Ativos de risco têm mais um mês negativo com tensões em Brasília e alta dos juros futuros nos EUA
Um misto de fatores locais e externos levou o Ibovespa a ter um dos piores desempenhos do mês e o dólar, o melhor. Ouro aparece na lanterna do ranking
Em fevereiro não teve Carnaval e também não teve PEC Emergencial, auxílio, reformas e nem mais estímulos fiscais nos Estados Unidos. Mas sobrou interferência do governo federal nas estatais e medo da inflação americana.
Com tudo isso, terminamos o mês com ranking de investimentos bastante parecido com o de janeiro. No topo da lista, novamente o bitcoin e o dólar foram os grandes destaques. Poucos investimentos conseguiram ficar no positivo - até o Tesouro Selic ficou no vermelho, como já havia ocorrido em setembro de 2020.
A lanterna do ranking, porém, foi um pouco diferente desta vez. O pior investimento de fevereiro foi o ouro, seguido do Ibovespa. Ambos recuaram mais de 4%. Veja o ranking dos melhores e piores investimentos a seguir:
Os melhores investimentos de fevereiro
Fevereiro começou com um prognóstico até que positivo dadas as circunstâncias (leia-se: pandemia de covid-19, vacinação devagar-quase-parando no Brasil e situação das contas públicas ainda preocupante).
O fato de o governo Bolsonaro ter conseguido emplacar seus aliados na presidência da Câmara e do Senado foi bem recebido pelo mercado financeiro, que passou a esperar, a partir de então, que as reformas e privatizações finalmente fossem começar a andar.
O governo chegou a apresentar ao Congresso uma lista de prioridades da agenda econômica que incluíam todas as medidas que o mercado poderia desejar.
A questão do retorno do auxílio emergencial ainda era uma incógnita, mas com o tempo ficou claro que ele seria inevitável. A pandemia ainda impedia a retomada da vida normal, o que fazia com que muitas pessoas ainda precisassem de alguma ajuda do governo.
O problema seria viabilizar novos pagamentos na nossa atual situação fiscal. A solução encontrada, depois de muita discussão e idas e vindas, foi aprovar a PEC Emergencial com dispositivos que garantissem algum controle de gastos, mas sem contrapartidas imediatas para a retomada do auxílio.
Acontece que a votação da PEC Emergencial acabou sendo adiada e ficou para semana que vem. Causou polêmica no Congresso a questão da desvinculação dos gastos com saúde e educação, dispositivo que desobriga os entes federativos de respeitarem o piso de investimentos nessas áreas, devendo definir, todos os anos, quanto gastar com elas.
A falta de definição a respeito da PEC e do auxílio emergencial contribuíram para elevar a percepção geral de risco, sobretudo porque o mercado passou a temer que a PEC fosse tão desidratada que o retorno do auxílio fosse aprovado sem qualquer contrapartida, fosse de curto ou médio prazo, o que só pioraria a situação das contas públicas.
Outra questão que acabou não se definindo em fevereiro foi a discussão sobre o novo pacote de estímulos fiscais nos Estados Unidos, que deve totalizar US$ 1,9 trilhão. O Congresso americano também discutiu e discutiu, mas até agora nada. A expectativa deixou os investidores tensos, tanto aqui quanto no exterior.
Clima ruim para as estatais
Na curta semana do Carnaval, um novo risco surgiu no horizonte. O presidente Jair Bolsonaro, que já vinha criticando a política de preços de combustíveis da Petrobras, anunciou a indicação do general Joaquim Silva e Luna para a presidência da estatal, no lugar de Roberto Castello Branco.
Confrontado com as ameaças de greve por parte de caminhoneiros, que reclamavam da alta nos preços do diesel, Bolsonaro fez duras críticas ao reajuste promovido pela Petrobras naquela semana, e ainda fez uma ameaça velada a Castello Branco. No dia seguinte, anunciou a indicação para a troca de comando da estatal.
A notícia caiu como uma bomba sobre as ações da Petrobras, que perdeu R$ 100 bilhões em valor de mercado em apenas dois dias. Na segunda-feira após o anúncio da indicação, os papéis da petroleira despencaram cerca de 20%.
O mercado entendeu o gesto do presidente como uma interferência do governo no comando da estatal, podendo haver risco de tentativa de controle de preços, tal qual aconteceu no governo da presidente Dilma Rousseff, com consequências deletérias para a companhia.
