Qual tipo de ação é melhor para os próximos meses: a de valor ou a de crescimento?
Pandemia beneficiou nomes em crescimento, especialmente no campo da tecnologia, mas momento é de reavaliar escolhas, diante de novas decisões sobre juros e mudanças nas expectativas de inflação

Não se falou sobre outra coisa nos últimos dias que não as decisões de política monetária ao redor do mundo, com os brasileiros dando uma atenção especial para duas reuniões de autoridades monetárias: a do Fed (EUA) e a do Bacen (Brasil).
Enquanto a americana veio em linha com o esperado, a brasileira surpreendeu na margem, uma vez que a maior parte das projeções apontavam para uma alta da taxa de juros de 50 pontos-base, frente a realidade de 0,75 ponto percentual de elevação.
Naturalmente, ambas as decisões são amparadas sob ao menos uma premissa muito clara: a de manutenção do poder de compra da moeda — isto é, a preservação da estabilidade dos preços.
Por isso, a elevação das expectativas de inflação nas últimas semanas foi importante para que se formasse uma tensão maior sobre as decisões de política monetária.
Grosso modo, os bancos centrais colocaram as taxas de juros lá embaixo para estimular a economia depois da pandemia. Como resultado disso e da retomada econômica que se projeta agora, somada aos pacotes de estímulos ao redor do mundo, os investidores começaram a temer uma inflação maior do que o esperado anteriormente.
Se fosse o caso, as taxas de juros precisariam ser elevadas mais rápido do que o pressuposto, provocando uma alteração geral de expectativas e afetando os valuations dos ativos de risco.
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O Fed, por sua vez, entende que a inflação de agora não é estrutural (sustentada) — e por isso seria apenas temporária. Por isso, os estímulos monetários poderiam ser colocados por mais tempo, de modo a almejar um desemprego mais baixo antes de começar a suspender as medidas.
Abaixo, as projeções para a taxa de juros do Fed.
Note como a autoridade monetária ancorou as expectativas de juros baixos até 2023 (“forward guidance”).

Mas o mercado não é bobo.
Ele calcula uma média ponderada do que o BC americano fala e do que pode acontecer se o plano de Powell, presidente do Fed, der errado.
Acima, os pontos verdes são os juros medidos pela mediana das expectativas, ancoradas pelo banco central. Os pontos cinzas, por outro lado, mostram a presença de agentes que entendem que o BC subirá a taxa de juros antes do pressuposto.
Essa incerteza machuca os mercados, principalmente ações de crescimento. Tanto que temos observado uma rotação setorial em direção a segmentos mais ligados à economia cíclica e tradicional, as famosas teses de valor.
O dinheiro sai de crescimento (tecnologia) e vai para valor (cíclicos e tradicionais), cujos fluxos de caixa estariam mais no presente do que no futuro (menos incerteza e menos desconto dos fluxos).
Agora, precisamos pensar se essa tendência é momentânea, como diz o Fed, ou estrutural.
Pacote de ajuda provoca (muita) inflação?
Vamos então avaliar um dos maiores influenciadores da alta das expectativas de inflação: o pacote estímulo de Biden. Neste caso, há quem argumente que o impacto inflacionário dos cheques de estímulo dos EUA é exagerado. Mesmo que as restrições sociais diminuam totalmente, como aconteceu no Texas e na Austrália, é improvável que os controles de estímulo desencadeiam um tsunami de demanda como se prevê agora.
A propensão a consumir a partir da renda adicional é relativamente alta, com estimativas de até 50%. Ainda assim, a propensão a consumir de riqueza adicional é pequena, com estimativas internacionais em torno de 5%.
Isso levanta a questão: as famílias dos EUA consideram os cheques de estímulo como renda ou riqueza adicional?
A resposta depende do nível de renda da família.
Famílias de baixa renda, que suportaram o peso da perda de empregos e licenças, sofreram grandes quedas em sua renda em relação ao consumo. Consequentemente, eles consideram os cheques de estímulo como uma renda adicional.
Mas na medida em que a renda adicional está apenas (parcialmente) substituindo a renda perdida, ela não aumentará seu consumo em comparação com o que teria sido sem a renda perdida.
Assim, pode-se verificar que os estímulos não são tão inflacionários assim.

Acima, podemos ver que os cheques de estímulos enviados às famílias não tiveram um impacto significativo no consumo ou na inflação. Ele serviu mais de sustentação para a demanda do que como um adicional de grande potencial de consumo.
O mesmo racional pode ser replicado para o Brasil, com o auxílio emergencial - em menor proporção, claro. Logo, tem-se que a inflação americana pode ser sim temporária, o que tornaria a política do Fed adequada para o momento.
Os ruídos de curto prazo, porém, permanecem, dando espaço para que teses de valor outperformarem teses de crescimento.
Soma-se à dinâmica o medo de que haja uma bolha na Bolsa americana, que acredito ser infundado. De qualquer forma, trouxe um gráfico do Goldman Sachs que mostra as bolhas financeiras mais famosas em torno de seu pico e o S&P 500 atual.

Não acredito na tese que haja uma bolha, até mesmo porque o momento atual é muito diferente, principalmente por conta do patamar da taxa de juros. Por isso, resta a dúvida, onde alocar os recursos?
Qual tese devemos comprar?
Veja, entendo que as ações de valor deverão liderar o mercado de ações em alta nos próximos 12 meses, o que não significa que não goste de tecnologia, mas que apenas enxergo espaço para valor nos portfólios, até como método de reduzir a volatilidade dos portfólios - hoje, quanto mais crescimento, mais ruído sobre a carteira.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
No ano passado, a pandemia beneficiou nomes em crescimento, especialmente no campo da tecnologia. O fim das medidas de bloqueio, por sua vez, favorece os nomes de valor.
Não apenas o valor ainda é excepcionalmente barato em relação ao crescimento, como podemos observar no segundo gráfico abaixo (da direita), mas os setores de valor tradicionais, como bancos e empresas de energia, testemunharão revisões de seus resultados mais fortes do que as ações de tecnologia desde o início do ano (primeiro gráfico, da esquerda).

Assim, entendo que caiba posições de valor em detrimento de tecnologia no momento atual, ainda que a carteira deva guardar posicionamento nas teses estruturais de crescimento para o longo prazo. No curto, porém, a janela atual beneficia teses de valor. Isso deverá se manter até que as expectativas para os juros americanos se alinhem.
Para que saibamos quando a hora certa de capturar os dois movimentos, o de curto e o de longo prazo, nada mais importante do que estar bem assessorado.
Diante dessa imperativa necessidade, Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, desenvolveu um projeto que representa a essência da Empiricus: nosso grande projeto de formação de investidores, com muito de Taleb, Buffett, Graham, Munger, Howard Marks, George Soros, Ray Dalio e tudo aquilo que Felipe aprendeu com sua própria prática em 22 anos, reforçado de condições mais do que especiais em nossas assinaturas.
Por mera observação empírica de sete anos, sabemos o impacto que este projeto pode causar na vida das pessoas. Por isso, para saber como surfar o ciclo atual, vale muito conferir o programa que chamamos de Investidor Definitivo. Com ele, o investidor estará mais do que preparado para desenvolver estratégias vencedores e equilibradas para os diferentes cenários.
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