Com base nos números, mercado acredita que Azul pode sair às compras
Companhia aérea se posiciona oficialmente como compradora, e analistas enxergam espaço para acordo inclusive com a Latam
Não é novidade para ninguém que o setor aéreo foi e ainda é um dos mais atingidos pela pandemia de covid-19. Restrições de circulação, fronteiras fechadas. Uma “tempestade perfeita” que começou há pouco mais de um ano no Brasil, e as nuvens ainda não se dissiparam totalmente.
Mas existe uma máxima chinesa que prega: toda crise traz oportunidades. E a Azul parece seguir à risca esse provérbio. Em um comunicado ao mercado, a empresa se posicionou oficialmente como compradora em um movimento de consolidação do setor.
Ontem, a Latam anunciou o fim do acordo de codeshare com a Azul, que vai vigorar até 22 de agosto. Foi uma saída para que as empresas diminuíssem o número de voos pouco ocupados. As duas empresas compartilhavam suas rotas.
No comunicado, a Azul diz acreditar que a decisão da Latam seja uma reação à disposição da empresa de fazer aquisições, inclusive com a contratação de assessores financeiros no final do primeiro trimestre com este objetivo.
E como o mercado reagiu a essa postura? Bem, de forma bastante otimista. As ações PN da Azul (AZUL4) chegaram a subir quase 7% na máxima do dia; no fim do dia, fecharam em alta de 4,11%, aos R$ 42,01.
Boa parte dessa confiança está nos números da Azul. A empresa ainda teve prejuízo no primeiro trimestre, de R$ 1,123 bilhão. Mas os indicadores operacionais, como números de passageiros e de voos, apresentaram melhoras em relação ao final do ano passado.
E um indicador muito importante é a disponibilidade de caixa, ou seja, quanto dinheiro a Azul tem para fazer frente às suas despesas.
A companhia aérea fechou março com uma liquidez imediata — dinheiro disponível assim que necessário — de R$ 3,3 bilhões. Um ano antes, este valor era de R$ 2,2 bilhões.
Se levarmos em conta o dinheiro a receber em prazos mais longos, o caixa da Azul estava em R$ 6,2 bilhões, ante R$ 5,6 bilhões em março de 2020.
Quando se colocam as dívidas na conta, é possível notar que os débitos que vencem no curto prazo são de R$ 3,5 bilhões, e o prazo médio do valor total, de R$ 19,4 bilhões, é de 2,5 anos.
A Latam, que está em recuperação judicial nos Estados Unidos, por outro lado, ainda apresenta queima de caixa, mesmo depois de conseguir diminuir o prejuízo no primeiro trimestre.
A empresa começou o ano com quase US$ 1,7 bilhão em seu caixa, e terminou o mês de março com US$ 1,3 bilhão. E o maior problema está exatamente na linha operacional, que consumiu quase US$ 200 milhões em três meses.
A Gol, grande concorrente da Azul, ainda tenta se recuperar. Para comparar a situação financeira das duas, o fluxo de caixa ainda é a melhor medida.
Na direção contrária da Azul, a Gol queimou quase R$ 2,5 bilhões de caixa em um ano, e quase R$ 800 milhões em três meses, fechando março com R$ 1,8 bilhão em caixa.
O grande problema da Gol é a maior dependência dos voos internacionais em relação à Azul. Neste ano, as rotas para fora do Brasil continuam praticamente paradas, inclusive pela segunda onda de covid-19 que atingiu o País no primeiro trimestre.
“A crise afetou o setor igualmente. No entanto, o fato de a Azul ter uma malha mais regionalizada e uma grande participação nacional possibilitaram que ela driblasse a concorrência, se aproveitando de sua capilaridade”, afirma Iago Souza, analista de investimentos da Warren.
Seria um bom negócio?
“Não estamos certos de que a Azul mira a aquisição da Latam ou de outros concorrentes, mas o potencial de sinergia entre as duas empresas é muito bom”, dizem os analistas do BTG Pactual. A sobreposição atingiria apenas 20% das rotas, aproximadamente.
A postura da Azul, se assumindo como compradora no mercado, não é tão surpreendente, na visão do BTG. Isso porque o histórico não muito distante da companhia tem as aquisições da Trip e da Two Flex.
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, acredita que a Azul está muito forte para aproveitar a diminuição dos efeitos da pandemia.
“Não estimamos grandes alterações operacionais (com o fim da parceria com a Latam) e acreditamos que a companhia vem mostrando a resiliência necessária para operar de forma eficiente diante de um cenário menos frágil”, diz Arbetman.
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