A postura mais intervencionista do governo, que já havia sido manifestada na irritação do presidente com a política de corte de custos do Banco do Brasil em janeiro, arrastou os preços das ações de outras estatais - principalmente as do próprio BB.
Os papéis da Eletrobras, que caíram menos, foram beneficiados, ato contínuo, pela entrega, ao Congresso, da Medida Provisória que possibilita a privatização da companhia. A medida foi uma forma de o governo mostrar que ainda estava comprometido com a agenda de reformas e privatizações, e trouxe certo alívio ao mercado. Até mesmo o projeto de Lei que abre caminho para a privatização dos Correios foi entregue na mesma semana.
Inflação americana preocupa
Mas esses gestos não foram suficientes para salvar a bolsa. No exterior, o clima dos mercados, no final do mês, começou a piorar consideravelmente. Alguns dados econômicos nos Estados Unidos começaram a sugerir recuperação econômica no país e um início de pressão inflacionária.
Com isso, as taxas de juros dos títulos públicos americanos de longo prazo, que já vinham em alta, deram um repique. O mercado começou a precificar que a inflação poderia surpreender, obrigando o Federal Reserve (banco central americano) a elevar juros antes do esperado.
O presidente do Fed, Jerome Powell, reafirmou que o momento ainda exige juros baixos, mas isso não foi o suficiente para afastar os temores de que o alto nível de estímulos fiscais e monetários esteja superaquecendo a economia americana, o que levaria a uma alta de juros em sequência pelos bancos centrais.
A abertura das taxas nos Estados Unidos acabou atraindo os recursos dos investidores das ações para os títulos do Tesouro americano, fortalecendo o dólar. Mais arriscados, ações e moedas de países emergentes sofreram ainda mais com esse "voo para a qualidade". Isso só contribuiu para derrubar ainda mais a bolsa por aqui.
Como cereja do bolo, nesta sexta-feira renasceram os rumores de uma eventual saída de André Brandão da presidência do Banco do Brasil, desta vez por meio de renúncia. O banco nega, mas mesmo assim as ações da estatal caíram quase 5%.
Bolsa e ouro para baixo, dólar e juros para cima
Enquanto o impasse na PEC Emergencial contribuiu para o aumento da percepção de risco fiscal, a percepção de um governo mais intervencionista nas estatais elevou o risco-país. Esses dois elementos, combinados com a disparada dos juros americanos, levaram o Ibovespa de volta para a faixa dos 110 mil pontos e o dólar para R$ 5,60.
No mês, o principal índice da B3 caiu 4,37%, aos 110.035 pontos. Já a moeda americana avançou 2,39% na cotação à vista. O ouro despencou 4,84% com a perspectiva de alta de juros antes do esperado nos EUA. Com os seguros títulos públicos americanos pagando mais, o ouro perde muita atratividade, como reserva de segurança, pois é um ativo que não paga juros.
Os juros futuros também subiram por aqui com o aumento dos riscos domésticos e a perspectiva de uma alta de juros antes do esperado nos EUA, o que anteciparia o ciclo de elevação das taxas também por aqui.
A maior alta se deu nos vencimentos de prazo mais curto, que passaram a precificar um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa Selic já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) em março.
Assim, mais uma vez os títulos públicos prefixados e atrelados à inflação sofreram, dado que se desvalorizam quando os juros futuros sobem. Nem o Tesouro Selic (LFT) escapou: o título com vencimento em 2025 fechou o mês com perda de 0,03%.
Mais uma vez isso ocorreu devido ao aumento da taxa paga em adição à variação da Selic. Basicamente, isso significa que o mercado considera a atual taxa básica de juros, de 2% ao ano, muito baixa para financiar o governo, exigindo uma taxa maior. Em setembro do ano passado aconteceu a mesma coisa, em meio a um cenário de aumento do risco fiscal.
Bitcoin brilha mais uma vez
O bitcoin ficou novamente com o primeiro lugar no ranking dos investimentos, com uma valorização, em reais, de quase 43% no mês. Em fevereiro, a criptomoeda bateu sucessivos recordes de preços e superou as marcas dos US$ 50 mil e R$ 300 mil.
O ativo continuou ganhando tração com a notícia de que a Tesla anunciou que tem US$ 1,5 bilhão do seu caixa investidos em bitcoin. Ao longo do mês, surgiram as notícias de que outras grandes empresas, como Twitter, Uber e MasterCard, adotaram ou pensam em adotar criptomoedas de alguma maneira.
