito bom para a empresa.
Alex Ibrahim, head de mercados internacionais da NYSE
Veja abaixo a lista de empresas brasileiras com capital aberto nos EUA, organizadas pela data do IPO:
Empresa | Código | Onde está listado? | Valor de mercado (US$ mi) |
PagSeguro | PAGS | NYSE | 5.031,0 |
Arco Platform | ARCE | Nasdaq | 1.118,0 |
Stone Co. | STNE | Nasdaq | 3.401,0 |
Afya | AFYA | Nasdaq | 1.171,0 |
XP Inc | XP | Nasdaq | 17.771,0 |
Vasta Platform | VSTA | Nasdaq | 479,3 |
Vitru | VTRU | Nasdaq | 364,8 |
Patria Investments | PAX | Nasdaq | 2.276,0 |
Vinci Partners | VINP | Nasdaq | 946,2 |
VTEX | VTEX | NYSE | 1.486,0 |
Zenvia | ZENV | Nasdaq | 181,5 |
Nubank | NU | NYSE | 35.820,0 |
CI&T | CINT | NYSE | 2.246,0 |
Raízen (RAIZ4) e Braskem (BRKM5) derretem mais de 10% cada: o que movimentou o Ibovespa na semana
A Bolsa brasileira teve uma ligeira alta de 0,3% em meio a novos sinais de desaceleração econômica doméstica; o corte de juros está próximo?
Ficou barata demais?: Azul (AZUL4) leva puxão de orelha da B3 por ação abaixo de R$ 1; entenda
Em comunicado, a companhia aérea informou que tem até 4 de fevereiro de 2026 para resolver o problema
Nubank dispara 9% em NY após entregar rentabilidade maior que a do Itaú no 2T25 — mas recomendação é neutra, por quê?
Analistas veem limitações na capacidade de valorização dos papéis diante de algumas barreiras de crescimento para o banco digital
TRXF11 renova apetite por aquisições: FII adiciona mais imóveis no portfólio por R$ 98 milhões — e leva junto um inquilino de peso
Com a transação, o fundo imobiliário passa a ter 72 imóveis e um valor total investido de mais de R$ 3,9 bilhões em ativos
Banco do Brasil (BBAS3): Lucro de quase R$ 4 bilhões é pouco ou o mercado reclama de barriga cheia?
Resultado do segundo trimestre de 2025 veio muito abaixo do esperado; entenda por que um lucro bilionário não é o bastante para uma instituição como o Banco do Brasil (BBAS3)
FII anuncia venda de imóveis por R$ 90 milhões e mira na redução de dívidas; cotas sobem forte na bolsa
Após acumular queda de mais de 67% desde o início das operações na B3, o fundo imobiliário vem apostando na alienação de ativos do portfólio para reduzir passivos
“Basta garimpar”: A maré virou para as small caps, mas este gestor ainda vê oportunidade em 20 ações de ‘pequenas notáveis’
Em meio à volatilidade crescente no mercado local, Werner Roger, gestor da Trígono Capital, revelou ao Seu Dinheiro onde estão as principais apostas da gestora em ações na B3
Dólar sobe a R$ 5,4018 e Ibovespa cai 0,89% com anúncio de pacote do governo para conter tarifaço. Por que o mercado torceu o nariz?
O plano de apoio às empresas afetadas prevê uma série de medidas construídas junto aos setores produtivos, exportadores, agronegócio e empresas brasileiras e norte-americanas
Outra rival para a B3: CSD BR recebe R$ 100 milhões do Citi, Morgan Stanley e UBS para criar nova bolsa no Brasil
Investimento das gigantes financeiras é mais um passo para a empresa, que já tem licenças de operação do Banco Central e da CVM
HSML11 amplia aposta no SuperShopping Osasco e passa a deter mais de 66% do ativo
Com a aquisição, o fundo imobiliário concluiu a aquisição adicional do shopping pretendida com os recursos da 5ª emissão de cotas
Bolsas no topo e dólar na base: estas são as estratégias de investimento que o Itaú (ITUB4) está recomendando para os clientes agora
Estrategistas do banco veem um redirecionamento global de recursos que pode chegar ao Brasil, mas existem algumas condições pelo caminho
A Selic vai cair? Surpresa em dado de inflação devolve apetite ao risco — Ibovespa sobe 1,69% e dólar cai a R$ 5,3870
Lá fora os investidores também se animaram com dados de inflação divulgados nesta terça-feira (12) e refizeram projeções sobre o corte de juros pelo Fed
Patria Investimentos anuncia mais uma mudança na casa — e dessa vez não inclui compra de FIIs; veja o que está em jogo
A movimentação está sendo monitorada de perto por especialistas do setor imobiliário
Stuhlberger está comprando ações na B3… você também deveria? O que o lendário fundo Verde vê na bolsa brasileira hoje
A Verde Asset, que hoje administra mais de R$ 16 bilhões em ativos, aumentou a exposição comprada em ações brasileiras no mês passado; entenda a estratégia
FII dá desconto em aluguéis para a Americanas (AMER3) e cotas apanham na bolsa
O fundo imobiliário informou que a iniciativa de renegociação busca evitar a rescisão dos contratos pela varejista
FII RBVA11 anuncia venda de imóvel e movimenta mais de R$ 225 milhões com nova estratégia
Com a venda de mais um ativo, localizado em São Paulo, o fundo imobiliário amplia um feito inédito
DEVA11 vai dar mais dores de cabeça aos cotistas? Fundo imobiliário despenca mais de 7% após queda nos dividendos
Os problemas do FII começaram em 2023, quando passou a sofrer com a inadimplência de CRIs lastreados por ativos do Grupo Gramado Parks
Tarifaço de Trump e alta dos juros abrem oportunidade para comprar o FII favorito para agosto com desconto; confira o ranking dos analistas
Antes mesmo de subir no pódio, o fundo imobiliário já vinha chamando a atenção dos investidores com uma série de aquisições
Trump anuncia tarifa de 100% sobre chips e dispara rali das big techs; Apple, AMD e TSMC sobem, mas nem todas escapam ilesas
Empresas que fabricam em solo americano escapam das novas tarifas e impulsionam otimismo em Wall Street, mas Intel não conseguiu surfar a onda
Ações baratas e dividendos gordos: entenda a estratégia deste gestor para multiplicar retornos com a queda dos juros
Com foco em papéis descontados e empresas alavancadas, a AF Invest aposta em retomada da bolsa e distribuição robusta de proventos com a virada de ciclo da Selic