A progressiva institucionalização e profissionalização do mercado de criptomoedas tem sido a mola propulsora da valorização desses ativos.
Melhores e piores ações do mês
A ação da Embraer foi fortemente impulsionada neste mês, pela notícia de que a companhia estaria negociando a venda de aeronaves para a companhia alemã Lufthansa.
Já a Braskem se beneficiou da retomada progressiva das atividades em unidades que estavam paralisadas - seja pelo desastre ocorrido em Maceió, seja por um impasse entre a unidade mexicana da companhia com o governo daquele país.
As ações da Eletrobras surfaram a notícia do encaminhamento da MP que permite sua privatização para o Congresso, e os papéis da Totvs e da Gerdau se beneficiaram dos bons resultados trimestrais das companhias no quarto trimestre de 2020.
Na ponta dos piores desempenhos, temos as ações da Petrobras e do Banco do Brasil, prejudicadas pela interferência do governo nas estatais.
Show da Madonna deve injetar R$ 300 milhões na economia do Rio — e aqui está o que você precisa saber para assistir
O show da Madonna está marcado para 4 de maio, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro — descubra como assistir de graça sem sair de casa
Shein, AliExpress e Shopee na mira: Novo imposto vai voltar a taxar compras de até US$ 50 em sites estrangeiros
Criado pela reforma tributária, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) começará a ser cobrado em 2026
Preço dos imóveis sobe em São Paulo: confira os bairros mais buscados e valorizados na cidade, segundo o QuintoAndar
Quatro bairros da capital paulista registraram cifras de cinco dígitos quando se trata de preço médio do metro quadrado
Mega-Sena acumula e Lotofácil faz dois “quase milionários” em Salvador, Porto Alegre e outras duas cidades; veja quanto cada um vai receber
Cada um dos quatro sortudos da Lotofácil levará para casa uma bolada generosa: pouco mais de R$ 873,9 mil
Rodolfo Amstalden: O “bate e assopra” de Lula
O terceiro mandato de Lula está sendo marcado por uma ondulação da sua postura política, ou, na língua popular, o “bate e assopra”
Veja estimativa para novo imposto após Haddad entregar reforma tributária ao Congresso
O ministro afirmou que este projeto traz a solução para um dos “emaranhados” problemas brasileiros: um sistema tributário que está hoje entre os 10 piores do mundo.
A verdade dura sobre a Petrobras (PETR4) hoje: por que a ação estaria tão perto de ser “o investimento perfeito”?
A Petrobras (PETR4) poderia ser o melhor investimento da bolsa brasileira hoje, mas uma coisa impede. É isso que o analista João Piccioni revela em sua mais recente participação no podcast Touros e Ursos. Ao falar sobre os investimentos para proteção diante das incertezas do cenário internacional — com o acirramento dos conflitos no Oriente […]
Seguro do carro: você pode ser obrigado a pagar o DPVAT de novo — e dar uma “ajudinha” para o governo Lula
Se for aprovado, o texto que relança o agora SPVAT permitirá que os gastos do governo aumentem em aproximadamente R$ 15 bilhões neste ano
Apostador “teimoso” fatura sozinho a bolada de R$ 51 milhões da Quina — e pode ser você; Mega-Sena e Lotofácil acumulam
Apenas uma aposta cravou as cinco dezenas do concurso 6423 da Quina. Veja os números sorteados na loteria
“Efeito Campos Neto” leva a reviravolta nas projeções para a Selic no fim deste ano
Em apenas uma semana, a expectativa para a Selic em dezembro passou de 9,13% para 9,50% ao ano, de acordo com o último boletim Focus
Leia Também
-
Klabin (KLBN11): lucro líquido desaba mais de 60% no 1T24, mas acionistas vão receber R$ 330 milhões em dividendos
-
Ficou mais difícil investir em LCI e LCA após mudanças nas regras? Veja que outras opções você encontra no mercado
-
Bilionário mexicano anuncia investimento de mais de R$ 40 bilhões no Brasil após encontro com Lula
Mais lidas
-
1
Vale (VALE3) e a megafusão: CEO da mineradora brasileira encara rivais e diz se pode entrar na briga por ativos da Anglo American
-
2
Órfão das LCI e LCA? Banco indica 9 títulos isentos de imposto de renda que rendem mais que o CDI e o Tesouro IPCA+
-
3
Como a “invasão” dos carros chineses impacta as locadoras como a Localiza (RENT3) e a Movida (MOVI3)